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Keynesianas
Mario Gómez Olivares

 

 

A Teoria Geral de  J. M. Keynes revisitada

 

O rendimento, o consumo e a procura

 

A procura global é constituida pela procura de bens de consumo, que é uma função relativamente estável do rendimento e pela procura de bens de investimento, que é uma função da eficácia marginal do capital, que pelo contrário é istável, dependendo das expectativas de longo prazo dos investidores relativamente aos rendimentos futuros, e da taxa de juro. Sendo o consumo uma função crescente e estável do rendimento, o estudo centrar-se-á no investimento, cuja importância na determinação do rendimento é estudada enquanto compreende-se a eficiência marginal do capital, a taxa de juro e a relação entre estes[1]. Embora Keynes considere a função de consumo estável, e como seu estudo está directamente relacionado com a poupança, iremos a estudar brevemente esta categoria e o seu relacionamento com outras.

3.1.     A propensão marginal ao consumo menor que um.

 

“O rendimento real de uma pessoa varia conforme varia a quantidade de unidades de trabalho que pode dispor”.           

A Keynes  interessa determinar qual é a soma dispen­diada em consumo quando o emprego está a um certo nível, como se relaciona em sentido estricto o consumo com o volume de emprego[2]. Definindo a relação funcional entre Yw, um nível de rendimento dado, medido em unidades salários, Cw,, a despesa em consumo para um nível de rendimento, representa a propensão a consumir. Escreve­mos: Cw = (Yw) ou C = S( Y).

As razões que impulsam os indivíduos à despesa podem ser classificados em dois classes, os factores subjectivos e os factores objectivos[3].Os principais factores objectivos que influenciam a propensão ao consumo consistem nos seguintes.1) Uma mudança na unidade salário[4]; 2) Uma mudança na diferência entre o rendimento e rendimento líquido[5]; 3) mudanças imprevistas no valor dos bens de capital, não consid­eradas no cálculo do rendimento líquido[6];  4) mudanças na taxa de desconto do futuro, i.e., em relação à troca entre bens presentes e futuros[7]; 5) mudanças na política fiscal[8]; 6) mudanças nas expectativas sobre a relação entre o nível pre­sente e o nível futuro do rendimento[9].

A função consumo pode ser considerada estável, sempre que tenham sido eliminadas as mudanças na unidade salários em termos monetários. As variações imprevistas no valor dos bens de capital podem provocar uma variação na propensão ao consumo, e as modificações substancias na taxa de juro e a política fiscal podem provocar também alterações. Os outros factores objectivos que pudessem afectar, embora não sendo despreciáveis, é provável que tenham menor importância em circunstâncias normais[10]. O que implica, no presuposto de salários constantes, que as variações no consumo dependerão de outros factores que determinam a procura efectiva.

Dada a situação económica geral, a despesa de consumo, medida em termos de unidades salários, depende principalmente do volume da produção e do emprego[11]. Considerando que a propensão ao consumo é estável e que as variações na propensão ao consumo são de importância secundária, o problema que naturalmente salta a vista é qual será a forma dessa função, qual é a relação, expresa a relação medida em unidades salários, entre C e Y.

Para explicar tal fenómeno Keynes faz recurso a uma lei que considera uma lei  fundamental, valida em geral e de carácter psicológico:

”men are disposed, as a rule and on the aver­age, to increase their consumption as their income in­creases, but not by as much as the increase in their income. That is to say, if Cw is the amount of consumption and Yw is income (both measured in wage unit( DCw has the same sign as DYw but is smaller in amount, i. e. dCw/ dYw is positive and less than unity”[12].

Este raciocínio é valido no curto prazo, como no caso conhecido das flutuações cíclicas do emprego. Se as pessoas ajustam os seus gastos às modificações nos seus rendimentos, essas o farão irremediavelmente imperfeitamente no curto prazo. Se o rendimento aumen­ta, aumentará a sua poupança; se o rendimento diminui, enfraquece a poupança[13]:

 

”on a greater scale at first than subsequently ”[14].

 

Keynes não nos diz muito se esta lei se aplica apenas a uma situação de depressão do emprego ou é valida também para o caso de expansão da produção. Se for válida neste caso o sistema é instável permanentemente, pois se a propensão ao consumo aumenta pressiona-se a oferta e o investimento, isto é os preços e o output. Dado o seu carácter psicológico, ela não depende de mecanismos económicos individuais, mas sim de mecanismos colectivos de vária natureza.

