Artigos de Economia

Luiz Gonzaga de Sousa

 

 

TRABALHO SOBRE SRAFFA E MORISHIMA

O MODELO DE SRAFFA DE DETERMINAÇÃO DOS PREÇOS E DA DISTRIBUIÇÃO SALÁRIO-LUCRO

Piero Sraffa estudou o processo da determinação dos preços e da distribuição salário-lucro dos agentes econômicos sem passar pela teoria da produtividade marginal. Essa abordagem sraffiana tenta compensar a deficiência do raciocínio moderno de maneira clara e objetiva. Para tanto, Sraffa parte de um modelo para um processo produtivo perfeitamente fechado e sem excedentes, é praticamente uma economia de subsistência. Numa segunda etapa, a aparição de um excedente se faz necessário, para realmente aparentar uma economia na vida cotidiana. Iniciando-se os trabalhos, SRAFFA (1932) monta cinco (5) hipóteses fundamentais, tais como: a) o sistema produz duas (2) mercadorias distintas; b) a economia produz para se manter; c) a produção é feita por indústrias diferentes; d) a produção é intercambiada depois da colheita e e) que parte da produção vai para o sustento dos trabalhadores e o restante fica como meios de produção. Com isto, numa economia sem excedentes, deseja-se estabelecer a determinação dos preços ou valores, dado que os salários e os lucros não estão explícitos neste modelo.

Dado que se conhecem 'a', 'b',..., mercadorias; A, B,..., K, quantidades anualmente produzidas de 'a', 'b',..., 'k' e Aa, Bb,..., Ka, quantidades utilizadas para produzir 'a', do mesmo modo para as n mercadorias, pode-se determinar o seguinte sistema de equações:

Aspa + Bapb + ... + Kapk = Apa

Abpa + Bbpb + ... + Kbpk = Bpb

..............................

Akpa + Bkpb + ... + Kkpk = Kpk

onde:

Aa + Ab + ... + Ak = A

Ba + Bb + ... + Bk = B

......................

Ka + Kb + ... + Kk = K

agora, torna-se uma mercadoria como um padrão e seu preço iguala-se à unidade, consequentemente, determinam-se todos os preços do sistema.

Expandindo-se mais o trabalho, Sraffa cria uma nova hipótese, isto é, a economia agora passa a ter um excedente e com isto, já aparece o lucro no processo produtivo. Nesta fase, ainda se faz referência ao salário que continua sendo uma mercadoria qualquer. O sistema agora se torna:

(Aapa + Bapb + ... + Kapk)(1 + r) = Apa

(Abpa + Bbpb + ... + Kbpk)(1 + r) = Bpb

.......................................

(Alpa + Bkpb + ... + Kkpk)(1 + r) = Kpk

agora:

Aa + Ab + ... + Ak < ou igual A

Ba + Bp + ... + Bk < ou igual B

...............................

Ka + Kb + ... + Kk < ou igual K

onde r > 0 e pk > 0, isto implica que PA(1 + r) = p, consequentemente o P encontrado vai determinar, em primeiro lugar, o valor padrão e como resultado os valores equivalentes das n mercadorias serão relacionados. Daqui, fazem-se necessárias algumas inferências de fundamental importância. Primeiro, neste modelo surge a possibilidade do aparecimento de um bem de lucro e consequentemente, a divisão da mercadoria, em produtos básicos e não-básicos. Os produtos não-básicos são extraídos do modelo sem prejuízo na análise. Segundo, o salário deixa de ser uma mercadoria qualquer e passa a ser alguma coisa, quer dizer, uma componente variável. Já com o surgimento do salário, o sistema de equações fica:

(Aapa + Bapb + ... + Kapk)(1 + r) + LaW = Apa

(Abpa + Bapb + ... + Kbpk)(1 + r) + LbW = Bpb

.............................................

(Akpa + Bapb + ... + Kkpk)(1 + r) + LkW = Kpk

com auto-reposição:

Aa + Ab + ... + AK < ou igual A

Ba + Bb + ... + BK < ou igual B

...............................

Ka + Kb + ... + KK < ou igual K

com La + Lb + ... + Lk = 1

e, colocando-se em termos matriciais, tem-se:

PA(1 + r) + LKW = P

Para determinar efetivamente o nível de preços, é necessário que se conheçam as proporções entre o trabalho e os meios de produção, tendo em vista que, variações de salários geram variações de lucros e consequentemente, problemas no nível de preços. Agora, que apareceu o salário, quais os efeitos de uma mudança nesta variável com respeito aos lucros e aos preços? Uma mudança nos salários, gera uma variação no preço, devido desigualdade das proporções em que o trabalho e os meios de produção são empregados.

