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Keynesianas
Mario Gómez Olivares

 

 

Uma nota histórica sobre a  política económica de J.M.Keynes

 

 “The “Keynesian revolution” went off at half-cock...The equilibrists, therefore, did not know they were beaten; or rather...they did not know that they had been challenged. They thought that what Keynes had said could be absorbed into their equilibrium systems; all that was needed was that the scope of their equilibrium systems should be extended. As we know, there has been a lot of extension, a vast amount of extension; what I am saying is that it has never quite got to the point....I must say that that diagram [IS-LM] is now much less popular with me than I think it still is with many other people. It reduces the General Theory to equilibrium economics; it is not really in time. That, of course, is why it has done so well.”(John Hicks, “Time in Economics”, in Evolution, Welfare and Time in Economics, 1976: p,289-90)

“Had the General Theory never been written, Keynes would nevertheless have deservedly  been regarded as one of the  great economists of all the time‑ to be listed in the pantheon of great British economist along with Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill, William Stanley Jevons, and  Alfred Marshall”[1]. M. Friedman

Introdução

 

A ideia deste artigo é compendiar sucintamente as ideias keynesianas sobre política económica. Em primeiro lugar,  apresentar as posições político-económicas de Keynes ao longo dum período histórico que vai desde os anos vinte, até o fim da sua vida; em segundo lugar, iremos comparar as posições de Keynes com as dos seus seguidores keynesianos; procura-se compreender melhor o legado de Keynes nesta matéria e as diferências existentes entre as políticas keynesianas do pós-guerra. Pretende-se demonstrar que a crítica as políticas keynesianas comprometem muito mais o pensamento dos discípulos keynesianos que à do próprio Keynes e que a rítica pouco ou quase em nada compromete a visão keynesiana.

Veremos que esta crítica toma como certa a relação entre o carácter keynesiano de algumas teorias e o pensamento de Keynes, o que na realidade está longe de ser verdade. Keynes, aceitando a possibilidade e mesmo a necessidade de pensar uma política económica para o pleno emprego, considerava-as discutíveis e de difícil execução, sobretudo pelas consequências sobre o orçamento corrente[2]. Devemos precisar esta versão keynesiana de Keynes, pelo que discutiremos introdutoriamente as posições de Keynes até a II Guerra.

 

1. As políticas económicas de J.M.Keynes e algumas considerações sobre a  política económica keynesiana.

 

“If for any reason the individuals who comprise the nation are unwilling, each in his private capacity, to spend sufficient to employ the resources with which the nation is endowed, then it is for the government, the collective representative of all the individuals in the nation, to fill the gap”[3].

1. A primeira questão que se torna necessário destacar é a rejeição por parte de Keynes das políticas de redução dos salários monetários. Isto constitui um ponto de demarcação definitivo perante a visão clássica. Keynes rejeita essas políticas tanto no «Treatise on Money» como na Teoria Geral. No «Treatise», utilizando as equações fundamentais, Keynes mostra a possibilidade teórica de reduzir os salários monetários, embora chame a atenção para o tempo do ajustamento.

Uma redução dos salários monetários, poderia reduzir os custos unitários por unidade de output, expressados no primeiro termo da equação P = O/E + S -I/E. Uma redução dos rendimentos monetários E, permitiria o crescimento dos lucros e a retoma do investimento. Mas como existiria uma rigidez dos salários monetários no mundo real, uma redução era política e socialmente impraticável sem uma guerra de guerrilha nas indústrias e empresas.

Na Teoria Geral, reconhece que a redução dos salários monetários faria pouco sentido numa economia aberta ou, no caso de expectativas optimistas sobre o futuro da procura e sobre os rendimentos esperados futuros levassem à eficiência marginal do capital acima da taxa de juro de longo prazo. Uma recuperação dos preços dos activos ou dos preços dos títulos, poderia ser conseguida com uma política de moderação das expectativas «bears», isto é, a taxa de juro convencional de longo prazo praticada pelas autoridades monetárias deveria assegurar uma política monetária credível, curvando a preferência pela liquidez especulativa. Mas numa economia fechada, a redução dos salários monetários geraria expectativas regressivas, porquanto uma redução dos custos trairia consigo uma redução dos preços, mantendo-se a taxa de lucro deprimida. Um outro argumento não menos importante, é que, numa democracia política, os salários monetários são fixados através de negociações e convénios entre patrões e sindicatos, pelo que a redução dos salários apenas poderia ser possível num regime político repressivo e autoritário[4].

2.         Discutindo a política da taxa de juro, tanto no «Tract» como no «Treatise», Keynes considera que um aumento dos preços permite a expansão dos lucros, do investimento e do output; no caso contrário conduz a uma declínio da produção e do emprego, pelo que, basicamente a recomendação advogada é o recurso às variações na taxa de juro, a fim de estabilizar os preços. Esta posição básica pressupõe a existência de uma fraca relação com um sistema monetário internacional.

No  «Tract», Keynes considera que uma redução da taxa de juro provoca um movimento nos preços relativos à baixa, incrementando os activos no poder do sistema bancário( a base monetária) o que permite incrementar a quantidade de moeda e, por essa via, os preços ao anterior nível. É a aplicação mecânica da teoria quantitativa da moeda[5].

No «Treatise«, o mecanismo é mais poderoso e articulado. A diferença relativamente ao «Tract» está em que as equações fundamentais mostram um efeito directo da taxa de juro na poupança e no investimento. Enquanto que no «Tract» a taxa de juro é a taxa de curto prazo, no «Treatise» a preocupação é com a taxa de juro de longo prazo( dos títulos) que influencia os níveis da poupança e do investimento. Do ponto de vista da política, Keynes pretende influenciar a taxa de juro de curto prazo, a fim de mudar a taxa de juro de longo prazo.

A visão de Keynes, em termos políticos, privilegia a política monetária,  discute a possibilidade de limitações na política bancária. Quando a taxa de juro natural desce a um nível tão baixo que gera uma assimetria de opiniões tão vasta entre emprestadores e tomadores de empréstimos, é necessário no longo prazo reforçar a acção do banco central de modo a:

“(...) impose on the central bank the duty of purchasing bonds up to a price far beyond what is considered to be the long period norm”[6].            

Se, neste caso da política de mercado aberto «au outrance», a depressão continuar, a alternativa é:

 

“(...)socialistic action by which some official body steps into the shoes which the feet of the entrepreneurs are too cold to occupy”[7].

 

Este é o caso especial da política fiscal que implica financiar obras públicas com recurso ao déficit orçamental, destinado a restaurar a confiança dos empresários e a  recuperação do espírito e da energia empresarial. A política de baixar a taxa de juro seria impraticável para um país de economia aberta e integrada num sistema padrão ouro, pois provocaria a perda de  reservas de ouro que adviria de uma balança de transacções correntes negativa:

 

“(...) no national central bank which is a member of an international system, not even the Federal Reserve of the United Sates, can expect to preserve stability of its price level[by means of variations in the bank rate], if it is acting in isolation and is not assisted by corresponding action on the part of other central bank”[8].

