Google
En toda la web
En eumed·net






Keynesianas
Mario Gómez Olivares

 

 

A Teoria Geral de  J. M. Keynes revisitada

 

A incerteza do investimento e as expectativas da classe empresarial

           

Este bloco constitutivo das teorias de Keynes é fulcral para o entendimento da sua teoria do emprego. Keynes chama a atenção na definição utilizada de eficiência marginal de capital para a relação em termos de expectativas dos rendimentos prováveis e do preço de oferta corrente do bem capital.

4.1.     A eficiência marginal do capital decrescente e inestável

           

Keynes define a eficiência marginal do capital, como a relação entre o rendimento provável de um bem capital e o seu preço de oferta ou reposição, a relação entre o rendimento provável de mais uma unidade dessa classe de capital e o custo de produzí-lo. Imagina-se a taxa de rendimento que se espera obter do dinhero que for investido num bem apenas produzido e não dos rendimentos históricos que um bem têm rendido sobre o seu custo original, visto retrospectivamente, depois do fim do seu uso[1].

Keynes considera, que a eficiência marginal do capital virá a reduzir-se conforme o investimento aumenta, de acordo ao princípio dos rendimentos decrescentes. De uma parte porque o rendimento provável baixa, se a sua oferta aumenta, e , em parte porque a pressão para produzir esse tipo de capital fará com que o seu preço de oferta seja maior.

No curto prazo predomina a influência do preço de oferta por sobre a diminuição dos rendimentos. Quanto maior o período a considerar maior será a influência do segundo factor.    Assim para cada classe de capital pode-se trazar uma curva que mostra a proporção que terão que aumentar os investimentos durante o período, de modo a que a eficiência marginal do capital baixe até essa cifra envolvida:

 

“ Thus for each type of capital we can build up a schedule,  showing by how much investment in it will have to increase within the period, in order that its marginal efficiency should fall to any given figure. We can aggregate these schedules for all the different types of capital, so as to provide a schedule relating the aggregate investment to the corresponding marginal efficiency of capital in general which the rate will establish. We shall call this the investment demand-schedule; or, alternatively, the schedule of the marginal efficiency of capital”[2].

 

Resultará evidente, que a taxa real de investimento corrente será empurrada até o ponto em que a eficiência marginal do capital não exceda a taxa corrente de juros para as diferentes formas de capital.  Se Qr é o rendimento provável de um activo no tempo r, e d é o valor presente de uma unidade monetária ao prazo de t anos, descontada a taxa corrente de juro. O sumatório Qtdt é o preço de procura do investimento, que será levado a ser igual ao preço de oferta de investimento. Se Qr dr é menor que o preço de oferta, não existirá investimento no bem de capital.

O incentivo para investir depende em parte da curva de procura de investimentos, em parte da taxa de juros; nem o conhecimento dos rendimentos prováveis de um activo nem a sua eficiência marginal do capital permitem deduzir a taxa de juro e o seu valor presente. Esta análise deixa em claro o facto que dever-se-á encontrar a fonte da taxa de juro, e apenas uma vez conhecida a taxa de juro poder-se-á avaliar o bem,  podendo calcular o rendimento provável capitalizado[3].

A curva de eficiência marginal do capital é de fundamental importância, porque as expectativas do futuro influenciam o presente através deste factor, mais do que através da taxa de juro. O erro tradicional consiste em considerar a eficiência marginal do capital em termos do rendimento corrente do equipamento de produção, o que apenas seria correcto numa situação estática em que não existissem mudanças futuras que influenciassem o presente.

Se a eficiência marginal do capital for reducida ao status da taxa da juro, que é um fenómeno corrente, fechar-se-ia a possibilidade de considerar a influência do futuro na análise do equilíbrio presente. A restituição dessa possibilidade faz-se considerando o modo como as expectativas do futuro afectam o presente através dos preços da procura do equipamento duradouro: “It is therefore, consonant with, and agreeable to, our broad principles of though, that expectations of the future should affect the present through the demand price for durable equipment”[4].

Institui-se assim que a taxa de investimento depende da relação que existe entre a taxa de juro e a curva de eficiência marginal do capital correspondente a diversas escalas do investimento corrente. Como a eficiência marginal do capital mede a relação dos rendimentos esperados e um bem de capital actual com o preço de oferta ou reposição desse bem de capital, é necessário investigar mais profundamente os factores esperados futuros que modificam essa relação presente, os factores que influenciam as decisões dos empresários a ampliar à produção ou a reduzi-la.