3.3.     A poupança absoluta aumenta mais rapidamente que o consumo absoluto

 

Para além das mutações no curto prazo, uma variação positiva do rendimento implicará uma variação do consumo no mesmo sentido, só que a variação do consumo implicará pelo seu lado uma variação da poupança mais do que proporcionalmente. O aumen­to da poupança absoluta é maior que o aumento do consumo absoluto, a menos que aconteça uma variação inusitada dos outros factores.

A estabilidade do sistema depende desta regra, e que esta opere na prática. Em termos de emprego isto quer dizer que se aumenta o rendimento, não todo emprego adicional será requerido para satisfazer as necessidades de consumo adi­cional. Por outra parte, se existir uma queda do rendimentodevido a uma queda no nível de emprego, pode provocar-se um excesso de consumo superior aos rendimentos, não apenas porque os indivíduos ou as instituições utilizam as reservas financei­ras acumuladas nos bons tempos, como o próprio governo poderá aumentar o seu deficit orçamental, ou procurar dimi­nuir ou desemprego com dinhero emprestado[15].

Se a descida do nível de emprego implicar que o nível de consumo deverá baixar, mas que a variação do consumo é menos que a variação do nível de emprego, ou da proporção de rendimento real, devido ou a política dos governos ou a conduta habitual dos indivíduos, é difícil o caminho a seguir para atingir uma nova posição de equilíbrio com flutuações de pequena amplitude. Caso contrário, a queda do nível de emprego e do rendimento poderiam ser maiores[16]. Isto implica reconhecer que em situação de depressão a rigidez das remunerações é estabilizante, contrariamente aos que afirmam que uma descida dos rendimentos é um mecanismo de ajustamento.

Se N = f(C, I), C = f(Yl), sendo Yl = C + Il, quanto maiores precisem ser as reservas financeiras necessárias para acumular relativamente ao emprego, antes de considerar o rendimento líquido, menos favorável será o consumo e, portanto, o investimento deverá têr um nível determinado[17].

As reservas financeiras ou custos suplementares, devem estar em equilíbrio com os novos investimentos, cuja procura surge de modo independente das reservas de depreciação de capital. Como resultado, os investimentos disponíveis necessários a manter o rendimento presente diminuem. Para atingir um nível dado de emprego, seria necessário uma procura mais intensa de novos investimentos[18].

As deduções que são feitas ao rendimento da sociedade antes da determinação do rendimento líquido, pos­suindo esta uma enorme existência de capital, mesmo nas condições em que o público esteja disposto a consumir parte do seu rendimento líquido, constituem uma carga para a propensão ao consumo,.

As oportunidades de emprego estão limitadas pela extensão da procura total. Estas só podem derivarse do consumo presente e das reservas para o consumo futuro. O consumo que se pode conseguir, na base do seu financiamento adiantado, não pode acrescentar-se indefinidamente no futu­ro. Não se pode financiar o consumo futuro através de expe­dientes financeiros, mas unicamente através da produção física corrente[19].

A prudência financeira do presente estorva a procura total, producindo eventualmente a sua diminuição[20]. Na medida que a organização social e económica separa as reservas financeiras para o futuro da sua provisão física, isto não significa que as reservas transportem a existência das provisões físicas.

Por outro lado, quanto maior é a provisão adiantada para o consumo, maior será a dificultade em encontrar os meios de fornece-la e mais forte a dependência do consumo presente como fonte da procura. Todavia, quanto maior serão os rendi­mentos, maior será a margem entre este e o consumo.

Não existe forma de resolver este enigma, excepto a de saber que o desemprego causa a pobreza, de modo a que o consumo se diferência dos rendimentos, no equivalente à provisão física para o consumo futuro e que resulta financiável em termos de custos, para produzir no presente[21].

Keynes chama a atenção para a insuficiente apreciação sobre a relação entre capital e consumo. Cada descida na propensão ao consumo de hóje não provoca uma subida do capital no futuro, como parece admitir a teoria clássica, pelo contrário  cada debilitamento na propensão ao consumo, considerada como hábito permanente, faz quebrar a procura de capital e portanto do consumo[22].