 

Apenas através da cooperação entre os principaís bancos centrais do mundo poderia ser conseguido tal objectivo, mas se essa cooperação não tivesse lugar e a política de mercado aberto afectasse as reservas, em vez de provocar a descida suficiente da taxa de juro, a fim de retomar o investimento:

 

“The Government must itself promote a programme of domestic investment. It may be the choice between employing labour to create capital wealth, which yield less than the market rate of interest, or not employing it at all”[9].

 

Quanto maior a importância do comércio internacional para a economia de país, maiores serão os efeitos negativos de uma política monetária isolada e maior a perda de reservas de capital. Keynes admite no « Treatise» que se fosse possível reduzir os custos de produção relativamente aos custos que imperam em outros países concorrentes, aplicar a mesma taxa de juro que equilibra a poupança com o investimento, então sería possível equilibrar a balança de pagamentos. Na ausência daquela flexibilidade, tal não é praticável nem realizável. Numa situação de adesão a um sistema de padrão ouro que regula as taxas de câmbio, a principal preocupação do sistema bancário é a estabilidade do equilíbrio externo, ao qual se adequa o equilíbrio interno de preços.

3.         Se a política de redução dos salários não pode funcionar, se a política monetária de reduzir a taxa de juro não funcionar como factor estabilizador dos preços, da actividade económica e do emprego, ou o governo subsidia a formação de capital dos empresários privados, ou ele próprio dirige um programa de investimento de capital.

Está implícito, no caso especial de política, que o emprego gerado pelas obras públicas tem efeitos benéficos sobre os preços sem que se activem efeitos perversos sobre a procura de bens importados, que se repercutam negativamente sobre a balança de pagamentos. Keynes estava convencido de que as obras públicas tinham efeitos multiplicativos:

“(...)the fact that many work people who are now unemployed would be receiving wages instead of unemployment pay would mean an increase in effective purchasing power which would give a general stimulus to trade. Moreover, the greater trade activity would make for further trade activity; for the forces of prosperity, like those of trade depression, work with  cumulative effect”[10]

 

Keynes não descura a existência de alguns efeitos perversos das obras públicas, embora apenas considere os efeitos sobre a conta capital da balança de pagamento e não os efeitos sobre a conta corrente, particularmente importantes para os países que têm uma balança comercial negativa e dependem do investimento estrangeiro e do crédito de curto prazo para financiar a sua balança de transacções correntes[11].

No «Treatise», Keynes apresenta uma fórmula política  mais abstracta que os planos apresentados no Yellow Book de 1929, sendo apresentada como se esta fosse uma variante de política monetária, no sentido em que os subsídios a conceder aos empresários equivalessem a uma redução nas taxas de juro ou que os planos de investimento dos governos tomariam em conta a taxa de juro de mercado e não a taxa natural de juro. Patinkin explica esta incongruência como o resultado dos diversos papéis que Keynes representava[12].

As soluções fiscais apontadas tinham em mente o cenário internacional. Para os Estados Unidos de América, e para a França, a política contra o desemprego passava por reduzir o suficiente a taxa de juro de mercado, de modo a que coincidisse com a taxa natural wickselliana. A solução para os desempregados da Inglaterra, dadas as perturbações do retorno a uma taxa de câmbio, que deixava os custos de produção elevados relativamente aos seus parceiros, era a cooperação internacional no terreno monetário. Provisoriamente,  Keynes chegou a pedir o levantamento de tarifas alfandegárias, subsídios ao investimento estrangeiro, exclusão das importações estrangeiras, revelando um pragmatismo adequado às circunstâncias.

Mas o problema básico, que Keynes coloca em evidência, era a desmoralização que sofriam os empresários, que os insensibilizava relativamente à elasticidade da taxa de juro. Uma descida da taxa de juro não geraria um aumento do investimento, dadas as expectativas pessimistas relativamente à actividade económica, inibindo o mecanismo automático da política bancária.

4.         Keynes foi parco e pacato na Teoria Geral nas suas formulações de política económica. Ele propõe para o longo prazo uma economia mista onde o Estado socialize o investimento, dando prioridade ao investimento produtivo das empresas, complementado com investimento social[13]. As suas propostas são uma reflexão da sua doutrina económica, apontamentos filosóficos sobre harmonia económica e social para a totalidade do ciclo económico. Nao são exortações para a fase recessiva ou um exercício de recomendações pontuais limitadas a uma política específica

As advertências de Keynes em matéria de reforma monetária e de reforma fiscal na Teoria Geral não contêm uma formulação pormenorizada. Relativamente à reforma monetária, Keynes recomendava que a banca deveria estar preparada para negociar, em ambos os sentidos e em termos específicos, dívidas de diferentes maturidades e com diferentes graus de risco:

“ Perhaps a complex offer by the central bank to buy and sell at stated prices gilt-edged bonds of all maturities, in place of the single bank rate for short-term bills, is the most important practical improvement which can be made in the technique of monetary management”[14].

Trata-se de uma medida reformadora a fim de diminuir permanentemente a preferência dos especuladores pela liquidez, dando confiança aos investidores em títulos, assegurando os preços e, desse modo, dando estabilidade à taxa de juro de longo prazo. Em concreto, é uma regra permanente e não uma medida discricionária destinada a contrariar temporariamente os mais incautos dos especuladores.

Em termos de reforma fiscal, Keynes propõe uma sistema tributário que permita a redistribuição do rendimento a fim de aumentar a propensão ao consumo. O argumento teórico está agregado a uma valorização de ordem ética:

“ For my own part, I believe that there is social and psychological justification for significant inequalities of income and wealth, but not for such large disparities as exist to-day”[15].

 

Sobre como organizar uma tributação que espelhe menos disparidades, Keynes não deixou indicações precisas, nem estabeleceu um princípio ético para uma distribuição mais justa do rendimento. Nunca explicitou um princípio económico nesse sentido, embora a aceitação do primeiro postulado da teoria clássica possa ser uma indicação de que a distribuição primária obedecesse ao critério ortodoxo. Contudo, viu na persistência de altas taxas de juro a causa principal das futuras desigualdades da riqueza. A taxa de juro deveria ser reduzida, porque a razão teórica para justificar altas taxas de juro, aumentar a poupança, não estimula o investimento como a teoria clássica pressupunha:

“(...)we have shown that the extent of effective saving is necessary determined by the scale of investment and the scale is promoted by a low rate of interest, provided that we do not attempt to stimulate it in this way beyond the point which corresponds to full employment”[16].

 

O que convém é reduzir a taxa de juro até o nível em que exista pleno emprego, proporcionalmente à curva de eficiência marginal de capital. Nessa situação, os rendimentos proporcionados no curso da sua vida pelos bens de capital, deverão cobrir os custos de produção, mais uma margem para o risco e o custo da habilidade e supervisão, i.e. os preços dos bens de capital remunerariam os custos do trabalho, do capital do empresário ou investidor e o salário do empresário. A eutanásia do rentier permitiria uma melhor distribuição do rendimento, ao mesmo tempo que diminuiria a incerteza gerada pela actividade especulativa, sendo a eficiência marginal do capital um critério adequado da capacidade produtiva do capital, que se tornaria mais abundante, eliminando o risco. Estaríamos na situação de estado estacionário em que a evolução do sistema económico dependeria das mudanças no gosto do público, na tecnologia e técnica, da qualidade e quantidade do equipamento, das desutilidades das diferentes intensidades de trabalho, da estrutura social e da distribuição do rendimento subjacente, do estado da concorrência, das actividades de supervisão e organização.

