Revista: Turydes Revista Turismo y Desarrollo.
ISSN 1988-5261


A VITIVINICULTURA E O DESENVOLVIMENTO DO ENOTURISMO DE BITURUNA, PARANÁ

Autores e infomación del artículo

SAMPIETRO, Leidh Jeane*

Docente Substituta do curso de Tecnologia em Gastronomia da Universidade Federal de Pelotas, Brasil

leidhjs@gmail.com

Resumo: Este trabalho de pesquisa busca aprofundar a relação entre vitivinicultura e o enoturismo no município de Bituruna, estado do Paraná. A atividade da vitivinicultura é essencialmente agrícola e engloba o cultivo de uvas e a produção de vinhos. O segmento turístico associado ao vinho, o enoturismo, vem se desenvolvendo em muitos lugares no mundo e no Brasil. Em Bituruna a vitivinicultura teve início entre as décadas de 1930 e 1950 e o processo de turistificação do espaço vem ocorrendo lentamente. A pesquisa se caracteriza como qualitativa, realizada por meio do levantamento bibliográfico e entrevistas com os produtores de vinho e gestores do setor público. Os resultados indicaram que o enoturismo em Bituruna é incipiente, mas possui potencialidade para contribuir com o desenvolvimento da região.

Palavras-chave: Turismo – Enoturismo – Vitivinicultura – Vinho - Bituruna.

Resumen: Este trabajo de investigación busca profundizar la relación entre vitivinicultura y el enoturismo en el municipio de Bituruna, estado de Paraná. La actividad de la vitivinicultura es esencialmente agrícola y engloba el cultivo de uvas y la producción de vinos. El segmento turístico asociado al vino, el enoturismo, viene desarrollándose en muchos lugares en el mundo y en Brasil. En Bituruna la vitivinicultura se inició entre las décadas de 1930 y 1950 y el proceso de turistificación del espacio viene ocurriendo lentamente. La investigación se caracteriza como cualitativa, realizada por medio del levantamiento bibliográfico y entrevistas con los productores de vino y gestores del sector público. Los resultados indicaron que el enoturismo en Bituruna es incipiente, pero tiene potencial para contribuir con el desarrollo de la región.

Palabras-clave: Turismo - Enoturismo - Vitivinicultura - Vino - Bituruna.

Abstract: This research seeks to deepen the relationship between viticulture and wine tourism in the municipality of Bituruna, in the state of Paraná. The activity of winemaking is essentially agricultural and encompasses the cultivation of grapes and the production of wines. The tourism segment associated with wine, wine tourism, has been developing in many places in the world and in Brazil. In Bituruna, winemaking began in the 1930s and 1950s and the process of touristification of space has been occurring slowly. The research is characterized as qualitative, performed through the bibliographical survey and interviews with wine producers and public sector managers. The results indicated that the tourism in Bituruna is incipient, but it has the potential to contribute to the development of the region.

Keywords: Tourism - Wine tourism - Viticulture - Wine - Bituruna.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

SAMPIETRO, Leidh Jeane (2017): “A vitivinicultura e o desenvolvimento do enoturismo de Bituruna, Paraná”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 22 (junio 2017). En línea:
http://www.eumed.net/rev/turydes/22/enoturismo-bituruna.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes22enoturismo-bituruna


  1. INTRODUÇÃO

A vitivinicultura é uma atividade essencialmente agrícola englobando o cultivo das uvas e a elaboração de vinhos e derivados, que em seu desdobramento desperta grande atratividade turística em muitas regiões vinícolas espalhadas pelo mundo.
O turismo que a busca pelo mundo do vinho ocasiona, deu origem ao enoturismo, o termo é resultado da união de eno e turismo, sendo eno uma derivação do grego oînos e significa vinho (LOCKS; TONINI, 2005). O segmento turístico do enoturismo, conforme Valduga (2012) é caracterizado pelo:
 [...] deslocamento de pessoas, motivadas pelas propriedades organolépticas e por todo o contexto da degustação e elaboração de vinhos, bem como a apreciação das tradições, de cultura, gastronomia, das paisagens e tipicidades das regiões produtoras. (VALDUGA, 2012, p. 130).
 
