Antonio Guerra Junior*
Paulo Eduardo Ribeiro**
UNIPIAGET
antonioguerra@facpiaget.com.br
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Resumo: O presente estudo apresenta uma análise sobre a realidade das cooperativas  de crédito mútuo no Brasil, sobretudo no cenário de microfinanças. O  ecossistema das Instituições de Microfinanças – IMFs é abordado, tanto quanto  sua estrutura funcional, cuja importância se traduz em seu desempenho,  reconhecido pelos avanços em investimentos produtivos, na reorganização da  produção e no incentivo à poupança. Assim, de modo que as suas contribuições  vão ao encontro do corolário das políticas de crescimento econômico e de  redução de pobreza em diversos países. As cooperativas de crédito estão presentes  entre soluções preconizadas pelas instituições de fomento nos países em  desenvolvimento, sempre visando aumentar a cultura produtiva ao incentivar o  empreendedorismo, a distribuição de renda, a redução das desigualdades e a  pobreza.
  Palavras-chave: Cooperativismo de Crédito Mútuo, Sistema Financeiro  Nacional, Micro finanças. 
  CREDIT  COOPERATIVE MUTUAL APPLIED TO MICROFINANCE
  Abstract: This study presents an analysis of the reality of credit unions in  Brazil, especially in the scenario of microfinance. The ecosystem of the  Institutes of Microfinance - MFI is covered as much as its functional  structure, and their relevance whose the importance is reflected in their  performance, considering the recognized by advances in productive investments,  in the reorganization of production and the incentives to encouraging savings.  In this sense, so that their contributions will support meet the corollary  policies for economic development growth and poverty reduction in many  countries. Credit unions are present among between solutions advocated by  supporting development institutions in developing countries, always aiming to  increase crop production by promote encouraging the entrepreneurship, the  income distribution, and to reducing inequalities and poverty.
  Key-words: Mutual Credit Union, Financial System, Microfinance.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
 Antonio Guerra Junior y Paulo Eduardo Ribeiro (2016): “A cooperativa de crédito mútuo aplicado às microfinanças”, Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, Brasil, (junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/16/credito.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/br-16-credito
Considerações  Iniciais
O cooperativismo de crédito encontra-se hoje  imerso em suas possibilidades de abertura e consolidação, em grande parte,  graças à gradual flexibilização de normas do Banco Central, desencadeada a  partir da metade da década de 1990. 
   As bruscas mudanças implicaram num novo formato  de supervisão das cooperativas de crédito, permitindo a descentralização, sob a  incumbência de entidades do próprio movimento (Resolução n. 1.914, de  27/05/1999). 
   Além do mais, devem-se destacar, também, outras  variações como a redução de exigência de capital inicial para a abertura de  novas cooperativas (que passou de R$ 45 mil para R$ 3 mil - Resolução n. 2.771,  de 30/08/2000) e a permissão para a constituição de bancos múltiplos  (Resolução  2.788, de 30/11/2000).
   Desta forma, ao buscar a canalização da  poupança e disponibilizar serviços bancários dos mais diversos, as cooperativas  de crédito seguem paulatinamente, ampliando o seu quadro social e, por  conseguinte, as suas operações financeiras. Esse fato ocorre, apesar dos  permanentes embates das cooperativas com os bancos oficiais, em virtude de,  estes, centralizarem as operações das linhas de crédito rural do Programa  Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o PRONAF, nessa área. 
   As atividades das cooperativas de crédito, por  sua vez, implicam em assumir diversos tipos de risco: de mercado, de crédito,  de liquidez, operacional, legal e de reputação. Estes riscos têm o potencial de  gerar perdas financeiras para a instituição, podendo acarretar desequilíbrio  que, em casos extremos, conduzem ao seu fracasso e à sua insolvência.
   O cooperativismo de crédito é de suma  importância para toda a sociedade, por tratar-se de uma alternativa de  aplicação de recursos privados de seus associados em favor de suas próprias  comunidades onde se desenvolvem.