A recuperação económica precisa do regresso a um estado de confiança da actividade investidora e das condições de crédito, embora esta última seja insuficiente por si para essa recuperação. Não basta uma descida da taxa de juro ou um aumento das disponibilidades de crédito; é preciso um aumento do investimento, que depende em última instância das expectativas de longo prazo do investidor.

Keynes mostra-se céptico relativamente ao êxito de uma política puramente monetária dirigida a influenciar a taxa de juro, e pensava que era tempo de pôr fim ao laissez-faire, porquanto o sistema deixado a si próprio, não estava em grau de assegurar a estabilidade que o processo económico requeria. Nas suas propostas de 1937 escreve:

 

“A low enough long term rate of interest cannot be achieved if we allow it to be believed that  better term will be obtainable from time to time by those who keep their resources liquid. The long-term rate of interest must keep continuously as near as possible to what we believe to be the long-term optimum. It is not suitable to be used as a short weapon”[17].

 

É que a variabilidade das taxas de juro aumenta a incerteza e barra caminho ao investimento. Toda a ênfase é colocada na estabilidade da taxa de investimento. Numa carta a Durbin, Keynes insiste em que na Teoria Geral:

 

“ There are many passages...devoted to proving that attacks on the rate of interest by themselves are likely to prove an inadequate solution except perhaps temporarily. I, therefore, advocate measures designed to increase the propensity to consume, and public investment independent of the rate of interest”......”investment is a matter which cannot be left solely to private decisions”[18].

 

O Estado é aquele que está em condições de ter visões de longo prazo, para além das flutuações cíclicas que as políticas estabilizadoras podem mitigar mas não evitar. O que estava em causa não era apenas a intervenção passageira do Estado. Era preciso um tipo de intervenção que gerasse uma mecanismo permanente de confiança. Para isso:

 

“(...)the central controls necessary to ensure full employment will, of course, involve a large extension of the traditional functions of government”[19].

 

Procurava na intervenção do Estado o suporte para o investimento renunciando definitiva e doutrinariamente à presumível contribuição que a existência de mecanismos automáticos viessem a dar:

 

“I expect to see the State, which is in a position to calculate the marginal efficiency of capital-goods on long views and on the basis of the general social advantage, taking an ever greater responsibility for directly organising investment; since it seems likely that the fluctuations in the market estimation of the marginal efficiency of different types of capital, calculated on the principles I have described above, will be too great to be offset by any practicable changes in the rate of interest”[20].

 

Uma valorização da influência das expectativas de longo prazo sobre o investimento requer necessariamente o conhecimento do estado de confiança sobre a estabilidade dos negócios, que se manifesta em termos económicos no grau de confiança, na estabilidade política e social que conforma o entorno para a consecução dos investimentos. Keynes não se referia apenas à estabilidade política, embora concedendo-lhe uma importância relativa, numa época de grande mutabilidade política em Inglaterra, com a constante sucessão de gabinetes ministeriais. O estado de confiança reflectia-se, quanto a mim, sobretudo no futuro da taxa de juro e dos preços dos títulos de longo prazo, elementos decisivos para as previsões sobre a eficácia marginal do capital.

A razão, aliás única, segundo Keynes, para o pagamento de juros reside na ainda baixa propensão a consumir que implica que a poupança líquida em condições de pleno emprego acaba antes que o capital seja relativa e suficientemente abundante. Mas mesmo assim, ainda seria possível, e tal vez melhor, que a poupança colectiva pudesse ser mantida, através da intervenção do Estado, a um nível que permitisse o crescimento do capital, até este deixar de ser escasso. A política bancária é por si insuficiente para, regulando a taxa de juro, conseguir um nível óptimo de investimento. Keynes não exclui a existência do sector privado, considerado fundamental:

 

“In matters of economic detail, as distinct from the central controls, I am in favour of retaining as much private judgement and initiative and enterprise as possible. But I become convinced that the retention of the structure of private enterprise is incompatible with that degree of material well-being to which our technical advancement entitles us, unless the rate of interest falls  to a much lower figure that is likely to come about by natural forces operating on the old lines. Indeed the transformation of society, which I preferably envisage, may require a reduction in the rate of interest towards a vanishing point within the next thirty years”[21].

 

Este deslocamento das preferências em matéria de política, da política monetária para a política fiscal, que distingue a Teoria Geral das suas obras anteriores, é congruente com as apreciações de Keynes sobre a extensão  e significado da Depressão. O facto de Inglaterra deixar o sistema de padrão ouro em 1931 acompanhada de uma desvalorização  da libra, teria permitido regressar às velhas armas da política monetária, mas depois de um período prolongado de depressão no mundo e em Inglaterra, as prioridades de Keynes ainda contemplavam a política orçamental como meio de aumentar a procura efectiva, mesmo quando vigoravam taxas de juro mais reduzidas, resultado da descida das taxas de juro de longo prazo permitida pela desvalorização.

O aumento das despesas do Estado, juntamente com uma política monetária que determinasse uma taxa de juro convencional de longo prazo credível e sustentada, era o caminho para o relançamento da actividade económica. Essa situação, como um meio para reverter as expectativas pessimistas, exigia estabilidade e credibilidade na manutenção de uma política. A política económica, em linhas gerais, deveria restaurar a confiança dos empresários e  incentivar o aumento do investimento e do emprego.

Os factos associados à longa depressão, em correspondência com uma visão de longo prazo sobre o funcionamento da economia capitalista, provocaram uma mudança permanente na concepção de política económica. As razões fundamentais dessa mudança de opinião residem nas possibilidades abertas pelos avanços teóricos proporcionados pela Teoria Geral.

A depressão tem as suas causas na falta de procura efectiva que assegure a lucratividade das empresas num mundo de incerteza. Esta incerteza reflecte-se nas expectativas de longo prazo dos investidores, que preferem manter liquidez para precaver-se de perdas de capital, e que aumenta a procura de moeda para especulação. A impossibilidade de realizar uma oferta de moeda  punha em causa a estabilidade do padrão monetário, desestabilizando os termos dos contratos realizados em moeda e por consequência dos salários e preços. A estabilidade exigida pelo sistema de padrão ouro, impede que a taxa de juro desça relativamente a uma instável eficiência marginal de capital.

A causa da descida do investimento, a parte mais instável da procura efectiva, decorre de uma eficiência marginal do capital instável e do facto de não existirem mecanismos automáticos, como pressupunha o sistema de laissez-faire, que mudem as expectativas sobre os rendimentos esperados futuros do capital e que incentivem o investimento. A estrutura capitalista, com um peso relativo maior do capital financeiro sobre o capitalismo industrial, inibe visões de longo prazo sobre o investimento. A ideia é de que, cuidando do investimento, a poupança e o output se cuidarão por si próprios:

 

“(...) indeed, whenever output is below the optimum level, i.e. whenever there is involuntary unemployment, we may be sure that the increase in investment will, so to speak, ‘finance itself‘, partly by absorbing debt and losses, and partly by increasing savings as a result of increasing real income”[22].

 

Mesmo que existissem medidas discricionárias, essas deveriam ter uma sólida base em regras explicitadas e mantidas pelas autoridades políticas e dos corpos semi-autónomos, tais como o Banco de Inglaterra ou o Tesouro.

