Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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ANÁLISE SOBRE O PLANO VERÃO

 

 

 

O Plano Verão não constitui um programa de desenvolvimento por excelência para a economia. Sem dúvida, ela precisa de uma estrutura que leve todas as partes do sistema econômico a uma estabilidade. As medidas de força contidas no Plano Verão, ou como é comumente chamado - Pacotão, são pontos chaves que o governo quer estancar, para partir para uma cirurgia mais eficaz, na condução de uma melhor terapia econômica. Parte-se, desta forma, do processo inflacionário que o país enfrenta e que tem efeitos em diversas localidades sensíveis no organismo da economia, tal como: o desemprego que já se avoluma; o decrescimento econômico que é notório; as crises nos Estados que já ameaçam problemas mais graves; e, sobretudo, o nível de pobreza em que o país se encontra hoje em dia.

O processo inflacionário de um país tem raízes profundas e não é por Decreto, ou, Medida Provisória, ou imposição de Congresso que vai demolir o Poltergeister dos aumentos de preços generalizados que ficaram patentes nos países do terceiro mundo. A inflação inicia, desde os primeiros passos da atividade econômica nacional, quer dizer, quando o agricultor vai fazer a sua plantação, para colher o milho, o feijão, o arroz, o trigo e muitos outros produtos, advindos da terra, ele precisa de sementes, de enxada, de pagar a um trabalhador para ajudar na atividade; de adubos para melhorar a produtividade da terra; de corretivos para eliminar alguns problemas que existem na terra; e, de um lucro para a manutenção dos empregados, tudo isto e mais, constituem o preço do produto.

A propósito, deve-se lembrar que estes insumos que participam da atividade econômica, mesmo a agrícola, têm preço estipulado pela economia doméstica e pela economia externa ou como é conhecido normalmente de economia internacional. As mudanças nos preços externos fazem variarem os preços internos dos produtos diretamente proporcionais ao valor da moeda doméstica lá fora. Pois, cada vez que haja uma desvalorização da moeda doméstica, implica em o produto interno ficar mais barato ao exterior e mais caro ao interior, tendo em vista que, neste processo de ganhos e perdas, a economia, não pode ser persistente; todavia, o consumidor doméstico é quem paga por este ajuste da economia interna. Isto constitui mais uma perda para o consumidor/trabalhador brasileiro, com o processo das mini-desvalorizações que continha o Plano Verão.

Ao retornar para a formação do processo inflacionário a partir da agricultura, até as diversas fases do consumidor final, os acréscimos de preços são grandes, causando as maiores dificuldades na localização do problema, de como conter os excessos de aumentos de preços. Além disto, há um outro fator de suma importância no descontrole de aumentos exagerados de preços que desajusta a economia, que é a dominação clara e evidente dos oligopólios. Os oligopólios tentam e conseguem desarrumar o sistema econômico, para tirar os proveitos que bem desejam, tais como: a exploração sobre os trabalhadores, formação da competição inter-trabalhadores e obtenção do beneplácito do governo no combate à competição e na manutenção de grupos cartelizados na busca de se locupletarem.

Uma prova cabal disto é que o governo ao decretar o Plano Verão, ajustou os salários dos trabalhadores por baixo e muito por baixo, dizendo-se conter a demanda que está, segundo a ótica governamental muito aquecida, coisa que não é verdade. Como é que a demanda está aquecida, se os trabalhadores perdem valores reais em seus salários constantemente, desde as duas décadas da ditadura? É fácil perceber que os governos militares foram governos de arrocho salarial; pois, é daí que as perdas salariais cresceram abruptamente. Quando o governo militar caiu, os problemas eram tão grandes que não se puderam resolver tais dificuldades no curto prazo, ou, até mesmo em tempo médio que o povo exigia, como ainda exige soluções rápidas para o caso; entretanto, não existe nenhuma mágica para dificuldades a tal nível.