 

4.3.     A eficiência marginal do capital e as expectativas

 

A integração das expectativas, como a percepção por parte dos empresários sobre os acontecimentos futuros do funcionamento económico é vital. Se considerarmos o efeito da expectativa de descida do custo previsto de um equipamento sobre a eficiência marginal do capital, sejam elas produzidas por modificações no custo do trabalho, por modificações na unidade de salários, ou por invenções ou por efeito das mutações da técnica, a produção resultante do equipamento actual terá que concorrer com a produção producida com um equipamento de menor custo, que poderá vender os bens mais baratos. Os lucros provenientes das vendas do equipamento novo e antigo reduzir-se-ão, se toda a produção se torna mais barata, pelo que a eficiência marginal descerá:

“ in so far as much development are foreseen as probable, or even as possible, the marginal efficiency of capital produced today is appropriately diminished”[5].

A produção resultante do equipamento produzido na actualidade, concorre durante a sua duração, com a produção resultante de equipamentos produzidos a seguir, a um custo de trabalho menor, podendo vender a sua produção mais baratos, podendo o preço da mesma atingir um nível desejado( consideração monopolista). Os lucros do empresário procedentes do equipamento novo e velho, medidos em dinhero, reduzir-se-ão se toda a produção se torna mais barata, supondo a procura constante.

Do mesmo modo, as expectativas sobre as mudanças do valor do dinhero influem sobre o volume de produção existente. A expectativa de uma descida no valor do dinhero estimula o investimento e, por consequência o valor do dinhero influencia o nível do emprego, porque eleva a curva de eficiência marginal do capital, deslocando a curva de procura de investimentos à alta; ao contrário, i.e., uma subida no valor do dinhero implica uma descida da curva de eficiência marginal do capital [6].

A importância de tais alterações nas expectativas deriva dos efeitos que estas mutações provocam sobre o desejo de produzir novos bens. Um efeito estimulante de preços maiores nas expectativas, não se deve a que aumente a taxa de juros, mais ao facto que se eleva a eficácia marginal de um volume dado de capital, e:

“If the rate of interest were to rise pari passu with the marginal efficiency of capital, there would be no stimulating effect from the expectations of rising prices”[7].

Se a taxa de juro se eleva pari passu à previsão de aumentos dos preços não teria efeitos estimulantes sobre a produção de novos bens de capital, porque o incentivo para a produção depende de que a eficiência marginal do capital aumente relativamente à taxa de juro, pelo que o efeito estimulante de expectativas de preços maiores apenas faz sentido se a eficiência marginal do capital aumenta, e não porque uma variação anticipada no valor do dinheiro modifique a taxa de juro monetária, nesse caso a taxa de juro subiria, deixando a situação inalterada[8].

A expectativa de uma descida da taxa de juro, pode fazer baixar à eficiência marginal do capital, se a produção que resulta do equipamento atual for concorrer com o equipamento novo o qual requer uma recompensa menor. Esta hipótese, só é valida se a procura estiver a descer para esse tipo de ben.

É importante entender a dependência entre a eficiência marginal do capital de um volume determinado de capital e as expectativas, pois é esta dependência que faz con que a eficiência marginal do capital fique sujeita a certas flutuações violentas que explicam o ciclo económico, na medida em que o auge e a depressão podem ser descritos como flutuações da eficiência marginal do capital relativamente à taxa de juro.   

4.3.     A eficiência marginal do capital e o risco

 

Dois tipos de riscos afectam o volume do investimento. O primeiro é o risco do empresário ou detentor efectivo do dinhero, relativamente à possibilidade de obter na realidade os rendimentos prováveis esperados. O segundo tipo de risco, num sistema de crédito, é o risco do prestamista, pois se as expectativas do empresário não se verificam quando toma dinhero em empréstimo, este não cumprirá as obrigações contraidas. Uma terceira causa, não mencionada como risco, mas que afecta o investimento, são as mudanças no padrão monetário, que faz dos empréstimos em dinhero um risco adverso, diminuindo a segurança, pela eventual depreciação os activos reais, embora estas mudanças possam reflectir-se na alteração dos preços dos bens reais duradouros.

