Artigos de Economia

Luiz Gonzaga de Sousa

 

O QUE É CIÊNCIA?

A vivência no mundo é uma dinâmica difícil de compreender, complexo de trabalhar e complicado em seu evoluir. É neste contexto que surgem diversas perguntas e muitas medições. Muitos pensam que ciência é algo complicado; são palavras difíceis, ou não conhecidas, ou são criatividades em primeira instância. Outros imaginam que ciência é algo do outro mundo; é o que se chama de metafísica. Em verdade, ciência é dialética; é o cotidiano; são as relações entre as pessoas; é uma estruturação coerente, lógica e simples de uma realidade que mostra as respostas a todas as perguntas que se façam sobre a relação homem-natureza; homem-homem e homem-invento.

Mas, afinal, o que é ciência? Será que são as dificuldades que se impõem para se conhecer a realidade? Será que é, na verdade, falar difícil? Será que são os escritores famosos? Será que são os inventores que fizeram parte da história? Ou, o que é ciência? Será que ciência é a Medicina? Será que ciência é a Engenharia? Será que ciência é a Astrologia? Será que ciência é a Arqueologia? Finalmente, o que se pode chamar de ciência? É nesta ótica que se pretende estudar o conceito, a formação e a utilização da ciência, tentando esclarecer o real significado deste termo e verificar que ciência é coisa simples; é a lógica e é, sobretudo, a coerência e objetividade.

Para Dino F. FONTOURA1 (1964), ciência vem do latim scire, que etmologicamente significa conhecimento, saber. Quando se coloca este conceito, verifica-se que ciência é simplicidade lógica, coerência; é conhecimento sistematizado; é o saber sintético e justificado. Já ARISTÓTELES2 (366 a. C.), considerado o pai da ciência, legou à humanidade que ciência é conhecimento das coisas por suas causas. Com isto, ele quer explicar que não se conhece nada da atualidade se não teve uma origem, mas uma origem consciente, justificável, pode-se até dizer: certa. E quais seriam as causas fundamentais que se podem listar? Lista-se como sendo a material, a formal, a eficiente e a final.

Mu gente quer participar da ciência somente com idéias soltas, com conhecimento vulgar, simplório, sem nenhuma base, com nenhuma causa e fala com uma propriedade que mus vezes leva a alguém acreditar que tal fato é verdadeiro. A este tipo de coisa, pode-se chamar de "senso comum", ou até mesmo de informações necessárias para as conversas entre amigos, ou mesmo comunicações informais entre os seres vivos, entretanto, nunca pode ser denominado de parlamento científico, quer dizer, diálogo científico. A verdade é científica, mas nem toda ciência tem resultados verdadeiros, ao se considerarem as suas hipóteses, os seus objetivos, ou mesmo as suas premissas iniciais.

Desta feita, é imprescindível a colocação de E. HUSSERL3 (1859-1938) ao deixar claro que a ciência é um sistema de conhecimentos certos e prováveis, baseados em princípios sistematicamente ordenados e, no sentido demonstrativo, agrupados doutrinariamente. O conceito de HUSSERL é de fundamental importância, todavia, não considera um fator necessário a todo trabalho científico, isto é, não deixa claro o elemento metodológico e nem tão pouco, como se conseguem resultados novos que irão participar da ciência. O trabalho da ciência é organizar os fatos, classificá-los para um melhor entendimento da realidade, bem como, na medida do possível extrair conclusões verdadeiras sobre a realidade.

Mus vezes não é preciso criar coisas novas para se fazer ciência, no entanto, é suficiente que se dê simplicidade ao saber pleno, porque ciência é conhecimento; ciência é vida e ciência é verdade que é mutável, enquanto não se torna Lei. É neste sentido que é providencial a posição de Santo TOMÁS4 (1745) ao explicar que scientia est assimilatio mentis ad rem scitam que em português quer dizer, a ciência é a assimilação do espírito à coisa conhecida, pois esta colocação é a organização dos conhecimentos em busca das verdades absolutas ou relativas. As verdades científicas são fatos reais que devem ser as causas únicas de todos os problemas que se tentam conhecer nos dias de hoje.

