O TURISMO RURAL: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Luziana da Silva Sousa

 

PRIMEIRO CAPITULO

Caracterização e Tipologias do Turismo no Espaço Rural

O meio rural brasileiro passou por diversas transformações nas últimas décadas, contribuindo para que ele não possa mais ser considerado como essencialmente agrícola. A identificação do rural com o agrícola perdeu o sentido quando muitas atividades tipicamente urbanas passaram a ser desenvolvidas no meio rural, geralmente em complemento às atividades agrícolas. (SILVA e CAMPANHOLA, 1999).

As atividades não-agrícolas cada vez mais se constituem em formas alternativas e/ou complementares de geração de renda no meio rural. Entre elas se destacam também atividades ligadas ao lazer e ao turismo. Ainda que não seja possível quantificar a importância econômica dessas atividades, SILVA e CAMPANHOLA (1999) mostram que pesquisas realizadas pelo IBGE indicam que existem quase 250 mil pessoas residindo em áreas rurais no país e se ocupando de atividades de comercio e prestação de serviços.

O turismo rural pode representar uma nova forma de ocupação da mão-de-obra e maior remuneração em relação ás atividades tradicionais, além de poder proporcionar aumento na qualidade de vida das famílias e também maior estabilidade econômica na propriedade rural.

Para SILVA & CAMPANROLA:

“o turismo no meio rural deve ser uma atividade essencialmente difusa, diretamente relacionada com aspectos ambientais, e com especificidades inerentes a cada local Nesse sentido, as estratégias devem se basear em economias de ‘gama ‘ao invés de economias de escala, pois a idéia não é maximizar o número de turistas, mais ampliar as ocasiões de gastos dos turistas. “(1999:12)

Assim, pode-se dizer que, o turismo rural é uma alternativa para o desenvolvimento local, no que se refere ao aproveitamento das especificidades de cada território e ao pleno aproveitamento das suas potencialidades e oportunidades.

Esse setor turístico constitui-se numa forma de valorização do território, pois ao mesmo tempo em que depende da gestão do espaço local e rural para o seu sucesso, conduz a que se tenha a proteção do meio ambiente e a conservação do patrimônio natural, histórico e cultural do meio rural. Constitui-se, assim, num instrumento de estímulo à gestão e ao uso sustentável do espaço local, que devem beneficiar, principalmente, a população local direta ou indiretamente envolvida com as atividades turísticas. (SILVA, VILARINHO, DALE, 2001:22)

O fenômeno turismo Rural é novo e emergente no cenário rural, englobando um conjunto de atividades tão diversas que se toma difícil abrangê-lo em definições que não sejam polêmicas. Contudo, se evidencia no meio rural uma atividade econômica que se distingue da atividade agrícola tradicional, O debate surge da própria indefinição da categoria do espaço rural, da inclusão e exclusão das atividades lúdicas, e vinculação ou não-vinculação com as atividades agrícolas. (RUCHEVIANN, 2001)

A literatura aponta uma grande diversidade de conceitos de turismo rural, que de certo modo traduzem as suas diferentes possibilidades. De acordo com Oxinalde (1994) apud Silva, Vilarinho e Dale (2001), a dificuldade com as definições estende-se (também) às palavras turismo e rural bastante ambígua. Segundo ele, o turismo rural engloba modalidades de turismo (listadas a seguir), que não se excluem e que se complementam, de forma tal que o turismo no espaço rural é a soma de ecoturismo, turismo cultural, turismo esportivo, agroturismo, turismo de aventura. Dessa maneira, pode-se dizer que seria mais apropriado referir-se á totalidade dos movimentos turísticos que se desenvolvem no meio rural com a expressão turismo no espaço rural ou em áreas rurais. Alguns autores reservam a de “turismo rural” para aquelas atividades que, em maior medida, identificam-se com as especificidades da vida rural, seu habitat, sua economia e sua cultura.