3.4.     a subida da taxa de juro diminui a poupança

 

Segundo Keynes as influências das alterações de curto prazo da taxa de juro e dos outros factores objectivos são de importância secundária. As mudançãs do consumo dependem das modificações no ritmo decrescimento do rendimento(Yw) e não das modificações na propensão ao consumo desses rendimentos, embora, admita que modificações moderadas na taxa de juro influenciam moderadamente a propensão ao consumo.

A influência das mudanças da taxa de juro sobre o montante de poupança é de vital importância, mas a influência é exercida de modo oposto a como pensam os clássicos. Se o atractivo de um rendimento futuro maior, motivado por uma taxa de juro mais alto, aminora a propensão ao consumo, o que acontecerá será uma diminuição da quantidade de poupança. Isto porque a poupanca total está determinada pelo investimento total. Uma subida da taxa de juro,  provocará a descida do investimento, pois o efeito provocado será reduzir os rendi­mentos a un nível em que as poupanças descem ao mesmo nível que o investimento:

“ hence a rise in the rate of interest must have the effect of reducing incomes to a level at which saving is decreased in the same measure as investment”[23].

Como os rendimentos descem a um nível absoluto maior que o volume de investimento, o que acontecerá é que quando a taxa de consumo desce, o que não quer dizer que aumentará a margem para a poupança, pelo contrario, a poupança e a despesa decrescerão.

Se uma variação positiva da taxa de juro motiva à sociedade  aumentar a poupança, com um rendimento dado, com certeza que o aumento da taxa de juro( supondo que a curva de procura dos investimentos manten-se inalterável) fará diminuir o montante da poupança.

Seguindo o fio do argumento de Keynes, é possível determinar em que proporção fará descer o rendimento, caetaris paribus, uma elevação da taxa de juro; os rendimentos baixarão, no montante exacto requerido( ou serão redistribuidos), com a propensão a consumir existente, de forma a fazer con que as poupanças baixem na quantidade correspondente à subida da taxa de juro que faz baixar os investimentos, com a eficácia marginal existente do capital.

Uma mudança na taxa de juro poderia induzir aumentar a poupança, se os rendimentos permanesessem invariáveis, mas como a taxa de juro é mais elevada retarda-se o investimen­to, os rendimentos não permanecem inalteráveis. Os rendimentos deverão, por força descer, até que a capacidade descendente para  poupar tenha compensado o suficiente o estímulo correspondente ocasionado pela maior taxa de juro.

O paradoxo levantado por Keynes é que quanto maior a vir­tude, mais frugais,  mais obstinadamente ortodoxos nas finanzas pessoais e nacionais, tanto mais terão que descer os rendimentos quando o juro aumente relativamente à eficiência marginal do capital:

“ Obstinacy can bring only a penalty and no reward[24]” .

Conseguintemente, as taxas reais de poupança e de despesa totais não dependem da precaução, previsão, calculo, o melhoramento, a empresa, o orgulho e a avarícia. A virtude e o vício nada têm a ver com elas, todo depende até que ponto seja favorável ao investimento a taxa de juro, considerando a eficiência marginal do capital.

Se a taxa de juro mantivesse o pleno emprego, a virtude faria sentido. A acumulação do capital dependeria da debili­dade da propensão marginal ao consumo, da descida dos salários reais. O efeito da taxa de juro  na propensão ao consumo é pequena, mas o efeito sobre a  poupança é grande, o que se manifesta através do seu efeito sobre o investimen­to e numa direcção contrária à geralmente conjecturada[25].

Pressupondo que a quantidade de moeda não muda, se a taxa de  juro cai, existirá um crescimento da poupança e vice versa.  Se o rendimento cai, existe a tendência a poupar mais,  produto do sentido de civismo e de virtude, mas quanto maior  é o civismo e a virtude mais cai o rendimento:

” In conditions of full employment, however,  virtue  is once more queen for the additional investment can only  occur by diminishing consumption. Otherwise investment and consumption run together”[26].


 

 

3.5.     O multiplicador é maior  que a unidade: o emprego aumenta com o aumento do rendimento

 

No análise que Keynes faz da relação entre a propensão ao consumo e o multi­plicador são consideradas as flutuações no rendimento real que resultam de aplicar diferentes quantidades de emprego ( unidades de trabalho) a uma capacidade instalada. Daí que as variações do rendimento resultem  das variações nas quantidades de empre­go[27].

