Este texto forma parte del libro
Ensaios de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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O POR QUÊ DOS INVESTIMENTOS

 

 

 

A questão dos investimentos nacionais deve ser vista por diversos ângulos; contudo, a prática dos investimentos macroeconômicos pode tomar diversos caminhos, tendo em vista a dificuldade em se ter um conceito eficaz do que seja, em verdade, um investimento econômico. Popularmente, houve-se falar em investimentos, das seguintes formas: vou investir meu dinheiro em poupança; vou investir minha herança numa fazenda; vou investir algum dinheiro, que tenho guardado num carro novo. Será que estas insinuações significam investimentos, na acepção original da palavra, dentro de um contexto econômico? É bem verdade, que a vulgarização do termo, não tenha caído do céu; entretanto, pode-se confirmar que foi o emprego errado do termo, de forma popular, é que deturpou seu real conceito ao longo da história.

Normalmente, quando se fala em investimentos, deve-se deixar bem clara uma diferença fundamental, entre fluxo e estoque, mesmo sabendo-se que muitos economistas não fazem muita distinção entre um e outro. Conceituam-se, investimentos, como sendo um fluxo, e para o caso de estoques, da acumulação do capital; pois, o investimento efetivado transforma-se em capital estocado, ou formação bruta de capital. Nas palavras de HEILBRONER (1981)[1], o investimento, visto pelo economista, é uma atividade que usa os recursos da comunidade para manter, ou aumentar seu estoque de riqueza de capital, quer dizer, os investimentos são exclusivamente de acréscimo do estoque de capital, ao estoque já existente, induzidos pelo princípio da aceleração da economia, conforme a política adotada no momento.

Mas, dentro de um sistema econômico, como se pode determinar a magnitude dos recursos para investimento? Deforma objetiva, verifica-se em primeira instância, que os investimentos brutos são efetuados, devido a sua captação em fontes internas, para o caso de lucros retidos pelos empresários e as previsões para depreciação que são descontadas anualmente da vida útil do capital físico e, em seguida, por fontes externas, para o caso de empréstimos, ou novas ações. Com isto, pode-se observar que nem sempre os investimentos significam acréscimos aos estoques da economia, todavia, deve-se implementar que isto não acontecendo, apenas aconteceram despesas com a reposição do capital gasto, que é a manutenção do capital, efetivamente, em plena atividade no processo econômico, pois, a economia não cresceu.

Uma outra pergunta se faz necessária, no desenrolar da análise sobre os investimentos, ou seja, quais são os fatores fundamentais na determinação do nível de investimentos em uma economia? É fácil enumerar uma lista grande de fatores que determinam o nível de investimentos de um país. Em primeiro lugar, e mais comum é a taxa de juros, pois, quanto maior for a taxa de juros, espera-se que o nível de investimentos seja menor; entretanto, chegou-se à conclusão de que essa variável não exerce tão grande peso na determinação das aplicações econômicas. Em segundo lugar, tem-se o nível de renda nacional, ou empresarial, como uma variável determinante do nível de investimentos. Algumas outras variáveis são fundamentais no quantum de investimentos que o empresário deve injetar na economia para que ela cresça, proporcione emprego para todos, e como conseqüência seu bem-estar.

Com relação a estas e outras variáveis, deve-se lembrar que a expectativa de bons lucros é favorável à efetivação de investimentos no país. A estrutura creditícia do mercado financeiro, ou disponibilidade de financiamento exerce função direta na determinação dos investimentos nacionais. Ainda mais, a incerteza e o risco participam da decisão do empresário no processo de investimentos e, neste sentido, explica BROOMAN (1981)[2] que,

segundo o princípio do risco crescente de M. KALECKY (1942), portanto, a firma deve prever uma margem de risco maior, quanto maior o investimento que empreende.

De forma clara, o fator risco é considerado de fundamental importância no processo de decisão, tendo em conta a incerteza que o futuro oferece, e os investimentos participam de um jogo no escuro, por conta da imperfeição do mercado criar uma nebulosa no mercado muito grande dificultando uma aplicação com segurança.

Contudo, como saber se um determinado empresário deve investir, ou não, tendo em vista que o futuro é incerto e não há condições de se saber se os investimentos vão ser lucrativos, ou não? Todavia, é conhecido que um investimento é feito quando em moradia, em títulos, quais sejam do governo ou não, em capital físico, em produção, ou em compra de qualquer coisa que retorne ganho ao aplicador. Uma maneira de saber se os investimentos devem ser efetivados, ou não, depende de uma comparação entre eficiência marginal do investimento e eficiência marginal do capital, como denominou KEYNES (1936), com a taxa de juros corrente, ou de mercado; pois, só assim, saber-se-á se vale a pena investir, ou não, ou até mesmo classificar que tipo de aplicação, de forma comparativa, pode-se injetar alguns recursos disponíveis na economia.