O Estado terá que influenciar e orientar a propensão ao consumo através da política fiscal, fixando a taxa de juro e quiçá por outros meios. A socialização do investimento implica a realização de projectos com vantagem social, que os privados racionalmente acham inconveniente realizar, tais como infra-estruturas, habitação social, vias de comunicação e transportes ou de despesas que melhoram e mantêm a performance dos factores de produção, tais como as despesas em educação e em saúde.

Quando Keynes falava de socialização do investimento e de formas de planeamento, não considerava esta intervenção por parte do Estado como uma intervenção ocasional similar à realização de obras públicas; pensava em formas permanentes de intervenção que assegurassem a estabilidade do sistema através da realização de projectos sociais, conjugados com uma política monetária de longo prazo, que mantivesse a taxa de juro de longo prazo baixa a fim de permitir a eficiência marginal do capital atingir um nível zero ou próximo de  zero.

O recurso ao crédito por parte do Estado de modo a aumentar o investimento não exige nenhum mecanismo de planeamento económico. Quanto muito de planeamento das finanças públicas e de programação orçamental. Keynes acreditava que uma socialização dos investimentos seria o único meio para conseguir uma aproximação ao pleno emprego, advogando uma economia de mercado descentralizada, sujeita a objectivos traçados em interacção entre a iniciativa individual, a vontade popular sabiamente conduzida e a política de Estado a cargo de dirigentes idóneos, tecnicamente competentes e moralmente preocupados com o bem comum,  rejeitando claramente o socialismo de Estado[23].

Sobre o que entendia Keynes por «socialization of investment» não existe total certeza, tendo gerado múltiplas interpretações. A mais generalizada é a de que constitui simplesmente mais uma evocação da necessidade de um aumento da despesa pública, a fim de aumentar a procura efectiva; sendo verdadeira e ainda uma interpretação muito geral. Sobre o significado que Keynes outorgava a palavra socialização do investimento, algumas passagens de artigos dos anos trinta podem ajudar a entender que de nenhum modo significavam nacionalização, embora em determinado momento pudesse apoiar alguma nacionalização. Por exemplo:

 

“It is called planning-state planning, something for which we had no accustomed English word even five years ago. It is not Socialism; it is not Communism. We can accept the desirability and even the necessity of planning without being a Communist,  a Socialist or a Fascist. But wether it is going to prove possible to carry out planning in actual practice without a great change in the traditions and in the machinery of democratic governement”[24].

“Let us mean by planning, or national economy, the problem of the general organisation of the resources as distinct from the particular problem of production and distribuition which are the province of the individual business technician and engineer....To remedy this failure is the problem of planning. The problem of planning is to do those things which, from the nature of the case, it is impossible for the individual to attempt. To bring in the collective intelligence, to find a place in the economic scheme of things for central deliberation, is not to disparage the achievements of the individual mind or the initiative of the private person. Indeed it is the achievements of this initiative which have set the problem. It is the failure of the collective intelligence..the achievement of the  individual intelligence which we have to remedy. And we have to remedy it..without impairing the constructive energy of the individual mind, withouth hampering the liberty and the independence of the private person”[25].

 

Embora o papel do Estado tenha sido questionado em termos doutrinais, de facto a sua função tem vindo a reforçar-se em áreas em que a regulação e manutenção das forças produtivas é vital para a sobrevivência humana, tais como a conservação dos recursos naturais na terra, no mar e no ar, onde o mecanismo de mercado conduz à destruição paulatina, sem que existam mecanismos credíveis para uma racional utilização dos recursos. A poluição dos rios, mares, terra e ar, a utilização exacerbada de matérias primas e recursos energéticos não renováveis até o seu esgotamento, a destruição da paísagem rural e das florestas, os efeitos do crescimento económico sobre o meio ambiente em geral, a desordem territorial e urbana, problemas para os quais apenas na última década se tomou definitiva consciência, não existiam na época de Keynes, mas que reforçariam, com certeza, a sua visão de necessidade de ´socialização do investimento‘:

 

“It used to be believed that the level of interest and the rate of investment were self-regulatory, and needed no management and no planning;  and that all  would be for the best if planning natural were left to discover and establish the inner harmonies. But such a view does not square with the fact of the experience. As I began by saying, it is the failure of the unplanned industrial world of Western Europe and America to regulate itself to best avantage, or toreap the fruits of the genius of its scientists and its engineers and its bussines organisers, which is prediposing many persons to consider without prejudice those far-reaching experimental projects of the most constructive minds of the post-war world which go, conveniently, by the name of planning”[26].

 

A resolução de muitos problemas graves da humanidade que tem a ver com o futuro da vida e a existência humana passa por grandes investimentos na investigação e desenvolvimento de tecnologias que substituam as actuais poluidoras, por corrigir os desequilíbrios antes de se tornarem irreversíveis, que não se resolvem apenas com as medidas gerais neoclássicas do poluidor pagador ou dos contratos institucionais.

Podemos dizer que Keynes entendia a intervenção política como um meio de produzir um maior grau de bem-estar social e humano, através de meios que proporcionassem harmonia, paz e estabilidade, promovendo um funcionamento da economia que não comprometesse o livre jogo das forças económicas, que permitisse realizar ao máximo o potencial económico. O meio mais eficaz de atingir esses objectivos era o estabelecimento de regras do jogo económico e a persuasão contínua dos agentes sobre a manutenção e a estabilidade dessas regras. Nesse sentido são indicativas as suas opiniões sobre a política económica a ser seguida para evitar uma nova depressão.

Keynes implicitamente reclamou por um regresso aos valores genuínos do capitalismo empresarial, em que a formação das expectativas de longo prazo, baseadas no cálculo mais perfeito possível, mesmo na certeza da sua precariedade, contribuíssem para um investimento sustentado e estável, que tornasse o emprego estável e seguro. Reclamou um regresso aos “animal spirits” dos empresários, para quem a actividade económica é um processo laborioso, de risco, de procura de oportunidades e novos mercados:

 

“ The spectacle of modern investment markets has sometime moved me towards the conclusion that to make the purchase of an investment permanent and indissoluble, like a marriage”..”might be a useful remedy for our contemporary evils. For this would force the investor to direct his mind to the long-term prospects and to those only”..” So long as it is open to individual to employ his wealth in hoarding or lending money, the alternative of purchasing actual capital assets cannot be rendered sufficiently attractive, except by organising markets wherein these assets can be easily realised for money”[27].

 

2.         Keynes e a política económica dos  keynesianos

 

1.         Algumas das políticas fiscais contra-cíclicas, rotuladas de keynesianas, perseguiam o propósito de atenuar o ciclo económico, através de mudanças nas despesas governamentais em consumo ou de reduzir as taxas dos impostos para aumentar o consumo. Nos memorandos do tempo da guerra, sobre a política de pós-guerra, há claras indicações de que Keynes se opunha a estes procedimentos. Este favorecia políticas de estabilização do investimento, opondo-se a políticas que aumentassem o consumo pela via orçamental. O rendimento deveria incrementar-se com recurso ao investimento. Assim escreve a Meade:

 

“ I doubt if it is wise to put too much stress on devices for causing the volume of consumption to fluctuate in preferences to devices for varying the volume of investment..People have established standards of life. Nothing will upset them more than to be subject to pressure constantly to vary them up and down...Moreover, the very reason that capital expenditure is capable of paying for itself makes it much better budgetwise and does not involve the progressive increase of budgetary difficulties, which budgeting for the sake of consumption may bring about”[28].

