Revista: Turydes Revista Turismo y Desarrollo.
ISSN 1988-5261


TURISMO E INTERPRETAÇÃO: uma forma de valorização e promoção do patrimônio cultural e natural do Recanto dos Papagaios, Brasil

Autores e infomación del artículo

Diego Geovan dos Reis

Camila Manduca

Leandro Baptista

Poliana Fabíula Cardozo

Universidade Estadual do Centro-Oeste, Brasil

diego.gdosreis@gmail.com

RESUMO
Este trabalho tem como foco a interpretação patrimonial com vertente para o turismo, sendo essa entendida como uma ação pedagógica com intencionalidade educativa, política, cultural e social. O objeto de estudos é o Recanto dos Papagaios, uma área localizada na divisa dos municípios de Palmeira e Balsa Nova, estado do Paraná, Brasil, detentora de dois bens patrimoniais, o natural e o cultural. O objetivo proposto é identificar de que modo o turismo pode lidar com o patrimônio cultural e natural encontrado no Recanto dos Papagaios, a fim de que a experiência do visitante possa ser agradável e enriquecedora. Rumo a alcançá-lo surgiram os objetivos específicos: discutir o uso da interpretação como ferramenta de valorização do patrimônio; conhecer os métodos de interpretação do patrimônio; analisar a situação atual da área quanto à existência ou não de técnicas interpretativas relacionadas ao patrimônio natural e cultural; e apresentar técnicas interpretativas que podem ser aplicadas no local de estudo. A metodologia se deu por meio de referencial teórico e pesquisa de campo. Concluiu-se que não existe  interpretação do patrimônio local, sendo portanto, produtivo para o setor turístico utilizar-se desta ação pedagógica em benefício dos visitantes bem como do próprio bem patrimonial. A interpretação patrimonial tem a capacidade de engrandecer a visita, uma vez que ensina, sensibiliza, educa, informa, enfim transfere valor para os que ali estão em seu momento de visitação.

Palavras chave: Interpretação patrimonial, patrimônio cultural; patrimônio natural; turismo.

TOURISM AND INTERPRETATION: A way of valuing and promoting the cultural and natural heritage of the Recanto dos Papagaios, Brazil

ABSTRACT

This paper focuses on the heritage interpretation on a tourism strand, which is understood as a pedagogical act with educational, political, cultural and social intentionality. The object of studies is the Recanto dos Papagaios (Nook of the parrots), an area located on the border of the counties of Palmeira and Balsa Nova, state of Paraná, Brazil, holders of two heritages, natural and cultural. The proposed objetive is to identify how tourism can deal with the cultural and natural heritage found in the Recanto dos Papagaios, so that the visitor’s experience can be enjoyable and enriching. In order to achieve this, the specific goals are: to discuss the use of interpretation as a tool for valuing heritage; To know the methods of Heritage Interpretation; To analyze the current situation of the area as to the existence or not of interpretative techniques related to natural and cultural heritage; and to present interpretative techniques that can be applied at the study site. The methodology is based on theoretical reference and field research. It was concluded that there is no interpretation of the local heritage, therefore, it is productive for the tourist sector to use this pedagogical action for the benefit of the visitors as well as the area itself. Heritage Interpretation is able to enhance the visit, since it teaches, touches, educates, informs, finally, it transfers value to those who are there in their moment of visitation.

Keywords: Heritage interpretation; cultural heritage; natural heritage; tourism.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Diego Geovan dos Reis, Camila Manduca, Leandro Baptista y Poliana Fabíula Cardozo (2017): “Turismo e interpretação: uma forma de valorização e promoção do patrimônio cultural e natural do Recanto dos Papagaios, Brasil”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 22 (junio 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/turydes/22/recanto-papagaios-brasil.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes22recanto-papagaios-brasil