   Desse modo, torna-se de especial relevância  investir em estudos sobre o impacto das cooperativas de crédito no Sistema  Financeiro Nacional, e aqui buscou-se realizar. A exemplo desse trabalho foi  feita uma extensa investigação durante o período de 2005 a 2011. É certo que  não se pretende esgotar um assunto tão rico, mas apresentar uma consistência  que alcance visão panorâmica do Sistema Financeiro e do impacto das  cooperativas de crédito no segmento de microcrédito, no período estudado.
   Há que se destacar, contudo, que o sistema  cooperativo navega na contramão do sistema capitalista onde as instituições  financeiras se abrigam. Como são duas versões antagônicas de captação e  aplicação de recursos financeiros, torna-se imprescindível sua menção. 
   Algumas modalidades como o microcrédito terão  maior relevância nesse estudo, por diversos fatores que beneficiam os  associados e a sociedade em geral, como a geração de trabalho e riqueza, a  distribuição de renda, a desburocratização e a retribuição dos ganhos e da  produção de maneira mais justa.
  O contexto nacional do cooperativismo de  crédito
   São as dinâmicas, que as cooperativas instituem  no mercado de crédito torna notória sua aceleração. Entender as cooperativas de  crédito como fomento à investimentos produtivos explica sua influência na  reorganização da produção nacional, de distribuição de renda e de diminuição da  pobreza no Brasil, assim como acontece em diversos países. No Brasil as  cooperativas de crédito têm surgido com bastante intensidade ao longo das duas  últimas décadas. 
              A cooperativa de crédito é uma  associação de pessoas, que buscam através da ajuda mútua, sem fins lucrativos,  uma melhor administração de seus recursos financeiros. Seu objetivo é prestar  assistência creditícia e a prestação de serviços de natureza bancária a seus  associados, com condições mais favoráveis. 
   No Brasil as cooperativas de crédito são  equiparadas às instituições financeiras (Lei nº 4.595) e seu funcionamento é  autorizado e regulado pelo Banco Central do Brasil. O cooperativismo está na  Lei 5.764/71 e na Lei Complementar 130/2009. Essas prerrogativas são  consequência do crescimento dessas associações, que a partir de 1990, superou  as autorizações concedidas pelo Banco Central do Brasil em relação às demais  instituições financeiras.
   Diante do cenário de incerteza, a qual se  deflagrou a sociedade, dita “pós-moderna” ou contemporânea, as alternativas que  surgiram como resposta ao modelo de desenvolvimento econômico mundial  predominante, o liberalismo econômico, tão desigual quanto instável, estão  representadas por uma ínfima minoria. 
   Não surgem de instituições governamentais e nem  privadas, mas civis, como no Brasil, através das cooperativas de crédito, que  não ultrapassam 2% do número de instituições financeiras nacionais.
   Muitos dos fenômenos  frequentemente rotulados como pós-modernos na verdade dizem respeito à  experiência de viver num mundo em que presença e ausência se combinam de  maneiras historicamente novas. O progresso se torna esvaziado de conteúdo  conforme a circularidade da modernidade se firma, e, num nível lateral, a  quantidade de informação que flui diariamente para dentro, envolvida no fato de  se viver em "um mundo", pode às vezes ser assoberbante. (GIDDENS,  1998, p.155).
   No entanto, em número de associados, conseguem  consolidar-se entre as 6 maiores organizações do País. O momento de gradual flexibilização  das normas do Banco Central, ocorrida na metade da década de 1990, incentivou,  entre outras coisas, a corrida de ocupação dos espaços deixados pelas  instituições bancárias tradicionais. A falta de interesse dos bancos privados,  por dedicação a negócios mais “lucrativos” intensificou essa alta.
   Já a importância das cooperativas de crédito  mútuo para o sistema financeiro brasileiro está relacionada com as micro  finanças1 .  Pois são 35 milhões de brasileiros demandantes dessa categoria de concessão de  crédito. 
