Este texto forma parte del libro
Ensaios de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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AS CRISES ECONÔMICAS

 

 

 

A evolução econômica nos países capitalistas acontece dentro de um prima que os economistas chamam de ciclos econômicos, ora instantes de boom, ora momentos de crise. Quando o capitalismo tomou forma definitiva, os ciclos consubstanciaram-se numa alimentação constante do sistema, fazendo-o cada vez mais forte, mais promissor e, acima de tudo, mais hegemônico. Obviamente que os países terceiro-mundistas, é que têm agora os custos, quando o capitalismo internacional está na baixa do ciclo. É neste sentido que diversos estudos foram e são efetivados, na busca de conseguir soluções para o problema dos ciclos econômicos, como fizeram Joseph A. SCHUMPETER, Michal KALECKI, John M. KEYNES, e muitos outros que trabalharam com a teoria dos ciclos, tentando proporcionar uma resposta coerente ás crises que o mundo capitalista atravessava, e atravessa de tempo em tempo.

Os ciclos econômicos acontecem, formalizando uma situação de boom, quando a economia está num momento de prosperidade, no ponto alto do ciclo, os investimentos estão sendo injetados de maneira tal, a levar a economia ao crescimento e ao bem-estar econômico e social de todos os participantes. Por outro lado, ou contrariamente à prosperidade, verifica-se uma situação de depressão, ou o ponto mais baixo do ciclo, se for de forma mais suave, uma recessão, onde se pode observar um decrescimento nos investimentos, um aumento no desemprego, um aumento na propensão marginal a consumir geral, e um momento de retrocesso econômico e social no sistema econômico e político. É o que se pode chamar de caos social, com as diversas convulsões que a sociedade deve suportar, às custas de um empobrecimento sem precedente. Um aumento na depressão é uma situação de instabilidade que enfraquece os ânimos, e deixa a ação em completa desconfiança no futuro.

Assim sendo, no que diz respeito aos momentos de prosperidade, presencia-se uma situação de euforismo, de confiança exacerbada; e, sobretudo, de consumo em excesso, dado que o nível de renda cresce com os investimentos que são efetivados no sistema econômico. A esse respeito explica SCHUMPETER (1959)[1], que o

florescimento surge, como expõe SPIETHOFF (1949), porque mais capital é investido, se fixa em novos empreendimentos e que o impulso então se estende aos mercados referentes a matérias-primas, equipamento, mão-de-obra, etc..

É neste impulso direcionado ao capital produtivo que se tem uma economia num estado de bonança e prosperidade para que os investidores possam fazer suas aplicações, e terem os retornos desejados. Na fase de florescimento econômico, todos ganham, a economia se ajusta ao princípio de estabilidade geral.

Já na fase de depressão, ou como alguns chamam de recessão, a coisa é totalmente oposta. Esta fase é onde se encontram as crises, muito bem investigadas pelos economistas de todas as correntes da economia; mas, sem uma solução eficaz para a questão, e também, por causa da realidade de cada país ou nação. Ainda nas palavras de SCHUMPETER[2], observa-se que se

Interrompe a abastança, chega-se a depressão, como bem explicita ainda SPIETHOFF: é superprodução dos bens de produção, que se relacionam, por um lado, com o capital existente e, por outro, com a demanda efetiva.

A junção dessas duas citações, é que, caracterizam o conceito de crise, bastante estudado como um processo de evolução do capital, que se origina com as concentrações de renda e, por conseqüência, do poder, fortalecendo cada vez mais, o imperialismo do grande capital monopolista privado, ou de uma estrutura oligopolista ditatorial de dominação.

Mas, de repente se pergunta: quais são as causas da crise que passa o mundo capitalista da atualidade? Na versão marxista, pode-se dizer que as origens da crise resultam da pobreza e da insuficiência do consumo da população com relação à capacidade da produção da economia. Pois, a repartição da renda nacional determina em primeiro lugar, a apropriação da mais-valia, onde reside a ganância pelos lucros, e isto, por sua vez, repercute em maiores investimentos. Em segundo lugar, pelo fato de que a insuficiência relativa da demanda global em bens de consumo torná-la capaz de absorver a capacidade de produção do sistema, que se desenvolve como se a capacidade absoluta de consumo fosse ilimitada. Nota-se uma grande lógica nas causas apresentadas por Marx, contudo, existe grande polêmica quanto a este pensamento que explica as crises.

Na versão keynesiana, chega-se à conclusão de que as crises, como são comumente chamadas por Keynes e alguns seguidores, decorrem da insuficiência de capital, quer dizer, precisa-se de investimentos, porque o nível de capital não está compatível com a demanda global, que necessita de bens e serviços para satisfazerem seus anseios. Keynes mostra a insuficiência da eficiência marginal do capital e, por conseqüência, observa-se também, alta propensão marginal a consumir de todas as classes sociais, gerando o desequilíbrio que desemboca na crise que obriga o capitalismo a tomar novas decisões frente à novas políticas de desenvolvimento do sistema. Contudo, deve-se observar que os países periféricos são os únicos que pagam com a derrocada cíclica dos capitalistas, já que os salários nominais são parâmetros de decisão para uma saída da crise que vai e volta mais forte.