INTRODUÇÃO

            A interpretação é uma ação pedagógica, um instrumento utilizado pelo turismo em beneficio do bem patrimonial, o qual por meio de técnicas (cartazes, painéis, sinalização, demonstrações, dinâmicas, dentre outras) pode mostrar ao visitante o que um determinado bem representa, bem como seu significado para a localidade que o detém. Deste modo, ao utilizar-se da interpretação a atividade turística proporciona o contato dos bens patrimoniais com seu público, despertando mais interesse pela área, tendo em vista que a visita será mais prazerosa, proveitosa e lhe agregará valores. A técnica interpretativa permite que a história, a cultura e a natureza de uma localidade turística sejam mostradas de maneira simples, clara e satisfatória para o turista, proporcionando a este vivenciar o local, sentir-se como integrante daquele espaço e de sua história, aguçando sua imaginação. Diante do exposto, o estudo deste trabalho tem como foco a interpretação no Recanto Monteiro Tourinho, ou Recanto dos Papagaios, uma área verde localizada na divisa dos municípios de Palmeira e Balsa Nova, às margens da BR 277, corredor do Mercosul, estado do Paraná, Brasil.
            Ao enfocar o Turismo, o Patrimônio e a Interpretação Patrimonial têm-se como propósito demonstrar sua inter-relação com o Recanto dos Papagaios, já que ele apresenta uma potencialidade turística em virtude de possuir dois bens patrimoniais – o natural, o rio dos papagaios; e o cultural, a ponte tombada. Verifica-se que a interpretação do patrimônio pode ser uma medida bastante produtiva para a área em questão, uma vez que por meio desta pode-se demonstrar o que o bem representa, seu valor enquanto patrimônio, despertando no visitante mais interesse pela área. Diante disso, questiona-se, de que forma a interpretação do patrimônio natural e cultural do Recanto dos Papagaios pode vir a valorizar a experiência do visitante? Para responder a este questionamento este trabalho visa identificar de que modo o turismo pode lidar com o patrimônio cultural e natural encontrado no Recanto dos Papagaios, a fim de que a experiência do visitante possa ser agradável e enriquecedora. Parte-se do princípio apontado por Fowler (1992) de que o patrimônio precisa se adaptar ao presente por meio de técnicas adequadas. Para tal busca-se discutir o uso da interpretação como ferramenta de valorização do patrimônio e conhecer seus métodos de interpretação; analisar a situação atual da área quanto à existência ou não de técnicas interpretativas relacionadas ao patrimônio natural e cultural; e apresentar técnicas interpretativas que possam ser aplicadas no referido sítio.
            Partindo da concepção de que o Turismo e o Patrimônio caminham juntos em prol de uma experiência de aprendizagem, esta pesquisa se originou, uma vez que aborda a temática Turismo e Interpretação Patrimonial, podendo deste modo contribuir para um aprofundamento teórico sobre o assunto tanto para estudantes como para a comunidade local, afim de que estes compreendam a necessidade de valorização e promoção do patrimônio, para que possam usufruí-lo de maneira sustentável e para que este não se perca com o passar do tempo. Seguindo a mesma linha de pensamento, o trabalho pode servir como um instrumento motivador para prefeituras que vislumbram a atividade turística, - em específico para as prefeituras dos municípios de Palmeira e Balsa Nova, estado do Paraná, despertando interesse em aliar o patrimônio de seus municípios à atividade turística, para que esses bens patrimoniais passem a representar seu verdadeiro significado e importância.
            A escolha do objeto aqui estudado, o Recanto dos Papagaios, se deu em razão deste apresentar o patrimônio cultural, sendo este inclusive tombado pelo Governo do Estado do Paraná, e o natural em um só ambiente. Assim ao entrar em contato com o Recanto, primeiramente pela necessidade de lazer, de estar em contato com a natureza, o visitante também pode conhecer o lado histórico do local, uma vez que a ponte sobre o rio caracteriza um bem cultural. A ponte carrega consigo a história do motivo de sua construção, que se deu a pedido de D. Pedro II, segundo e último imperador do Brasil, que quisera passar pelo estado do Paraná, e esta por sua vez também serviu de passagem aos tropeiros rumo às feiras de Sorocaba fazendo, portanto, parte da história da Rota dos Tropeiros (Gazeta do Povo, 2016).
            Muito se tem a saber sobre a área do Recanto, porém as informações por vezes não chegam até os visitantes, o que revela a necessidade de sua interpretação. Deste modo, ao se realizar o presente estudo tem-se como finalidade demonstrar os benefícios que a interpretação pode vir a trazer para a área em prol de uma experiência prazerosa de seus visitantes. A interpretação tem a capacidade de promover, valorizar, trazer sentido ao bem patrimonial e funciona como uma ferramenta capaz de maximizar a satisfação do público, para que estes tenham a oportunidade de vivenciar o local, de modo a sentir-se parte dele, o que consequentemente pode criar um apreço pela área, surgindo assim atitudes que visam sua manutenção, conservação, de modo com que este possa ser novamente vivenciado.
            As cidades de Palmeira e Balsa Nova, inclusas na Rota dos Tropeiros, por já estarem em contato com a atividade turística poderão usufruir deste estudo para uma maior compreensão da potencialidade turística encontrada no Recanto dos Papagaios, abrindo futuras perspectivas no que tange à valorização da área. Ao longo do trabalho mostra-se uma visão mais ampla dos meios pelo qual a atividade turística pode se ater para conseguir valorizar, promover o patrimônio cultural e natural da área do Recanto dos Papagaios, bem como trabalhar com a interpretação a fim de ampliar a satisfação dos visitantes. Assim, pretende-se que este trabalho sirva de ponto de partida para que outros possam ser realizados dentro dessa temática, uma vez que ela permite amplas discussões dada sua importância.
            A metodologia funda-se em três etapas, a constar: a primeira etapa consistiu de um referencial teórico, sobre os temas relacionados à interpretação do patrimônio para o turismo e meios e técnicas interpretativas. A segunda etapa se deu pela coleta de dados em campo, ou seja, no local de estudo, o Recanto dos Papagaios. Para sua efetivação foi utilizado o método da observação não participativa, tendo como ferramenta a utilização de uma ficha de inventário do Ministério do Turismo, adaptada às necessidades do objetivo da pesquisa. Dentre os itens investigados estão: existência ou não de técnicas interpretativas; quais são as técnicas utilizadas na interpretação do patrimônio; existência ou não de informações ao turista; dentre outros itens que se julgaram necessários. A terceira e última etapa consiste na análise dos dados obtidos através do preenchimento da ficha de inventário e registro fotográfico, a fim de identificar a realidade e o potencial turístico local.

INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO SOB UMA PERSPECTIVA TEÓRICA VOLTADA PARA O TURISMO

            Analisando a busca crescente dos indivíduos por momentos de lazer, de distração, o turismo vem ao encontro dessa necessidade, ofertando cada vez mais serviços e produtos dentre os quais se encontram a natureza e a cultura, nas quais o patrimônio pode reprisar seus elementos. Estes por sua vez se destacam como elementos importantes para a atividade turística, pois conseguem atrair a demanda para os locais que desfrutam desses elementos como produtos turísticos. Observe-se que todas as tradições podem ser construídas e convertidas em conceito patrimonial e este, por sua vez, consumido, o desafio está em realizar isso de forma sustentável (Alsayyad, 2001).
            Ao converter um bem patrimonial em atrativo turístico, em alvo de visitação e observação, surge a necessidade de justificá-lo como importante para a atração de demanda, para que esse público, uma vez deparado com bem patrimonial, compreenda a sua importância e valide sua decisão em visitá-lo. Destaque-se o fato de que o patrimônio não deve se reportar unicamente ao passado, ele precisa ser uma ponte entre passado e presente, para que possa ter intrínseca a motivação de sua valoração e preservação (Prats, 1997). É nesse jogo de valorizar, mostrar, oferecer, justificar, sensibilizar e valorizar novamente que a interpretação ganha contornos de protagonista, aliada à educação patrimonial, de forma quase indissociável. Ora, se uma das principais tarefas da interpretação é fazer sobressair os conteúdos ao patrimônio relacionado, a fim de que ele possa ser apropriado pelo visitante (não de forma literal, mas de uma maneira intangível, que faça com que o visitante sinta que conhece, compreende e se sente parte e participante), compreende-se que a interpretação é mais do que uma técnica mecânica encerrada em si mesma, mas uma ação pedagógica com uma intencionalidade claramente educativa, política, cultural e social. Por isso, nessa reflexão, ao se falar em interpretação patrimonial, não se dissocia da ideia de educação patrimonial.
            Ao abordar a temática da Interpretação faz-se necessário buscar suas raízes, ou seja, suas origens conceituais e epistemológicas, sendo o processo interpretativo hoje bastante utilizado tanto no segmento do turismo cultural quanto no turismo de natureza. Para Myanaki, Leite e Stigliano (2007) a interpretação nasceu como interpretação ambiental nos parques americanos no final da década de 50, para sensibilizar os visitantes e convencê-los a ajudar a proteger a natureza. Depois, em meados dos anos 70, ganhou as cidades americanas e européias. Na Inglaterra, depois que a preservação e a interpretação do patrimônio ambiental urbano passaram a sensibilizar e a engajar grandes segmentos de sua população, o patrimônio cultural desenvolveu-se como principal recurso da indústria turística daquele país.
            Assim, a interpretação nasceu da ideia de proteção ambiental, para a qual bastava convencer o visitante de que este tinha que proteger o ambiente em questão que o objetivo da interpretação já estava alcançado. No entanto, com o passar do tempo, notou-se que interpretar era muito mais que simplesmente proteger, era também uma comunicação do meio com seus visitantes, devendo deste modo motivar, conscientizar, sensibilizar, informar o visitante sobre o contexto que envolvia o patrimônio como um todo. Uma clássica definição de interpretação é apresentada por Freeman Tilden (1977: 23), pioneiro da interpretação, que diz que a interpretação é “uma atividade educacional que objetiva revelar significados e relações através da utilização de objetos originais, de experiência de primeira mão, bem como de mídia ilustrativa, ao invés de simplesmente comunicar informações factuais”. Essa citação vem em certa forma reforçar o que já se expôs sobre a relação intrínseca entre a interpretação e a educação. Tilden abriu novas perspectivas para a interpretação, a qual ganhou proporções para além da área ambiental. Deste modo passaram a utilizá-la também para sítios históricos e culturais, pois agora não se tratava apenas de proteger, mas também em informar, explicar, compreender o ambiente que se pretendia interpretar, ideia já ligada ao ensino de conteúdos para a apropriação.
            Para Risk (1995) a interpretação efetiva deve causar emoções, se pretende causar grande impacto. Para ser efetiva, a interpretação deve ajudar a enriquecer o senso de lugar, possibilitando aos visitantes fazer parte do local por eles mesmos. Muito frequentemente, o aspecto intangível acaba sendo ignorado. Assim, interpretar o patrimônio é revelar seu significado, seu valor, suas características durante a visitação, ou seja, no momento em que o visitante se encontra no local, pois é nesse momento que se pode conseguir uma interação entre ele o bem patrimonial, podendo aguçar sua imaginação, sua vontade, seu interesse pelo ambiente: a apropriação do patrimônio pelo visitante propriamente dita. Complementando esta abordagem, Rocha, Veloso e Diniz (2007) salientam que a interpretação pode ser considerada como um processo onde se oferece uma maior interação e, conseqüentemente, uma valorização da experiência no lugar, através de diversas técnicas de fornecimento de informações que destacam a história e as características culturais e ambientais do local.  Observa-se portanto que a interpretação é um recurso pelo qual se agrega valor à visitação, e pela qual o visitante consegue compreender o local, sua história, sua representação bem como suas características culturais e ambientais. Tal pode ser obtido por meio de técnicas interpretativas aplicadas no local.
            Para Murta e Albano (2002) pouca atenção é dada ao visitante no que se refere à informação sobre o lugar e seus habitantes, pois quando se pensa em desenvolver o turismo em uma região, as primeiras ações se voltam para o transporte, hospedagem, alimentação, etc., pressupondo-se que os turistas irão descobrir sozinhos o valor e a grandeza da natureza, das edificações históricas, entre outras tantas manifestações artísticas e culturais que uma região pode apresentar. Sobre esta realidade os autores salientam que muito há por se fazer para otimizar a experiência da visita, e, para tanto seria necessário estimular o visitante, provocar sua curiosidade, fazendo com que este pudesse descobrir o lugar, mediados pelos meios interpretativos. Não obstante, tal tarefa não é deveras fácil. Um destino turístico recebe diferentes perfis de visitantes e sabe-se que esse aguçamento de curiosidade sem propósito claro é quase que inócuo. Acredita-se que mais efetiva possa ser a sinalização da cidade, divulgação de seus atrativos e locais de interesses e neles trabalhar com as ações pedagógicas pertinentes para cada elemento patrimonial/turístico. Quando se quer sensibilizar, tocar, gerar a apropriação efetiva, a intenção deve ser clara.
            A interpretação é um instrumento que pode ser colocado em prática para engrandecer tanto a experiência turística como também o próprio patrimônio. Deste modo