No desespero de quem sofre a bastante muito tempo, o governo civil apelou para uma solução milagrosa do Plano Cruzado que, como qualquer coisa eivada de boas intenções seria, em verdade, a salvação da economia brasileira, se não fosse o poder dos trustes nacionais e internacionais e a esquerda festiva que foi no jogo dos oligopólios, tal como eles previram. Mesmo sendo, a princípio, um bom Plano, os trabalhadores já começaram a doar a sua participação compulsória pela “salvação nacional” e como resposta, tiveram alguns ganhos reais pelo congelamento, assim como, a perda efetiva pela exploração, quando o Plano foi posto para baixo. Como se viu, somente o trabalhador é que perda e não é por patriotismo; é por imposição do governo e pelo poder dos conglomerados que domina o mundo moderno.

Com o Plano Cruzado, surgiu o ágio, simplesmente porque os preços estavam congelados no linguajar do governo; porém, como saída na venda dos produtos estocados, e até mesmo dos produtos novos, só haveria condições de serem vendidos, se houvesse uma recompensa além do preço normal, congelado. Esta patologia que acabara de surgir não só foi fruto de um congelamento prolongado e não estava no planejamento governamental; mas, foi um fato e se teve de conviver com este Allien por muito tempo. Todavia, é provável que esta figura também apareça, em algum outro programa que tenha a mesma característica do Cruzado. É verdade que qualquer programa que venha de encontro aos ideais dos oligopolistas, não frutifique e entre facilmente em falência, pois, o patrão teoricamente, não pode perder nos seus negócios.

O Plano Cruzado chegou; contudo, como os resultados vieram as crises cada vez mais agudas, tais como: desemprego, decrescimento econômico, aumento da pobreza e, acima de tudo, uma inflação que explodiu com mais força, tornando os problemas explosivos e incontroláveis. Dentro deste clima apareceu o Plano Bresser que tinha o mesmo objetivo do Plano Cruzado, quer dizer, acabar a inflação que já ameaçava explodir de maneira fortemente insustentável.  Do mesmo modo, o trabalhador cede alguns sacrifícios em prol o bem-estar nacional, é claro forçado pelo governo e pelas circunstâncias. Com as perdas salariais reais e nominais, acompanharam perdas pela compra de produtos mais caros e novamente explode a inflação.

Assim, parece que as Autoridades governamentais pensam que o povo esqueceu a experiência do Plano Cruzado e do Plano Bresser e agora surge com um outro Plano, quase que idêntico com esses anteriores; contudo, aparece com uma outra roupagem, isto é, o Plano Verão. As características são as mesmas, o trabalhador entra perdendo dos dois lados: um primeiro, pela compressão dos salários, quer dizer, reajuste salarial por baixo; e, um segundo, pelo congelamento dos preços por cima e bem por cima, por incrível que pareça, bem acima dos preços praticados pelo mercado. E agora José! Como um instrumento para estancar a sangria, fazer assepsia do material e, em seguida, praticar a cirurgia não é condenável; mas, como um programa de estabilização da economia nacional de longo prazo, não é aceitável desta forma.

Dessa forma, o Plano Verão acaba com a URP (Unidade de Referência de Preço) e OTN (Obrigações do Tesouro Nacional); mas, vão ser substituídos por quem, ou pelo que? O que vai garantir as perdas salariais dos trabalhadores depois do Plano? Qual vai ser a saída do governo para uma estabilidade econômica, depois de acabadas as distorções que o governo pretende eliminar? Como o governo idealiza conduzir tal política, e qual é a do setor produtivo da economia nacional? O setor industrial e agrícola trabalha com capacidade ociosa, como implementar essa capacidade? Como o governo pretende resolver a questão da dívida externa e interna? Como eliminar a atuação dos oligopólios industriais, se a Constituição lhe deu campo livre? São estes pontos que não estão no Plano Verão e que a economia deve sanar; porém, pelo contrário, não há Plano que dê jeito ao caso brasileiro que vem de muitos anos.

