O TURISMO RURAL: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Luziana da Silva Sousa

 

Desenrolo Histórico do Turismo no Mundo e no Brasil.

Ao direcionar para um estudo histórico, podem-se identificar viagens realizadas pelo homem desde tempos mais remotos, podendo situar-se na antiga Grécia, entre fenícios, na antiga Roma ou até mesmo antes da idade escrita, há milhões de anos atrás. Alguns autores constatam que o turismo teve início na Grécia no século VIII &C. com a locomoção de pessoas aos jogos olímpicos, outros acreditavam ter sido os fenícios (por serem os criadores da moeda e do comércio), e na antiga Roma (com a criação de estrada no século II a.C.). (BADARÓ, 2003:28).

Em torno de 4000 a.C., os Sumérios, responsáveis pela idéia e utilização do dinheiro nas transações comerciais, pela invenção da escrita cuneiforme e da roda, influenciaram o surgimento do setor turístico, incentivando a partir da utilização do dinheiro como pagamento de transporte e hospedagem. (BADARÓ, 2003:30).

Os romanos tiveram um papel fundamental nas viagens, enquanto antecedente remoto do turismo, pois com freqüência usava-se como meio de lazer, comércio e descobertas realizadas apenas por uma parte da sociedade: os homens livres. As relações capitalistas que marcam a sociedade industrial e caracterizam o turismo não existiam, pois os serviços eram prestados pelo braço escravo. Logo, é possível observar que as pessoas estavam movidas pelos mesmos objetivos que hoje caracterizam o turismo de lazer (BADARÓ, 2003:31).

Muitas estradas foram construídas pelo Império Romano, o que possibilitava e determinava que os cidadãos viajassem, entre o séc II a.C. e o séc II d.C. De Roma saíam contingentes importantes para o mar, para o campo, as águas termais, aos templos e as festividades. A partir daí, os romanos puderam ser considerados os pioneiros a viajar por lazer. De acordo com MAIOR (1999) apud Badaró (2003:33), há diversas pesquisas cientificas (análises de azulejos, placas, vasos e mapas) revelaram que o povo romano ia à praia e à centros de rejuvenescimento e tratamento do corpo, buscando sempre divertimento e relaxamento.

Durante a Idade Média (séc II a XV d.C), as viagens se limitavam a peregrinações, eram viagens meramente religiosas; houve uma intensa demanda por viagens à Jerusalém, a Igreja do Santo Sepulcro, que fora construído em 326 dc. pelo Imperador Constantino. Por outro lado, devido a não necessidade de comércio, pois o sistema feudal despontava como sistema econômico vigente na época, e os feudos por si só eram auto-suficientes, acarretando a escassez de relações comerciais entre o comércio e os feudos.

As invasões durante o ano de 456 d.C. consolidaram na decadência do império romano, durante este período nada foi registrado sobre viagens, a não ser os deslocamentos militares dos povos bárbaros.

A partir do séc VI, começaram a ser registradas as peregrinações de cristãos, conhecidos como romeiros, para Roma. Nessa época, foram criados os primeiros éditos que regulamentavam a entrada destes peregrinos em Roma, instituindo tributos e cadastrando-os (BADARÓ, 2003 :35).

Conforme BADARÓ (2003:35), foi do séc VII ao IX que os deslocamentos se expandiram de maneira gigantesca, havendo viagens freqüentes para comemoração das festas da primavera, da colheita, dos territórios dos ostrogodos, visigodos, vândalos e burgúndios entre outros. Ressalta-se que nessa época consolidaram-se os tributos de passagem por territórios desconhecidos, as trocas de moedas e, sobretudo a barganha.

No séc IX, tendo sido descoberta a tumba de Santiago de Compostela, em Espanha, iniciaram-se as primeiras excursões pagas registradas pela história, organizadas pelos jacobitas ou jacobeus, que dispunham de lideres de equipes que conheciam os principais pontos do caminho, organizavam o grupo e estipulavam as regras de horário, alimentação e orações de suas equipes.

Na primeira metade da Idade Média, com a consolidação do feudalismo e do poder do clero, o homem agora pertencia a terra, tomando-se essencialmente agrícola, de maneira que as antigas estradas, construídas pelos romanos, foram se desgastando e acabaram por ser destruída Viajar era um ato cada vez mais raro, desconfortável e caro, cabendo aos senhores feudais a locomoção fora do feudo somente em casos de extrema necessidade (questões administrativas, oficiais ou pela religião).