O primeiro dos riscos, como custo social real, diminue na média social, ou quando aumentam a exactidão das previsões( importância da informação). O segundo é uma adição ao custo do investimento, inexistente quando o prestamista e empresário coincidem. O risco duplica-se pois o empresário agrega ao tipo de juro, o suficiente para obter um rendimento mínimo provável, que o inducirá a investir. Este risco leva a aumentar a margem entre as expectativas relativamente aos rendimentos e a taxa de juro àqual se pretende contrair uma dívida. Por isso mesmo, as relações de força( margem de segurança) entre o empresário e o prestamista determinarão essa margem. A apreciação desse risco dependerá do nível da actividade económica.

4.3.4. as expectativas contraditórias dos  investidores e produtores e o emprego

As expectativas são o modo como os agentes económicos interrelacionam o presente com o futuro. Sendo a economia capitalista uma economia de mercado, em que a produção é intertemporal, não apenas porque a produção leva tempo, mas sobretudo porque o investimento em  bens de capital reflecte necessidades futuras de consumo, as expectativas de todos os agentes, mas sobre tudo de empresários e investidores, são de vital importância para o emprego.

As expectativas são de outra parte, a forma como as previsões sobre o futuro incidem sobre as decisões dos agentes económicos, nesse sentido as expectativas dependen do modo como as previsões sobre os negócios incidem sobre essas decisões e do modo como elas se realizam.

Mas as expectativas influenciam reciprocamente as previsões não apenas objectivamente, pelo qualidade da informação, mas também psicologicamente, pela relevância da informação. Como existem dois tipos de decisões básicas dos agentes encarregados do investimento, a decisão de produzir com um determinado equipamento e a decisão de adicionar equipamento ao existente, as expectativas serão de curto prazo, na medida que influenciam a produção corrente, ou através das expectativas de longo prazo, que influenciam à produção futura, embora seja evidente que existem decisões na base de expectativas de longo prazo que levam a modificar as decisões de produzir no presente, pelo que a línea divisória  entre os dois tipos de expectativas é dificil de trazar.

Um empresário que decida produzir um determinado bem ou ampliar a produção desse tipo de ben, deverá considerar não apenas os rendimentos presentes da utilização de um determinado equipamento, mas sobretudo os rendimentos futuros. No presente, a produção de um bem deve considerar os custos de produção para uma determinada procura, tomando em conta várias escalas possíveis de produção, assim como o valor das vendas a realizar, considerando a elasticidade da procura. As expectativas reflectem essas previsões numa perspectiva que as coisas continuarão a estar como dantes. Por isso o volume de produção e de emprego actual depende dessas expectativas. A realização da produção e das vendas originará um processo de revisão ou confirmação das expectativas que leva a novas previsões.

A formação das expectativas depende de se a informação considerada relevante se efectivar, nesse sentido a produção e o emprego serão influênciados subsequentemente. As expectativas que levaram a comprar um determinado equipamento ou a formação de existências podem não influenciar directamente a formação de novas expectativas sobre o volume de produção a realizar e não terão consequências sobre o emprego, por isso Keynes acredita que:

 “on each and every occasion of such decision, the decision will be made, with reference indeed to this equipment and stock, but in the light of the current expectations of prospective costs and sale-proceeds”[9].

Isto quer dizer que não é das expectativas actuais que resultará uma mudança no volume de emprego, mas da mudança das expectativas de curto ou longo prazo que resultarão variações no emprego. Por isso que as variações de expectativas de curto prazo não tornam as mudanças no emprego violentas ou rápidas, estas influenciam gradualmente a produção e o emprego. Isto explica porque as mudanças no volume de emprego, em situações de depressão ou de recuperação são lentas, pelo que para cada estado das expectativas existirá sempre um nível da produção e do emprego, mas:

“a mere change in expectations is capable of producing an oscillation of the same kind of shape as a cyclical movement, in the course of working itself out.. But the actual course of events is more complicated still. For the state of expectation being superimposed long before the previous change has fully worked itself out”[10].

O nível do emprego depende, em cada momento e situação, não apenas do estado actual das expectativas, mas também das expectativas pasadas, na medida que estas se reflectem na existência de um volume e qualidade do equipamento actual[11]:“so that the economic machine is occupied at any given time with a number of overlapping activities, the existence  of which is due to various past states of expectations”[12].