   A vicissitude de aplicações de recursos  privados dos associados ocorre em favor da própria comunidade onde se  desenvolvem o que traduz um dos grandes diferenciais em vantagem de  investimentos. Fato que se concretiza da obtenção do justo preço dos produtos e  serviços, decorrentes do fato de a cooperação gerar a economia de escala2 . 
   Dessa forma, podem ser as cooperativas de  crédito, um modelo relevante para o desenvolvimento econômico nacional enquanto  alternativa de renda, se comparado ao sistema privado.
   Porém, o conjunto de indivíduos que apresentam  características semelhantes, e que, comungam interesses similares suficientes  para desenvolverem atividades econômicas, cresce tanto quanto a velocidade da  informação e comunicação, o que é peculiar do século XXI. Abrange e intensifica  as formas de sociabilidade, de solidariedade e manifesta-se nos vínculos  estabelecidos entre esses indivíduos, pois representam uma forma de  entendimento da trajetória dos grupos cooperativos, sobretudo no desempenho de  atividades interdependentes, a começar das responsabilidades financeiras.
   No geral, aparecem como organizações à procura  de maior estabilidade, segurança e garantias para seus associados, e operam com  um conjunto de regras justas, o que, portanto, as fazem ser reconhecidas por  oferecerem incrementos de renda aos beneficiários de sua agremiação.
   As cooperativas se situam numa sociedade  capitalista e buscam desenvolver um projeto que carrega consigo uma proposta  alternativa. Por certo, tal reflexão apresenta uma extensa trajetória. O  Projeto cooperativo moderno se entrelaça nas origens do cooperativismo utópico.  Não se pode inventar a roda, mas sim, melhorá-la e utilizá-la para outras  funções.
   As Cooperativas de crédito mútuo surgem no  Sistema Financeiro Brasileiro, bem como no cenário econômico-político-social  brasileiro e internacional como um contraponto ao fluxo estruturante, mas até  quando irá conseguir seu aperfeiçoamento até encontrar um ponto de equilíbrio  com as outras propostas disponíveis no mercado financeiro. 
   Fatores como a revolução do setor terciário, os  altos incentivos para a fomentação do empreendedorismo, o novo filão de mercado  e não menos revolucionário, chamado de sustentabilidade, a necessidade da  inclusão social, são outros tantos fatores motrizes para a estruturação da  produção interna, o que favorece essas associações, como pode ser visto em  diversos outros países, desenvolvidos ou em desenvolvimento.
   A essas respostas nesse sentido serão  apresentadas, a seguir, uma série de informações que ampliarão o entendimento e  apontarão para possíveis saídas aos tantos entraves que surgem no caminho do  desenvolvimento do Brasil, no momento em que os grandes acontecimentos no  mercado global favorecem o País, a começar pela supervalorização das  commodities, do barateamento tecnológico e da automação industrial.
   Diante das aceleradas mudança no cenário  socioeconômico recente do Brasil e do mundo, ocasionadas por diversos fatores  como o processo de globalização, a fragilidade das economias das potências  mundiais, a inovação, a alta tecnológica e sua crescente democratização,  aliadas à velocidade da informação, à revolução do terceiro setor e ao  esgotamento de recursos naturais, fizeram com que os governos criassem  políticas econômicas que trouxessem maior estabilidade à população como um  todo. Uma vez controlados os juros e a inflação, é provável o surgimento e a  expansão dos serviços de crédito mútuo, oferecidos pelo governo.
   Contextualizar as operações das Cooperativas de  Crédito Mútuo no atual cenário socioeconômico e financeiro no macroambiente do  Sistema Financeiro Nacional busca também responder à seguinte questão: Quais  são as contribuições das cooperativas de crédito mútuo para o sistema  financeiro vigente e em turbulência, uma vez que suas atividades implicam em  assumir diversos tipos de riscos - de mercado, de crédito, de liquidez,  operacional, legal e de reputação?