Keynes pretendia prevenir as flutuações, acreditando em programas de longo prazo:

 

“(...) if the bulk of investment is under public or semi-public control and we go for a stable long-term programme, serious fluctuations are enormously less likely to occur”[29].

 

A fórmula de Meade de reduzir as taxas à segurança social pagas pelas empresas quando o desemprego atingisse 8 % encontrava o acordo de Keynes, que considerava um mínimo de 5% de desemprego como a taxa aceitável, de modo que a partir de 8% , as contribuições à segurança social deveriam diminuir[30].

Quando apareceu o ‘White Paper on Employment Policy´, Keynes mostrou o seu acordo, embora se opusesse à secção em que se sugeriam variações cíclicas na taxa de juro como política contracíclica, defendendo a opinião de que essa política era irrealizável:

 

“ If it relates to the short-term rate of interest I am very doubtful how much it will help. If it is related to the long-term rate of interest, then practical and fiscal difficulties in the way of significant fluctuations over a short period..are in fact, overwhelming”[31].

 

Esta passagem é perfeitamente consistente com o seu ponto de vista de manter as taxas de juro de longo prazo num nível suficientemente baixo, de modo a estimular o investimento de pleno emprego, a menos que exista inflação[32].

 

Num breve sumário sobre o papel da gestão da dívida como política contracíclica,  Keynes sublinha que, mudanças no complexo de taxas de juro deveriam operar apenas no curto prazo e ter um carácter secundário:

 

“(...) with a view to controlling trade cycle and to offset inflationary or deflationary trend, should not be precluded, but should affect the shorter-term, rather than the longer-term, issues, and should be regarded as secondary to the technique of rationing the volume than altering the term of credit”[33].

 

1.      Alguns aspectos adicionais de clarificação sobre as posições de Keynes em matéria de política resultam da leitura e percepção da «functional finance» de Abba Lerner. Na sua visita a Washington em 1943, Keynes expressou preocupações de que o excesso de poupança acumulada durante a guerra poderia causar uma nova depressão, A. Lerner comentou:

 

“ When I pointed out that the government could always induce enough spending by incurring deficit to increase income, he at first objected that this would cause «even more saving» and the denounced as humbug my suggestion that the deficits required to induce enough total spending could always be financed by increasing the national debt”[34].

Depois da leitura do livro de Lerner, “The Economic of Control”, contendo vários capítulos sobre a «functional finance», Keynes considera-o “very original and grand stuff” . Posteriormente à leitura do ensaio de Lerner “ Funcional Finance and the Federal Debt”, Keynes escreveu a Meade recomendando a sua leitura e aceitando alguns dos seus argumentos, alertando porém para os efeitos intrincados da sua ´mise en oeuvre‘:

 

“(...)”but heaven help anyone who tries to put it across”[35].

 

Estas passagens demonstram que Keynes não é o responsável por, nem estão contidas nas suas obras, algumas das chamadas políticas keynesianas, tendo mostrado, aliás, um interesse moderado e cauteloso sobre a sua aplicabilidade. Keynes pensava em termos de programas de obras públicas e não em termos de estabilizadores automáticos que fazem o déficit aumentar quando aumenta o desemprego, de políticas de curto prazo destinadas a amaciar as flutuações. Joan Robinson descreve estas posições de Keynes do modo seguinte:

 

“ In fact Maynard Keynes himself was skeptical about the possibility of achieving permanent full employment. When he dined in Washington with his converts, he told Austin Robinson next day: I was the only non-Keynesian there. It was his British disciples, rather than he, who drafted the white paper in 1944 which proclaimed that it is the responsibility of government to maintain a high stable level of employment. Keynes said: you can promise to be good but you cannot promise to be clever”[36].

 

J. Robinson não nos diz as razões da desconfiança de Keynes, presumivelmente é relativamente à viabilidade de determinadas políticas de emprego e de contenção das flutuações propostas pelos keynesianos de Cambridge  e de Harvard. Mais do que cepticismo, Keynes mostrava prudência nas suas propostas e preocupava-se com o tempo que elas requeriam para vincarem. A experiência da luta contra o desemprego nos anos 20 e 30 parece ter moderado as suas expectativas sobre os logros dos trabalhos públicos e os seus efeitos multiplicativos[37]. No tempo da Grande  Depressão tinha escrito:

 

“ We should not refrain from good schemes because they will take some time to mature or because the expenditure they involve will be spread over several years. I advocate this, not only because slow maturity is a characteristic of many of the best proposals but because..abnormal unemployment, though not on the present scale, may be a chronic problem with us for several years to come”[38].

 

A experiência das políticas de estabilização através de obras públicas demostrou que as dificuldades não são puramente teóricas ou conceptuais; as dificuldades advêm da sua implementação técnica e administrativa. Num regime democrático, o governo requer maiorias nos parlamentos que assegurem a aprovação desses programas, mesmo que, como no caso dos governos federais, requiram a colaboração de governos e parlamentos regionais ou locais.

Keynes reconheceu que, para além dessas dificuldades políticas-administrativas, uma procura adicional gerada a partir do governo poderia ter efeitos adversos sobre as taxas de juro e desanimar o investimento, pelo que deveria coordenar-se melhor a política fiscal com a monetária. A psicologia dos investidores poderia ser afectada pelas obras públicas, gerando desconfiança, fazendo com que a eficiência marginal do capital desincentivasse o investimento privado.

Um problema que afecta particularmente as economias com um grau de abertura exterior, submetidas a um programa de obras públicas, é que podem ver na geração de uma procura adicional um aumento das importações e, por essa via, uma deterioração da balança de pagamentos. Por isto pode-se concluir que as obras públicas devem ser articuladas com outras formas de intervenção[39].

Tendo-se transformado a política fiscal numa arma favorita dos keynesianos, esta conduziu a uma contradição, como escreve J.A. Kregel:

 

“Traditional «Keynesian» policy leads to self-contradiction. Much like the dilemma for «Keynesian» policy demand management produced by coexistence of inflation(requiring a reduction in deficit spending) and rising unemployment(requiring an increase in deficit spending); the coexistence of rising budget deficit financing and rising unemployment has led to the belief that deficit financing not longer work to decrease unemployment”[40].

 

Para mim é claro que Keynes nunca propós a criação de um déficit orçamental como meio de estabilização. As suas propostas podem ter ido nesse sentido transitoriamente, mas não como um meio de política contracíclica. Na Teoria Geral existe uma passagem em que recomenda um nível  de dívida que não exceda a capacidade do standard de vida. Não existem razões para pensar que Keynes deixasse de pensar do mesmo modo depois de 1936, este escreve:

 

“(...)State action enters in a balancing factor to provide that the growth of capital equipment shall be such as to approach saturation-point at a rate which not put a disproportionate burden on the standard of life of the present generation”[41] .