O que, em verdade, o Plano contempla é, em primeiro lugar, salvar a questão de caixa da economia governamental que está com a sua situação quase zero; e, em segundo lugar, é salvaguardar o capitalismo que cada vez mais, aproxima-se da banca rota, pelo menos, nos países periféricos. Uma oportunidade que se teve para coibir os abusos do capital nacional e internacional, foi durante a permanência da Constituinte, quando se houve oportunidade de discutir o processo de exploração capitalista na economia, quer dizer, a ditadura dos cartéis que procuraram eliminar a competição, provocando a falência de uma boa parte dos micros e pequenos industriais nacionais, para poderem dominar sozinhos. A Constituição atual não diz nada sobre tal assunto; pois, as minorias poderosas, é que dominam o país.

Sem uma Lei severa contra a prática do capital monopolista, isto no que diz respeito aos setores industrial, comercial e agrícola; e, sobretudo, quanto à atuação dos bancos que furam a circulação da produção física nacional, e isto faz injetar, nas veias da economia, a busca pela movimentação, não do produto, mas do dinheiro, em detrimento da produção doméstica. E, hoje, qualquer homem simples do povo tenta ganhar a vida, não pelo seu trabalho direto na produção; mas, emprestando o seu parco recurso, por um reajuste, ditado pela indexação dos mercados oficial e negro. Pois, observa-se claramente, pelo nível de investimento na economia que a muito tempo não passa de 18 por cento, e com tendência forte para diminuição; entretanto, uma economia sem crescimento econômico, não há condições de prosperidade, de mais emprego e de melhor bem-estar para seu povo.

Um exemplo patente do descaso pela proteção nacional é quanto à proliferação dos conluios industriais, dos cartéis, dos pools e de diversas outras formas de conglomerados que existem na economia brasileira, e não se procura dar soluções a este caso que já é de polícia. Este problema é velho e tão grave que em 1945 o Presidente Getúlio Vargas designou o Ministro Agamenon Magalhães, seu amigo pessoal, a elaborar uma Lei sobre um disciplinamento da competitividade na economia brasileira e coibir os abusos ao bolso alheio por aqueles que têm o objetivo de acumular para conglomerar, para eliminar a concorrência e para implantar o oligopólio no País. O resultado é fácil de prever, o Ministro caiu e o Presidente foi deposto, isto com o ficto de revogação da Lei que proibia os abusos próprios de poderosos usurpadores impiedosos da economia popular.

Se existisse uma Lei que impedisse a atuação dos oligopólios; que punisse severamente os abusos do poder e incentivasse a competição entre todos que quisessem participar da economia, como agente competitivo, com lucro apenas concorrenciais, o processo inflacionário seria mais fácil de ser combatido, tendo em vista que os despilfarros técnico e econômico seriam combatidos pela própria estrutura econômica, sem a punição do governo, que tenta dirigir eficientemente a atividade econômica. O que ocorre, em verdade, é o contrário, os agentes econômicos consumidores são muitos e desorganizados; portanto, dificultando uma boa inter-relação tête-à-tête entre estes agentes participantes  da economia que determinariam as condições desenvolvimento e bem-estar da população.

Enquanto a economia estiver concentrada nas mãos de poucos agentes econômicos, jamais há condições de se implementar um plano econômico que sirva de apoio para a economia brasileira de longo prazo; quer dizer, exista uma política salarial, um programa de investimentos, boas relações com o exterior, uma política de bem-estar para todos e, sobretudo, uma economia estabilizada. O Plano Bresser tentou estabelecer uma política de longo prazo para a economia; contudo, sua passagem pela economia nacional foi muito mais rápida do que o Plano Cruzado, considerando os diversos aspectos da economia nacional não serem propensos a tal decisão. E, como resultado, é que o Plano Bresser não durou muito tempo e a economia teve impactos mais catastróficos do que o Plano anterior.