  Os vínculos sociais e o cooperativismo
              Quando um conjunto de indivíduos,  que apresentam características comuns,    comungam de interesses similares para desenvolver uma atividade  econômica, as formas de sociabilidade, de solidariedade e de seus vínculos,  representam uma forma de entendimento na trajetória dos grupos cooperativos. 
   Desta forma, o pensamento de Durkheim (1999)  buscou compreender a ação do homem através de formas de integração pautadas na  solidariedade mecânica e na solidariedade orgânica, onde a divisão do trabalho  representava o elemento que distinguia uma sociedade “moderna” de uma sociedade  “atrasada”, constituindo-se numa perspectiva importante para compreender as  práticas estabelecidas pelos indivíduos que integravam as cooperativas.
   Como a divisão do trabalho nas sociedades  modernas é mais que um fenômeno econômico, “é um fenômeno social”, resultante  de causas sociais, os indivíduos, ao mesmo tempo em que possuem maior  autonomia, apresentam também maior dependência dos grupos, ressalta Durkheim  (1999). 
   A justificativa durkheiminiana está atrelada às influências das ideias de Augusto  Comte e Saint-Simon, os quais buscavam, através de suas reflexões analíticas,  responderem às questões de uma nova ordem social, sendo este o propósito  utópico das cooperativas.
   Ao criticar as doutrinas economicistas, por  conta de sua visão de autorregulação do mercado, e as doutrinas socialistas  clássicas, por considerar o Estado como detentor dos meios de produção, onde a  vida econômica também se auto-organizaria, Durkheim (2002) colocava em  discussão a regulamentação da moral para que houvesse uma ordem social e as  associações profissionais representassem a forma de moralização dessas  relações.
   Para o autor, há que se considerar que apenas o  entendimento do consenso em sociedades, especializado ou em vias de especialização,  dos processos de solidariedade lançados por Durkheim através da perspectiva  trazida pela análise da divisão do trabalho social, poderiam ser mais  promissores do que o de conflito para a coesão social.
   Se para Mauss (2003), a moralidade aplica-se  somente ao indivíduo, para Durkhiem representa um elemento para governança dos  contratos. Esse fato se contrapunha ao egoísmo dos utilitaristas, já que apenas  a dádiva e a retribuição representariam uma forma não utilitarista de vínculos  entre os indivíduos.
   Neste sentido, de investigar formas de vínculos  entre os indivíduos na construção de um projeto cooperativo de crédito em áreas  rurais, as formas de solidariedade, reciprocidade, afetividade e tradição  representam pontos relevantes para situar o debate sobre o cooperativismo de  crédito em comunidades pobres. 
   Os elementos morais, retomados pelas  experiências recentes para a construção de sistemas financeiros alternativos,  tendo como base os mecanismos de sistemas de crédito que não estão submetidos à  lógica de mercado, consistem, portanto, em dimensão a partir da qual  cooperativas de crédito vêm buscando construir uma proposta alternativa,  imbuída do propósito de permitir a ampliação das oportunidades de trabalho.
  A ação econômica da cooperativa
              Os interesses condicionantes  envolvidos na cooperação são atendidos quando a entidade cooperativa, agindo no  mercado em nome de seus membros, maximiza os benefícios oriundos de suas  atividades econômicas na obtenção/ aquisição de bens ou serviços, ou na intermediação/colocação/alienação  de bens ou serviços produzidos pelos cooperados por meio da cooperação. 
   Para Benato (2007), valorizando o homem  enquanto ser dinâmico, em busca de sua emancipação e dignificação, o  cooperativismo, forte em seus valores fundamentais, repudia a filosofia do  caritativismo3 ,  investindo na educação de seus membros o que faz com que o interesse  participativo no fomento econômico assuma naturalmente, ensejando a realização  dos demais interesses nela envolvidos.