No município de Bituruna (PR) as vinícolas foram constituídas pelas famílias de descendentes italianos que trouxeram consigo a tradição de seus antepassados no plantio de parreirais e na elaboração de vinhos. Com o passar dos anos as vinícolas foram se destacando na região, e, por conseguinte estimulando o desenvolvimento de um fluxo turístico.
O presente trabalho de pesquisa teve como objetivo aprofundar os estudos sobre a vitivinicultura e o enoturismo de Bituruna, visto que poucos estudos foram realizados nesta área no estado do Paraná. Compreender a interação entre a vitivinicultura e enoturismo pode viabilizar informações importantes para o pleno desenvolvimento dessa atividade. Deste modo, especificamente buscou-se o levantamento dos aspectos históricos, culturais e da produtividade vitivinícola, bem como as informações dos aspectos turísticos inerentes ao município de Bituruna.
A investigação foi fundamentada na abordagem de natureza qualitativa, metodologia que abrange diversos aspectos a serem considerados, como por exemplo, crenças, atitudes, valores e motivos. A pesquisa qualitativa justifica-se por ser uma forma adequada de entender a natureza de um fenômeno social, podendo estar presente até mesmo em informações colhidas por estudos quantitativos (RICHARDSON, 2007). Os dados foram obtidos pela pesquisa bibliográfica e pesquisa a campo.

  1.  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A abordagem metodológica do presente trabalho é qualitativa, esta se atenta na percepção do que ocorre em determinada situação, identificando não apenas as aparências presentes em certos acontecimentos, mas ocupa-se em conhecer a essência dos fatos (TRIVIÑOS, 1987).
A investigação iniciou-se a partir da pesquisa bibliográfica, basilar em qualquer trabalho de pesquisa. Em sequencia deu-se a elaboração de um instrumento para coleta de dados, que levou a preparação dos formulários de entrevista do tipo semiestruturada, baseado em outros trabalhos sobre o desenvolvimento do enoturismo, destacando-se Valduga (2007) e Baratieri (2010).
Para a escolha do público a ser estudado, o critério utilizado atentou-se na seleção dos atores sociais envolvidos diretamente com a vitivinicultura e com o turismo no município. Assim formaram-se os seguintes subgrupos:

  1. Subgrupo A: Proprietários do setor vitivinícola;
  2. Subgrupo B: Gestores públicos.

As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora, procedendo-se o prévio agendamento, bem como na ocasião das entrevistas colheram-se as devidas assinaturas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, anteriormente elaborado atendendo às normas do Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade de Caxias do Sul. 
A coleta de dados foi realizada entre os meses de setembro a dezembro de 2014, no município de Bituruna (PR), a aplicação das entrevistas compreendeu a participação dos dois subgrupos que totalizou o número de 7 (sete) entrevistados. Das quatro vinícolas existentes no município apenas três aderiram à pesquisa e uma se omitiu da participação, alegando falta de tempo. No subgrupo B as entrevistas foram realizadas com o secretário municipal de turismo e o presidente da Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Bituruna (APRUVIBI).
Diante dos dados coletados, utilizou-se o programa de planilha eletrônica Microsoft Excel® para a devida organização das informações e posterior análise. Na análise qualitativa dos dados, de acordo com Alves e Silva (1992) busca-se uma apreensão de significados na fala dos sujeitos, interligada ao contexto em que eles se inserem e delimitada pela abordagem conceitual do pesquisador. 