 

Para Keynes, a existência de um déficit orçamental era a demonstração do fracasso das políticas de manter o crescimento do rendimento nacional compatível com o pleno emprego. As medidas de reequilíbrio do orçamento em situação de desemprego massivo só agravariam a situação. A preferência de Keynes ia para programas de longo prazo:

 

“(...) the main task should be to prevent large fluctuations by a stable long-term programme. If this is successful it should not be too difficult to offset small fluctuations by expediting or retarding some items in the long-term programme”[42].

Esta concepção de Keynes tem por base teórica a ideia de que as flutuações do investimento são a causa do nível de actividade pelo que a estabilidade do investimento é o principal objectivo de política económica. Consequentemente, o Estado é chamado a ter um papel director:

 

“If two thirds or three-quarters of total investment is carried out or can be influenced by public or semi-public bodies, a long-term programme of stable character should be capable of reducing the potential range of fluctuations to much narrower limits than formerly, when smaller volume of investment was under public control and when even this part tended to follow, rather than correct, fluctuations of the investment in strictly private sector. This policy has nothing whatever to do with deficit spending which would be a last resort only to be contemplated if the volume of planned investment fails to produce equilibrium”[43].

 

O déficit orçamental é uma política de último recurso; no essencial, deveria a intervenção do Estado assegurar programas de investimento estáveis de longo prazo que implicasse utilizar não menos que 7 ½ % e não mais de que 20 % do rendimento líquido nacional, que seria expresso através de um «capital budget», equilibrado no longo prazo e separado do orçamento corrente. O orçamento de capital estaria associado à produção de um investimento de longo prazo que permitisse um rendimento estável e o pleno emprego:

 

“ The capital budgeting is a means of attempting to cure disequilibrium if and when it arise”, ..” It is important to emphasise that this is no part of the purpose of the Exchequer or the Public Capital Budget to facilitate deficit financing, as I understand the term. On the contrary, the purpose is to present a sharp distinction between the policy of collecting taxes less than the current non-capital expenditure of the State as a means of stimulating consumption and the policy of the Treasury‘s influencing public capital expenditure as a means of stimulating investment. There is time and occasions for each of the policies: but they are essentially different and each, to the extent that it is applied, operates as an alternative to the other”[44].

 

Esta recomendação de Keynes decorria da experiência dos anos vinte e ia no sentido de um orçamento corrente equilibrado:

 

“ I should aim at having a surplus on the ordinary Budget, which would be transferred to the capital Budget, thus gradually replacing dead-weight debt by productive or semi-productive debt”[45].

 

É claro, como resulta desta passagem escrita nos anos da guerra, que não pode ser atribuída a Keynes uma preferência pelos déficit; é clara a associação desse tipo de política ao aumento do consumo. Keynes aceitaria essa política, provavelmente apenas em condições de saturação do investimento e sempre como recurso desesperado, expressando:

 

“(...) doubt if it is wise to put too much stress on devices for causing the volume of consumption to fluctuate in preference to devices for varying the volume of investment”[46].

 

A diferença entre uma ou outra forma de política, segundo Keynes, está em que enquanto o «déficit spending» gera dificuldades orçamentais ulteriores, as despesas de capital são virtuosas, porque parcialmente se autofinanciam. Por isso a ênfase em medidas de longo prazo que atenuem as flutuações amplas que requerem posteriormente tempo para a sua cura.

A aplicação de políticas keynesianas com recurso à gestão da procura por meio de «déficit spending», criticadas por Keynes, de oposição à depressão e de combate ao desemprego, representam um fracasso em atingir resultados duradouros, obrigando a contínuas intervenções com deficits crescentes, sem resolver o problema da estabilidade do investimento:

 

“I should not aim at attempting to compensate cyclical fluctuations by means of the ordinary Budget. I should leave this duty to the capital Budget”[47].

 

Kregel escreve a este propósito de isto:

 

“ From Keynes‘s(and the Kennedy-Heller position of the 1960s) point of view the rising budget deficits and rising share of transfer payments in government expenditure in the face of stagnant output and rising unemployment in the 1970s represent not the failure of Keynesian policy but rather a failure to apply that policy”[48].

 

Numa carta a Josiah Wedgwood, expõe Keynes, mais uma vez, as  razões para uma política que pondere o consumo e que resguarde o investimento:

 

“ The question then arises why I should prefer rather a heavy scale of investment to increasing consumption. The main reason for this is that I do not think we have yet reached anything like the point of capital saturation. It would be in interest of the standard of life in the long run if we increase our capital quite materially. After twenty years of large scale investment I should expect to change my mind..But certainly for the first ten years after the war-and I should expect for another ten years after that-it would not to be in the interest of the community to encourage more expenditure on food and drink at the expense of expenditure on housing...”[49].

 

3.         Podemos assentar, que se por um lado todas as críticas à política de «stop and go» resultam um equívoco relativamente à sua paternidade, por outro lado utiliza-se essa crítica para pôr em causa todo o sistema teórico keynesiano. Keynes expressou de forma transparente um ponto de vista que bem serviria como resposta a certas críticas:

 

“I doubt if much is to be hoped from proposals to offset unforeseen short-period fluctuation in investment by stimulating short-period changes in consumption.. It is quite true that a fluctuating volume of public works at short notice is a clumsy form of cure and not likely to be completely successful”[50].

A preferência de Keynes ia para programas que implicassem a socialização do investimento e que evitassem as flutuações violentas e instáveis da eficiência marginal do capital:

“Depression is itself the cause of government deficit, resulting from increased expenditure on the support of the unemployed and the falling-off in the yield of taxation. Public debt is inevitable at the time when private expenditure is inadequade: it is better to incur it actively in providing employment and promoting industrial activity than to suffer it passively as a consequence of poverty and inactivity”[51].

Embora as circunstâncias sejam diferentes do período em que Keynes escrebeu a Teoria Geral, as conclusões para a política mantêm-se; elas correspondem à visão de que o Estado de laissez-faire tinha passado, de que face aos novos problemas do mundo moderno o Estado teria que cumprir novas funções, em plena correspondência com o que tinha escrito no “The End of the Laissez-faire” 20 anos antes.

 

“I believe that in many cases the ideal size for the unit of control and organisation lies somewhere between the individual and the modern State. I suggest, therefore, that progress lies in the growth and the recognition of semi-autonomous bodies within the State-bodies whose criterion of action within their own field is solely the public good”[52].

 

Estes corpos semi-autónomos do Estado deveriam actuar quando os motivos que norteiam as vantagens privadas estivessem excluídos, mas, mesmo assim, deveriam seguir o princípio das finanças saudáveis. Num comentário às formas do financiamento da segurança social proposto no relatório de Beveridge, Keynes escreve:

 

“We need to extend, rather than curtail, the theory and practice of extra-budgetary funds for state operated or support functions. Whether it is the transport system, the Electricity Board, War Damage or Social Security.The more socialised we become, the more important it is to associate as closely as possible the cost of particular services with the sources out of which are provided even when a grant-in-aid is also required from general taxes. This is the only way by which to preserve sound accounting, to measure efficiency, to maintain economy and to keep the public properly aware of what things cost”[53].

 

Isto exigiria uma forma de governo democrático com graus de participação consciente e não puramente reivindicativos, com tipos de controlo democrático que não permitissem «déficit spending» conjugados com os ciclos eleitorais em função de manter ou ganhar o poder político, como as experiências dos governos democráticos do pós-guerra têm demonstrado.