É sempre comum misturarem-se os conceitos, tal como teoria com verbalização, ciência com progresso tecnológico, tecnologia com avanço de técnicas e alguns outros conceitos mais. Pelo que se conhece de ciência, não se pode mais confundir os termos, pois progresso tecnológico quer dizer avanço da ciência que se distingue desta, claramente. Quanto ao conceito de teoria que se confunde com verbalização, verifica-se que teoria é uma metodologia de organização da ciência, isto é, estudo do mundo real, formação de modelo, criação de hipóteses, estruturação de objetivos, delimitação do objeto, estudo metodológico e extração de conclusões sobre o estudo.

Vê-se neste conjunto de termos, uma multidão de palavras mal empregadas, no dia a dia daqueles que se dizem intelectuais, conscientizados, conhecedores da realidade e, sobretudo, de algumas pessoas que se autodenominam cientistas. Sente-se que é muito fácil ser cientistas e é muito difícil, quando se procura complicar os fatos em busca de uma discriminação que é imprópria e não condiz com as verdades científicas. A complexidade dos conhecimentos diz respeito, muito mais à ignorância do agente emissor, do que uma verdade científica que deve ser a mais simples possível. Não se faz ciência com dificuldade, mas com clareza, com transparência e com isenção ideológica.

Inegavelmente, todo cientistas tem a sua ideologia, a sua formação intelectual, pois, fica difícil de ter uma imparcialidade, todavia, pode-se ter, pelo menos, integridade intelectual. Com isto, não se pode duvidar de que uma pessoa que se formou dentro de um sistema capitalista, não vá defender o seu modus vivendi em detrimento do outro. Do mesmo modo, acontece com as pessoas que tem formação socialista e professam realmente a sua ideologia, não defenderão jamais os capitalistas, Mesmo assim, pode-se fazer ciência sem tomar partido tão contundente como fazem alguns apologistas de alguns sistemas, pois isto dificulta, em verdade, o entendimento dos fatos científicos.

Dentro desta ótica, fica difícil de conhecer a realidade dos acontecimentos, ao considerar-se que se busca a verdade que se quer ouvir e nunca o que de fato aconteceu na dinâmica da vida. O cientista deve ser imparcial para poder enxergar tudo que aconteceu, está acontecendo e poderá acontecer na transformação humana, social e geológica, porque só desta maneira, é que, as coisas podem fluir para a verdade correta. As inversões mais pragmáticas são mais fáceis de serem desvinculadas de qualquer sistema ideológico ou de qualquer sistema político, entretanto, quando se refere ao problema das transformações sociais, o trabalho fica muito mais complexo.

Não se pode, em verdade, enxergar somente os criadores de determinados instrumentos de trabalho, como os cientistas, pois, de certo, os são, só que se atribui somente a estes inventores, o adjetivo de cientistas, cujo termo, engloba também os das ciências humanas e sociais. Quando se pronuncia o termo cientista, pensa-se de imediato em EINSTEIN, HOPPENHEIN, PASTEUX, ÉDISON e muitos outros, deixando de fora uma gama bastante grande de cientistas da área social que participaram da ordenação dos fatos econômicos e sociais num estudo mais aprofundado sobre a evolução do mundo e do espaço sideral, que culminou com o progresso que se tem tido até hoje.

Inclusive as criações palpáveis ou visíveis, como a vacina, os materiais de computação, a ida do homem à lua, o automóvel, o avião, a televisão e muitos outros instrumentos utilizados hoje em dia, não teria nenhum valor se não tivesse o estudo pormenorizado dos cientistas sociais. Porém, neste contexto, podem-se cr os trabalhos de cientistas sociais da área de economia, de sociologia, de antropologia, de política, de geografia, de história e de mais algumas áreas de suma importância para o progresso da ciência. Sem este complexo, não existiria ciência; eram somente criações que resolveriam determinados problemas sem mu valia para o progresso geral da humanidade.