  1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

      3.1 A VITIVINICULTURA NO PARANÁ

A viticultura no Estado do Paraná data de meados do século XVI, no período da colonização, a fase de expansão da cultura da uva ocorreu posteriormente, em meados do século XIX, com o cultivo das variedades de uvas rústicas (americanas). Entre as variedades plantadas foram predominantes as cultivares Bordô (Terci), Goethe, Concord e Isabel entre outras (BOTELHO; PIRES, 2009).
Por volta de 1940, a viticultura foi estabelecida na região norte do Estado, em Londrina. Este empreendimento tornou-se próspero pelo incentivo do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR e de cooperativas agrícolas, principalmente por agricultores de descendência japonesa, e hoje é a região paranaense mais importante na produção de uvas de mesa (BOTELHO; PIRES, 2009).
Os primeiros vinhedos de uvas finas para vinho foram implantados no município de Maringá em 1989, através de um Projeto vitivinícola denominado Aljôfar, hoje pertencente a Vinícola Intervin Ltda. Por sua vez, as uvas americanas e híbridas foram introduzidas na região a partir da segunda metade da década de 1990, com o plantio da variedade Niágara Rosada visando o mercado de uvas de mesa (PROTAS, 2011).
Atualmente, além da produção na região norte, destacam-se outras três regiões produtoras no Paraná, sendo na região central, nos arredores de Curitiba; a oeste de Curitiba, com os municípios de Ponta Grossa, Palmeira, Rebouças e mais recentemente, Guarapuava; e ao sudeste, o cultivo da videira em Rio Negro, Mallet, União da Vitória, Bituruna e General Carneiro (BOTELHO; PIRES, 2009).
O Paraná ocupa a quarta posição em produção de uvas no Brasil (IBGE, 2014), apesar da boa produtividade existe escassez de informações sobre a vitivinicultura regional.  Cabe ressaltar a existência do importante programa de apoio à vitivinicultura desenvolvido pelo governo do Estado, que além de facilitar o crédito e a assistência técnica para o setor, através da Emater, isentou o Imposto de Circulação de Mercadorias – ICMS da industria vinícola (PROTAS, 2011).
Existe ainda uma viticultura pulverizada em diferentes regiões no estado paranaense, tanto com uvas americanas e híbridas, cultivadas em pequenas propriedades em plantios convencionais ou sob o regime de produção orgânica, quanto de uvas de variedades de Vitis vinifera, voltadas à produção de vinhos finos (PROTAS, 2011). A abrangência da vitivinicultura paranaense lhe permite a composição das mais variadas paisagens e riqueza de sabores, além de conferir a capacidade de motivar a procura turística como ocorre em outras regiões produtoras de vinho no país.

   3.2 REGIÕES ENOTURÍSTICAS PARANAENSES

Flores (2012) identificou oito zonas de interesse enoturístico no Paraná, que são: Norte, Bituruna, Colombo, Região Metropolitana, Santa Felicidade, Campo Largo, Piraquara e Toledo.  Dentre as zonas relacionadas, Campo Largo, Toledo e Norte ainda não possuem potencial enoturístico expressivo.
O principal roteiro de enoturismo no Paraná encontra-se em Santa Felicidade, que é uma região administrativa de Curitiba envolvendo 16 bairros, a sete km do centro. É um roteiro único no Brasil, pois está dentro de uma capital que é rodeada de área verde. Recebe milhares de pessoas ao dia e está em todos os pacotes turísticos de Curitiba (FLORES, 2012).
Santa Felicidade surgiu em 1878, quando imigrantes chegam do norte da Itália, inicialmente dedicavam-se à produção de queijos, vinhos e hortigranjeiros. Atualmente o roteiro possui cerca de 30 restaurantes e duas vinícolas. Nos finais de semana as vinícolas recebem mais de quatro mil visitantes, e assim o fluxo estimula a venda de praticamente toda a produção (com valor agregado) diretamente ao turista (FLORES, 2012).
Em Colombo, município situado na área metropolitana de Curitiba, as Festas do Vinho e da Uva são tradicionais, no mesmo parque em que se realizam as festas encontram-se o Memorial da Cultura Italiana e o Museu Italiano (FLORES, 2012). A rota do “Circuito Italiano de Turismo Rural” de Colombo, criada em 1999, oferece passeios pelas tradicionais vinícolas e cantinas de vinho em um ambiente marcado pela herança dos imigrantes italianos (TURISMO PARANÁ, 2015). Essa rota agrega empreendimentos como pesque-pague, criação de avestruz, orgânicos, igrejas, vinícolas, pousadas, restaurantes, embutidos, queijarias e locais para eventos (FLORES, 2012).
A Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo de São José dos Pinhais implantou a rota do “Caminho do Vinho”, seus principais atrativos são as cantinas, restaurantes e cafés coloniais. Outro destaque é a visita guiada através da Linha Turismo - Caminho do Vinho, que passa pelos pontos turísticos do circuito, entre eles os empreendimentos de lazer e as edificações típicas da colonização italiana (TURISMO PARANÁ, 2015). A gestão municipal também implantou o “Circuito Ecoturístico Taquaral”, que tem como objetivo estimular a produção de vinho e produtos coloniais e a preservação cultural, natural e dos atrativos turísticos da região (SÃO JOSÉ DOS PINHAIS, 2015).
Em Piraquara o audacioso e inovador complexo enoturístico “Cave Colinas de Pedra,” colocou o município na rota do enoturismo. Trata-se de um empreendimento com características peculiares, que abriga em um mesmo local a exuberância da mata atlântica e parte da história da centenária estrada de ferro Curitiba/Paranaguá (PIRAQUARA, 2015). O município de Piraquara é uma área de proteção ambiental, responsável por 50% do abastecimento de água da grande Curitiba. Devido às áreas de proteção, não é possível instalar indústrias e a economia é baseada no ICMS Ecológico. A gestão municipal em parceria com o Sebrae implantou um projeto de ecoturismo, o “Caminho Trentino nos Mananciais da Serra”, que agrupa restaurantes, hotéis e pousada, haras, e outros atrativos como agroindústrias, embutidos, queijarias, vinícolas, orquidários, pesque-pague, etc. (FLORES, 2012).
Uma das principais atrações do complexo enoturístico Cave Colinas de Pedra é o túnel colonial. Construído em 1883, o local abriga uma cave de envelhecimento de vinho espumante natural. O acesso até a cave é feito por uma plataforma elétrica, capaz de transportar até 15 passageiros, num trajeto de 154 metros. O empreendimento está integrado com a rota do trem que antes pertencia à Rede Ferroviária Federal e que passa pela propriedade, onde existe uma estação férrea datada de 1885 totalmente restaurada e passou a abrigar o restaurante e a loja do complexo (PIRAQUARA, 2015).
O município de Bituruna está entre as zonas enoturísticas paranaenses de destaque, possui quatro vinícolas que influenciaram na criação da Festa da Uva e do Vinho e, mais recentemente, na formação da Rota dos Vinhos, onde os enófilos encontram os vinhos coloniais e finos. Na culinária biturunense predomina a tipicidade da cozinha italiana, representada através dos seus pratos emblemáticos como a polenta, os salames, os queijos e os vinhos (BITURUNA, 2014).