Isto implica que se aumenta-se o número de unidades de trabalho empregues, caeteris paribus, o rendimento Yw, aumentará mais do que proporcionalmente em relação ao volume de emprego, que, pela sua vez aumentará mais do que propor­cionalmente com o aumento do rendimento real medido em unidade de produto[28].

O multiplicador do investimento k, indica que se existe um aumento no investimento total, o rendimento aumenta numa quantidade que é k vezes o incremen­to do investimento[29]. Considerando a função investimento como um passo virtuoso, a ideia do multiplicador permite a Keynes encontrar um argumento técnico considerável para as políticas de emprego, particularmente na execução das obras públicas, como medida para acrescentar o emprego global com o aumento do chamado emprego primário. Não pode acontecer um aumento do investimento medido em unidades salariais, a menos que o público esteja disposto a aumentar as suas poupanças, computadas em unidades salariais. Mas os indivíduos farão isso apenas quando o seu rendimento aumen­tar.

Um aumento do emprego apenas ficaria restrito ao emprego primário, se a sociedade mantive-se o mesmo nível de consumo, pela melhoria do emprego e portanto do rendimento. Em termos normais, uma queda do consumo irá produzir-se se a propensão ao consumo cair. O multiplicador, também nos diz que, eventualmente, se o incremento de rendimento for totalmente consumido, não existiria estabilidade e os preços aumentarão( caetaris paribus).

Se a lei psicológica sobre o consumo pressuposta é valida então pode enunciar-se uma outra lei: o aumento do emprego por efeito das variações do investimento, estimulam necessariamente as indústrias que produzem para o consumo e assim que ocasionam um aumento no volume total do emprego, que é um múltiplo do emprego primário exigido pelo investimento propriamente tal.

Se o multiplicador e a propensão ao consumo confirmam a regra geral, o aumento do emprego incrementa a proporção do rendimento recibido pelos empresários, devido aos efeito dos rendimentos decrescentes; a propensão ao consumo dos empresários é menor que a propensão ao consumo média. Por outro lado, o desemprego diminue a poupança, seja no indivíduos, empresas e governos, dado que o desemprego se financia com recursos resultantes da poupança de terceiros, próprios ou institucionais, ou financiados com empréstimos[30].          

O multiplicador pode explicar como flutuações no volume de investimento comparativamente pequenas em relação com o rendimento nacional são capazes de gerar flutuações no emprego total e no rendimento numa amplitude maior que elas próprias.

Formulando a lei de que o aumento do emprego, através do multiplicador, pode ser atribuida apenas às empresas produ­zindo bens de consumo, o aumento do emprego pressupõe também que as anticipações previstas das indústrias de bens de consumo, contribuem para o aumento do investimento total; presume também  que não existem variações dos preços, mas sim um aumento nas quantidades produzidas, em condições de rendimentos decrescentes( curto prazo)[31]. Quando existe desemprego involuntário, a desutilidade do trabalho é menor que a utilidade do produto marginal, pelo que algumas medidas que aumentem o emprego, diminuem a desutilidade do trabalho e passarão a ter uma utilidade positiva:

 

“ how ´wasteful loan expenditure‘ enrich the commu­nity on balance. Pyramid-building, earthquakes, even wars may serve to increase wealth, if education of our statesman on the principles of the classical economics stands in the way of anything better”...“For examples, unemployment relief financed by loans is more readily accepted than the financing of improvements at the charge below the current rate of interest; whilst the for of digging holes in the ground known as gold-mining, which not only adds nothing whatever to the real wealth of the world but involved the disutility of labour, is the most acceptable of all solu­tions”..” If the Treasury were to fill old bottles with banknotes, bury them at suitable depth in disuse coal-mines which are then filled up to the surface with town rubbish, and leave it to private enterprise on well-tried principles of laissez-faire to dig notes up again.. there need be no more unemployment and, with the help of repercussions, the real income of the community, and its capital wealth also, would probably become a good deal grater than it is actual­ly”[32].

 

É claro que Keynes preferia a construcção de casas e obras úteis, como o seu plano de obras públicas de 1929 relembra, mas se não for assim qualquer meio ajudaria o que  seria  sempre melhor que fazer nada. Mas para que não existam dúvidas, Keynes rememora os perigos de inflação quando nos encontramos numa posição de pleno emprego:

 

“When full employment is reached, any attempt to increase investment still further will set up a tendency in money-prices without  limit, irrespective of the marginal propen­sity to consume; i.e. we shall have reached a state of true inflation. Up to this point, however, rising prices will be associated with an increased aggregate real income”[33].

