Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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O NOVO PACOTE: UMA ESPERANÇA

 

 

 

Com a problemática nacional aumentando, os políticos trabalham no sentido de conseguir uma maneira para sanar essas dificuldades que atrapalham a vida dos cidadãos que participam da conjuntura nacional brasileira. É por esse prisma que se discute política na Nação, oferecendo soluções a questões nacionais, cuja prática de execução de tais soluções não depende unicamente de questões individualizadas; mas, de um complexo participativo de todos. A solução dos problemas da Nação passa por uma questão de mobilização cultural, de participação séria de todos seus agentes econômicos, dentro de um prisma de mutualidade e confraternização entre os membros do sistema político e econômico nacional.

Durante o regime militar, proliferou-se todo tipo de desmando que um sistema econômico pode conhecer. O autoritarismo esteve sempre no meio daqueles que já tinham a índole de mandatário; pois, neste momento, era a hora de por em prática a sua ganância e egoísmo de ser o maior e o melhor entre todos que querem levantar o seu orgulho. Com a abertura que foi conseguido, pode-se ter uma rápida esperança de se ter um futuro melhor com os programas que os políticos tentavam usar para, no curto prazo ter uma solução para as questões nacionais. Entretanto, a economia não se reajusta com programas e nem tão pouco com arrumações ditatoriais de Decreto-Lei que visem sanar as dificuldades que a economia ultrapassa, com uma crise que já vem de muito longe.

Diante disto, sabe-se que o país vive momentos de muitas expectativas quanto ao futuro, tendo em vista que todos os métodos de combate ao sofrimento do povo brasileiro não tiveram eficácia. Só os economistas da Nova República têm os méritos de tentar conduzir o país ao crescimento equilibrado e restaurar a confiança que os empresários gostariam de ter para ver seus investimentos crescerem sem o prejuízo de alguém. No regime militar também se fez isto; mas, esqueceram-se de que as políticas econômicas deveriam ter efeitos para todos os agentes econômicos indistintamente e não penalizar a maioria. As políticas do regime militar beneficiaram o capital financeiro em detrimento aos investimentos diretos que a economia precisava; e, do povo que sofria com a inflação galopante.

O regime militar criou o Banco Nacional de Habitação (BNH), a correção monetária, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) e muitos outros instrumentos de apoio ao capital e neste salva-guarda dos guardiões do sistema, não conseguiu devolver ao povo brasileiro o seu poder de compra, o seu bem-estar social e econômico. No curto prazo, teve-se algum efeito; porém, foi um momento que os detentores do poder se reciclavam em busca de maneiras como construir seus impérios de corrupções e desmandos. Quando começaram a surgir os problemas na economia brasileira foram momentos inseguros. A inflação galopou absurdamente, o crescimento econômico se reverteu, os especuladores tomaram conta do país e a desconfiança foi a tona em todos os setores da economia.

As corrupções foram tantas que o crédito brasileiro em pouco espaço de tempo foi estourado lá no exterior; mas, para que serviram os empréstimos feitos no exterior? Somente para as obras faraônicas do governo federal que só fazia começar e nunca se concluiu alguma, como o caso da Tucuruí, as famigeradas Angras e muitos outros empreendimentos de faixada onde o governo aparecia para conseguir seu empréstimo e aplicar em corrupções eleitorais. Nisto, a dívida externa cresceu em uma progressão geométrica e a população brasileira não viu nem a cor dos bilhões de dólares que montam a dívida externa do país, sem contar que internamente a dívida mobiliária interna era absurda, e a dívida moral que o Brasil ganhava era incalculável.

No transcorrer de tudo isto, a inflação se descontrolou, o país não tinha rumo e era o jeito tomar uma posição, coisa que foi feito; porém, de maneira ainda branda e suave. Os pontos atacados foram os seguintes: os preços foram limitados no ponto de pico. O Banco Nacional de Habitação (BNH) foi reestruturado, de acordo com as aspirações dos mutuários. A confiança foi devolvida ao povo com o poder de denunciar os infratores da Lei e imediatamente eles serem punidos. Foi demolida a correção monetária; pois, esta era o maior companheiro dos especuladores que apostavam na inflação. Tem-se uma mudança na política salarial, de maneira tal que as perdas que aconteceram, foram compensadas com o tempo e no cômputo geral a classe assalariada conseguiu repor sua perda de renda neste período de transição.