a interpretação do patrimônio, em sua melhor versão, cumpre uma dupla função de valorização. De um lado, valoriza a experiência do visitante, levando-o a uma melhor compreensão e apreciação do lugar visitado; do outro, valoriza o próprio patrimônio, incorporando-o como atração turística. (Murta & Goodey, 2002: 13)
           
            Sob esta vertente de incorporar o patrimônio à atração turística, Rocha, Veloso e Diniz (2007) ressaltam outro aspecto, apontando que a interpretação deve ser desenvolvida de forma sustentável, minimizando os impactos negativos que possam ser gerados pelo turismo e auxiliando no trabalho de conservação do patrimônio, tanto no que concerne à sensibilização local quanto à manutenção do bem. O aspecto da sustentabilidade pode garantir que o patrimônio não se perca, ou seja, pode garantir que as futuras gerações também venham a usufruir destes bens patrimoniais. Com foco na sustentabilidade, a interpretação tende a causar o mínimo impacto possível sobre o bem, orientando, sensibilizando os turistas a valorizarem o patrimônio, garantindo assim a sua conservação.
            Podendo ser representada por um conjunto de técnicas que permitem uma experiência na visitação, a interpretação busca repassar informações a respeito da natureza e/ou cultura do ambiente ao visitante. Com a interpretação a experiência da visita se torna mais prazerosa e o visitante pode entender melhor o local e experienciá-lo, pois interpretar o patrimônio pode ser uma possibilidade de converter uma visita em uma vivência. A interpretação provoca a curiosidade do visitante, aumentando o seu interesse pelo atrativo, contribuindo para que este busque novas informações, pois como lembra Alsayyad (2001) a interpretação é importante para que o turista conheça, de uma maneira menos superficial, sobre o produto turístico que lhe é apresentado, o que pode prolongar a permanência e estimular novas visitas. Deste modo, por meio da interpretação a experiência do visitante se torna mais produtiva, uma vez que ele assimila as informações, passa a entender o local e começa a ter mais respeito pelo ambiente.
            De um modo amplo, a interpretação tem a função de transmitir informações aos visitantes, fazendo com que estes compreendam o real significado do patrimônio, o que pode parecer simples ao primeiro olhar mas que constitui tarefa complexa, pois existem diversos tipos de patrimônios, diferentes objetivos que se propõem alcançar por meio da interpretação e ainda muitas técnicas para se poder chegar ao objetivo almejado. Isto considerado, antes de qualquer tentativa de implantação da interpretação, é sempre benéfico entender que a interpretação é uma comunicação do patrimônio com seu observador (morador, visitante e turista), sendo preciso escolher os meios e as técnicas interpretativas que se adequem ao patrimônio e também a quem o presencia, para que estes possam realmente compreender aquilo que se deseja transmitir. Essa transmissão se dá, em suma, pelos passos expostos por Murta e Goodey (2002: 18):
1. Iniciar a interpretação em parceria com a comunidade, estimulando a troca de conhecimentos e recursos;
2.  Adotar uma abordagem abrangente, ligando os temas do passado, do presente e do futuro, realçando a dimensão socioeconômica, ao lado das dimensões histórica, ecológica e arquitetônica;
3. Não tentar vender uma verdade universal, mas destacar a diversidade e a pluralidade culturais. Sua interpretação deve fomentar a aceitação e a tolerância como valores democráticos;
4. Levar sempre em consideração o atendimento ao visitante, indicando ou provendo instalações básicas, como sanitários, segurança, pontos de descanso e estacionamento, elementos essenciais a uma experiência prazerosa do lugar.
            Esses princípios conduzem ações a serem trabalhadas durante o processo de planejamento da interpretação de um bem patrimonial, com a pretensão de escolher qual a melhor forma de trabalhar com determinado patrimônio, no âmbito de conseguir atingir o público alvo, despertando o seu interesse pela área. Para tal propósito é preciso, portanto: a) foco no visitante; b) mais que informar deve-se provocar a atenção do visitante, despertar seu interesse, aguçar sua imaginação, aflorar seus sentimentos; c) fazer da interpretação uma arte que educa de forma interativa; d) apresentar a história por completa, não deixando brechas para interpretações equivocadas, a mensagem, portanto deve ser compreensível e acessível a todo o público; e) prezar por parcerias com a comunidade, pois por conhecerem seus patrimônios muito podem contribuir para sua interpretação; f) exaltar a diversidade cultural, promovendo a aceitação das diferenças; e g) oferecer infraestrutura para o atendimento ao visitante.
            Estes itens aplicados podem contribuir para um trabalho que se fundamenta em garantir qualidade na visitação para os visitantes; criar sentimento de pertencimento à comunidade local, que passa a dar mais valor ao seu patrimônio; e acima de tudo contribui para a manutenção, conservação ou preservação do patrimônio, garantindo a continuidade desse bem para o futuro. Não se pode esquecer também do próprio mercado turístico que se apóia nesses atrativos patrimoniais para seu desenvolvimento e que com seu êxito sustentável tende a se beneficiar. Conclui-se, portanto, com as palavras de Cruz e Tehuay (2011: 16) ao apontar que:

A interpretação do patrimônio natural e cultural requer para sua aplicação tanto de habilidades naturais como aprendidas, com a finalidade de poder desenvolver-se com propriedade. O objetivo da interpretação é transmitir ao visitante, por meio de diferentes técnicas de comunicação, uma mensagem clara, e assim assegurar sua correta recepção. A interpretação ajuda os visitantes a explorar a importância dos recursos da área e entender seu significado.

            Para tornar exequível tal significação, a interpretação necessita também de meios e técnicas que sejam condizentes à aplicação local e que consiga chamar a atenção do visitante, despertando seu interesse pelo bem cultural em questão. Tais meios e técnicas serão agora abordados.

 

MEIOS E TÉCNICAS INTERPRETATIVAS

            A interpretação do patrimônio vai muito além do que apenas informar, ela carrega consigo a missão de transmitir emoção, mensagem, conhecimento ao visitante, com vistas a fazer com que este sinta e vivencie a energia do local. A interpretação na visão de Yorke (1979), pauta-se em quatro aspectos fundamentais, sendo eles a comunicação atrativa; a informação breve; a apresentação na presença do objeto em questão; e ter por objetivo a revelação de um significado. Na busca para alcançar esses objetivos a interpretação conta com os meios e técnicas interpretativas que funcionam como ferramentas para ajudar nos propósitos almejados.
            Para Cruz e Tehuay (2011) a interpretação pode ser feita de duas formas: direta e indireta. A direta implica a relação presencial com um guia que explica e transmite as mensagens. Neste tipo de interpretação existe uma interação direta entre o guia e o visitante. A forma indireta por sua vez se refere a folhetos, cartazes, meios audiovisuais, sinais, documentos informativos, etc. Envolve todo o material produzido para que os visitantes conheçam determinada área, espaço, evento ou mostra (Cruz & Tehuay, 2011). Os mesmos moldes foram primeiramente chamados por Tilden (1977) de meios guiados (com presença de guia) e autoguiados (sem guia, utilizando mapas, placas, folders, etc.). Os meios autoguiados (ou indiretos) podem ser utilizados em conjunto com os guiados (ou diretos), com o intuito de complementar as informações a serem transmitidas aos visitantes e proporcionar assim um maior entendimento do significado do patrimônio cultural e/ou natural encontrado no local.
            Murta e Goodey (2002: 24) adotam outra metodologia, que estabelece que os meios de interpretação podem ser divididos em três categorias: “interpretação ao vivo; textos; e publicações e interpretação com base no design”. A interpretação ao vivo, também chamada de interpretação pessoal, demanda de uma pessoa, um guia ou um ator, utilizando de recursos como o canto e demais apresentações para explicar o tema aos visitantes. Este tipo de técnica pode ser representada sob a forma de demonstração, representação e performances, excursões a pé, de bicicleta ou motorizadas e necessita de um intérprete, ator chave no processo. A importância do intérprete é destacada por Cruz e Tehuay (2011: 6), ao destacar que:

Ser um intérprete do patrimônio natural e cultural implica conhecer, entender e utilizar um conjunto de métodos e técnicas baseados na comunicação com a finalidade de que o visitante reconheça e sinta os espaços desde sua própria experiência, para permitir que o espaço revele diretamente por si mesmo sensações, sentimentos e entendimento.