              As vantagens econômicas resultantes  do cooperativismo são inúmeras, destacando-se:
   a)  a obtenção do justo preço dos produtos e serviços, decorrentes do fato de a  cooperação gerar a economia de escala;
   b)  o surgimento de uma organização econômica que possibilita e gera, a supressão,  nas cadeias econômicas, de intermediários e seus lucros;
   c)  a negociação em larga escala, com consequente aumento do poder de barganha;
   d)  o alcance estratégico de melhores mercados e a dedicação a atividades  secundárias, embora importantes, que alavanquem todo o processo produtivo.
              É importante atentar para os pontos  filosóficos do cooperativismo onde a racionalidade é um dos seus princípios. 
   Giddens (1998, p.15) relata que, segundo Weber,  a racionalidade é resultante da relação social e, de acordo com a sua  regularidade pode ser um costume, uma relação regular ou um hábito que se  transforma em uma forma espontânea de agir, onde o conceito de ordem legítima é  decorrente dessa relação estável ou de fatores complementares.
   [...] não há uma única  racionalização visto que, por englobar três fenômenos relacionados entre si,  facultam a origem a várias formas de racionalização, tomadas a partir da  combinação de “intelectualização” ou “desencantamento” do mundo, ampliação da  racionalidade em relação ao fim prático e melhoria do cálculo do meio mais  adequado, sendo a ampliação da racionalidade construída a partir de uma ética  orientada para objetivos. (GIDDENS, 1998, p. 53).
              E, então, situa-se nesse contexto, a  dialética da cooperativa: de um lado ao atuar em uma economia capitalista, com  uma perspectiva não capitalista; e de outro, no estabelecimento de forma que  não privilegiem dominação ou de concentração do poder. Contudo, para Weber, as  formas de dominação e concentração de poder não têm como ser suprimidas das  organizações podendo ocorrer em maior ou menor intensidade nelas.
   Mesmo em pequenas organizações, para Weber  (2000, p. 191), há um grande contato entre os membros da associação, e  constitui-se assim um conhecimento mútuo profundo. Isso faz com que sejam  considerados socialmente iguais à dominação, mesmo que minimamente.
  O novo rumo do cooperativismo de crédito
              O panorama  que se descortina às Cooperativas de Crédito no cenário brasileiro é bastante  estimulante. A política de se erradicar a pobreza no país orquestrada pelo  Poder Público, só terá bom desempenho se alicerçada também nas Cooperativas de  Crédito. Isso ficou provado pela edição da Resolução n. 3.106/03 que permitiu  às mesmas a abertura de novos mercados. O próprio Banco Central do Brasil vem  estimulando a mudança de hábitos de brasileiros enraizados no passado. 
   A grande maioria das cooperativas brasileiras  (50%) ainda tem, em seus estatutos, a previsão de atenderem apenas à um público  específico, normalmente o de funcionários ou profissionais de uma mesma  categoria, fato este que limita o crescimento do market share, ou seja, a participação de mercado das Cooperativas  de Crédito, tanto no microcrédito como nas operações de valores maiores.
   Se fosse explorado com mais vigor este “passivismo  metódico” de como agem a maioria das Cooperativas de Crédito, os números  poderiam ser melhorados.
   Além disso, autoridades do Banco Central do  Brasil dão testemunho público a favor do cooperativismo com o fez o Secretário  Executivo do Banco Central, Sr. Edson Feltrin, ao desenvolver uma palestra que  teve como tema “Banco Central e a Economia Nacional”. 
   Diferentemente dos países desenvolvidos, onde o  Banco Central é um órgão técnico e não político, o Brasil financeiro está  submetido ao Poder constituído. O Poder Público que, em transformação de  cooperativas de crédito, torna-se impraticável qualquer prognóstico. 
   Para que as Cooperativas de Crédito pudessem  experimentar maiores percentuais de crescimento no Brasil e assumissem um papel  mais importante na concessão de empréstimos, também ao público alvo do  microcrédito, o CMN - Conselho Monetário Nacional editou em 2003 a Resolução n.  3.106/03 permitindo que as Cooperativas pudessem transformar-se em "livre  admissão de associados", deixando as mesmas de ser essencialmente rurais  ou de crédito mútuo "fechadas".