Na mesma linha de raciocínio sobre o conceito de ciência, verifica-se também o de tecnologia, criando confusão com progresso tecnológico, pois, o primeiro significa o estado d'arte, ou como se faz a coisa, a técnica de manufatura do objeto. Por outro lado, tem-se que progresso tecnológico são os avanços que a tecnologia está conseguindo ao longo do tempo, quer dizer, o agricultor atrasado tem sua tecnologia muito simples, entretanto, aquele mais desenvolvido, ou mecanizado tem uma tecnologia bem mais avançada do que a do primeiro. Ambos possuem tecnologia, mas é de fundamental importância colocar que o segundo adquiriu alguns progressos e está na frente tecnologicamente.

Os conceitos de tecnologia e progresso tecnológico servem para se entender melhor o conceito e explicação do termo ciência que se encontra tão deturpado no mundo atual. Como se sabe, o mundo foi criado por fontes misteriosas, ou não se teve condições intelectuais suficientes para conhecer a origem real do começo do mundo, ou porque não dizer do universo. Na suposição de que se conhece como iniciou o mundo, muito fatos aconteceram e foram armazenados sem se poder trabalhá-los mentalmente, devido à limitação da mente humana naquele momento e porque não dizer, até hoje. Nesta altura, descobrir tudo que aconteceu naquele momento histórico é muito difícil, ou até impossível.

Esses fatos vem se acumulando ao longo da história e cada vez mais dificultando o entendimento da evolução histórica da humanidade, pois, frente a isto, a única maneira de trabalhar estes acontecimentos é através de hipóteses que podem iniciar mus vezes com premissas falsas, culminando com conclusões falsas, ou até mesmo verdadeiras. Entretanto, isto é muito importante porque incentiva mais e mais investigadores a participarem do processo científico em busca das verdades, porém, se não fosse assim, não existiria ciência, mas, verdades puras, insofismáveis que não precisaria ser contestadas. Estas são as dificuldades que a ciência se depara e têm que ser exploradas pelos abnegados cientistas.

No mundo cotidiano, o volume de informações é tão grande que faz com que as pessoas confundam ciência, até mesmo com Lei, que significa coisa totalmente distinta daquela. Sem muitas elucubrações intelectualizantes, pode-se definir Lei, de maneira muito rápida, da seguinte maneira: Dino F. FONTOURA5 (1964, p. 25) diz que Lei é toda regularidade observada na conduta e na natureza; entretanto, MONTESQUIEU6 (1724), em seu livro I (L’Espirit des Lois), alega que as Leis na significação mais genérica, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas; e, neste sentido, todos os seres têm as suas Leis. Como se vê, as Leis são imutáveis; são eternas; criadas pelo Legislador universal.

Observa-se no dia-a-dia que há uma espécie de mudança na estrutura de vida das pessoas e, consequentemente, os legisladores da terra, têm obrigações de criar Leis que se adaptem à realidade cotidiana. Isto não significa dizer que as Leis são multáveis, mas que o conjunto de regras de conduta criadas pelo homem, deve sofrer reformulações e aquelas que foram superadas devem ser substituídas por outras melhor adaptáveis àquela realidade. É com isto que se fazem as diversas confusões com o termo ciência que deve explicar a evolução dos fatos, nunca dar normas de conduta para que determinada população siga, pois as Leis são localizadas e ciência é universal.

Estas confusões que se geram, dizem respeito às dificuldades que existem também quanto ao termo lógica, pois é fácil de ouvir nas ruas, ou em qualquer lugar se dizer: isto tem lógica; a lógica diz assim; isso não tem lógica; etc.... Em verdade, Lógica significa, para Immanuel KANT7 (1781), ciência das Leis necessárias do entendimento e da razão geral. Entretanto, Stuart MILL8 (1843) mostra que lógica é a ciência das operações intelectuais que servem para avaliação da prova. Mas, ARISTÓTELES9 (366 a. C.), simplifica o máximo possível quando coloca que lógica é ciência da demonstração. Desta feita, pode-se dizer, segundo Dino F. FONTOURA10 (1964, 52) que lógica é a ciência das Leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura e na demonstração da verdade.