Ser um intérprete, portanto, é ser um mediador entre o visitante e o patrimônio interpretado, devendo deste modo conhecer muito bem o local, para poder transmitir o significado que esse bem representa. Essa transmissão por sua vez deve ser feita de forma simples e clara a fim de que todo o público possa compreender o significado da mensagem, e consequentemente possa compreender o valor, a importância do objeto, da área, do espaço que está sendo interpretado.
            Na categoria textos e publicações são apresentados mapas ilustrados, guias e roteiros, folders e cartões postais, e estes por sua vez são elementos básicos em qualquer esquema de interpretação. Qualquer que seja sua forma, os textos e publicações complementam as informações obtidas nas exibições e servem também como guias pessoais para os visitantes, e por vezes funcionam como souvenirs que podem ser levados para casa. As publicações mais bem sucedidas são aquelas consideradas apropriadas às necessidades específicas dos visitantes, devendo conter informações interessantes e ao mesmo tempo provocar a curiosidade sobre o lugar, revelando detalhes que consigam causar sensibilização.
            A interpretação com base no design é empregada tanto no patrimônio natural como no cultural, abrangendo desde placas e painéis informativos tradicionais, até o vídeo e os equipamentos computadorizados. Esses meios tornam a visitação mais atraente e agradável para o público e podem ainda ser agrupados em meios estáticos e meios animados. Os meios estáticos são apresentados sob a forma de textos, ilustrações e representações. Não há participação ativa. Neste tipo de interpretação estão incluídos: placas, painéis e letreiros; objetos e documentos fixos e protegidos; modelos e reconstruções; e reconstrução do passado para apreciação passiva. Os meios animados por sua vez compreendem instrumentos mecânicos e eletro-eletrônicos, que introduzem som, luz, cheiro e movimento, dando um ar de realismo nas exibições e tornando a comunicação com o público mais eficaz. Eles são agrupados em som, luz e imagem e o movimento (Murta & Goodey, 2002).
            O som pretende instigar o visitante via rádio e narrativas até a utilização de sons ambientes, como sons de pássaros, de rua, de fábricas, dentre outros que dão mais realismo ao local. A luz e a imagem conferem mais dinamismo à visita, podem ser ser apresentadas sob a forma de painéis iluminados, apresentação de slides, filmes, dentre outros que possuem a competência de dar vida à obra. O movimento por sua vez é mais indicado para demonstrar processos industriais e para compreensão de estruturas complexas, facilitando o acesso à tecnologia patrimonial e a exibições mais cientificas. São exemplos de técnicas que empregam o movimento: máquinas em funcionamento, processos de fabricação de certos produtos, apresentação de tecnologias e métodos de produção históricos, entre outros, que proporcionam mais realidade no processo interpretativo, pois conseguem transmitir ao visitante a mensagem que o local realmente se propôs a mostrar (Murta & Goodey, 2002).
            Destaca-se assim que existem diversas técnicas interpretativas, não obstante não basta simplesmente escolhê-las e aplicá-las, há de se estudar o contexto que envolve o processo. Destarte, a escolha por uma ou outra técnica vai depender do que intenciona-se mostrar, a disponibilidade de recursos para sua implantação, bem como o que o local pode comportar, deste modo fica notória a necessidade da realização de um estudo profundo, com o propósito de identificar os objetivos pretendidos com a implantação da interpretação. Pessoas capacitadas para atuar é outro ponto a ser apontado, pois elas irão nortear o trabalho de interpretação do ambiente, necessitando para tal de alta qualificação, pois a partir delas o visitante compreenderá o espaço visitado.
            Conclui-se assim que a interpretação – juntamente com os meios e técnicas interpretativas – têm a função de estabelecer a comunicação dos visitantes e da comunidade local com o patrimônio, despertando nestes, sensibilização e atitudes positivas, o que consequentemente contribui para a conservação e valorização do bem patrimonial. Assim por meio da interpretação as pessoas deixam de apenas contemplar o patrimônio e passam a entender que este é uma representação da história, da cultura, da natureza, da identidade intrínseca de um povo. Entretanto, para que tais propósitos sejam exitosos, são necessários meios e técnicas adequadas, pois interpretar não é uma tarefa simplória, há de se planejar, traçar os objetivos e adequá-los às necessidades do visitante, da comunidade local e do bem patrimonial.
            O patrimônio destacado pelo turismo ora se faz presente na cultura ora na natureza – ou por vezes em ambos – uma vez que estes dois elementos caracterizam matéria prima para a formação dos diversos segmentos turísticos, pois a cultura interage com a natureza e vice-versa. Frente ao exposto pode-se dizer que o turismo é uma cadeia de inter-relações, visto que um segmento turístico tende a complementar o outro, cooperando assim para o desfrute de uma atividade que pode ser completa e benéfica a todos os envolvidos, ou seja, que valorize o atrativo, o visitante, a comunidade local bem como o próprio trade turístico. Sendo assim, mais que ofertar um produto o turismo pode, se planejado corretamente, assumir a função de agente de interação e valorização entre o indivíduo e seu ambiente próprio, colaborando ativamente na criação de um sentimento de pertença local e na valorização do bem patrimonial visitado.

O RECANTO DOS PAPAGAIOS

            Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem [DER] (2016) o Recanto dos Papagaios, nome oficial Recanto Monteiro Tourinho (figura 01), construído e inaugurado em 1969, está instalado em uma área arborizada de aproximadamente 15.000 m2, às margens da Rodovia BR-277, na divisa entre os municípios de Palmeira e Balsa Nova, no estado do Paraná, região sul do Brasil (figura 02). O local possui área de lazer ao lado do Rio dos Papagaios, com playground, canchas de bocha, churrasqueiras cobertas, piscina natural represada pelas águas do Rio dos Papagaios e também piscina artificial com água do mesmo rio. No local há banheiros públicos, estacionamento gratuito e restaurante, itens estes todos verificados pelos autores na pesquisa de campo.
            No local está também situada a Ponte sobre o Rio dos Papagaios, ou Ponte Dom Pedro II (figura 03), bem patrimonial tombado pelo Estado do Paraná. De acordo com o DER (2016) esta ponte fora edificada no ano de 1876, construída por imigrantes alemães, com autorização de D. Pedro II, quando de sua visita ao local. Todas as pedras utilizadas na obra foram extraídas das pedreiras da região dos Campos Gerais, de rochas homogêneas e resistentes, sem o emprego da pólvora - condição, aliás, estipulada no contrato de construção. Considerada um monumento da engenharia nacional da época, a ponte e a passagem do Imperador pelo local foram descritos por Carneiro (1944: 79-81) com reverência:

Depois do almôço e um pequeno descanso seguiram viagem até à ponte sôbre o rio dos Papagaios, onde SS.MM. apearam-se outra vez e S.M. o Imperador, desceu até o lageado que forma o leito do rio por baixo da ponte para examinar a construção desta obra, que pode-se garantir, ser a primeira dêste gênero, na província, merecendo por isso ser elogiada por S.M. o Imperador e mais pessoas da comitiva (...) A Ponte dos Papagaios, denominação tirada do nome do rio que por aí passa (...) é tôda de granito, tem dois vãos em arco que medem 12 metros de largura e a ponte 27 palmos. E’ nesse rio que consta por aqui haver diamantes em profusão.