 

A discusão sobre o multiplicador do emprego serve para demonstrar, que quanto maior é a propensão ao consumo, maior é o multiplica­dor. Para diferentes situações de flutuações do emprego podem ser feitos agora todo tipo de exercícios sobre o multiplicador[34]. A principal conclusão que se deriva é que o financiamento do emprego através de investimento público é e positivo para o emprego total e gera virtuosamente um emprego adicional. As razões do porque o investimento privado gera o emprego de modo insuficiente serão agora reveladas em pormenor.


 

[1] Adiantando uma ideia que veremos desenvolver posteriormente, parece ser que em Keynes, a combinação de uma eficácia marginal do capital baixa e instável, combinada com uma taxa de juro de longo prazo convencional e estável, determinariam a insuficiência do nível de investimento e da procura global e, portanto, do nivel do emprego. Mas isso adianta a nossa história..

[2] O consumo designado por C é medido em termos de unidades salários, por isso escrevemos Cw; o rendimento também é medido em unidades salários, designado por Yw, e corresponde a um nível dado de emprego N. Existe a objecção de que Yw não é função única de N, pois N é igual em qualquer circunstância. A relação entre Yw e N pode depender provavelmente num grau muito menor da natureza precisa do emprego, i.e., das distribuições desiguais de um emprego total determinado entre diferentes empregos, os que conduciriam a diferentes valores de Yw. Mas em geral, diz Keynes, é uma boa aproximação considerar Y= F(N).

[3] Os factores subjectivos, que serão vistos a seguir, incluem as características psicológicas da natureza humana e das práticas sociais e institucionais, que sendo alteráveis, não são susceptíveis de modificar no curto prazo, excepto em circunstâncias anormais ou revolucionárias.[3]. O mesmo pode ser dito quando comparamos sistemas sociais diferentes, que implica estudar as influências que exercem estes sobre a propensão ao consumo. Keynes supõe que em geral podem ser considerados os factores subjectivos conhecidos, o que implica que a propensão ao consumo depende apenas das mudanças nos factores objectivos.

[4] O consumo é assim uma função do rendimento real, mais do do que rendimento monetário. Numa situação dada da técnica, das prefêrencias e das condições sociais que determinam a distribuição do rendimen­to, o rendimento real de uma pessoa varia conforme varia a quantidade de unidades de trabalho que pode dispor, isto é, com o montante do seu rendimento médio, em unidades de salários; embora, quando quando o volume total de produção muda, o seu rendimento real crescerá menos que proporcional­mente relativamente ao seu rendimento medido em unidades de salários( pela influência dos rendimentos decrescentes). Por conseguinte, por aproximação, podemos dizer, que se a unidade salário varia, a despesa em consumo correspondente a um nível dado de emprego, mudará com os preços na mesma proporção.

[5] O montante do consumo depende mais dos rendimentos líquidos, pois é este que permite ao indivíduo tomar decisões refer­entes ao consumo.

[6] O consumo das classes proprietárias é consideralvelmente sensível às mudanças imprevistas no valor monetário da riqueza. Este deve classificar-se entre os factores mais importantes suceptíveis de ocasionar mudanças no curto prazo da PAC.

[7] A taxa de desconto, não é o mesmo que a taxa de juro, pois esta considera as mudanças futuras no poder de compra do dinhero, na medida em que são previsíveis. Também devem ser considerados os riscos, morte, tributação; pode identificar-se com a taxa de juro. A teoria clássica da taxa de juro considera importante a influência entre a propensão ao consumo e a taxa de juro, visto ser esta o factor de equilíbrio entre poupança e investimento. Porém, diz Keynes, a relação entre o consumo e a taxa de juro é complexa e incerta, pois nalguns casos, dada a PAP ser satisfeita com subidas da taxa de juro, em outros casos será debilitada. No longo prazo, todavia, é provável que mudanças sustanciais na taxa de juro, modificando os hábito socias consideralvelmente, afecte a propensão subjec­tiva a gastar. Embora apenas a experiência indicará a movimentação e a direcção da mesma. No curto prazo, todavia, é provável que a taxa de juro tenha muita influência sobre os gastos, em qualquer sentido. O efeito mais importante da taxa de juro opera-se sobre a valorização e desvalorização de valores e de outros bens, sobretudo por razões inesperadas, pois estas podem influênciar a despesa actual.