Para BOYER (2001) apud Badaró (2003:40), as atividades comerciais da Idade Média foram constituídas em sua maioria pelas feiras, que formavam verdadeira espécie de comércio internacional. Essas feiras eram eventos que chamavam a atenção de todos os habitantes, visto que, no período de realização das mesmas, as estalagens, pousadas e outros meios de hospedagem restavam lotados, gerando grande movimentação econômica.

Na segunda metade do séc XV e todo séc XVI foi marcado pelo aumento nas viagens particulares. Viagens estas que supriam a falta de comunicação que era predominante. Ao mesmo tempo, essas viagens tinham por cunho o acúmulo de conhecimento, cultura, línguas e aventuras. (BOYER, 2001 apud Badaró, 2003:41).

Essas viagens particulares durante o séc XVI eram realizadas por jovens europeus de elite em busca de aventura. Não havia propriamente turismo, mas sim ‘tours’, viagens de ida e volta, realizadas pela nobreza masculina e o clero, de longas temporadas.

Os ingleses e alemães, tinham uma preocupação cultural muito grande em suas viagens. Os ingleses, por exemplo, entendiam que o homem deveria conhecer o berço da civilização greco-romana: o Mediterrâneo. O resultado da prática desse tipo de turismo (cultural) era bem mais rico para o aprendizado das pessoas do que o obtido nas escolas, pois a vivência e observação direta dos usos e costumes, assim como das organizações sociais, religião, arte, etc. pelos jovens que ao exercerem cargos políticos, poderiam fornecer a seus países de origem novos níveis de conhecimento e de transformação social e econômica (BADARÓ, 2003 :45).

BOYER apud Badaró (2003 :45) mostra que, com a evolução do comércio marítimo no séc XVI, assim como do comércio entre as regiões próximas da Europa Ocidental, unidades hoteleiras começaram a surgir, a exemplo do Wekalet-A-Ghury no Cairo, o primeiro hotel do mundo, construído principalmente para atender os mercadores. Doze spas foram registrados nesse mesmo século, sendo cinco deles de atendimento exclusivo para nobres e monarcas. Do mesmo modo, foram construídas diversas casas de campo nos arredores das grandes cidades italianas, sendo que esses imóveis são considerados os ancestrais diretos do conceito de ‘residência secundária’.

A partir daí, os fatores de destaque como incentivo ao turismo a época, foram as constantes evoluções dos meios de transporte e conseqüentes melhoras na agilidade de locomoção. Observa-se que os caminhos eram ruins e mal conservados e na maioria das vezes sua manutenção era feita pelos donos da terra por onde o caminho passava e estes cobravam pedágios pelos serviços.

No início do séc XVIII, a Itália instituía um pensamento de que regiões como Florença e Roma deveriam ser de passagem obrigatória de todo turismo que não quisesse sentir-se ‘inferior pelo resto da vida’, isso fez com que fosse criado clubes, por exemplo, o Clube Dilettanti — 1734, reservado somente àqueles que já tivessem viajado para Itália (BADARÓ. 2003:47).

Os jogos de azar foram ganhando espaço na sociedade, conseguindo, por fim, apoio estatal ao ter sua legitimação através de normas que dispunham exclusivamente sobre a atividade, daí surgiu os cassinos.

No entanto, a expansão das atividades lúdicas e de recreação, tendo por fim alcançado os mundanos, tão preconizados nessa época por nobres e reis, nota-se um crescimento das viagens, dos spas, dos hotéis e das vilas por toda Europa.

De acordo com JÚNIOR (2001:10), a relação de turismo com a economia só se fez presente com a percepção de Lord Shafiesbury, no século XVIII, sobre o potencial econômico do turismo. Para o mesmo, o turismo era um tipo de comércio que aquecia os demais setores da economia local, devendo os jovens visitar constantemente o continente europeu.

Tal visão se configura com o surgimento do turismo moderno no século XIX, voltado ao modo de produção e ao desenvolvimento tecnológico. Nesse momento, com o advento da ferrovia, surgiram as primeiras viagens coletivas, possibilitando o barateamento e tomando-as acessíveis à outros segmentos sociais.

Ao longo do século XIX diversas foram as viagens realizadas, sempre em busca de cultura e recreação, os europeus passaram a visitar a África e os Estados Unidos. Os trens eram sinônimos de rapidez e elemento facilitador da atividade turística. Os navios exerciam maior fascínio entre a população. Surge, então, a classe média, com salários melhores e maior possibilidade de gastos com entretenimento, como o futebol e corridas a cavalo (BADARÓ, 2003:37).