O proceso de formação das expectativas de curto prazo é gradual é contínuo, cuja realização depende quasi exclusivamente tendo em vista os resultados obtidos. Alias é sensato que os produtores determinem as suas decisões de produzir na base de expectativas de curto prazo, quando não se esperam grandes mudanças que alterem as previsões sobre os rendimentos futuros e sobre os custos dos factores e que originem anticipações não esperadas.

Outro é o caso quando os bens produzidos são bens de equipamento, os quais serão produzidos, seja quando a procura aumenta, o que implica antecipar rendimentos maiores esperados, seja pelo aumento do rendimento por unidade de output, seja por aumento do emprego. Neste caso as expectativas dos produtores baseiam-se nas expectativas de longo prazo dos investidores, as quais pela natureza própria não podem ser obtidas com a lucidez de um determinado resultado[13].

Isto obriga a considerar com mais detalhe o estado das expectativas de longo prazo, as quais são vitais numa economia monetária em que as decisões do produtor e o investidor são de natureza diversa e por vezes antinómicas, sobretudo se os objectivos que se perseguem são diferentes e contraditórios, quando as expectativas de longo prazo são revistas imprevistamente.

Keynes chama a atenção para os factores que determinam as previsões sobre os rendimentos futuros, porquanto são estes que estão na base das decisões sobre a procura de investimentos em bens de capital. Este é um exercício que os empresários realizam na base de factos que podem prever-se com maior o menor certeza e acontecimentos futuros, sobre os quais pretende-se obter informação de relativa confiança. As expectativas de longo prazo dependem das mudanças futuras de determinados  acontecimentos que venham a contecer nesse período, tais como as mudanças futuras nas existências do tipo e quantidade de bens de equipamento, das preferências intertemporais dos consumidores, da força da procura efectiva durante um determinado período, sobre o qual incide a utilização de um equipamento, das mudanças nas unidades salários em termos monetários.

Na formação das expectativas orienta-se por factos que inspiram certa confiança, mesmo se esses factos tem uma importância menor. Quando se planeiam as expectativas não devem ser considerados aspectos sobre os quais não existe um grau de certeza[14]. É por isto que os factos do presente encontram uma congruência desproporcionada na formação das expectativas, sendo hábito proyectar essa situação presente no futuro, modificando-os segundo os motivos que tenhamos para esperar alguma variação. As expectativas planeadas baseian-se, sobretudo, na confiança dos factos, onde os factos conhecidos servem como projecção futura, portanto, baseian-se na probabilidade e confiança na previsão.

O estado de confiança têm uma importância cruxial sobre a curva de eficiência marginal do capital, podendo ser considerado um factor que influencia a taxa de investimentos, porque é um dos factores que determina a eficiência marginal do capital. O estado de confiança, resulta da observação empírica sobre os mercados e da psicologia dos negócios[15]. O problema capital reside em que a base dos conhecimentos sobre o qual baseiam-se os rendimentos esperados futuros são precários.

 

4.5.           os empresários e a incerteza

 

Keynes evoca o papel histórico dos empresários, cujo dinamismo, energia, espíritu de jogo e aventura contribuiram de forma decisiva para o nascimento e desenvolvimento  da moderna sociedade capitalista, sendo depositada na sua confiança a aplicação dos recursos, sem que se conheçam muitas vezes os reais resultados da arte de investir. As mudanças institucionais que se operam nas empresas, aumentam a incerteza relativamente à infalibilidade dos cálculos previsionais, porquanto a natureza das empresas modificou-se, separando-se a propriedade da gestão do capital. Com a mudança nas empresas, a socialização da propriedade, a separação da propriedade da gestão, os quais de uma parte facilitam o investimento, por outra o tornam mais inestável. Com a expansão do mercado financeiro, o surgimento da bolsa e outros mercados de investimento, a revisão dos compromisos de investimento é fluida, e nada indica que de uma aplicação de capital surjam novos investimentos, simplesmente transpasa-se propriedade con fins de lucro inmediato.