Hoje, com o Plano Verão, o governo chega e diz que a solução para os investidores é a poupança. Pergunta-se, onde está a vantagem, se os aplicadores terão seis meses de carência para começarem a mexer na sua conta-poupança? Talvez quem tenha muito dinheiro e não precise usá-lo durante este período, é bem provável que possa optar por este tipo de aplicação; mas, quem tem pouco dinheiro e quer aplicar, não deve fazê-lo no momento. Agora, vejam! Se a caderneta de poupança vai render pelo over nigth, ou pelo open market, é fácil concluir que a melhor aplicação não é a poupança; mas, sim, um dos dois, ou os dois títulos do mercado de capitais. O que deve ser feito pelos pequenos aplicadores em caderneta de poupança, é que eles decidam pelo consumo de hoje, ou alguma atividade que lhe renda no curtíssimo prazo, isto é, dê-lhes, um melhor turn over de ganho monetário.

Um outro ponto colocado pelo Plano Verão é quanto aos bancos; pois, está explícito que os bancos deverão recolher compulsoriamente uma taxa maior ao Banco Central. Qual é a eficácia desta medida para a economia? O aumento do compulsório ao Banco Central significa contrair a base monetária; contudo, com menos recursos monetários nas mãos do público, impõe-se uma contração de demanda efetiva e, por tabela, ter-se-á uma deflação da economia, ou, usando um termo popular, os preços cairiam, com uma diminuição da inflação. É difícil de acreditar que esta medida surta efeito, porque a inflação brasileira não parte única e exclusivamente da base monetária aquecida; mas, de outras variáveis que devem ser levadas em consideração, tal como a questão estrutural da economia nacional.

Quer queira, quer não, o Plano Verão é recessivo. Mas, o que significa ser recessivo? Diz-se que existe recessão numa economia quando qualquer medida imposta em qualquer variável econômica implique numa diminuição do produto nacional, que por tabela faz decrescer o nível de emprego, consequentemente, diminuindo a renda nacional do país. O efeito recessivo traz dificuldades maiores do que se pensa, dado que a pobreza aumenta bem mais do que está aí e com esta situação, formam-se as convulsões sociais, acompanhadas de roubos e furtos, prostituição, descréditos na economia, insegurança aos investidores internos e externos e, acima de tudo, anarquia política institucionalizada. Não se pode conviver por muito tempo numa economia que passa por um processo de recessão econômico.

Uma recessão pode até acontecer no curto prazo para melhor direcionar a economia; contudo, se esta recessão ultrapassar este pequeno período, causará problemas cada vez maiores, com repercussões catastróficas para as variáveis econômicas como um todo. A recessão não pode acontecer em casos de maneiras naturais, quer dizer, ela não deve aparecer decorrente da própria manipulação das variáveis econômicas, porque, logo em seguida, aparecem os resultados, decorrentes destes desajustes econômicos e difíceis de controles. Uma economia em recessão está a um passo da depressão; pois, estando numa etapa depressiva, implica o sistema econômico está na banca rota e, por consequência, num estágio de pedido de falência e, nesta etapa, não há terapia que dê jeito a este caso em discussão.

Mas, com este processo recessivo provocado pelo governo, vem um aumento da taxa de juros. Não porque houvesse um aumento decorrente da estrutura de mercado; entretanto, provocado pela substituição da taxa de inflação mensal que reajusta os ativos e não ativos, da economia. Com a desindexação, a taxa de juros seria manipulada pelo mercado e, portanto, direcionaria os investimentos do sistema econômico, quer seja interno ou externo. Todavia, não haverá esta indexação, própria de uma economia historicamente indexada; porém, uma taxa de juros manipulada pelo governo em resposta às perdas pelo processo inflacionário, provocado pelo desajuste econômico. Daí não se saber até que ponto este aumento da taxa de juros do Plano Verão, terá algum efeito positivo na atividade econômica.

