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Keynesianas
Mario Gómez Olivares

 

 

A Teoria Geral de  J. M. Keynes revisitada

 

 

A visão económica de Keynes sobre o capitalismo sustenta-se na precariedade da acção de mecanismos reguladores que garantissem uma tendência re-equilibradora das forças indutoras do investimento no sentido de um óptimo de produção e emprego.

Keynes admite que existem forças de reequilibro, mas contesta o seu carácter automático e duvida que sem a utilização deliberada de mecanismos de intervenção colectiva se consigam situações de equilíbrio, distinguindo entre situações de equilíbrio e situações óptimas de equilíbrio. Contesta também que os teóricos do laissez-faire tenham dado uma correcta visão do modo como essas forças actuam. Keynes escreveu que as velhas receitas à la laissez-faire não servem:

““the doctrines of laissez faire have ceased to be aplicable to modern conditions”...” the nineteenthcen­tury laissez-faire system was passing away”[1].”The trouble today is that we are violently out of equilibri­um, and we cannot wait long enough for laissez-faire  reme­dies to bring their reward”[2].

 

No ‘Historical Retrospect‘, esboço escrito em 1932 de preparação da Teoria Geral, Keynes escreve:

 

“The orthodox equilibrium theory of economics has assumed, or at least not denied, that there is natural forces tending to bring the volume of the community´s output, and hence its real income, back to the optimum level whenever temporary forces have led it to depart from this level. ..it now seems to me that the economist, in their devotions to a theory of self adjusting equilibrium, have been, on the whole, wrong in their practical advice and the instinct of practical men have been, on the whole, the sounder”[3].

 

Keynes nega o carácter natural das forças do reequilibro e contesta a justeza dos conselhos baseados na não intervenção. Numa esplêndida alocução radial para a BBC, intitulada “Poverty in Plenty”, Keynes delineia o mesmo argumento:

 

“On the one side are those who believe that the existing economic system is, in the long run, a self-adjusting system, though with creaks and groans and jerk, and interrupted by time lags, outside interference and mistake.. The authorities do not, of course, believe that the system is automatically or immediately self- ad­justing. But they believe that it has an inherent tendency toward self-adjustment, if it is not interfered with and if the action of the change and chance is not too rapid.. On the other side of the gulf are those who reject the idea that the existing economic system is, in any significant sense, self-adjusting”[4].

 

Keynes desmente  a tendência inerente, natural ao reequilibro do sistema serva como  uma justificação apenas para os erros e omissões do sistema no longo prazo. Na Teoria Geral esta visão manifesta-se na demonstração de que no mundo capitalista as decisões dos agentes económicos são inevitavelmente tomadas na base de expectativas sobre o futuro económico em condições de incerteza, que a instabili­dade do capitalismo reside na variabilidade da taxa de inves­timento, o que provoca em última instância a variabilidade do nível do emprego:

 

“ it is an outstanding characteristic of the economic system in which we live that, whilst it is subject to severe fluctuations in respects of output and employment, it is not violently unstable. Indeed it seems capable of remaining in a chronic condition of sub-normal activity for a considerable period without any marked tend­ency either towards recovery or towards complete collapse”[5].

 

A existência de um nível de equilíbrio com subemprego é uma característica do capitalismo:

 

“Thus for a society such as we have supposed, the position the equilibrium, under condi­tions of laissez-faire, will be one in which employment is low enough and the standard of life sufficiently miserable to bring saving to zero. More probably there will be a cyclical movement round this equilibrium position”[6].

 

Associada a esta situação de persistência do desemprego está a impossibilidade da taxa de juro descer o suficiente, quando a eficácia marginal do capital tende a zero:

 

“In fact, however, institutional and psychological factors which set a limit much above zero to the practicable decline in the rate of interest. In particular the cost of bringing borrowers and lenders together and uncertainty as to the future of the rate of interest set a lower limit”...” than the rate of interest can fall in the face of the prevailing institutional and psychological factor, can interfere, in conditions mainly of laissez-faire, with a reasonable level of employment and with the standard of life which the technical conditions are capable of furnishing”[7].

 

Se por alguma razão, sublinha Keynes, a taxa de juro não pudesse descer mais rapidamente que a eficiência marginal do capital, de modo que a acumulação de riqueza correspondesse àquela que coincide com a quantidade de poupança da comuni­dade à taxa de juro que iguala a eficiência marginal do capital, o pleno emprego não pode ser atingido. Sendo o capital escasso, o estado deve intervir de modo assegurar que o equipamento produtivo atinja o ponto de saturação, e a taxa de juro deverá ser aquela que assegure o investimento de pleno emprego, em tal situação, conclui Keynes:

 

“ I should guess that a properly rum community  equipped with modern technical resources, of which the population is not increas­ing rapidly, ought to be able to bring down the marginal efficiency of capital in equilibrium approximately to zero within a single generation”[8]

 

A determinação do nível do output e do emprego como um todo é o objectivo da Teoria Geral. O modo como se determina é independente da afirmação que esse nível  pode manter-se:

 

“round an intermediate position appreciably below full employment and appreciably above the minimum employment a decline below which would endanger life”[9].

Mas esta posição intermédia abaixo da posição de pleno emprego não está determinada por tendências naturais nem existem princípios que impeçam que não se tomem medidas a fim corrigir as falhas do sistema. Neste sentido, em consonância com a sua previsão, Keynes propõe-se na Teoria Geral, não apenas estudar as determinantes do nível do equilíbrio do output e do emprego, como elucidar porque a teoria dita clássica ancorada nas ideias de laissez-faire não consegue ser uma teoria geral, i.e., porque o salário monetário é rígido à baixa, o que invalida a política de redução dos salários nominais para conseguir mais emprego e, porque a taxa de juro é recalcitrante, quando a eficiência marginal do capital desce, o que reduz ou elimina as virtudes da política monetária.

Da visão da inexistência de mecanismos automáticos, forças, naturais re-equilibrantes do sistema resulta um alento muito importante e positivo para a teoria de Keynes, permite-lhe avançar para o estudo da capaci­dade inerente ao sistema económico de produzir em condições de laissez-faire desemprego de modo permanente como uma característica substantiva do capitalismo[10].


 

[1] J.M. Keynes, CWJMK, vol. X, pp. 329-330.

[2] J.M. Keynes , CWJMK , vol. XIII, p. 198-199.

[3]..Idem, p. 406.

[4] J.M. Keynes , " Is The Economic System Self-adjusting: Poverty in Plenty", CWJMK , vol.XIII, p. 486-191.

[5] J.M. Keynes, “The General Theory", CWJMK, vol. VII, p. 249.

[6] J.M. Keynes , " The General Theory", CWJMK, vol. VII, p. 218.

[7] Idem, pp. 218-219.

[8] Idem, p. 220-221.

[9] J.M. Keynes, " The General Theory",  p. 380. Idem, p. 254.

[10] Ver “Economic Possibilities for our Grandchildren", in J.M Keynes CWJMK, vol. X, pp. 321-332.