            Tal descrição enfatiza a importância da ponte para a época, não apenas pela visita do então imperador, mas pela grandiosidade da obra e pela própria localização, apontando para a grande profusão de diamantes no rio abaixo dela. Hoje outros aspectos de importância integram-se a estes, como o fato da construção ter sido realizada por imigrantes alemães, sendo a imigração alemã também um marco histórico no estado, e a própria localização, por estar em uma área de proteção ambiental. Assim sendo, a ponte e o recanto constituem um conjunto patrimonial natural-histórico-cultural, com constante fluxo de visitação. Contudo, como é, se assim o é, interpretado o local pelos visitantes? Quais ferramentas interpretativas há no local e o que pode ser feito com vistas à implantar ou incrementar estas técnicas?
            A análise de campo mostrou que a sinalização de acesso ao local, às margens da rodovia, é eficiente, bem visível a quem trafega pela BR-277. (figura 04) Nas proximidades há restaurante e posto de combustível, bem como ponto de ônibus para acesso intermunicipal. Há também placas reguladoras, que destacam proibições e orientações de uso. (figura 05) No que tange ao funcionamento do local, é aberto à visitação das 05h00min às 18h30min, todos os dias, inclusive feriados, informação esta constante em placa de sinalização. Não há, contudo, qualquer tipo de instalação de entrada, nem atendimento ao público, ou seja, não há funcionários para atendimento aos visitantes que, assim sendo, utilizam o local com propósitos únicos de lazer e descanso. O local dispõe de estacionamento gratuito, porém não coberto, sanitários sinalizados, galões de lixo em quantidade suficiente, chalés com mesa, bancos e churrasqueiras, (figura 06) canchas e restaurante particular. Todas estas instalações, contudo, notadamente carecem de manutenção.
            Quanto ao acesso a pé, o local apresenta trilhas pavimentadas e não pavimentadas, com presença de escadas, algumas feitas de pedras outras de alvenaria, sendo as primeiras mais adequadas ao ambiente natural e facilmente encontradas na região. (figura 07) Não há, entretanto, corrimões ou rampas de acesso à pessoas com necessidades especiais. No que tange ao rio e à ponte, nenhuma atividade é desenvolvida, como canoagem, bóia-cross, etc., e a ponte é unicamente utilizada como acesso para cruzar o rio. Existe apenas uma placa indicando a proibição de caminhões mas não há painéis ou placas enfatizando a importância histórica do local. (figura 08)
            Ficou evidente, através do levantamento de dados, a inexistência de aspectos relacionados à interpretação do patrimônio, seja natural ou histórico-cultural. O local é unicamente utilizado e valorizado como área de lazer. Frente ao exposto constata-se necessário apresentar uma proposta de interpretação para o local, o que é mostrado a seguir, sendo uma síntese de pretensão interpretativa para o Recanto dos Papagaios, a fim de que com o auxílio deste ato pedagógico se possa valorizar, promover o atrativo bem como aumentar o nível de satisfação e entendimento dos visitantes. Pretende-se que a proposta possa servir de base, de incentivo para que as prefeituras de Balsa Nova e de Palmeira vislumbrem a implantação da interpretação patrimonial na área do recanto trazendo benefícios a todos aqueles que visitam o local.