[8] Se a PAP depende dos rendimentos futuros esperados, é claro que não apenas a taxa de juro, como a política fiscal influênciam essa dependência. Se a política fiscal é utili­zada como instrumento deliverado a fim de conseguir maior igualdade na repartiçaõ dos rendimentos, o seu efeito sobre o aumento na propensão ao consumo é tanto maior. Por isto poderiamos dizer que o consumo é uma função do rendimento e das expectativas que os indíviduos tem sobre esse rendimen­to. Deve considerar-se, também, o efeito sobre a propensão global ao consumo, as accções do governo tendentes a criar uma poupança social, destinada ao pagamento de dívidas. O efeito será uma diminuição da PAC.

[9] Pode-se considerar este factor em termos formais, pois se afecta a um indivíduo, pode ser neutro em termos da comuni­dade. è um termo de incerteza, que pode considerar-se em grau indeterminado.

[10] A soma que a comunidade gasta em consumo depende de um con­junto de factores: 1) do montante do rendimento; 2) outras circunstâncias objectivas que o acompanham; 3) das necesidades subjectivas e as inclinações psicológicas e hábitos dos indivíduos,           assim como dos princípios  segundo os quais, o rendimento se divide entre eles, as que sofrem modificações qunado aumenta a produção.

[11] C = f(Yw,N).

[12] "The Fundamental psychological law, upon which we are enti­tled to depend with great confidence both a priori from our knowledge of human nature and from detailed fact of experi­ence”.. Idem, p. 96.

[13] Durante os quais os hábitos, as diferências das proporções psicológicas mais permanentes, não contam com o tempo sufi­ciente para adaptar-se as circunstâncias objectivas, isto porque a norma da vida habitual de um indivíduo é geralmente quem têm a primacia sobre a distribuição e assim pode poupar a diferência existente entre o seu rendimento real e as despesas habituais correspondentes a o seu nível de vida.

[14] Idem, p. 97.

[15] Esta aparente mera hipótese não é outra que a situação de depressão com desemprego massivo que Keynes quer explicar.

[16] Está sujacente neste raciocício que o emprego só poderá aumentar pari passu com o aumento do investimento, a menos que aconteca uma pequena variação de C, porque desde que um aumento no preço de oferta total, com N superior a N, o aumento desta deixará de ser financiável, excepto quando existe uma variação de I que elimine o gap entre Y e N.

[17] Yl é o rendimento líquido. Il é o investimento líquido

[18] Os fundos de amortização diminuem o consumo e a procura efectiva corrente,  apenas a farão aumentar no ano em que se faz a reposição do capital depre­ciado.Numa economia estacionária, bastaria compensar a depreciação do capital, com novos investimentos de longo prazo. Esses novos investimentos poderiam ser absorvidos, com as reservas financeiras acumuladas para a reparação e renovação de produção existente

[19] Na linha dos economistas clássicos e neo-clássicos, Keynes considera que o consumo é o único objecto e fim da activi­dade economica.Este raciocínio os adianta a opinião, contrária a vulgarmente divulgada como a sendo, de que Keynes não era favorável ao finan­ciamento deficitário da despesa pública a todo preço. Regressaré mais a frente a este argumento.

[20] Trata-se de uma clara alusão ao ponto de vista sustentado pelo Tesouro Britânico, que defendendo uma política de finanças equi­libradas, opunha-se a política de financiamento dos gastos públicos, argumentando que o efeito de evicção sobre o sector privado não aumentaria o emprego e obrigaria a aumentar a taxa de juros. Sobre o chamado " Treasury point of view", veja-se Keynes, The Treasury and the British Economic Policy, de G.C. Peden. Existem inúmeras referências sobre este assunto, que mais o menos coincidem, embora a partir de 1931, a influência de Keynes foi conquistando adeptos entre os membros directivos do Tesouro. 

[21] A dinámica para aqual Keynes chama a atenção é a de um desequilíbrio permanente,   entre rendimento, consumo e inves­timento, sendo esta dificultade crescente a medida que aumenta o capital. É que os novos investimentos de capital apenas realizar-se-ão, como excedente do desinvestimento, se se espera que a despesa de consumo aumente no futuro.