O início do século XX foi marcado pela Primeira Grande Guerra, que veio pausar o turismo em todo o mundo. Embora o desenvolvimento das ciências e das idéias democráticas tivesse dado ao século XX uma posição de destaque na história do turismo, do desenvolvimento social e cultural da humanidade, as competições de ordem econômica, apoiadas em um nacionalismo belicoso, conduziram o mundo à Primeira Guerra Mundial. Boyer (2001) apud Badaró (2003:37).

Contudo, com a Segunda Guerra Mundial, essa situação se amenizou com a introdução do avião como novo meio de transporte e a criação da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), passando o direito aéreo a ser regulamentado. O transporte aéreo desponta como a preferência dos turistas dados a sua capacidade de agilidade de locomoção (Júnior, 2001:12).

Na segunda metade do século XX, a atividade turística expandiu-se pelo mundo inteiro. O número de agências de viagens aumentou consideravelmente em conseqüência do crescimento das companhias aéreas, que, incapazes de estabelecerem suas próprias filiais preferiram abrir o mercado ao varejo.

Com o crescimento da crise ambiental e o aumento da consciência ecológica das populações tanto dos paises desenvolvidos como daqueles em desenvolvimento, o turismo no final da década de 80 vê surgir uma demanda por um tipo alternativo ao até então predominante de ‘sol e praia’. Conforme DIAS (2003:16), o novo modelo é resultado de uma mudança de valores e hábitos, em que as pessoas buscam melhorar sua qualidade de vida, o que inclui a procura por ambientes saudáveis emoldurados pela natureza exuberante.

A partir de estudos realizados por Portuguez (1999), pode-se dizer que o turismo rural é uma atividade praticada há muitos anos e que teve início nos Estados Unidos, em regiões pouco povoadas do país, pelas quais muitos viajantes se aventuravam, apesar de não existirem locais apropriados para o repouso destes. É provável que os caçadores e pescadores que se deslocavam para estas regiões que provocaram o desenvolvimento de estabelecimentos de hospedagem, criados para receber estas pessoas, que até então eram obrigados a pernoitar em ranchos da região.

Com o passar dos anos foram se desenvolvendo inúmeros meios de hospedagem para suprir a demanda de turistas na região, os quais ofereciam serviços diferenciados para satisfazer as necessidades do mercado, inclusive com prestação de serviços de lazer, dando origem aos primeiros resorts e hotéis-fazenda do país.

Na verdade, o turismo rural não era uma atividade explorada apenas nos Estados Unidos, muitos países europeus, como França, Itália, Espanha, Inglaterra e Portugal também se beneficiavam a muitos anos deste tipo de turismo.

De acordo com Zimmermann (1996), os pioneiros do turismo no espaço rural brasileiro surgiram no município de Lages, na região Sula do país. Esta região, antes de ser considerada capital nacional desse tipo de turismo, era somente um local de parada na travessia do Planalto Serrano Catarinense para o Estado do Rio Grande do Sul. A base econômica era a pecuária praticada nas inúmeras propriedades existentes e a exploração da madeira. Com a escassez da madeira nativa, foram necessárias mudanças e, em 1986, alguns produtores rurais resolveram diversificar sua área de atuação, abrindo suas propriedades para visitantes que vinham passar o fim de semana e vivenciar o dia-a-dia na fazenda.

Inicialmente, o visitante chegava na propriedade pela manhã para tomar café e nela permanecia até o anoitecer, participando das atividades como a tosa das ovelhas, a doma dos potros, a inseminação artificial, entre outras atividades. Posteriormente esta atividade foi denominada agroturismo, uma das modalidades do turismo no espaço rural.

Segundo Ruchmann (1994), na Europa um dos grandes atrativos do turismo rural se concentra na originalidade da agricultura e no pastoreio de montanha. Os governos, através da Lei da Montanha, subsidiam um determinado valor para os agricultores e pastores não modernizarem suas técnicas de trabalho, pois o abandono das suas práticas tradicionais diminuiria o interesse e o conseqüente fluxo de turistas, como por exemplo, na Suíça e na Áustria.

Esse pagamento interessa aos moradores das montanhas que, desta forma, não abandonam suas áreas, evitando o êxodo rural, e também aos governos destes países, que têm no turismo sua maior fonte de divisas.

Com isto, tem-se ocupação no campo e uma fonte de renda para os desempregados e promotores de tal atividade, o que diminui a concentração de mão-de-obra nas áreas urbanas e diminui, assim, o alto índice de pobreza nas cidades.


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