Desta forma, teve-se uma reestruturação em todos os mercados existentes na economia, quais sejam: mercado de bens e serviços, mercado de moeda e mercado de títulos. O mercado de bens e serviços foi o mais beneficiado, porque é composto de investimentos diretos no setor produtivo. O mercado de moeda foi acionado à medida que o sistema econômico precisa de lastro monetário. E, finalmente, o mercado de títulos do governo e dos bancos privados, além das cadernetas de poupança que era uma verdadeira mina de lucratividade. Nos dois últimos mercados estava o ponto nevrálgico da situação brasileira, o problema da especulação, na qual está submetida a economia do país que está em discussão neste trabalho.

Eliminando a especulação em torno da inflação, desaquece-se o mercado de títulos especulativos e restaura-se um impulso rumo ao crescimento do mercado de bens e serviços, tendo em vista o incentivo que o setor produtivo vai ter na produção e diversificação de produtos que atendam às necessidades imediatas da nova demanda agregada. Isto gera um aumento na demanda por mão-de-obra que, conseqüentemente, provocará um aumento na produção e no nível de salário dos trabalhadores; entretanto, não um salário corrigido pela inflação, mas aumentado pela sua produtividade. Vai-se ter a partir de agora, um incremento na função consumo dos brasileiros que antes só pensava em aplicação na poupança em detrimento ao consumo atual; mas, não sabia ele que o rendimento da poupança era uma ilusão, porque o reajuste econômico acontecido nunca acompanha a inflação incessante.

Ao discutir ainda mais a questão da especulação, observa-se que este processo tem causado e vai causar muito mais dificuldade ao país; pois, a busca do lucro incessante é o aumento constante do egoísmo e da ganância de sempre ter mais. Com a preocupação de fugir da inflação ou obter vantagens do processo inflacionário, é que a especulação tem aumentado cada vez mais, talvez não na melhor alocação do seu dinheiro; entretanto, esperando sempre um reajustamento da moeda pela correção monetária. Verifica-se que os empresários, tendo a correção monetária como elemento especulativo não querem vender o seu produto dentro do princípio do turn over; mas, estocar para vender a preços maiores, instituídos por lei. Desta feita, dificilmente o programa terá o sucesso devido, ou o esperado pela população que conclama pela estabilidade econômica e social do País.

O sucesso desse programa depende de todo o povo brasileiro em geral, dos consumidores e empresários em particular; pois, sem o apoio dos industriais, banqueiros e do setor serviços, esse pacto pode causar distúrbios maiores do que vinha acontecendo antes do pacote. Os industriais é que vão aplicar as suas dotações de investimentos que a economia necessita; pois, se esses empresários fizerem um boicote a este programa, a coisa se complicará, porque sem esses investimentos não haverá aumento na produção e nem no nível de emprego; e, conseqüentemente, uma crise maior, será o primeiro passo para a falência brasileira. Não se pode deixar que isto aconteça. Os empresários anti-patriotas devem ser denunciados e postos na cadeia, porque o que se precisa é uma melhora para o país e não para qualquer ganancioso.

Desta forma, assiste-se a uma prova de conscientização e vontade de ver seu país fora da crise, pois a Nação tem se atropelado ultimamente. Durante o governo militar, o país não tem visto, pelo menos no curto prazo, uma estabilidade de sua moeda. O tema na boca da juventude era a desvalorização da moeda brasileira e, conseqüentemente, a inflação que se vivia e nisto se avolumava a especulação numa ganância de ter uma poupança para garantir os rendimentos todo final de mês. O programa do PMDB, através da luta popular que se travou durante o regime militar, está se vendo cumprir aos poucos; pois, uma aplicação radical desse programa, talvez não fosse bem interpretada pela população e, assim sendo, os custos sociais seriam bem maiores.