[22] Sobre os factores subjectivos que influenciam a PAC, ou dito de outro modo, dos factores que impulsam os indivíduos a abster-se na despesa dos seus rendimentos e portanto a formar poupanças, Keynes considera os seguintes:1) formar reservas para contingências imprevistas (motivo de precaução). 2) arbitrar entre a estrutura das necessidades presentes e futu­ras, fornecidas pelo rendimento( motivo de previsão). 3) abdicar do consumo inmediato; menos consumo no presente, maior no futuro (motivo cálculo).                4) gradualização das despesas prevenindo melhoramentos progressi­vos( motivo melhoramento)5) precaução não explicada ( motivo independência).6) para efeitos de especulação ou negócios( motivo empresa).7) para heranças das futuras gerações( motivo orgulho); .8) avarícia irracional( motivo avarícia). Outros motivos de poupança derivam-se da conduta dos gover­nos,  instituições e sociedades de negócios, que levam a aumentar a poupança por motivos semelhantes, mas não idénticos aos dos indivíduos. Podem-se sumarias os se­guintes:1) o motivo empresa a fim de aumentar o autofinanciamento.2) o motivo liquidez que assegure disponibilidades para emergen­cias, dificultades e depressões. 3) o motivo melhoramento, praticado pelas administrações dos negócios gradualizando a obtenção dos rendimentos, prevenin­do-se das críticas.4) a prudència financeira, que cria reservas financeiras que excedan o custo de uso e o suplementar, amortizando dívidas, adiantando-se na recuperação do custo do activo, em relação a taxa real de depreciação e obsolescência. A força desta motivação dependerá da quantidade e o carácter do equipamen­to produtivo e da rapidez das mudanças técnicas.

A força de todos estes motivos, variará conforme as mutações nas instituições e a organização da sociedade económica que pressupormos, segundo os hábitos formados pela raza, a educação, os convencionalismos, a religião e as correntes morais, segundo a esperança e a experiência, segundo a escala e a técnica do equipamento produtivo, e segundo a distribuição da riqueza e os níveis estabelecidos Uma vez esclarecidos os factores objectivos e subjectivos e enunciado a lei económica fundamental sobre o consumo, Keynes realiza duas disgressões importantes;  primeiro, sobre a relação entre o consumo e a taxa de juro e, segundo, sobre o multiplicador do emprego, na medida que está relaci­onado com a PAC.

[23] Idem, p. 110-111.

[24] Idem, p. 111.

[25] Na sexta lição,  em 11 de Novembro de 1935,  Keynes retoma a  perpectiva mais teórica do consumo

[26] T. Rymes,  " Keyness Lectures 1932‑35: Notes of a  Represen­tative Student", MacMillan, 1988, p. 171.

[27] A hipótese implicita é a de rendimentos decrescentes.

[28] Mas tanto Yw como Yp aumentaram com o aumento de N no curto prazo.

[29] Dado que Yw sustitue Yp como índice adequado das variações reais do rendimento, sem esquecer que Yw e Yp não mantém uma proporcionalidade nas variações Yw e Yp, são o rendimento medido em unidades salariais e unidades de produto respectivamente. A proposição conhecida é que para DY»»>DC mas com DY/DC > 0< 1. A PAC permite dizer, como será dividido o incremento da produção entre C e I.Este é o multiplicador de Kahn. Se dYw = dCw +dIw; mas dYw = kdI, pelo que dYw = dYw/k. Segue-se que dYw =dCw +dYw/k, resolvendo teremos que dYw= [1/(1-1/k)] dCw.. Designa-se por k' o multiplicador de emprego, que mede a relação do aumento do emprego total derivado de um incremen­to determinado de emprego primário nas indústrias de inves­timento. Isto é, se dIÞdN nas indústrias de bens de inves­timento, o incremento total será dN = dN2, o que implica que k=k', mas não necessariamente. Se as elasticidade de Ee e E'e do emprego para a indústria no seu conjunto e para as indústrias de bens de investimen­to, sendo N e N2 o nº de homens empregues na indústria total e a induústria de bens de investimentos respectivamente teremos:

dYw=(Yw/EeN) dN, e

dIw =(Iw/E'eN2) dN2, assim

dN= (Ee/E'e)(Iw/N2)(N/Yw) k dN2. Isto é:

k'=(Iw/E'eN2) (EeN/Yw)k.Todavia, diz Keynes, se não existe razão para esperar alguma diferência sustancial relativamente às características das funções de oferta global para a indústria no seu conjunto e para as indústrias de investimento, teremos :

Iw/E'e N2 =Yw/Ee N do que resulta por dedução que :

dYw/dN =dIw/dn2 e portanto k= k'.