A taxa de juros quando determinada pela inter-relação dos agentes econômicos tem efeito no nível de investimentos, quer seja do setor rural, do setor industrial e até mesmo, do setor comercial; pois, uma taxa de juros muito alta, implica uma fuga dos investimentos que são  conhecidos como investimentos diretos, para outro tipo de investimento (aplicação) que renda mais, como o mercado de capitais. Uma taxa de juros alta repercute em baixos preços dos títulos do mercado de capitais e, por consequência, baixa de investimentos diretos e uma maior aplicação no mercado de títulos. Isto significa dizer, atrasar o processo produtivo da economia e fomentar um maior desempenho do setor financeiro que a muito tempo vem estimulando a crise brasileira, degradando o setor rural e industrial da nação que sofre os males do dinheiro em espécie.

As implicações das taxas de juros são muito mais amplas, do que se imagina, ao considerar que, não somente afeta os investimentos, nem as dívidas internas do governo através dos títulos emitidos, sobretudo, porque exerce reflexo sobre o sistema de crediário da economia. O sistema creditício da economia quer seja aumentando, ou diminuindo seu prazo de compra e venda, tem os mesmos reflexos que o recolhimento do compulsório, ao Banco Central dos Bancos Comerciais; pois, aumentos ou diminuições nos prazos de compra e venda dos agentes econômicos fazem com que, aumente ou diminua a circulação de moeda. No caso do Plano Verão, houve uma diminuição nos prazos de venda, consequentemente, haverá uma contração nas compras, ou, implicará numa diminuição dos preços estipulados pelo mercado e por tabela, recessão aparecerá.

Em verdade, o crediário faz diminuir os preços, ou aumentar se for o caso; entretanto, este é um artifício que ataca direto o consumidor, trazendo problemas bem maiores do que, por exemplo, o aumento do compulsório dos bancos, isto quer dizer que se o governo não tiver condições de atacar o problema com mais severidade, isto é, aplicar estas medidas e, em seguida, tomar posições ante-recessivas, os resultados não serão bons. É como diz um velho ditado: o feitiço se volta contra o feiticeiro e daí, pergunta-se: quais são as medidas a tomar a partir de agora, se os problemas que existiam antes do Plano Verão virão depois com mais força e os efeitos serão imprevisíveis para a economia como um todo, e até mesmo para os seus parceiros credores internacionais.

As medidas contidas nos diversos Planos são instrumentos que manipulados pelos fazedores de políticas econômicas, realmente fazem cair a inflação, ou diminuírem os preços, de maneira geral. Em realidade, os Planos quando são postos em prática, sempre ficam algumas variáveis de fora, isto conduz a caminhos que conduzem a falhas no Plano, pois, como resultado, não se alcança a sua eficácia e, consequentemente, não dá certo. Não é preciso somente incitar consumidores a serem fiscais do Presidente e não jogarem os poucos fiscais da SUNAB para autuarem os vendedores. O importante é conscientizar a população como um ser explorado e que deve se organizar para agir contra os donos do capital; pois, o povo unido jamais será vencido como sempre propagou Che Guevara.

Não se pode esperar bons resultados no Plano Verão, se o povo está desmobilizado e, além do mais, desconscientizado de suas funções políticas. Um povo conscientizado é um povo organizado e não existe organização alguma no país, onde se possam reivindicar os direitos do cidadão. SUNAB, Orgão de Apoio ao Consumidor, Delegacia da Ordem Econômica, ou, qualquer nome que se dê aos órgãos fiscalizadores dos direitos do cidadão, não têm nenhum sentido, se o povo se encontra desorganizado e sem liderança. Enquanto o povo conclamar sempre justiça ao governo, porque seus direitos estão sendo desrespeitados, não há condições de se resolver nada neste país; pois, o governo está a favor de quem tem condições econômicas e nunca de populares que não têm nem onde cair morto, como se diz em “Sete Palmos de Terra e um Caixão” de Josué de Castro.