SÍNTESE DO PLANO INTERPRETATIVO

            A finalidade desta proposta interpretativa é fazer com que a área do Recantos dos Papagaios venha a ser mais atrativa, valorizando o espaço e despertando assim mais interesse nos visitantes. Ao pensar na interpretação como uma oportunidade de vivenciar o local, de sensibilizar o visitante, mostrando a este os valores que abrangem o patrimônio em questão, tem-se a intenção de que este venha a interagir com o ambiente de forma positiva, conhecendo a história, a cultura, a natureza, enfim, as características que envolvem o bem patrimonial. Mas como demonstrar, transmitir, realçar estas características aos visitantes? A interpretação aliada aos meios e técnicas interpretativas tem essa finalidade. Deste modo a proposta apresentada neste trabalho consiste em traçar usos do patrimônio e a partir desses formular a interpretação a partir de três pilares: proposta de interpretação; programa de uso; e programa interpretativo.
            Neste contexto, desenvolveram-se dois modelos interativos com enfoque no patrimônio histórico cultural e natural. Primeiramente destaca-se a importância de um pequeno centro de visitantes, um local no qual pudesse ser apresentado um vídeo introdutório sobre a área e seus aspectos históricos e também conter materiais impressos que possam ser entregues. Neste mesmo local poderia ser colocado um livro de visitas para ser assinado. Observa-se também a necessidade da adaptação do local para acesso de pessoas com necessidades físicas. Na acepção do modelo histórico-cultural busca-se evidenciar a ponte e seus aspectos constitutivos. É necessário colocar estas informações de forma interpretativa aos visitantes para que estes possam compreender o local e vivenciar seu contexto histórico. Ações que não demandam grande aporte financeiro poderiam contribuir com este aspecto. Painéis e um guia de turismo qualificado, um intérprete, seriam adequados. Como locais apropriados para a implantação dos painéis sugestiona-se: 1) Painel à entrada do recanto: trazendo informações sobre o recanto e sua história como um todo. 2) Painel junto à ponte: contendo informações sobre seu histórico.
            Estas informações, todavia, não devem ser muito extensas, nem apresentar letras muito pequenas, devem ser apresentadas em português, espanhol e inglês e deve-se levar em conta também a estética do painel, vindo este a não interferir no ambiente, não provocar uma poluição visual. O trabalho de um guia no local considera-se importante, pois este poderia transmitir em maiores detalhes o que o painel não consegue, através da interpretação guiada, relacionando-se mais intimamente com o visitante, aguçando sua imaginação, levando-o a vivenciar o contexto histórico. Uma modalidade um pouco mais ousada que poderia ser incluída consiste na apresentação, uma representação teatral, da passagem do imperador pela ponte. Tal prática poderia ser adotada quando da visita de escolares no local.
            Outro aspecto no qual o processo interpretativo visa criar maiores conhecimentos dita sobre o atrativo natural do Recanto dos Papagaios, enfocando, portanto o rio, as espécies de flora e fauna presentes no local, bem como as piscinas represadas. Tais aspectos podem envolver o visitante, fazendo-o sentir apreço pela área e contribuir para a sensibilização ambiental. No concernente ao patrimônio natural, o meio mais eficiente a ser empregado seria  placas de identificação para as espécies de flora, aliado ao trabalho do intérprete para explaná-las, trabalhando, por exemplo, com grupos escolares abordando a educação ambiental em conjunto à educação patrimonial. Um painel contendo informações sobre as piscinas seria outro ponto interessante, poderia, por exemplo, explicar por meio de figuras como ocorre o represamento das águas, e apontar suas características. A própria ponte poderia ser utilizada em conjunto ao aspecto ambiental, ao utilizar, por exemplo, suas rochas para explicar as características geofísicas da região.
            Propõe-se assim motivar um trabalho futuro, constituindo este plano um primeiro passo, um ensaio para todo o processo que envolve a sua implantação. Cabe também estipular qual seria o material mais indicado para a confecção das placas e painéis, já que se trata de um local aberto, no qual as condições climáticas podem afetar diretamente sua durabilidade, e também estipular qual seria o custo desta implantação, quais as limitações do ambiente, bem como outros fatores que envolvem o trabalho de implantação de um programa interpretativo, sendo a parte orçamentária, de responsabilidade dos órgãos públicos envolvidos, não sendo escopo deste trabalho. A interação com as prefeituras municipais é de destaque, pois podem contribuir na divulgação do local, incluindo, por exemplo, em seus websites, informações e imagens do recanto, incentivando visitas de grupos escolares e buscando investimento para melhorias no local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Considerou-se pelo conceito teórico deste trabalho que a interpretação tem a capacidade de valorizar o patrimônio, bem como aumentar a satisfação e entendimento dos visitantes. Com a interpretação o patrimônio ganha vida, os valores patrimoniais são realçados e apresentados de maneira completa o objetiva, a fim de que os indivíduos ao entrarem em contato com o bem patrimonial entendam o que estão a visitar, passem a sentir apreço pelo bem patrimonial e venham assim a valorizá-lo enquanto patrimônio. A interpretação aqui é vista como uma ação pedagógica a qual se apóia em instrumentos, meios e técnicas interpretativas, capazes de auxiliar no trabalho de sensibilizar e educar o visitante que busca esses bens patrimoniais como atrativos a serem desfrutados, apropriados, durante a visitação.
            Averiguou-se por meio da observação empírica que não há qualquer meio interpretativo no Recanto dos Papagaios. O local peca nesse quesito, uma vez que o visitante não tem a oportunidade de obter informações e conhecimento sobre o patrimônio ali presente. O patrimônio natural e histórico-cultural do recanto deste modo não consegue ser mostrado, evidenciado como tal. Considera-se que se houvesse a interpretação os conteúdos pertinentes ao patrimônio seriam ressaltados, vindo o local a ser apropriado, de maneira intangível, pelos visitantes. Apresentaram-se assim, diferentes meios que podem vir a ser empregados com intuito de criar um sentido interpretativo na área em questão, um plano de ação, o qual é visto como um ensaio, uma base daquilo que se poderia alcançar num primeiro momento, sem necessidade de grandes aportes financeiros.
            Assim, conclui-se que a interpretação, uma vez aplicada no Recanto dos Papagaios, irá valorizar a experiência do visitante, a partir do momento que esta permite que os valores patrimoniais sejam realçados, contribuindo para a aprendizagem do público. Ao mostrar o aspecto natural, cultural e histórico que envolve o Recanto, tem-se a oportunidade de transformar uma simples visita em momento de aprendizagem, uma vez que as pessoas terão a oportunidade de sair do local com algo a mais do que entraram. É uma forma de agregar valor a estas e transmitir-lhes a importância dos bens patrimoniais, sejam eles naturais ou histórico-culturais. O que se propôs neste trabalho, análise empírica e proposição de um plano interpretativo para o local, foi desta forma, efetivado. Contudo este não se encerra aqui, visto a oportunidade de continuidade da proposta apresentada, sendo esta um um ensaio, um apontamento para futuros estudos e aplicações, criando perspectivas e apontando oportunidades para o desenvolvimento da área estudada.

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Recibido: 23/05/2016 Aceptado: Junio de 2017 Publicado: Julio de 2017

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