Trata-se de um caso simplificado, reconhece Keynes, pois são possíveis diferências significativas das funções de oferta globais para os dois grupos de indústrias. O mesmo argumento pode ser reconstruido em forma mais general

[30] Este último aspecto pode ter mudado porquanto hóje o financiamento do desemprego é realizado com recurso a fundos de poupança forçada, que aumenta a poupança em vez de diminui-la, pelo que a PAC diminue.

[31] Um outro caso a considerar, é quando o aumento da produção é feita através do aumento dos investimentos dos bens de capital. A teoria do multiplicador permanece válida nas suas consequências embora quantitativamente possa sofrer modificações. Um aumento do Iw nas indústrias de capital imprevista ou prevista imperfeitamente, não têm  efeitos instantáneos da mesma magnitude no total de investimento. Pode existir uma divergência temporal entre a propensão ao consumo e o seu valor normal, regresando a seu valor normal. A expansão na indústria de bens de capital, incrementa o investimento total, os que se apresentam em períodos suscesívos, que diferem tanto quanto dos valores da propensão ao consumo, se essa expansão fosse prevista. Mas em cada intervalo de tempo, a teoria do consumidor é válida no sentido que o incremento na procura total é igual ao produto do incremento total dado pelo multiplicador, determinado pela propensão ao consumo. Se aumenta o investimento na indústria de bens de capital aumenta a procura, com aumento dos  preços, colocando a propensão ao consumo em equilíbrio com a deflação das existências, o que irá implicar uma descida do valor do capital,  crescendo o inves­timento, mas menos que proporcionalmente ao aumento do investimento em bens de capital. Se a oferta de bens de consumo se ajustar a nova procura, a propensão ao consumo é compensada pela queda anterior, eventualmente regresando ao nível anterior. A restauração das existências permite que o investimento total seja maior temporalmente que o investimento em bens de capital.  O multiplicador regresará a seu valor normal, no pressuposto que as indústrias de consumo tenham um output equivalente a seu equipamento, de forma a que um aumento da produção requer um novo equipamento; dito isto, todo leva a creer, nos diz Keynes, que o emprego nas indústrias de consumo avança pari passu com as indústrias dos bens de capital.

[32] Idem, p. 129. Entre os gastos ruinosos financiados pela comu­nidade com a condução do estado incluem-se as guerras. Keynes sempre manifestou uma clara aversão a esse tipo de gastos, tendo sido um potencial objector de consciência durante a primeira grande guerra, por razões morais.

[33] Idem, p. 118-119. É evidente que o propósito de Keynes, com a divulgação do mutiplicador de Kahn, não foi tão simplista como alguns  dos seus discípulos keynesianos. De um aumento de 100.000 homens a empregar, com um multiplicador igual a 4, não é de supor 400.000 postos de trabalho. As hipóteses explicitas é de que não existirão investimentos decrescentes em outras direcções.

[34] Por isso devem ser feitas considerações suplementares que limitam a extensão dos efeitos multiplicadores, a saber :

1) o método de financiamento à política de trabalhos públicos, pode aumentar a taxa de juro e provocar desinvestimentos em outros sectores, ou retardar os investimentos. Um aumento do custo dos bens de capital, pode reduzir a eficiência marginal do capital para o investidor privado, que requerirá uma descida da taxa de juro; para o equilíbrio a eficácia mar­ginal do capital deve ser igual a taxa de juro.

2) se a política do governo não cria confiança, o efeito pode aumentar a preferência pela liquidez e diminuir a eficiência marginal do capital, retardando o investimento.

3) em un sistema de economia aberta, o multiplicador pode benef­iciar um pais extrangeiro, pois a variaçaõ do investimento que aumenta o consumo reducirá a balança comercial desfavo­ravelmente.

Portanto, uma política de emprego eficaz deve considerar estes efeitos, sendo maior a sua eficácia se ela  abrangir vários paises simultaneamente.