A efetivação de um montante qualquer de investimentos dá-se normalmente baseado em um projeto que pode ser industrial, agrícola, ou de um escritório de serviços prontos para atendimento à comunidade. O empresário, diante de várias alternativas de projetos industriais ou não, escolherá o mais viável para a injeção de seus recursos, que são escassos, e devem ser aplicados eficientemente, na tentativa de não haver perdas. Os critérios de escolha de projetos de implantação podem ser pelo método do valor presente (VP), pelo método do pay back period, pelo método da taxa interna de retorno (TIR), pelo método da orçamentação parcial, ou qualquer um outro, que mostre os caminhos mais eficazes, que deverá tomar o empresário na difícil missão de escolha da melhor alternativa, tendo em vista que os recursos não devem ficar parados, porque constituem perdas econômicas e sociais.

Os investimentos exercem um impacto muito forte na economia, por serem a linha mestra de desenvolvimento, ou crescimento que um país deve passar, considerando que os investimentos fazem aumentar a renda nacional, via incremento na produção, e no consumo de todos os trabalhadores. Essa inter-relação entre as partes do sistema econômico, dá-se através do princípio da aceleração, pelo simples fato de que o consumo exerce um efeito sobre a renda, através dos gastos em investimento, que faz, por conseguinte, aumentar o número de emprego, de produção nacional e o nível de bem-estar na nação. Como se pode vê, o acelerador está estritamente ligado com o princípio do multiplicador, que diz que os investimentos exercem um efeito sobre a renda, pelos aumentos nos gastos em consumo da população.

Como sempre pregaram os clássicos, e depois seguidos por muita gente importante do mundo da economia, os investimentos devem ser iguais às poupanças geradas pelas partes não consumidas das famílias e das empresas. Na verdade, um estímulo muito grande aos poupadores gera, se não houver uma orientação séria na maneira de poupar, um problema maior do que os naturais da economia vigente. Uma poupança maior do que o nível de investimentos tende a um decréscimo na renda nacional, que por conseqüência, e no futuro, ter-se-á uma renda menor, causando problemas econômicos de decrescimento, de desemprego, de queda na produção, e alguns problemas a mais. A esta situação, os economistas costumam chamar de paradoxo da parcimônia, muito comum nos países periféricos, ou terceiro-mundistas, que vivem a reboque dos países centrais, ou primeiro mundo.

Num sistema econômico qualquer, o nível de investimentos deve ser sempre igual ao nível de poupança gerada dentro da economia, por hipótese; entretanto, não se deve esquecer que podem ocorrer os desequilíbrios de curto prazo, quer dizer, poupança ser maior do que os investimentos, ou vice-versa. Nestes casos, existem informações de estoques, ou variações de estoques que podem ser positivos, ou negativos. Variações de estoques positivos significam um desaquecimento na economia, para que seja eliminado o desequilíbrio, cuja economia possa caminhar harmoniosamente, a espera da mutação do desenvolvimento. Por outro lado, se existirem variações de estoques negativas, o empresário deverá implementar investimentos para forçar a economia entrar em equilíbrio com o aumento da produção e da renda nacional.

Agora, o tipo de sistema econômico vigente na nação é um fator fundamental, no processo de aplicação dos investimentos na dinâmica produtiva; pois, num sistema capitalista, o que perdura é a busca da maximização possível dos lucros, ou a maximização das vendas, contudo, deve-se levar em consideração a trajetória de planejamento da empresa, tendo em vista que, no curto prazo, uma empresa capitalista pode auferir prejuízo no afã de uma monopolização futura. Já do ponto de vista de uma empresa socialista, a implantação de uma empresa não depende, única e exclusivamente dos lucros máximos e nem das vendas máximas; mas, da estrutura de planejamento do Estado, para que esse sistema econômico cresça harmonicamente com todas as estruturas da economia que avança às vezes linearmente, outras vezes exponencialmente, buscando sempre o progresso da humanidade.

Finalmente, a questão do investimento nacional é um problema sério; pois, é a pedra fundamental do crescimento econômico, e um forte indicador de bem-estar social e econômico de uma nação. Como se observou, os investimentos constituem fluxos, porque depende, além da taxa de juros do mercado financeiro, do nível da renda nacional da economia; contudo, só existirá investimento se houver fluxo de renda no sistema econômico. A busca de recursos externos é uma maneira de tentar implementar o nível de emprego nacional, ou dito de outra maneira, é a busca para se conseguir tudo aquilo que a comunidade precisa para o seu sustento e de seus filhos. Portanto, uma nação deve fazer sempre suas aplicações de investimentos de maneira equilibrada, se possível, para não criar excessos, nem falhas; porém, desta maneira, o desequilíbrio é a pedra mor das depressões, e crises do capitalismo.

 


 

[1] HEILBRONER, R. L. Elementos de Macroeconomia. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1981, p. 143. 

[2] BROOMAN, F. S. Macroeconomia. Rio de Janeiro, ZAHAR, 1981, p. 168.