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Keynesianas
Mario Gómez Olivares

 

 

A Teoria Geral de  J. M. Keynes revisitada

 

O Fim do laissez-faire

 

Keynes descreve a Europa emergente da Primeira Grande Guerra, como uma Europa do descalabro, da desorganização, da penúria e miséria dos povos. O fim do laissez-faire aparece sobretudo como resultado do processo de involução da civilização contemporânea Os políticos dos países vencedores que negociavam o futuro dos países vencidos não mostravam preocupação com a vida económica, mas quase exclusivamente com as indemnizações reparatórias e o botim de guerra. A guerra tinha desorganizado a frágil e complexa organização económica europeia, desarticulado as finanças públicas e o comércio entre as nações e sobretudo retirado a base de sustentação da vida nos territórios atingidos pela guerra. Os seus alicerces: o carvão, o aço, os transportes, o comércio com produtos têxteis e matérias primas, deixavam de ser a base de um nível de vida próspero para uma boa parte dos cidadãos. Europa regredia em vez de progredir, sendo o problema da fome e do emprego o que mais urgente se colocava[1]. Os novos fenómenos como o desemprego, não encontravam resposta nem teórica, nem prática, deixando a sociedade capitalista sem flexibilidade e prestes a sucumbir às hordas irracionais. Mas numa situação de nova crise os trabalhadores estariam prontos para o assalto revolucionário antes que perecer de fome: “Men will not always die quietly”[2]. A existência de um princípio válido que garantisse a regulação automática do sistema económico, gerando desse modo coordenação dos mecanismos económicos tem o seu  mais claro desmentido no vasto e massivo desemprego que afectou a Inglaterra nos anos 20‘s.

Keynes, desde muito cedo, estava convencido que da mudança de século tinham resultado novos comportamentos dos agentes económicos, pelo que as velhas receitas do laissez-faire estavam caducas e as velhas instituições paralisavam a actividade. Em segundo lugar, servindo-se do exemplo da deflação Keynes argumenta que os mecanismos automáticos não tinham a supremacia reguladora anteriormente atribuída pelos políticos, economistas e empresários. A a discussão sobre a re-introdução do padrão ouro põe em relevo que Keynes associava a falta de mecanismos automáticos com as consequências económicas e sociais que o preocupavam: a ordem social e o desemprego. Este era um problema britânico, derivado das condições de Inglaterra como praça financeira mundial, que ao optar por uma libra forte, condenava a industria exportadora  à recessão e os trabalhadores ao desemprego.

A política económica de Keynes punha em causa teoricamente o laissez-faire, pois admitindo que os ajustamentos no sentido do equilíbrio seriam muito lentos, a intervenção externa ao sistema seria inevitável. Por exemplo, uma redução dos salários monetários iria nesse sentido:

 

 “a reduction of money wages by 10 per cent will ease unemployment in five year‘s time. In the meanwhile you must grin and bear it”[3].

 

pelo que seria inevitável implementar a crítica às hipótese que auxiliavam a aceitação dos tipos de ajustamentos consentidos como válidos, no pressuposto que persistem forças que equilibrariam os mercados. Essa urgência crítica permite o fabrico de um novo modelo teórico posto de pé no lugar da velha teoria. Mas é preciso deixar claro quais alicerces estão podres para que depois a nova arquitectura seja colocada em evidência. Bem no início da Teoria Geral Keynes sublinha que a teoria ‘clássica‘ constitui um ‘caso especial‘ que não têm como sustrato a sociedade em que actualmente vivemos, pelo que o seu ensino é desacertado e desastroso quando se procura aplica-lo aos factos de post guerra[4]. Por isso a crítica à teoria de juro e do mercado de trabalho representam um aspecto fulcral. Se a teoria clássica não funciona é necessário uma outra teoria


 

[1] Estas ideias se encontram no seu primeiro livro de consagração pública "The Economic Consequences of  the Peace". J.M. Keynes, CWJMK,  vol. II. Tais factos estão bem relatados em R. Harrod, The Life of J.M. Keynes, MacMillan, London , 1963 e também em R. Skidelsky, John Maynard Keynes: Esperanças Fustradas 1883-1920, Alianza Editorial, 1986.

[2] Idem, p. 144..

[3] Idem, p. 199. A situação política na Inglaterra agravou-se com a queda do governo Laborista em Setembro de 1931, face a impossibilidade política de realizar eficazmente qualquer medida e com o desemprego subindo acima dos 20%. Com a sustituição do governo Laborista por um governo de Unidade Nacional encabeçado por R. MacDonald, (Ver  N. Kaldor, " Keynes as an Economic Adviser", pp. 2-27, in A.P. Thirlwall, Keynes as a Policy Adviser, The MacMillan Press, 1982.) Inglaterra saiu do padrão internacional, Keynes escreve “we have got the relief we needed and, at the same time, the claims of honour have been, in the judgement of the whole word, satisfied to the utmost"( J.M. Keynes , CWJMK , vol. IX, p. 245). As tarifas não se justificavam e a taxa de juro não estava limitada às exigências do padrão ouro, pelo que o caso especial das obras públicas não era aplicável. Mas Keynes continua o seu curso na direcção de uma nova teoria em que a intervenção do estado surge como garante do incentivo ao investimento, não como caso especial mas como condição necessária para estabilidade do sistema capitalista. 

[4] Ver Teoria Geral, p.3.