   A compreensão in loco desse fenômeno local,  regional, nacional e internacional é, sem dúvida, um estudo indispensável para  se criar regras mais claras e compatíveis com as mudanças constantes de  paradigmas, quer seja na vida social, econômica ou corporativa, mas, sobretudo,  culturalmente. 
   As possibilidades de alto desempenho econômico  só não acontecem de forma mais acelerada, justamente pelo fator cultural,  conforme abordado nesse trabalho, apontado como uma enorme barreira ao  desenvolvimento do pequeno empreendedor e possivelmente do mercado corporativo  de forma geral.
   Seja pela falta de uma comunicação mais  eficiente, capaz de gerar uma consciência sobre as possíveis alternativas de  trabalho e renda, ou pela deficiência da estrutura nacional que permitiria  maior disseminação das organizações voltadas para o crédito mútuo e  microcrédito. 
   Esta modalidade, tida, nesse estudo, como uma  solução, em primeira instância, para se enfrentar os diversos desafios ao  desenvolvimento social no País. 
   Sabe-se que as Cooperativas de Crédito tem  fundamental importância no cenário nacional quando analisada sua expressão na  rede de atendimento do país. 
   Em Dezembro de 2010, os quase 4.500 pontos de  atendimento cooperativo representavam 18,5% de todas as agências bancárias brasileiras,  ou 10,5% quando considerados também os PABs e os PAPs4  . 
   O que se percebe, no entanto, é que das mais de  1.300 cooperativas de crédito do Brasil, apenas um pequeno grupo de  aproximadamente 250 aproveitaram os benefícios da livre admissão (Resolução n.  3.106/03) e abriu-se para outros públicos que não o rural ou o segmentado.
•  as faixas A, B e C representam o público que interessa aos bancos tradicionais  (8,9%); 
  •  as faixas C, D e E são aquelas que representam ambiente mais propício ao  desenvolvimento do cooperativismo de crédito (25,3%);
  •  as faixas de E a H são aquelas onde se situam o público-alvo das microfinanças  (80,6%); 
  •  as faixas C e E representam as zonas de concorrência.
  Fonte: Banco Central do Brasil
                 Analisando os  dados da Tabela acima e, comparando-os ao enorme desafio do Cooperativismo de  Crédito brasileiro “aumento da participação de mercado”, vê-se que o público  alvo das Cooperativas é de aproximadamente 22 milhões de brasileiros (somatório  das faixas C, D e E).
   Em termos de faixa de renda as Cooperativas de Crédito  encontrariam maior respaldo na população com renda entre R$ 1.000,00 e R$  5.000,00 mensais. 
   Tem-se que 80,6% (faixas de E a H) das 87 milhões de  pessoas com rendimento, ou seja, setenta milhões, encontram-se na faixa de  renda compatível com o mercado das microfinanças. Considerando que metade tem  interesse em obter crédito, chega-se ao valor de 35 milhões de pessoas  demandantes por microfinanças (40,2% de 87 milhões).
                 As Instituições de Micro Finanças  – IMFs atuam no mercado microfinanceiro, e são especializadas em prestação de  serviços. São constituídas na forma de Organizações Não Governamentais (ONGs),  Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), Sociedades de  Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte (SCMs), cooperativas  de crédito, fundos públicos, bancos comerciais públicos e privados.
   A atividade de microcrédito, no contexto das microfinanças,  presta serviços exclusivamente à pessoas físicas e jurídicas, empreendedoras de  pequeno porte. Sua metodologia é um diferencial em comparadas às operações de  crédito tradicionais. 
  É entendida como principal atividade do setor de  microfinanças pela importância para as políticas públicas de superação da  pobreza e também pela geração de trabalho e renda. Veja, a seguir, como ela se  subdivide atualmente no Brasil:
  Conceito de microfinanças, microcrédito e  MPO.