Ainda mais, do ponto de vista de KALECKI (1932)[3], que pesquisou muito este campo da teoria econômica, observa-se em seus famigerados estudos que

durante a depressão o processo aqui é descrito invertido. As encomendas de investimento não são suficientes para cobrir as necessidades de reposição; isto leva a um decréscimo no volume do equipamento de capital  eventualmente e uma retomada do aumento das encomendas de investimento. Estabilizar a atividade de investimento a um nível inferior ao que preveria uma adequada reposição de capital é tão impossível quanto estabilizá-la a um nível que excede as necessidades de reposição.

Esta posição coincide com a resposta de que as crises são provocadas pela falta de capital, ou, de investimento na economia; porém, é uma abordagem muito próxima da visão keynesiana, a verdade, é este ponto que começa a indicar os desequilíbrios econômicos no sistema.

Como se vê, a análise das crises ainda não se encontra completa, tendo em vista os múltiplos pensamentos existentes sobre o assunto; pois, as dificuldades partem, por um lado, do nível de renda da nação em análise, quer dizer, ser um país desenvolvido ou subdesenvolvido. Por outro lado, as realidades, de cada região, ou país, são fortes influentes na dificuldade de se determinarem os parâmetros de causa e efeito da crise dessa nação. Entretanto, a política adotada, o regime implantado, faz com que, os momentos de depressão tenham raízes em fontes desconhecidas e difíceis de se detectarem. Vê-se que as crises começam e se aprofundam, de tal maneira que, primeiro passam por um estágio de recessão, que é uma crise branda e depois, pela depressão onde é, na verdade, o fundo do poço, que é a crise profunda.

O ano de 1929 foi um ano de crise profunda, onde a economia se transformou num Frankstein do momento e, claramente, esse monstro rondou os Estados Unidos, causando os maiores transtornos aos investimentos americanos; e por conseqüência, o povo norte-americano pagou caro, pelos danos causados pelo crash de fevereiro desse mesmo ano. A acumulação de capital desacelerou; as poupanças caíram; o emprego despencou; a fome aumentou; a miséria explodiu, e os agentes econômicos se desesperaram, praticando tresloucados gestos de suicídios, tentando soluções para as suas dificuldades que, neste momento, tomavam proporções incontroláveis. Foi esta crise que empurrou os economistas a estudarem melhor os pressupostos clássicos e neoclássicos para que a economia não passasse por mais um dia negro, como aconteceu naquele ano.

 As crises dos países de centro, não têm sido assim tão grandes, quanto à de 1929; aparecem sempre mais brandas, ou como se pode dizer, são momentos de recessão; entretanto, a economia capitalista continuamente tem experimentado esses momentos de alta e baixa, no ciclo econômico. Contudo, as crises de países periféricos surgem de maneira violenta de instabilidade econômica. As crises dos países terceiro mundistas provocam convulsões sociais que terminam em um mar de sangue, provocadas pelo poderio internacional; todavia, bem aceito pelos  idealistas que não entendem a profundidade das provocações capitalistas, em busca de se perpetuarem no poder e demolirem os adversários que tentam perturbar insconscientemente a ordem nacional.

As crises algumas vezes são naturais e, em sua maioria, são provocadas para consolidar o processo de perpetuação do capital internacional, tendo em vista que, é preciso conhecer o solo onde se está pisando, para que o império que pouco a pouco se constrói, não se desmorone tão facilmente. É nesta hora de crise que surgem os idealistas, os patriotas, os salvas-pátrias e, sobretudo, os agitadores inconseqüentes, que são facilmente apanhados pela polícia do poder, pronta para desbaratar adversários e deixar campo livre para sua feliz exploração. E, como resultado imediato, observam-se perseguições, torturas, mortes, expulsões e terror, a uma nação que vai servir de celeiro para as grandes extrações de mais-valia, espoliação, e como pagamento final, a moeda do dia é a miséria que se espalha por todos os cantos.

Concluindo, precisa-se estruturar a Ciência Econômica, de tal maneira, que se tenha uma nova ordem para a economia; pois, os princípios clássicos, neoclássicos, keynesianos, e marxistas não explicam totalmente as crises que passam os países do mundo capitalista e socialista. Imagina-se que a saída para a crise seja a implementação dos investimentos que, por conseqüência, aumenta a produção, aumenta o emprego, a moeda em circulação seja valorizada, melhora os relacionamentos internacionais e, por fim, o sistema econômico retorna ao seu estado de boom da economia. Portanto, a questão não é tão simples, ao considerar que as crises trazem outros aspectos incontroláveis e quase imperceptíveis, que são a ideologia, a cultura, o poder econômico, onde as terapias da economia perfeita e simples, não resolvem essa falência múltipla dos órgãos do sistema econômico.

 


 

[1] SCHUMPETER, J. A  Teoria do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1959, p. 279.

[2] SCHUMPETER, J. A  Teoria do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1959, p. 280.

[3] KALECKI, Michal. Crescimento e Ciclos das Economias Capitalistas. São Paulo, HUCITEC, 1977, p. 21.