Ao se falar em desigualdade, aparece uma economia com déficit, isto é, baixa relação trabalho/meios de produção, e uma economia com superávit, ou excedente, quer dizer, com alta relação trabalho/meios de produção. Com isto, deve-se buscar um meio termo para tornar a economia equilibrada, quer dizer, um nível crítico, onde o preço está invariável. Como se sabe, déficit gera aumento de preços e excedente diminuição de preço para alcançar o equilíbrio. Estes resultados, foram conseguidos pelas suposições de que: 1) utiliza-se a proporção equilibradora e 2) a mesma proporção se repita sem limites nos sucessivos estratos dos meios de produção totais da indústria. Infere-se que essas duas condições, encerram-se na condição de referência. Quanto à questão equilibradora, é necessário substituir proporção entre quantidade de trabalho e o valor dos meios de produção por duas razões, tais como: 1) razão-quantidade entre o valor direto e indireto e 2) razão-valor entre produto líquido e os meios de produção.

Já se pode extrair que, enquanto a taxa de lucro for uniforme para todas as indústrias e depender apenas do salário, a razão segunda é diferente em cada indústria e depende fundamentalmente de suas circunstâncias particulares de produção, somente com exceção de se ter salário igual a zero, portanto, todo o líquido será distribuído em lucro que significa razão-valor igual para todas as indústrias. Desta forma, conclui-se que a razão-valor que pode não variar ante mudança no salário, é igual à taxa de lucro, isto é, razão equilibradora capaz de ser recorrente.

Na verdade, para encontrar o valor ou preço de uma mercadoria, dentro de um sistema econômico, é preciso criar uma mercadoria padrão que sirva de parâmetro para as demais. Na escolha de uma mercadoria padrão, não há necessidade de variação do preço. Pegando-se o sistema real, deve-se transformá-lo num sistema padrão para determinar o preço, ou razão-padrão, quer dizer, mercadoria que serve de parâmetro para medir outra mercadoria.

Suponha que o produto líquido-padrão seja dividido entre salário e lucro, significa dizer que a taxa de lucro estaria na mesma proporção com relação à razão-padrão do sistema. A razão-padrão é máxima taxa de lucro, todavia, qualquer mudança de preço faz com que seu excedente seja distribuído entre salário e lucro, até uma razão-padrão, ou taxa de lucro máxima, quando a taxa de salário for mínima, ou zero. Com isto, pode-se dizer que r = R(1 + W). Não existe razão colocar que se determina salário e o resto vai para lucro. O salário fica determinado na mercadoria-padrão, assim como o lucro obedecendo suas proporcionalidades.

Para se transformar um sistema econômico, num sistema-padrão, é necessário: 1) variar as proporções das indústrias e 2) reduzir na mesma proporção as quantidades produzidas por todas as indústrias, deixando sem variação as quantidades utilizadas como meios de produção. Depois da redução do sistema ao mínimo, pode-se voltar ao original, através de uma taxa uniforme. Para se reduzir uma equação é preciso transformá-la num sistema q, com grau k e R. Pode-se demonstrar que para o conjunto k, corresponde um conjunto de p positivos. As variações de preços correspondem variações de salário e inversamente de lucro.

Para estabelecer a proporcionalidade entre uma redução de salário e a correspondente taxa de lucro, tem-se: r = R'(1 - W) derivado da igualdade do produto líquido-padrão à unidade. Ao se fixar a taxa de lucro, estabelece-se uma paridade entre o produto líquido-padrão e a quantidade de trabalho. Tomando-se como unidade o trabalho anual do sistema, chega-se a: 1/W = R/W = R/(R' - r), isto implica dizer que a magnitude do trabalho aumenta com a queda no salário e aumenta no lucro. Finalmente, deve-se considerar as quantidades de trabalho para se examinar a decomposição do preço em salário e lucros. à proporção que a taxa de lucro muda, o valor de cada um dos termos de trabalho, varia em direção oposta pela taxa de lucro e pelo salário, isto quer dizer, varia a diferentes níveis de distribuição, bem como termos de data diferentes. Se salário for expresso em termos de produto líquido-padrão, significa que, quando a taxa de lucro muda, o salário também muda, de acordo com a seguinte expressão: W = 1 - (r/R).

Como se sabe, o trabalho não é todo aplicado ao mesmo tempo, desta forma, para taxa de lucro igual a zero, os termos de trabalho, dividem-se em trabalho velho e trabalho novo. Por isto, a idade do trabalho é muito importante na determinação do salário e do lucro. A taxa de lucro a qualquer termo é: r = R - (1 + R/n + 1). Portanto, determinados os preços dos produtos, podem-se determinar as porções que ficam para lucro, dependendo de suas peculiaridades individuais.


Google
 
Web eumed.net

  Volver al índice de Artigos de Economia

Volver a "Libros Gratis de Economía"

Volver a la "Enciclopedia y Biblioteca de Economía EMVI"