  1.  RESULTADOS/DISCUSSÃO

O município de Bituruna se situa na região sudeste do Paraná, no domínio do Terceiro Planalto Paranaense e do Planalto de Palmas, distante 350 km a sudoeste de Curitiba e 15 km de União da Vitória (Figura 1). Com seu território abrangendo uma superfície de 1.238,121 km2(SIEDLECKI, 2001). É delimitado pelos municípios vizinhos de Cruz Machado, General Carneiro, Palmas, Pinhão, Porto Vitória e União da Vitória.
A infraestrutura de acesso ao município compreende as rodovias estaduais PR 170 e PR 446, e também as fluviovias disponibilizadas por três balsas que estão localizadas na zona rural. O aeroporto mais próximo se encontra a 133 km, situado no município de Guarapuava (SOUZA et al. 2006).
A população é de 16.416 habitantes, com índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,667, sendo considerado como alto índice (IBGE, 2014). Tem sua economia baseada na extração e beneficiamento da madeira, na indústria têxtil, na produção e beneficiamento de erva mate e na produção e comércio de vinhos e cachaça (BITURUNA, 2014).

Bituruna teve seu território permeado por bandeiras exploradoras desde o início do século XVII, a região era habitada por o grupo indígena dos "Ibiturunas", pertencendo aos Campos de Palmas (KRUGER, 2002). Seguindo a etimologia, a palavra “Bituruna” vem do tupi “bitur” (ybityr ou ybytyra), que significa monte, montanha; e “una”, que significa negro, preto; monte negro (FERREIRA, 2006).
No entanto, a ocupação do território só ocorreu na segunda década do século XX com a chegada de colonos. Segundo relatos e documentos da época, os primeiros moradores vinham em busca da promessa de riquezas naturais como a erva-mate e madeiras nativas, de grande valor econômico (KHATIB, 1969). O município de Bituruna foi criado oficialmente em 26 de novembro de 1954, pela Lei Estadual n.º 253, com território desmembrado do município de Palmas (FERREIRA, 2006).
A vitivinicultura de Bituruna, nas décadas de 1960 e 1970, representava a grande promessa da economia, e nessa época o poder executivo instituiu a Exposição Vinícola que representava o mais importante evento festivo da cidade (BITURUNA, 2014). Tempos depois, a exposição originou a festa tradicional do município: a Festa da Uva, realizada anualmente. A festa ocorre no Centro de eventos municipal, geralmente no mês de fevereiro, e em 2015 foi realizada a sua 24ª edição, acontecendo associada ao rodeio crioulo, em parceria com o CTG - Centro de Tradições Gaúchas Chapéu Tapeado (BITURUNA, 2014). 
A Festa do Vinho em Bituruna teve a sua 9ª edição festejada no mês de agosto em 2015, sua primeira edição foi no ano de 2001, tornou-se uma vitrine para a divulgação do vinho local, porém a regularidade da festa não é definida (FAEP, 2014). É organizada pela Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Bituruna (APRUVIBI) com apoio da Prefeitura Municipal, é considerada a maior do gênero no sul do Paraná. A programação da festividade prevê inúmeras atrações, entre elas, a polenta em metro, sangria de barril, competições esportivas, apresentações musicais e culturais, baile e um encontro regional da melhor idade (TURISMO PARANÁ, 2015).
Em homenagem aos vitivinicultores, construiu-se um monumento conhecido como o “Trevo do Garrafão” em Bituruna (Figura 2), ele encontra-se localizado no entroncamento rodoviário da confluência da rodovia que liga a BR-153 (ao sul) a Bituruna e a rodovia estadual que liga Bituruna a Porto Vitória, PR 446 (a leste). O monumento é referência visual e paisagística no local (Bituruna, 2014).

