ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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7.4 – BURGUESIA RURAL

A posição da burguesia rural como classe tem de ser enquadrada em função do tipo de relações que mantinha com as restantes classes sociais. Por um lado, estava fortemente subordinada às classes dominantes e, por outro, exercia um duplo predomínio económico e social sobre a restante população rural. Este grupo constituía o núcleo central da camada mais desafogada da população do campo. Beneficiava de especiais privilégios políticos e jurídicos e também especiais prerrogativas que se expressavam pela atribuição de taxas de rendas muito ligeiras.

Além da sua exploração central estes agricultores possuíam, em geral, outras herdades cultivadas por foreiros ou rendeiros que lhes pagavam a renda a que estavam obrigados. A sua forte posição no processo produtivo permitia-lhes expropriar camponeses mais pobres e absorver parte da renda, podendo ainda empregá-los como assalariados nas suas lavouras. Na prática, estes agricultores realizavam mais um trabalho de direcção administrativa e económica do que propriamente tarefas materiais como a cava, a sementeira, a ceifa ou a vindima.

Na actividade agrícola e pecuária, a burguesia rural dispunha de importantes meios de produção agrária e de utilização de mão-de-obra assalariada, o que lhe deu uma força particular que permitiu intensificar a produção própria, incrementar a produtividade e dispor de avultados excedentes agrícolas susceptíveis de serem lançados no circuito comercial. A possibilidade de arrecadar parte do produto das vendas permitiu a acumulação de capitais aplicáveis em melhoramentos fundiários e a aquisição de novas herdades para extensão das áreas cultivadas.

Está aqui a génese duma parcela das relações de tipo capitalista que vão abrindo caminho graças à sua combinação com o incremento da actividade mercantil. De resto, os dois fenómenos estão estreitamente ligados, pois não era concebível, nesta fase histórica, o progresso do comércio sem o da agricultura que lançava no mercado uma quantidade crescente de produtos já destinados à venda ou provenientes dos excedentes do auto-consumo dos próprios agricultores. Estes lavradores eram aliados naturais da burguesia mercantil na defesa de interesses que eram comuns, o que os ajudava na prossecução dos seus objectivos particulares.

A possibilidade crescente de alargamento das superfícies que exploravam ou alugavam e o aumento da produção do subproduto, permitiu ampliar a sua capacidade de acumulação, acentuando-se o processo de diferenciação entre os camponeses ricos, ligados directamente ao mercado, e os pequenos camponeses a eles subordinados.

Ao lutar pelo alargamento da sua base económica, a burguesia rural pretendia atingir, a par da burguesia citadina mais importante, uma sólida posição económica e política capaz de frontalmente poder pugnar pelos seus interesses em oposição à aristocracia. Usando da força económica e social que puderam acumular, chamaram a si terras desaproveitadas integradas em domínios senhoriais. Dentro dos concelhos conseguiam intervir na administração e usufruir de especiais vantagens jurídicas.

Na Índia, nas comunidades rurais destacou-se uma camada superior de agricultores que explorava escravos e trabalhadores assalariados. No século XVII, esta camada, por vezes constituída pelos chefes das aldeias, eram proprietários da terra e intermediários no processo de recolha dos impostos.

Na China, o estatuto da maioria dos indivíduos na sociedade rural era determinado, acima de tudo, pela posse da terra. As pessoas que possuíam dinheiro líquido compravam terras que arrendavam a preços elevados. A aristocracia propriamente dita quase deixa de existir, passando as suas terras para as mãos duma nova classe social constituída por camponeses ricos e por mercadores. Entre esta classe eram recrutados os funcionários, pois só os homens ricos podiam dar aos seus filhos a educação que permitia passar os exames do Estado.

Na Europa Ocidental, na segunda metade do II milénio d. C., a burguesia rural, composta por grandes agricultores possuidores de terra, começou a assumir uma importância cada vez destacada. Esta alteração das relações de produção abriu caminho à ascensão duma classe camponesa com capacidade legal e económica para promover uma lucrativa exploração da terra.