Estes fenómenos políticos, que Keynes não poderia prever, têm sido também imputados às políticas keynesianas, justamente pelo maior peso que o Estado adquiriu, pelos recursos económicos e financeiros que a legitimidade democrática tem proporcionado à gestão da procura agregada dos governos saídos de eleições democráticas. A combinação da gestão política com a gestão económica do ciclo económico tem, porém, outros ingredientes que estavam fora da alçada programática recomendada por Keynes.

As nacionalizações, o crescimento e intervenção do Estado como proprietário de recursos produtivos, sistemas de subsídios as empresas públicas e privadas, controles cambiais e de capitais realizados permanentemente por instituições semi-autónomas como os Bancos Centrais, permitiram e permitem aos governantes um grau de manipulação arbitrária e discricionária, que na mente intelectual e iluminista de Keynes não teriam tido lugar[54]. A condução política, segundo Keynes, deveria estar reservada a um corpo de funcionários educados no espírito da «Abbey Road», conselheiros incorruptíveis, acima de qualquer suspeita e orientados pelo serviço ao bem comum. Os aspectos aberrantes da experiência de intervenção governamental do pós-guerra merecem um maior aprofundamento e discussão, mas em nenhum caso devem conduzir a um regresso ao passado de laissez faire, como os representantes das ideias liberais e ortodoxas pretendem e como, com certo êxito, têm preconizado na última década.

Deixada nas mãos de decisores políticos que perseguem objectivos que se dissociam do bem comum e pretendem objectivos próprios, a política económica poderia ser realizada contra os interesses da maioria dos cidadãos, como a experiência tem vindo a demonstrar. Mas disso não podemos responsabilizar Keynes, cujo propósito não era o poder político, mas a solução dos problemas que afectavam a economia capitalista e que estavam na base da sua instabilidade. Pode-se concluir que não existe suficiente fundamento para atribuir a Keynes a paternidade da prática das políticas keynesianas fiscalistas.


[1] M. Friedman, “The Keynes Centenary:  A Monetarist Reflects’“,   Economist, 4 June 1983.

[2] A versão keynesiana aceita que em termos de política económica Keynes teria recomendado:“When private spending declines, a responsive government substitutes its spending by running a budget deficit, or reduces taxes to stimulate private spending. The additional spending create jobs for idle workers. Society gets the benefit of output that would have been lost; increased output and employment raises tax revenues and finances the deficit. To reduce inflation, the government runs a budget surplus. The surplus lowers economic activity, and the surplus is eliminated as inflations falls”. Allan H. Meltzer, “ Monetarism and the crisis in economics”, p. 35, in Daniel Bell and Irving Kristol(ed), The crisis in Ecomic Theory, Basics Books, Inc, Publishers, New York, 1981, pp. 35-45.

[3] Keynes J.M.,  “ Can America  Spend Its Way Into Recovery”, CWJMK, vol.XXI, p. 236-237.

[4] No «Treatise» Keynes alude aos regimes totalitários existentes na Rússia, Alemanha e Itália, onde ocorria uma política de redução  de salários determinada pela força do poder político e imposta repressivamente, ver Keynes J.M. , CWJMK , vol. V, pp. 244-45.

[5]Keynes escreve no « Tract»: " The governors of the system would be bank rate and the Treasury bill policy, the objects of government would be stability of trade, prices and employment", Keynes J.M. , "A Tract on Monetary Reform", in CWJMK , vol. IV, p. 153.

[6] Keynes J.M. , " A Treatise on Money, in CWJMK , vol. VI, p. 335.

[7] Idem, p. 335.

[8] Idem. O recurso a este caso especial não era novidade política em Keynes, nem era o único a defendê-la. Fazia parte da proposta desenvolvida pelo mesmo, junto a Henderson, para o programa eleitoral do partido liberal inglês nas eleições de 1929 e que apareceu como parte do livro amarelo do partido liberal e no panfleto intitulado « Can Lloyd George do it». Na Inglaterra, o próprio Pigou aceitava o recurso a esta política e nos EUA, J. Viner e E. Simon de Chicago defendiam a mesma posição, assim como os economistas suecos da chamada «escola de Estocolmo». A particularidade desta proposta resulta das condições específicas que Keynes pensava existirem em Inglaterra.

[9] Idem, p.337.

[10] Keynes J.M., “Can Lloyd George do it”, in CWJMK, vol. IX, p. 106.

[11] Esta não era a situação de Inglaterra, que era um país exportador de capital, pelo que o problema em termos práticos não se punha. Refiro-me às suas discussões na Comissão MacMillam em 1931.

[12] No «Can Lloyd George do it» Keynes desempenhava na cena nacional o papel do panfletário político, enquanto que no «Treatise» este representava o papel do académico perante a audiência e auditório científico: “Keynes was the internationally famous scholar presenting to the scientific work as a whole what was intended to be a definitive work on the subject”D. Patinkin, "Keynes'Monetary Thought: A study of its Development", Durham, New Caroline: Duke University Press, 1976, p. 133.

[13] No período de preparação da Teoria Geral, Keynes escreveu um panfleto sobre política economica: " The Means to Prosperity", em que deixa  claro que atribui um lugar prioritário no relançamento económico à intervenção do Estado: " Thus the first step has to be taken on the initiative of public authority; and it probably has to be on the large scale and organised with determination, if it is to be sufficient to break the vicious circle and to stem the progressive deterioration, as firm after throws up the sponge and ceases to produce at a loss in the seemingly vain hope that perseverance will be rewarded", Keynes J.M. , CWJMK , vol. IX, p. 354.

[14] Keynes J.M. , " The General Theory", CWJMK , vol. VII, p. 206.

[15] Idem, p. 374.

[16] Idem, p. 375.

[17] Keynes J.M. , " How to Avoid a Slump", in CWJMK , vol. XXI, p. 389.

[18] Keynes J.M. , in CWJMK , vol. XXIX, p. 379.

[19] Idem, p. 379.

[20] Idem, p. 164.

[21] Keynes J.M.,  “ National Self-Sufficiency ”, in CWJMK, vol.XXI, p.240.

[21] Existe uma nota sobre vícios privados e virtudes públicas com referência à fábula das abelhas de Bernard de Mandeville. Keynes irá  referir extensamente esta fábula na Teoria Geral, Ver Keynes J.M., CWJMK , vol. VII, pp. 359-362.

[21] A. Smith refere que o trabalho é o valor standard; Malthus argumentava a favor do aumento do rendimento quando havia abundância de mão de obra e,  pelo contrário, sublinhava a necessidade de proceder à sua contracção quando esta era escassa, a fim de manter o standard trabalho. Keynes teria dito "For hundred years this primitive common sense destroyed by Ricardo, has lived only in uneducated circles. The belief of economists that one might do the opposite was based on the conviction that output and employment tended to the optimum and is the basis of the belief that economists are generally wrong”. T. Rymes,  " Keynes`s Lectures 1932-35: Notes of a Representative Student", MacMillan, 1988, p. 81.

[22] Keynes conclui as suas lições de outono de 1932 com uma observação no sentido de que os negócios são um `Monte Carlo gamble`, "it is a roulette wheel with a zero-that is, only the house is the net winer. Idem, p. 84.