A importância da vitivinicultura para o município também se revela na presença dos cachos de uva no brasão da cidade, na cor roxa da sua bandeira (Figura 3) e nas festas do Vinho e da Uva, que já se tornaram tradição na região (FAEP, 2014).

A produção vitivinícola do município de Bituruna é caracterizada pela presença de quatro vinícolas principais, que produzem vinho a partir de uvas de seus vinhedos próprios e de terceiros (PINTO, 2012). O município abriga 117 produtores de uva além das vinícolas, a atividade em 2014 se distribuiu por 108 hectares em produção e outros 19 hectares em formação, que em três anos passarão a produzir comercialmente (EMATER, 2014).
Atualmente a produção vitícola compreende os vinhos de mesa (coloniais), e os vinhos finos que são fruto de investimento dos últimos 10 anos (PINTO, 2012). O Quadro 1 apresenta a variedade nos tipos de vinhos.

O início do cultivo da uva e a produção de vinhos ocorreram entre as décadas de 1930 e 1950. Há uma predominância pelo cultivo das variedades Bordô e Isabel, grande parte dessas uvas fica destinada a produção de vinhos (Quadro 2).
Os proprietários das vinícolas A e B apresentam-se na faixa etária de 26 a 40 anos e são do sexo feminino, com a escolaridade de nível superior completo. Na vinícola C o proprietário encontrando-se na mesma faixa etária dos proprietários A e B e é do sexo masculino, com escolaridade de nível médio (2º grau). Todos são naturais do município e acreditam que a atividade que desenvolvem é uma ferramenta que contribui com a economia local.

Em geral, a contratação de mão de obra é temporária, e pode variar entre um a 15 funcionários/colaboradores, sendo todos oriundos do município.
Na evolução dos vinhedos cultivados, a produtividade foi apontada como fator de motivação para a escolha das variedades escolhidas, seguido pela tradição e mercado consumidor (Quadro 3).

        
As vinícolas estão inseridas em propriedades rurais que ocupam áreas de até 100 (cem) hectares. A dimensão das áreas de cultivo próprio das vinícolas demonstra um mesmo padrão de investimento entre as três vinícolas entrevistadas. Esse comportamento não se mantém na quantidade de uvas adquiridas para suprir a demanda de matéria-prima, a capacidade produtiva é diferenciada entre as vinícolas (Tabela 1).

Segundo o IBGE (2014) a safra de uvas de 2013 em Bituruna contabilizou 8.247 quilogramas por hectare cultivado, numa área colhida de 97 hectares no referido ano. De acordo com os dados, nota-se que dos 97 hectares da área colhida na produção de uva da safra de 2013, as três vinícolas juntas podem ter processado apenas a metade da safra de uvas de 2013, levando em consideração os valores detalhados na tabela 1.
De acordo com o artigo “Produção local de uva só atende metade da demanda por uva na região Centro Sul”, divulgado no site do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) em outubro de 2014, os produtores das vinícolas de Bituruna estão utilizando novas e modernas tecnologias para aumentar a produtividade local. Mas ainda assim, de acordo com os proprietários, a produção local é insuficiente e praticamente metade da uva utilizada nas cantinas da região é adquirida em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (EMATER, 2014).
Nesse sentido, o artigo exibido pela EMATER confirma um grande aumento na necessidade de uvas em 2014, levando à procura da matéria prima nos estados vizinhos para suprir a demanda da indústria vinícola, enquanto que o ano anterior esse fato não ocorreu. O aumento da necessidade de uvas demonstra um crescimento na indústria vinícola de Bituruna em relação ao ano anterior.
As vinícolas pesquisadas, em geral, têm na produção de vinhos o seu principal produto, havendo a ampliação na oferta de derivados pela Vinícola A e B ao produzirem o suco e doce de uva. A comercialização dos produtos nas Vinícolas B e C é efetuada através de representantes e também ocorre diretamente em suas cantinas. A Vinícola A realiza sua comercialização através da internet e dispõe de uma loja própria, localizada no centro da cidade, além de disponibilizar seus produtos em restaurantes e supermercados da região e municípios vizinhos (Quadro 4).