              O sistema cooperativista permite que  uma gama maior da população passe a ter acesso ao sistema financeiro, o que  repercute na conscientização de uma nova realidade, com possibilidades de  investimento e trabalho com ganhos proporcionais. 
   Aos poucos, essa consciência cristaliza-se  enquanto cultura em determinadas regiões, a princípio. Nos últimos anos no  Brasil, pudemos perceber uma transformação nas classes sociais e um aumento do  número de consumidores. Parte desta nova atmosfera se deve ao trabalho  realizado pelas cooperativas de crédito.
   A dinâmica corporativista de crédito abre  precedentes que vão muito além do que possa ter sido aqui demonstrado, em  termos, não só econômicos, mas que abrange o cotidiano da vida pessoal de cada  membro da sociedade. 
   Se o cooperativismo de crédito vem se  sobressaindo na economia do País, conforme foi visto, fomentam o  empreendedorismo e contribuem enormemente no desenvolvimento, além de operar  como uma peça importante no sistema financeiro nacional. Essa dupla propriedade  gera uma riqueza efetiva, o que atrai mais investimento, mesmo externo,  ampliando ainda mais as fronteiras de desenvolvimento para a Nação.
   Por representar iniciativas dos próprios  cidadãos, contribui de forma relevante para o desenvolvimento local, especialmente  nos aspectos de captação de recursos para a formação de poupança e de  financiamento de iniciativas empreendedoras que trazem benefícios evidentes em  termos de geração de empregos e renda.
  Considerações Finais
   O presente estudo teve como principal objetivo  conhecer a operacionalização das cooperativas de crédito mútuo junto ao Sistema  Financeiro Nacional. O direcionamento da pesquisa levou em consideração a  credibilidade dos dados apurados na pesquisa bibliográfica e documental. 
   Baseado nesses pressupostos, o estudo aqui  elaborado procurou contextualizar o modus operandi das cooperativas de crédito  mútuo no cenário socioeconômico e financeiro através de alguns mecanismos e  equações operacionalizáveis, que foram aqui revistas de forma objetiva.
   A abordagem, em questão, retratada por uma  específica não equiparável iniciativa socioeconômica, o “cooperativismo”,  revelou-se um movimento propulsor para a construção de uma sociedade mais  nivelada, inclusiva e sustentável. 
   Além disso, demonstrou ter importância no  Sistema Financeiro Brasileiro, pois as cooperativas de crédito já absorveram  5,8 milhões de associados5 .
   Apesar do fato do assunto ser um tanto carente  de publicações, e, principalmente de dados oficiais, como por exemplo,  estatísticas de censo, o sucesso da obtenção das informações e a credibilidade  do que foi apurado, não limitou-se às pesquisas de documentos relacionados às  cooperativas de crédito mútuo e ao referencial teórico do tema de estudo, senão  por um breve estudo bibliográfico além da aplicação de conceitos de autores  consagrados na área. 
   No confronto entre as teorias de diferentes  autores, durante a pesquisa bibliográfica e documental, foram descobertos  aspectos relevantes sobre o objeto de estudo. Diante das fontes pesquisadas,  verificadas e vivenciadas, algumas respostas puderam ser elencadas para  esclarecer alguns pontos de importância fundamental. 
   Estes elucidam o problema inicial desta  pesquisa, que, em síntese, são dados concretos, com uma imanente legitimidade e  razoável expressão.
   A modalidade de microcrédito será crescente,  tanto em número de adeptos quanto em postos de atendimento, pois toma embalo  com a democratização crescente do acesso à informação. Esse fenômeno ultrapassa  barreiras culturais pois se abrem ao desenvolvimento econômico da população. 
   Em termos gerais, ganha impulso com a inclusão  digital e com a revolução silenciosa6  do terceiro setor, que no tocante ao seu caráter transformador, aprimora as  relações econômicas e sociais.
   Como se não bastasse, há ainda, outro fator  favorável ao crescimento das microfinanças, a obsolescência e o barateamento  das tecnologias, que se tornaram mais disponíveis e, muitas delas, subsidiadas  pelo primeiro e segundo setor.