Uma certa classe de investimento rege-se pela média das expectativas dos especuladores da bolsa de valores, e não pelas expectativas genuinas do empresãrio professional, o que se manifesta no preço das acções. As avaliações e reavaliações sobre o estudo das espectativas, e do estado de confiança, que implica a realização dos investimentos baseia-se no método convencional, que supõe que a situação existente dos negócios continuará por um tempo indefinido. Embora, a experiência ensina que esta não se repete com probabilidade, i.e., as valorizações sobre os mercados se realizam tomando em consideração toda classe de conjectura, que de modo nenhum se relacionam com o rendimento provável.

O método convencional de calcular será compatível com uma considerável permanência e estabilidade nos assuntos, enquanto possamos confiar na continuidade da convenção. Se existem mercados organisados para o investimento e se pode confiar-se em que o convénio não variará, pode-se animar o investimento. A ideia de que o único risco que se corre é que uma mudança real das condições de futuro inmediata, sobre cuja probabilidade pode intentar-se formar um juizo próprio, não é provável que seja muito grande.

O importante é não romper a convenção, pois o investimento será seguro, mesmo para períodos curtos, e numa suscesão dos mesmos poderá rever-se as conclusões antes de qualquer grande modificação. Deste modo os investimentos tornam-se fixos para a comunidade e líquidos para o indivíduo. A manuntenção de uma convenção mesmo arbitrária, tem pontos frágeis, que precarizam a consecussão de um volume de investimento suficiente:

i)          o aumento global, proporcionalmente maior, dos títulos e valores de rendimento variável na posse de especuladores sem ligações com os negócios concretos e sem conhecimento dos rendimentos esperados futuros; ii) as flutuações diárias dos lucros dos investimentos existentes, com carácter efémero e que tendem a influenciar desproporcionadamente o mercado; iii) o facto que o mercado está sujeito a ondas de optimismo e pessimismo, sem ligação a cálculos razoáveis; iv) os agentes com maiores conhecimentos não têm por preocupação um melhor cálculo previsional a longo prazo dos rendimentos esperados, mas sim das variações nas bases convencionais, anticipando-se às do público em geral, com grande influência da psicologia da masa do mercado; v) o investimento baseado nas expectativas auténticas de longo prazo é muito difícil na actualidade. É mais fácil adivinhar o que a massa pretende que investigar laboriosamente sobre o estado dos negócios, conclunido neste sentido que a experiência não dá probas claras de que uma política de investimentos socialmente vantajosa  coincida com a mais produtiva. Se os homens se comportam de modo a procurar o lucro inmediato, os lucros remotos são descontados pelo homen médio a taxas muito altas, que acabam por inviabilizar as expectativas de realizar investimentos. O investidor de longo prazo que promove o interesse público, o que se opõe aos convencionalismos estagnantes e detem uma conducta temerária aos olhos da opinião média sofre o embate e a mudança dos tempos. Segundo Keynes a regra é “to beat the gun”;

Keynes distingue claramente entre especulação, como actividade de antever a psicologia do mercado e, a actividade empresarial, associada ao espíritu de emprender a tarefa de calcular os rendimentos prováveis dos bens no tempo futuro[16].

A iniciativa individual apenas será adequada quando o cálculo razoável esteja baseado e suportado pela energia animal, que actua nessa base, a do espíritu empresarial audaz e produtivo. O enigma, segundo Keynes, é que a prosperidade económica depende exclusivamente do ambiente político e social que agrada ao tipo médio de homens de negócios.

Da incerteza relativamente à formação de expectativas, não deve-se concluir que os negócios dependem exvlusivamente de elementos de psicologia irracionais, as expectativas de longo prazo são com frequência firmes e estáveis. Esta era uma auténtiva e firme creença de Keynes:

 

“We are merely  reminding ourselves that human decisions affecting the future, whether personal or political or economic, cannot depend on strict mathematical expectations, since the basis for making such calculations does not exist, and that it is our innate urge to activity which makes the wheels go round, our rational selves choosing between the alternatives as best we are able, calculating where we can, but often falling back for our motive on whim or sentiment or chance[17]” .

 

Essa creença baseiava-se na existência de alguns factores que diminuem a ignorância sobre o futuro, o dito de outro modo, de elementos de informação sobre os rendimentos calculáveis futuros que permitem a formação de expectativas optimistas[18].