Em resumo, essa é mais uma esperança que se tem de ver os problemas do país resolvidos. Essa é mais uma oportunidade de se ter o reajuste normal que se necessita para se conseguir o bem-estar de todos os filhos da nação brasileira. No entanto, não é necessário e suficiente que o programa dê certo, tendo em vista que não é um programa que vai reajustar a economia brasileira; mas, todo um processo de adaptação dos participantes desta economia, tais como os trabalhadores, o governo e os empresários. Se os desajustes causam ganhos para alguém, deve haver uma provocação para que esses ganhos estejam sempre na vida da economia nacional; pois, já é sabido que a inflação é um processo de redistribuição de renda que proporciona ganhos para quem vive de rendas fixas, bem como a própria economia já se adaptou ao reajustamento de estoques através das correções monetárias existentes.

Ao considerar que após os governos militares o que prevaleceu foram os pacotes que eram programas de curta duração, com objetivo de eliminar os desajustes que a economia atravessava pela falta de um plano de maior abrangência, isto é, uma programação de médio, ou até mesmo de longo prazo, como é a prática nos países desenvolvidos. A abertura proposta, e posta em execução pelo regime militar deixou muitos problemas de difíceis soluções, decorrentes do arrocho do sistema vigente e da entrega da nação à democracia ter sido de uma forma muito rápida, sem uma estruturação precisa de como a economia deveria caminhar a partir de então. Essa passagem deu-se numa transferência de cargo; porém, o próximo governo tivesse a capacidade de conduzi-la dentro dos princípios democráticos como a população exigia e esperava ansiosa; todavia, os pacotes foram a tônica e cada um que aparecia era mais uma esperança que brotava.

O governo Sarney foi prodigioso na confecção de tantos pacotes que surgiram com objetivo de tentar organizar a economia; entretanto, deparava-se com um governo eleito por um Colégio Eleitoral, instituído pelos militares, cujo governo tinha a maioria e dificilmente perderia se não fossem as alianças que elegeram Tancredo Neves - Presidente, e José Sarney - Vice. Tancredo morreu e Sarney assumiu pelos grupos de esquerda e centro-esquerda que queriam derrotar o derrubar o Colégio Eleitoral, continuando a sua trajetória de oposicionistas, enfraquecendo a situação do governo eleito por tal grupo que deveria organizar a nação e isto não aconteceu. Assim sendo, o governo Sarney viveu dentro de uma fraqueza nunca vista, elaborando pacotes, dando esperanças de planos que tinham objetivos da nação seguir com seus próprios pés, estruturada, e sem fugir de seus princípios democráticos que tanto almejou.

Lutou-se muito contra os pacotes que tinham como meta, melhorar o sistema econômico e por conseqüência, o nível de vida dos brasileiros com a queda da inflação e a possibilidade de se implementar o nível de investimento da economia que culminasse com uma queda no nível de desemprego que o sistema estava presenciando. Contudo, os pacotes somente beneficiavam os donos do capital, com arrochos e mais arrochos aos trabalhadores que viviam sacrificados com os males que o desequilíbrio econômico proporcionava a uma população que carecia de uma estabilidade econômica para amenizarem suas dificuldades sociais. Desta feita, os pacotes apareciam e as esperanças se renovavam diante de mais uma oportunidade que surgia com vistas a que a economia pudesse conseguir uma paz para a população que não agüentava mais tanto desemprego, inflação, aumento da criminalidade e dificuldades na vida.

            Neste rosário de amargura, os brasileiros ainda não tinham perdido as esperanças, mesmo que tudo isto se apresentasse como mais uma esperança perdida, diante do que vinha acontecendo com a dinâmica econômica de descontrole e instabilidade que os pacotes que apareciam não tinham condições de sanar os problemas que a economia passava. Mesmo com todas as desesperanças que os pacotes levantavam, juntamente com as medidas provisórias que os governos adotavam; sempre nascia uma esperança de que a economia pudesse prosseguir um rumo certo; e, daria certo, se não fosse acompanhado pelos problemas políticos regionalizados dos coronéis ainda vigentes. Em suma, a esperança sempre estava na cabeça dos brasileiros que saiam de um regime ditatorial dos militares e caia nas dificuldades de problemas que vinham se acumulando ao longo de muitos anos que o único controle que existia era a tortura, a morte e a cadeia que foi a democracia de vinte e dois anos.