[23] Devemos ainda considerar que um dos factos que mais fortemente legitimou a  intervenção do Estado proposta por Keynes foi a decisão de una série de governos capitalistas de dar curso a uma série de medidas de  política  como que confirmando que o sistema precisava de choques externos tendentes a levá-lo ao caminho desejado. Uma avaliação dessas medidas e dos seus resultados também não é pacífica sobretudo nos tempos actuais. Há quem diga que se não fosse a II Grande Guerra, o sistema não teria entrado numa nova fase de crescimento económico; mas isto não é uma preocupação do nosso trabalho. Sobre isso ver Keynes J.M.: Society and the Economist, Josef Steindl, in Keynes's Relevance Today, ed. Fausto Vicarelli.

[24] Keynes J.M.,  “Broadcast Lecture, 14 March 1932, ”, CWJMK , vol. XXI, p. 84.

[25] Keynes J.M.,  “Broadcast Lecture, 14 March 1932”, CWJMK , vol.XXI, pp. 87-88.

[26] Keynes J.M.,  “Broadcast Lecture, 14 March 1932”, CWJMK , vol.XXI, p. 90.

[27] Idem, p. 160.

[28] Keynes J.M. , CWJMK , vol. XXVII, p. 319-320.

[29] Idem, p. 326.

[30] Ver Keynes J.M., CWJMK, vol. XXVII, p. 206-208 e Keynes J.M. , CWJMK , vol. XXVII, p. 319-320.

[31] Idem, p. 377.

[32] Keynes J.M., CWJMK, vol. XXVII, p. 388-396. Keynes punha en causa as possibilidades de manipular a taxa de juro de curto prazo pelas expectativas regressivas que afectavam o futuro do nível da taxa de juro e a confiança na política monetária. Se a política monetária consiste em levantar uma sólida base convencional, as variações cíclicas não ajudariam, gerando un jogo de adivinha sobre o futuro  da taxa de juro e uma actividade especulativa que atrairia recursos do sector produtivo.

[33] Idem, p. 397. Moggridge sublinha que Keynes pretendia em 1945 que a estrutura das taxas de juro fosse de 3% para as taxas de juro de longo prazo, 2 ½ %  se a procura de títulos de longo prazo fosse muito forte que encarecesse o seu financiamento para as autoridades; ½ % para os bilhetes do tesouro a fim de aliviar a balança de pagamentos, colocando as taxas de intermediação e as taxas de poupança em relação com estas. Ver D. Moggridge e S. Howson, " Keynes on Monetary Policy, 1910-1946, p. 465, in John Cunningham Wood(ed.), " John Maynard Keynes: Critical Assessments", Croom Helm, London & Camberra, Vol.1, p. 451-471.

[34] A. Lerner, citado por  A. Meltzer, Keynes`s Monetary  Theory, Cambridge University Press, 1988, p. 295.

[35] Idem, p. 320. Keynes propõe a realização de um seminário no Tesouro para discutir as propostas contidas no livro de A. Lerner.

[36] Joan Robinson, citado por A. Meltzer, in Keynes`s Monetary Theory, Cambridge University Press, 1988, p. 296

[37] Existe uma certa polémica entre diferentes historiadores sobre a influência que as políticas sobre o emprego recomendadas por Keynes teriam ganho no seio dos departamentos do Estado inglês, nomeadamente no Tesouro e no Banco de Inglaterra. O facto de altos funcionários tivessem concordado com Keynes na necessidade de obras públicas para evitar uma nova depressão é interpretado como uma conversão dos antigos partidários do ponto de vista do tesouro. Ver Alan Booth, " The «Keynesian Revolution» in Economic Policy-making", Economic History Review 36(1), 1983, pp.103-123, também N.Rollings, " The «Keynesian Revolution» and Economic Policy-making: A Comment, in Economic History Review, 38(1), 1983, pp. 95-100, assim como a resposta de Booth, nas páginas 101-106. Também G.C. Pedem, "Sir Richard Hopkins and the Keynesian Revolution in Employment Policy, 1929-1945, Economic History Review, 36(2), pp. 281-296 e " " Keynes, The Treasury and the Unemployment in the Later Nineteenthierties,  in John Cunningham Wood(ed.), " John Maynard Keynes: Critical Assessments", Croom Helm, London & Camberra, Vol.I, pp. 564-580. Peden, sustem que Keynes estaria preocupado não apenas com a quantidade de aumento da procura, mas com a distribuição desse aumento o que é interpretado como sugestão para formas de políticas regionais, mas não apresenta evidências disso.

[38] Keynes J.M. , CWJMK , vol. XXI, pp. 181-182.

[39] De qualquer modo, a política de obras públicas como forma de intervenção na luta contra o desemprego veio a contrariar o ponto de vista das finanças equilibradas, que aumentava os impostos e diminuía o gasto público em situação de depressão, a fim de contrariar o aumento do pagamento de maiores subsídios de desemprego que geravam déficit orçamental. Compare-se Robert Lekachman, La Era de Keynes, Alianza Editorial, Madrid, 1970, pp. 116-117.

[40] J.A. Kregel, " Budget Deficit, Stabilisation policy and Liquidity preference", in F. Vicarelli, Keynes`s Relevance Today, MacMillan, 1985, pp. 28-50, citado, p. 29.

[41] Keynes J.M. , " The General Theory", CWJMK , vol. VII, p. 220.

[42] Keynes J.M. , CWJMK , vol. XXVII, p. 322.

[43] Idem, p. 352.

[44] Idem, p. 406.

[45] Keynes J.M., CWJMK , vol. XXIV, pp. 277-278.

[46] Idem, p 319.

[47] Keynes J.M., CWJMK , vol. XXIV, pp. 277-278.

[48] J. A. Kregel, op. cit. , p. 35.

[49] Idem, p. 350.

[50] Keynes J.M., CWJMK, vol. XXVII, p. 323 e p 326.

[51] Keynes J.M., “Can America Spend Its Way Into Recovery”, in CWJMK, vol. XXI, p. 337.

[52] Keynes J.M., “The End of the Laissez-faire", in CWJMK, vol. IX, p. 288.

[53] Keynes J.M., CWJMK, vol. XXVII, p. 224-225.

[54] Sobre as nacionalizações, a seguinte passagem demonstra que Keynes sem ser contra, era extremamente cauteloso e previdente da relação gestão propriedade: "I agree that in detail the new proposals are a very great improvement on the original version. Nevertheless, they are, in my judgment, such as to create some consternation in investment circles. And what is far worse than that, taken as a precedent they forge a most formidable instrument of potential confiscation in the future. It is from this point of view that I think they need more careful consideration of the Chancellor before they are supported. The government is under no compulsion to nationalise this or other industry. But if for good reason they decide to do so, a plan which deprives the shareholders of any control on management, withholds from them any possibility of increased return to compensate risk, and yet gives them no guarantee of income, seems a most unjust and undesirable way  of reaching the desired end. When an industry is nationalised, it is fundamental that the shareholder should be bought out. The principle that they can be left still to carry the risk but otherwise totally dissociated from the fortunes of the concern, is quite wrong", Keynes J.M., CWJMK, vol XXII, p. 456.