 

Tendo determinado a influência que determinadas modificações de curto prazo exercem sobre as expectativas de longo prazo, diferentes das provocadas pela a influência das modificações da taxa de juros, pode-se dizer que em circunstâncias normais, as modificações nas expectativas provocadas pelas mudanças no estado de confiança, exercem uma grande influência  sobre a taxa de investimento. Apenas a experiência poderá dizer até que ponto a intervenção sobre a taxa de juro e capaz de estimular continuamente o volume adequado de investimento, mas primeiro é necessário conhecer a nova proposta teórica sobre a taxa de juro.


 

 


 

[1] Alternativamente, define-se a efciência marginal do capital como a taxa de desconto que consegue igualar o valor presente da série de anuidades dado pelos rendimentos esperados do bem de capital, durante o seu tempo de duração.  Com estas definições podemos determinar as eficiências marginais de determinados tipos de bens. A maior dessas efieciências marginais, pode ser considerada como a eficiência marginal geral.

[2] Idem, p. 136.

[3] Keynes discute a definição de eficiência marginal do capital  com outra definições do leguagem da época ( e actual), constatando que os termos produtividade, rendimento, eficiência ou utilidades marginais, são termos que embora usados frequentemente, encontram na literatura uma exposição pouco clara. Nas várias obras, que podemos considerar "chaves" da época, os Princípios de Economia de Marshall, A teoria Positiva do Capital, de Böhm-Bawerk, A Teoria do Juro de, I. Fisher encontramos os rastos de uma polémica entre estes autores, onde surgem também outros autores como Clark, Rae e vários representantes da Economia Política alemã como Wagner, ou da escola histórica como Knies. I. Fisher confrontando-se com o mesmo problema, contorna-o substituindo o conceito de produtividade pela noção de "oportunidade de investimento, que se apoia na opção, definida como "qualquer fluxo de renda possível, aberto a um indivíduo pela utilização dos seus recursos, capital, trabalho, terra, dinheiro, para apoiar ou assegurar esse fluxo de renda". Veja-se I. Fisher, A Teoria do Juro, Nova Cultural, São Paulo, 1988, p. 100. Segundo Keynes existem pelo menos tres ambiguedades a esclarecer. Primeiro, se o que interessa é o incremento no produto físico por unidade de tempo, devido ao emprego de mais uma unidade física de capital ou o incremento em valor devido ao aumento no emprego de mais uma unidade de valor de capital. A primeira definição é impraticável pois teria que encontrar-se uma unidade física. Segundo Keynes, os estudos referem-se, principalmente, a produtividade física. Segundo, o problema da  eficiência marginal do capital representa uma quantidade absoluta ou uma proporção? Na prática é usada como se tivesse a mesma dimensão que a taxa de juro, sendo portanto, uma proporção. Mas o problema é que que não se expressa claramente o sentido dessa proporção. Terceiro, existe a distinção entre o incremento de valor que pode obter-se utilizando uma determinada quantidade de capital adicional, na situação existente e a série de incrementos que se espera obter através do tempo total de utilização do mesmo bem adicional, i.e., a distinção entre Q1, Q2, Q3...Qr. Esta não distinção elimina o problema das espectativas da teoria económica. Isto, diz-nos Keynes, é valido para uma teoria económica estática, onde os Q são iguais. Nesse sentido a teoria da distribuição da-nos no presente o valor da produtividade marginal, só válida na situação estacionária. Dito isto, nem o rendimento global corrente do capital nem o seu custo marginal de uso tem a ver com a eficiência marginal: "But the most important confusion concerning the meaning and significance of the marginal efficiency of capital has ensued on the failure to see that it depends on the prospective yield of capital, and not merely on its current yield”, Idem, p. 141. Que existe confusão sobre esta matéria, não impede Keynes de deixar em claro a proximidade do seu conceito de eficiência marginal do capital  , seja com o conceito de taxa de retorno sobre os custos de Fisher, como de proximidade com o conceito de Marshall de "eficiência marginal líquida", apontando ainda que Marshall admite que a taxa de juro determinaria o ponto até o qual chegariam os investimentos, dada a curva de eficiência marginal do capital  .

[4] Idem, p. 146.

[5] Idem, p. 141.

[6] Polemiza sobre tudo com Robertson, segundo o qual uma variação no valor do dinhero apenas influencia directamente a taxa de juro, enquanto que para Keynes essa variação influencia a eficiência marginal do capital  . Aquí Keynes discute a posição neo-clássicasobre as influencias do valor do dinhero na taxa de juro, para uma quantidade dada de capital. O argumento de Keynes é de que os preços dos bens existentes ajustan-se sempre por sí próprios às mudanças nas previsões relativas ao valor do dinhero.