   A globalização força o mercado a se  profissionalizar, a buscar estratégias que diversifiquem as fontes de renda das  empresas, não só em momentos de crise, mas também em ocasiões oportunas ou de  bonança. 
   Combinados à esses três fatores mencionados,  aparece a Sustentabilidade, que tornou-se um filão multibilionário de mercado.  Essa nova visão de conscientização do consumo e das formas alternativas de  produção criaram novas demandas, novos serviços e produtos, o que implica no  aumento da necessidade do mercado por maior expertise. 
   O aquecimento do mercado ocasionado por tais  variáveis culminou na Revolução Silenciosa do setor terciário e o  Empreendedorismo. 
   Nesse contexto, os benefícios que o  microcrédito proporcionam geram concomitantemente, maior estabilidade  econômica, o que constitui, em seu caráter estruturante e expansivo, sua  legitimidade, portanto.
   Contudo, entende-se que, como recomendação para  estudos futuros, seria oportuno debruçar-se sobre um maior universo de  pesquisas e dos dados coletados em cada cooperativa associada, para que sejam  revelados com maior detalhamento os fatores relevantes dessa modalidade de  crédito. 
   São tantas as vantagens que o associado de uma  cooperativa de crédito mútuo tem, mas principalmente a garantia financeira de  seu “esforço financeiro”.
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   SOARES,  Marden Marques; SOBRINHO MELO, Abelardo Duarte de. et al. Microfinanças: o papel do Banco Central do Brasil e a importância do  cooperativismo de crédito. 2 ed. rev. amp. Brasília: BCB, 2008.
* Mestre em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS. Mestre em Administração das Micros e Pequenas Empresas pela Faculdade Campo Limpo Paulista - FACCAMP. Pós Graduação - Lato Sensu em Administração de Empresas núcleo de concentração Finanças - pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. Pós Graduação - Lato Sensu MBA em Contabilidade, Auditoria e Planejamento Tributário pela Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia - FUNDACE / USP/Ribeirão Preto. Bacharel em Administração pela Faculdade de Administração e Ciências Econômicas Santana. Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Guarulhos. Coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Piaget (UNIPIAGET) Campus Suzano (e-mail: antonioguerra@facpiaget.com.br).
** Mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo, graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário de Santo André e Pós Graduado em Gestão de RH e Psicologia Organizacional pela Universidade Metodista de São Paulo e em Docência no Ensino Superior pela UNICID. Professor universitário da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) desde 2008, atuando em cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu, e da Universidade Metodista de São Paulo em cursos de Pós-Graduação Lato Sensu desde 2013. Coordenador do curso de Administração da Faculdade Piaget (UNIPIAGET) Campus Suzano (e-mail: pauloeduardo@facpiaget.com.br).
1 As micro finanças referem-se à prestação de serviços financeiros adequados e sustentáveis para população de baixa renda, tradicionalmente excluída do sistema financeiro tradicional, com utilização de produtos, processos e gestão diferenciados.
2 Economia de escala é aquela que organiza o processo produtivo de maneira que se alcance a máxima utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo, procurando como resultado baixos custos de produção e o incremento de bens e serviços. Ela ocorre quando a expansão da capacidade de produção de uma empresa ou indústria provoca um aumento na quantidade total produzida sem um aumento proporcional no custo de produção. Como resultado, o custo médio do produto tende a ser menor com o aumento da produção. Mais especificamente, existem economias de escala se, quando se aumentam os fatores produtivos (trabalhadores, máquinas, etc.), a produção aumenta mais do que proporcionalmente.
3 Caritativismo – caridade, filantropia, generosidade, benevolência.
4 PABs - Postos de Atendimento Bancário; PAPs - Postos de Atendimento Personalizado
5 Dados da Revista Exame, em sua publicação anual "Melhores & Maiores de 2012".
6 “O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século 21, mais do que a Revolução Industrial foi para o século 20” (Timmons, 1990)
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