Sem o entendimento peremptório da lógica fica muito difícil de fazer ciência, ou até mesmo de se falar em termos científicos, tal como se sabe que fazer ciência é buscar a verdade dos fatos. Contudo, no que diz respeito a verdade propriamente d, verifica-se que esta verdade é a que é, como coloca Santo AGOSTINHO11 (398 d.c) em seu original: Verum est id quo est. Não se pode, em todas as frases, ou em todas as construções gramaticais dizer que há lógica, porque as frases de comunicação comunicam, mas nem sempre há lógica, há uma transmissão de informação, algumas vezes sem lógica. É por isso que é de fundamental importância se conhecer a lógica, sua divisão e seus reflexos.

Em suma, fazer ciência é ter objetividade; é buscar as verdades daquilo que não se tem resposta e é persistir na tentativa de se conhecer o processo de evolução que a humanidade tem atravessado ao longo da história. No mundo atual, o acervo de informações que se tem é muito grande, devido a televisão, o rádio, os jornais e é por isto que se deve ter muito cuidado quanto a lógica desses dados e muito mais, quanto as verdades que se quer entender. Fazer ciência é pegar as notícias, interpretá-las e tirar as conclusões lógicas e verdadeiras, sobre aquelas informações que se pretendem ser verdadeiras desde sua origem, isto é, noticiou é verdade; isto não é verdade.

Pode-se verificar que as notícias trazem consigo, o que desejam aqueles que estão no comando, assim como, se for um instrumento de comunicação de quem não está no poder; também, estas notícias vão refletir o pensamento daquela comunidade. Aí está o cuidado das notícias que se ouve, ou se lê, pois por traz de tudo isto, está toda uma história, todo um comprometimento e toda uma luta pela manutenção de seu status quo, muito providencial a quem está no comando da história. Portanto, ciência é raciocínio lógico; é buscar o que é real e transparecer os fatos para que haja desenvolvimento conjunto e resultados profícuos do mundo científico de todas as épocas.

Desta feita, pode-se dizer que, quem está no comando faz a história e seus subordinados participam desse movimento, contudo, não se pode esquecer que nem sempre as contradições internas estão sendo observadas por estes fazedores que se envaidecem de tais poderes, pois, como resultado verifica-se uma queda daquele sistema. Isto é a dinâmica da vida, que não se resume naquilo que está aos olhos de quem comanda; mas, tem uma visão bem mais ampla, pode-se até dizer a metafísica dos agentes da natureza, cujas superações não estão sendo observadas pelos olhos humanos que somente enxergam o imediatismo, o que está na frente, deixando de lado toda uma história de desenvolvimento, ou de retrocesso da humanidade.

A ciência tenta explicar esta questão, com eficácia e sapiência, quando mostra a superação dos fatos e o aparecimento de outros, entretanto, os participantes da história, ou os elementos da ciência não querem ver a realidade dos avanços e acabam tragados por novas estruturas sistêmicas. É neste sentido, que se diz abertamente, que a teoria é diferente da prática, cuja premissa não é verdadeira, porque quem conhece a teoria, entende e sabe aplicar nos momentos de práxis, a não ser que não tenha entendido a teoria. Não existe distinção entre teoria e prática, o que existe é que, quem aprendeu uma teoria e ao aplicá-la não deu certo, é porque não aprendeu efetivamente como utilizar a ciência de maneira correta.

Finalmente, precisa-se de mu humildade na vida profissional como cientista, mesmo que não seja cientista, deve-se ter o cuidado quando se trabalhar com os fatos que fazem parte da história, porque a própria humanidade paga um mau entendimento sobre a dinâmica da vida. Precisa-se retirar da mentalidade humana a questão de que a teoria é uma coisa e a prática é outra, ao considerar-se que uma é a outra, pois teoria é o resultado prático que deu certo, quer dizer, toda uma realidade que foi boa e que precisa ser interpretada e aperfeiçoada para aqueles que não sabem ainda trabalhar. Agora, o cientista deve ter bastante consciência de seu trabalho para que em seu trabalho a prática seja realmente a teoria.


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