Daí se pergunta, o que fazer nesta situação? É necessário tomar posições fortes para que os rumos da economia não caminhem por esta trajetória de decepções, de depressão e de retrocesso. Contudo, deve-se partir para uma conscientização de toda comunidade brasileira, independentemente de partidos políticos; pois, são essas facções partidárias que mais deturpam um bom direcionamento no sentido de levar o povo a uma consciência plena de seus deveres e obrigações. Todavia, propõe-se que se acabe com os políticos viciados e se procurem formar novos líderes, para que a consciência nacional fique bem distante de corruptos, de enganadores da humanidade, com a pretensão de se conseguir uma consciência nova, de um povo combativo, mas solto de qualquer ideologia dogmática praticante e alienígena.

No momento, seria preciso que o governo, para sair da crise em que o país se encontra, deveria tomar uma posição em que os produtos gerados tivessem um preço e não pudessem ser remarcados mais, como acontece com os cigarros, por exemplo. Os reajustes deveriam acontecer nos produtos novos e se constatasse que os custos de produção fossem maiores do que os anteriores. Desta forma, acabar-se-ia a indexação da economia e os preços obedecer-se-iam a uma estrutura de remarcação pelo sistema de mark-up e não existiria a espera pelos reajustes dados pela inflação. Desta feita, apareceria um maior turn over e os agentes econômicos produtivos se preocupariam com a rotatividade da mercadoria e não se esperaria para ganhar dinheiro em cima dos estoques que desajustam a economia.

Com esta propositura de acabar com as remarcações indevidas, decorrentes do processo inflacionário, onde já constam os custos industriais, o lucro industrial, a taxa de acumulação e o resíduo concorrencial, espera-se que a inflação seja debelada, tendo em vista que um dos agentes que mais inflaciona a economia é o intermediário. O número de pessoas que vivem de ganhar a vida, revendendo a mercadoria alheia é muito grande, pois isto conduz forçar a uma competição muitas vezes fictícia para forçar a um aumento de preços que beneficie a este grupo de parasitas que não tenha nenhuma participação no processo produtivo; mas, busca sempre crescer o preço dos produtos, a fim de conseguir a sua sobrevivência, sem os devidos respeitos aos agentes econômicos consumidores.

Os intermediários na economia têm se proliferado de maneira absurda, considerando que este tipo de parasita econômico se forma sempre nos momentos de crise, pois dependendo da estrutura econômica, estabelece-se e dificilmente deixa de atuar no sistema econômico. Hoje, encontram-se intermediários em todos os setores da economia, desde a atividade produtiva da agricultura, até a mais simples atividade do setor comercial; todavia, é por aí que se fomenta a inflação, quer seja brasileira, ou de qualquer país do mundo. Eliminando-se este tipo de anomalia econômica, talvez o Allien da inflação seja dizimado de uma vez por todas; contudo, do jeito em que estes germes estão impregnados na economia, não há condições de eliminá-los no curto ou até mesmo no médio prazo.

Sem dúvida, é que a partir dos intermediários quais sejam financeiros, ou outro tipo qualquer, é que se avolumam cada vez mais os estoques, criando um estrangulamento na economia; pois, as autoridades econômicas perdem de acompanhar os valores reais das mercadorias que são vendidas e que são produzidas. Desta feita, os preços dos produtos ficam ao bel-prazer dos revendedores e não existem condições de um certo controle dos preços pelo governo. Até certo ponto, as autoridades maiores do país têm culpa, porque não procuram coibir este tipo de infração, que é comumente praticada pelos intermediários, às custas dos bolsos alheios dos brasileiros que, em sua maioria, não têm condições de sobrevivência, pelo simples fato de ganharem um salário sub-mínimo, onde não se pode, nem repor sua força de trabalho normal.

Por isso, precisa-se de uma posição mais enérgica para barrar este tipo de atividade que já se torna partícipe da atividade econômica, como um agente efetivamente da economia; pois, não há como compreender a necessidade de se implementar a participação do intermediário dentro do dia-a-dia do sistema econômico. O intermediário é pecaminoso, é espoliador e, é, sobretudo, o mal maior da circulação da mercadoria dentro do organismo econômico; entretanto, não há como conviver com este tipo de atividade econômica que só faz atrapalhar a movimentação da economia. As Leis contra os oligopólios não devem vir somente de encontro aos trustes internacionais, ou, até mesmos nacionais; mas, também para serem aplicadas aos intermediários que estão atuando todos os dias e além do mais, elevando preços ao seu bel-prazer.

