ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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7.6 – CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS SOCIAIS

Pode definir-se grupo social como uma comunidade humana, real e concreta, mas parcial, que se manifesta por ter os seus padrões de conduta, a existência duma actividade conjunta, por se localizar num determinado tempo e espaço, por utilizar formas determinadas de comunicação e organização. Caracteriza-se pela existência dum conjunto de indivíduos que formam uma unidade social duradoura, mantêm entre si uma interacção estruturada e baseia o seu comportamento em atitudes colectivas, contínuas e activas, com objectivos, acções e comportamentos comuns. Além do conjunto das relações que se estabelecem entre os vários elementos que o integram, o grupo social exerce uma ou mais funções bem definidas. É uma determinada forma de emprego do pronome pessoal nós, que nas relações sociais se opõe aos outros ou a eles.

Os grupos sociais que vamos referir com algum pormenor têm, em geral, uma raiz económica originada por actividades conjuntas e particularidades de organização, que se manifestam por se localizarem num espaço, utilizarem determinadas formas de comunicação, por manterem padrões próprios de conduta e exercerem uma ou mais funções bem definidas.

A pouco e pouco foram-se diferenciando as famílias, os clãs, as tribos, as etnias e outros grupos sociais, consoante a sua posição em relação à posse dos meios de produção, que foram acumulando na mão de uma classe social em fase nascente, embora ainda não institucionalizada. As formas tradicionais do regime de comunidades consanguíneas são gradualmente substituídas por relações baseadas na proximidade espacial, isto é, entre pessoas que vivem em aldeias ou na mesma área.

Com o desenvolvimento da agricultura e da criação de gado, forma-se a família fundamentada em factores de natureza económica, em substituição dos laços consanguíneos por linha materna. O acasalamento colocou ao lado da mãe natural o autêntico pai natural, constituindo-se uma família que passou a dispor da posse dos meios de produção. A família patriarcal passou a integrar o casal, os filhos, outras pessoas unidas por parentesco de sangue ou por de afeição e pura solidariedade. Duma forma alargada, a família chega a reunir um grupo social bastante grande em que estão presente várias gerações e, por vezes, até servos e escravos. Estas famílias tendem a formar a sua economia própria, convertendo-se em unidades económicas e sociais independentes.

A família adquiriu uma realidade económica indiscutível, desempenhando uma função de unidade de produção e de consumo, gestão e transmissão de património. Foi no seu seio que se manifestou a primeira divisão social do trabalho, pois teve de se organizar para produzir o necessário à manutenção da vida. A família precede todas as formas económicas de agrupamento, correspondendo ao primeiro grau do edifício sobre o qual assenta toda a estrutura da produção e do consumo.

O aumento da produtividade do trabalho com o uso de novos instrumentos e materiais, designadamente o ferro, levou a que o cultivo das parcelas de terra se tornasse possível com as forças duma só família patriarcal. A cooperação produtiva de várias famílias tornou-se em muitos casos dispensável, acentuando a autonomia económica duma simples unidade doméstica a corresponder ao nível mínimo de coordenação das actividades produtivas. Formam-se relações de produção fundadas na gestão do chefe de família. A difusão do trabalho assalariado levou ao declínio das famílias e das comunidades aldeãs como unidades de produção.

Por clã entende-se o agrupamento social restrito que se afirma unido por laços de parentesco definidos por um antepassado comum. Várias famílias que descendem do mesmo ancestral constituem um clã. A ligação por laços de parentesco consanguíneo tem uma importância constituinte e determinante. O clã pode considerar-se uma antiga célula da sociedade, constituindo uma colectividade de trabalho fechada na qual os homens obtinham em conjunto os meios de existência necessários. O clã é, ao mesmo tempo, uma comunidade étnica, uma unidade de produção e uma forma de organização social. O clã abarca os diferentes segmentos das linhagens e são unidades mais duráveis. Tanto na linhagem como no clã, a propriedade do solo é frequentemente indivisa, sendo organizada a distribuição das terras cultivadas pelas famílias e pelos grupos de parentesco. O clã nem sempre corresponde a uma unidade territorial. Em alguns casos, o clã controla territórios contíguos, estando as diferentes unidades que o compõem reunidas sob a autoridade política dum chefe de clã ou dum concelho de anciãos. Com a formação de comunidades territoriais, as aldeias, as comunidades baseadas no clã entraram em processo de desintegração mas continuaram a existir por muitos milénios e ainda se encontravam nalguns lugares no início de século XX, por exemplo, na Índia e na Rússia. Presentemente, existem famílias capitalistas que mantêm laços de parentesco entre si e que se mantêm ligadas por interesses comuns designadamente nos domínios económico e financeiro. Esses grupos são frequentemente também denominados de “clãs”.

A etnia funcionava como uma associação de clãs, mais precisamente de sub-clãs, comungando as mesmas referências culturais e onde existia a consciência duma entidade comum. Com a divisão da sociedade em classes começam a surgir comunidades mais amplas e numerosas porque os limites duma comunidade ou duma tribo acabam por ser demasiado estreitos para o desenvolvimento das forças produtivas, constituindo-se assim os grupos étnicos com características de nacionalidades. Com o processo de fixação de fronteiras tornou-se difícil localizar etnias que ocupam uma área dum país ou se espalhavam por um ou mais países. Por vezes, a identidade dos grupos étnicos expressa-se por tradições variadas que apela a uma certa noção de nação.

As minorias étnicas eram em geral atingidas por uma forte discriminação que se projectava nas diversas esferas da vida colectiva económica, caracterizada pela existência de relações e de formas de subordinação aplicáveis unicamente a estes agregados populacionais. Sobre estas populações incidiam em geral encargos mais gravosos, como rendas que se traduziam numa capitação pessoal e geral, que incidia sobre todos os indivíduos, contribuições anuais a pagar pelo conjunto das comunidades ou tributos só a elas exigidos. É em geral perceptível a existência de grupos étnicos a manter uma continuidade no tempo, apresentando-se como povo com tradições e uma história comum, transmitida de geração em geração. Misturam-se factores étnicos, culturais, económicos e políticos, podendo existir instituições próprias de governo ou uma soberania com projecção extensa e comum. É, por exemplo, o caso da etnia cigana.