Em relação à divulgação do vinho de Bituruna, observa-se a confirmação da importância das duas festas no calendário municipal, a Festa da Uva e a Festa do Vinho, das quais todas as vinícolas participam. Segundo Valduga (2012), as festas contribuíram para a divulgação do vinho e da região produtora do Vale dos Vinhedos, as festividades regionais foram responsáveis por embasar o surgimento do fenômeno turístico na Serra Gaúcha. Assim pode-se dizer que Bituruna segue a mesma linha de atuação que embasou o turismo na Serra Gaúcha.
Quanto as características da visitação nas vinícolas (Quadro 5), todas permitem essa prática. Na vinícola A as visitações vem aumentando, mas na vinícola B a procura não é constante, e para a vinícola C sempre aparecem visitantes.

Quanto às atividades associadas com experiências enoturísticas, apenas a Vinícola A disponibiliza atividades associadas com a visitação, ampliando a oferta de serviços. As férias de janeiro/fevereiro coincidem com o período de vindima, ocasionando o aumento das visitações nas vinícolas. 
A Vinícola A acredita que o desenvolvimento do turismo é fator de incremento, e isso se traduz na oferta de serviços que incluem visitação ao museu, minicurso de degustação, almoço e degustação. No entanto, para as Vinícolas B e C o desenvolvimento do turismo não é importante apesar de receberem visitantes, pois mesmo com o número significativo de turistas, não há garantia de vendas e dessa forma o tempo dispensado na recepção não representa lucratividade, além de atrapalhar o andamento das atividades rotineiras da vinícola que são lucrativas. A contribuição do enoturismo é vista com descrédito pelas Vinícolas B e C, tendo a Vinícola B salientado a falta de lucratividade, enquanto que a Vinícola C acredita ser a região desfavorecida.
Todas as respostas admitem a procura por visitações por parte de turistas, mas somente a vinícola A olha o turismo como uma oportunidade de alavancar os negócios, enquanto os B e C tem uma visão negativa. Nesse sentido, a similaridade entre as vinícolas está na gestão familiar de seus empreendimentos, e para Vinícola B e C o comércio do vinho é a atividade verdadeiramente rentável. Essa constatação também foi encontrada por Valduga (2007), pois a grande maioria das empresas do Vale dos Vinhedos é familiar, o que faz com que a tarefa de atendimento ao público seja, por vezes, dividida com as demais atividades das organizações. 
De acordo com Seguro e Sarmento (2015), as atividades consideradas como básicas numa unidade de enoturismo, nas vinícolas portuguesas pesquisadas (79%) são: provas de vinho; visitas guiadas às instalações e vinhas; e ainda a existência de loja. As vinícolas portuguesas articulam parcerias com outras empresas de animação turística e agências de viagens. A gestão da Vinícola A aproxima-se do modelo português de gestão turística, e é a única que vem buscando desenvolver parcerias com outros setores para que juntos possam proporcionar a ampliação da oferta de serviços ao turista/visitante.
A entrevista com os gestores públicos visou conhecer as ações que se voltam à gestão do turismo no município. Os gestores participantes da pesquisa foram o secretário municipal de turismo e o presidente da associação de produtores de uva e vinho de Bituruna (APRUVIBI), os entrevistados são residentes do município, com idade entre 26 a 50 anos, ambos do sexo masculino e possuem a formação de nível superior.
O enoturismo, para os gestores públicos, é reconhecido como fator importante para o desenvolvimento do município. Atribuíram às duas festas municipais como as ações que são destinadas ao desenvolvimento do turismo, o gestor B inclui a participação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR na prestação de assessoria ao município.
A figura 4 descreve os elementos que são relevantes para o enoturismo, os valores consideram a ordem crescente, a nota um (1) equivalendo a mínima importância e a nota cinco (5) para a máxima importância. Os elementos “vinícolas conhecidas” e “bom atendimento” obtiveram a maior pontuação, são elementos associados ao setor de vendas e remetem a rentabilidade da atividade vinícola. Na sequencia receberam a mesma pontuação os elementos “paisagens”, “hospitalidade” e “hotéis e pousadas”. A “paisagem” relaciona-se ao meio ambiente vitivinícola que deriva em consequência da atividade, é passível de alterações e permite ser trabalhada agregando força expressiva ao cenário turístico.