[7] Idem, p. 143.

[8] A este propósito cito aqui a crítica de Darby and Lothian sobre a incapacidade de Keynes de distinguir entre taxas de juros reais e nominais, que o conduziram aceitar a caracterização da política monetária como "loose but ineffective", ver Darby M. e Lothian J.(1985), p. 71 e seguintes. Cito o próprio Keynes para desfazer esta dúvida " Indeed Professor Fisher's theory could be best re-written in term of " real rate of interest" which have to rule, consequently on a  change in the state of expectation as to the future value of money, in order that this change should have no effect on current output", J.M. Keynes , " The General Theory", CWJMK , vol. VII, p. 143.

[9] Idem, p. 47

[10] Idem p. 49-50.

[11] Não pode ser omitido o facto que um equipamento actual pode não reflectir totalmente as expectativas passadas. No caso de excesso de equipamento fazer à procura, os rendimentos futuros esperados que levaram à decisão de adquiri-lo determinam decisões presentes de menor produção, o caso complica-se se enfrentarmos um processo de obsolescência tecnológica para equipamentos duradouros.

[12] Idem p. 49-50.

[13] "cannot be checked in the light of realized results “. Idem, p. 51.

[14] Keynes escreve: "By very "uncertain" I do not mean tha same thing as " very improbable". Esta advertência deriva-se do facto de este ter desenvolvido um conceito de probabilidade no ´Treatise on Probability´, que permite extrair de um argumento um grau de veracidade através da observação dos factos. Uma determinada previsão é incerta se não temos nenhum elemento para o seu cálculo, uma previsão é improvável se não podemos retirar dos factos que nos levam a essa previsão nenhum grau de veracidade. No primeiro caso não podemos dizer que uma previsão seja falsa ou verdadeira, porque não existem elementos para realiza-la, no segundo caso não podemos afirmar que ela seja verdadeira, porque os elementos são insuficientes.

[15] Keynes considera neste capítulo que o estado de confiança influência a taxa de investimento sobretudo através de mudanças nas expectativas de rendimentos prováveis, sem considerar alterações na taxa de juro que capitaliza esses rendimentos, o que implica que o estado da confiança provoca mudanças ao longo da curva de investimento, se considerar influências na taxa de juro tal provocaria mudanças de curva para a direita se estado de confiança aumenta, para a esquerda se  o estado de confiança modifica  as expectativas e a taxa de juro ao mesmo tempo, que seria o caso em que a confiança relativamente aos preços continuarem a cair gera-se uma subida simultânea da taxa de juro.

[16] Nesse sentido a bolsa se transforma, segundo Keynes, na Nemesis dos comportamentos aberrantes. Se a bolsa for considerada como uma instituição cuja finalidade social é guiar novos investientos por caminhos mais produtivos, em termos de rendimento social, então ela deveria ser reformada com o fim de restituir o investimento de longo prazo, porquanto:" The measure of success attained by Wall Street, regarded as an institution of which the proper social purpose is to direct new investment into most profitable channels in term of future yield, cannot be claimed as one of the outstanding triumphs of laissez-faire capitalism-which is not surprising, if I am right in thinking that the best brains of Wall Street has been in fact directed towards a different object”, Idem, p. 159.

[17] Idem, p. 162-163.

[18] Existem empresas cujo rendimento provável está determinado pelos rendimentos do futuro próximo. Existem investimentos de longo prazo que podem ser sujeitos a compromisos entre as partes interesadas, como no caso  da construção de habitação. Um outro caso o constituem os investimentos de longo prazo do sector público, que garante os rendimentos dada a posição de monopólio que ocupam, determinando as margens necessárias ou estipuladas na consecusão desses rendimentos, para além de que baseiam-se em necesidades humanas crescentes, como a energia, a agua, os transportes, as comunicações, os serviços públicos. Por último, existem investimentos do sector público com carácter social, independentemente da sua produtividade comercial, onde o cálculo dos rendimentos não necessariamente iguala a taxa de juro, embora esta última possa ser importante no papel sobre a determinação do volume de operações de investimento que possa suportar.