Pelo exposto, não se pode esperar eficácia no Plano Verão, cuja realidade não está sendo atacada pelas autoridades governamentais, pois não existe nenhum parágrafo no Plano que tente impedir a atuação e proliferação dos intermediários de mercadorias. Um outro problema é quanto aos intermediários financeiros e é aí onde está o problema maior da economia nacional, considerando-se que os bancos comerciais são quem dita as normas da atividade econômica, pois ao invés dos agentes econômicos investirem na atividade produtiva efetivamente, partem para outros caminhos que rendem mais e está correto, como preconiza a economia, aplicando em over-nigth, open-market, CDBs e/ou alguns outros títulos que têm uma taxa de retorno maior do que na atividade normal da economia.

Pois, não é preciso ser expert em economia para se ver que o seu direcionamento está sendo carreado para o setor financeiro, deixando o que é mais importante fora da atividade econômica, tal como os investimentos diretos na produção; porém, isto vem sendo feito a mais de vinte anos, com poucas possibilidades de reversão do quadro. O setor financeiro não pode participar da economia com objetivos de lucros, porque, se a economia se enveredar por estes caminhos, vai-se necessariamente cair em crises, tais como o Brasil passa hoje em dia. E o que fazer quanto a isto? Uma solução que deve se impor é as autoridades governamentais serem mais severas, no que diz respeito aos bancos comerciais; pois, o dinheiro deve servir como meio de troca e não como fator de especulação.

Agora, ao juntando-se as peças participativas da economia brasileira, deve-se considerar que todos os agentes econômicos têm culpa na crise que está aí e que deu formação ao Plano Verão, assim como os Planos anteriores, tal como o Plano Cruzado e o Plano de Estabilização do Ministro Bresser. O objetivo maior destes Planos é a estabilização econômica, mas deve-se salientar que o Plano em si constitui uma parada ao derrame que o país está acometido e a partir de então, tentar aplicar um programa econômico que conduza a economia de maneira estabilizada e para um longo prazo. Contudo, precisa-se colocar que dado o processo de desconscientização do povo, o poder dos trustes monopolistas e o aval do governo a favor dos poderosos, não se devem esperar bons resultados para a economia brasileira.

Porém, proponha-se o que quiser, enquanto o governo estiver a favor do capital monopolista, é difícil de se ter uma solução para o caso brasileiro. Não se quer que o governo se debele contra os poderosos, exige-se que as Leis brasileiras sejam mais enérgicas para quem explora o trabalhador do país e procura se locupletar assaltando o bolso alheio. A crise brasileira é provocada e não se pode esperar coisa diferente; pois, é desta forma que se têm os trabalhadores desorganizados, os consumidores apavorados, o governo perdido e os donos do capital rindo da desgraça dos outros. Para isto, eles contam com a imprensa ao seu favor, com as esquerdas tentando derrubar o governo e com as relações internacionais quebradas pela dívida externa, sem dúvida há solução e nunca é tarde para se agir eficazmente.

Em resumo, enquanto o governo persistir em aplicar Planos emergenciais, sem estudar um programa seguro para a economia, não emergencial, mas de longo prazo, jamais se sairá destas crises em que o país está sempre atravessando. É preciso estruturar a economia para o futuro. É claro que no curtíssimo prazo é preciso que se apegue a um Plano tipo Verão, ou qualquer um outro, porém que se tenha uma política econômica que se possa confiar e não ficar apegado aos programas de curto prazo que não levam a nada, mas fazem muitas vezes prolongar as crises que assolam os países terceiro-mundistas. Hoje, a economia brasileira não tem uma filosofia monetarista idealizada, nem estruturalista praticável; pois, a mistura dos dois tem trazido mais problemas para a nação e dificultado as soluções que a Nação muito precisa.