A partir de autores que estudam os problemas de definições de turismo rural, (Calatrava e Ruiz, 1993 apud Silva, Vilarinho e Dale, 2001) apontam duas tendências, da literatura dedicadas ao tema. Na primeira, o critério diferenciador baseia-se nos elementos que compõem a oferta, falando dessa atividade quando a cultura rural é um elemento importante e aplicando denominações específicas, como agroturismo, turismo verde, eqüestre e de caça, para indicar o caráter prioritário do componente ofertado. Na segunda, o critério diferenciador seria a distribuição dos rendimentos gerados pelas atividades turísticas, que é recebida pela comunidade rural ou pelos agricultores.

Para tanto, podemos conceituar o agroturismo, uma das modalidades mais relacionadas ao turismo no meio rural, como sendo (Silva et al., citado por Silva e

Campanhola):

atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam afazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade. Devem ser entendidas como parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não-materiais existentes nas propriedades rurais a partir do ‘tempo livre’ das famílias agrícolas, com eventuais com frações de mão-de-obra externa. São exemplos de atividades associadas ao agroturismo: a fazenda-hotel, o pesque-pague, a fazenda de caça,a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do campo (1999: 4).

Em decorrência, essa modalidade de turismo no meio rural visa à valorização ambiental e do produto rural regional, que ao contrário do êxodo rural leva as pessoas ao campo com novas propostas de trabalho, e procura manter o agricultor no campo.

Do conjunto de atividades que podemos incluir como turismo no espaço rural, o segmento específico que mais cresceu foi o ecoturismo, que procura fomentar a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente natural. (DIAS, 2003:103).

O ecoturismo é hoje uma atividade muito procurada pelos habitantes urbanos para se recuperarem do dia-a-dia estressante das grandes cidades. Por essa razão, constitui-se em um dos mais dinâmicos mercados emergentes de nosso país.

Para Silva & Campanhola, o instituto de Ecoturismo do Brasil descreve o ecoturismo como sendo:

“a prática de turismo de lazer, esportivo ou educacional, em áreas naturais, que se utiliza deforma sustentável dos patrimônios natura! E cultural, incentiva a sua conservação, promove a formação de consciência ambientalista e garante o bem estar das populações envolvidas” (1999:5).

Na maioria dos casos, o ecoturismo tende a gerar pouca rende para a população rural. Muitas vezes, as viagens são programadas por agências urbanas, que se utilizam de guias também urbanos, fazendo o fornecimento de alimentação e pernoites se dêem nas cidades próximas as áreas rurais, deixando pouca, ou quase nenhuma receita dentro das propriedades rurais. (DIAS, 2003:104).

Mesmo assim, a população rural pode se beneficiar indiretamente com: a melhoria da infra-estrutura e dos serviços públicos, com o aumento do número de indústrias e de estabelecimentos comerciais com demanda para produtos para consumo imediato, com a recuperação do patrimônio histórico e cultural, e com a recuperação das áreas degradadas e das florestas nativas. (DIAS, 2003:104).

Em suma, Almeida & Blos, (1997) apud Silva & Campanhola explicam:

“o que distingue efetivamente a oferta turística no turismo rural é a preocupação de permitir ao visitante um contato personalizado, uma inserção no meio rural físico e humano, bem como, na medida do possível, uma participação nas atividades, costumes e modo de vida dos habitantes”. (1 999:12)

Portanto, a expressão turismo rural é empregada muitas vezes no sentido genérico como o conjunto de atividades que se desenvolvem no meio rural, tendo como objetivos proporcionar, ao produtor rural, a complementação da renda, e ao visitante o descanso, o contato com os valores culturais e patrimoniais tradicionais, ou até a prática do lazer num âmbito diferente da cidade.

É mesmo considerando as dificuldades de padronização conceituais já instaladas, optamos pela utilização de “turismo no espaço rural”, que consiste de atividades de lazer realizadas no meio rural e que abrange as várias terminologias, relacionadas ou não com as atividades agrícolas.


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