A “hospitalidade” é fator determinante na permanência de um visitante num local e também o seu retorno, os meios de hospedagem “hotéis e pousadas” encontram-se diretamente relacionados.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
As características geográficas, históricas e culturais que constituem a região de Bituruna favorecem atividade de vitivinicultura e o desenvolvimento do enoturismo. O município não possuem pontos turísticos estruturados, a implantação da Rota dos Vinhos contribuiu na divulgação do município, bem como os eventos como a Festa da Uva e a Festa do Vinho que já fazem parte do calendário anual da urbe.
A produção vitivinícola aliada aos aspectos culturais do município revelou-se adequada para a oferta turística de Bituruna e possibilita ao enoturismo o espaço para se desenvolver, assim como ocorre em outras regiões enoturísticas pelo mundo.
O enoturismo é uma prática que vem ocorrendo nas vinícolas de Bituruna e a sua influência na vitivinicultura local foi concebida como insatisfatória por parte de duas das vinícolas pesquisadas, porém a terceira vinícola acredita na capacidade produtiva desse segmento turístico.
Entrementes se percebe que há muito a se fazer, haja vista que mesmo havendo o interesse do Poder Público, existe muita dificuldade no que tange ao desenvolvimento de ações efetivas para se estabelecer uma gestão que fomente o turismo em Bituruna. É essencial que haja a percepção dos benefícios do turismo, atentando-se para a sua importância econômica e sociocultural, promovendo dessa maneira, o bom relacionamento entre os gestores, comunidade e o meio ambiente.
Notou-se que para o município o enoturismo revela-se como uma importante proposta de desenvolvimento local, visto que ademais de cultivar os valores e manter a tradição na produção de vinhos o turismo contribui com a economia municipal. Para haver o desenvolvimento efetivo do enoturismo em Bituruna faz-se necessário investimento público e é essencial o interesse da iniciativa privada em promover novos negócios, tendo em vista a grande capacidade do setor turístico em gerar demanda favorável, assemelhando-se ao exemplo de destino enoturístico do Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul.
Deste modo, questionamentos surgem e observações podem ser feitas em relação ao trabalho realizado. Um estudo visando confrontar os modelos de gestão enoturística poderia ser importante para se estabelecer a viabilidade econômica atrelada ao enoturismo, observando-se que a rentabilidade é um fator importante em qualquer empreendimento.
Considerando-se as limitações que não permitiram o aprofundamento de algumas questões relacionadas ao enoturismo, como o levantamento dos aspectos econômicos atrelados a essa atividade no município, por tratar-se de um fenômeno recente na região, ainda assim espera-se ter contribuído de alguma maneira para os estudos sobre enoturismo.

6  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARATIERI, F. L. A produção de vinhos finos de altitude na região vitivinícola de São Joaquim (SC): uma alternativa para o turismo? Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria) Univali, Balneário Camboriú: 2010.

BITURUNA. Prefeitura Municipal de Bituruna. Aspectos históricos. Disponível em <http://www.bituruna.pr.gov.br/base.php?id=historia> Acesso em: out. de 2013.

_________ Prefeitura Municipal de Bituruna. Turismo. Disponível em:   <http://www.bituruna.pr.gov.br/turismo>. Acesso em: Nov. de 2014.

BOTELHO, R. V.; PIRES, E. J. P. Viticultura Como Opção De Desenvolvimento Para Os Campos Gerais. In: II Encontro de fruticultura dos Campos Gerais, Ponta Grossa, 2009. Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR: 2009.

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Recibido: 30/05/2016 Aceptado: Junio de 2017 Publicado: Julio de 2017

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