Revista: Turydes Revista Turismo y Desarrollo. ISSN 1988-5261


PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO: PERSPECTIVAS PARA SE PENSAR O TURISMO EM COMUNIDADES RURAIS

Autores e infomación del artículo

Carla Caroline Holm*

Universidade Estadual do Paraná, Brasil

karol_holm@hotmail.com

Resumo: Este trabalho tratou sobre o planejamento participativo do turismo com vistas ao desenvolvimento comunitário rural. A escolha se deu em razão da necessidade de ampliar a discussão sobre a temática de forma que este modelo de planejamento torne-se mais aplicado, deixando que a proposta saia da teoria e mostre seus benefícios na prática. Assim, o objetivo geral deste trabalho foi descrever sobre as contribuições do planejamento turístico participativo no processo de desenvolvimento de comunidades rurais. A pesquisa teve caráter qualitativo e como parte dos resultados, chegou-se a conclusão de que o planejamento visa orientar para intervenções bem sucedidas e quando ele é operacionalizado de modo participativo há chances de todos os atores sociais envolvidos serem beneficiados. Intenta-se com esta discussão fomentar reflexões sobre a prática do planejamento integrado, de modo que todos os envolvidos, direta e indiretamente, na atividade possam participar ativamente na tomada de decisões relacionadas ao turismo, assegurando assim uma prática efetiva da participação comunitária no desenvolvimento das localidades.

Palavras-chave: Turismo, Planejamento turístico, Planejamento participativo, Desenvolvimento comunitário, Comunidades rurais

Abstract: This paper deals with participatory tourism planning for rural community development. The choice was made due to the need to broaden the discussion about the theme in such a way that this planning model becomes more applied, leaving the proposal to leave the theory and show its benefits in practice. Thus, the general objective of this work was to describe the contributions of participatory tourism planning in the process of developing rural communities. The research had a qualitative character and as part of the results, it was concluded that the planning aims to guide successful interventions and when it is operationalized in a participatory way there is a chance that all the social actors involved will be benefited. The aim of this discussion is to foster reflections on the practice of integrated planning, so that all those directly and indirectly involved in the activity can actively participate in tourism-related decision-making, thus ensuring an effective practice of community participation in the development of locations.

Key-words: Tourism; Tourism planning; Participatory planning; Community development; Rural communities.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Carla Caroline Holm (2016): “Planejamento participativo e desenvolvimento comunitário: perspectivas para se pensar o turismo em comunidades rurais”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 21 (diciembre 2016). En línea:
http://www.eumed.net/rev/turydes/21/comunidades.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes21comunidades


  1. INTRODUÇÃO

Estimular a prática do turismo para movimentar a economia das localidades tem sido uma prática constante, pois afirma-se que para que a atividade se desenvolva e traga benefícios para os empreendedores é preciso de pouco. Pouco investimento, pouca estrutura e, por sua vez, pouco planejamento. Que esta é uma afirmação baseada somente em ganhos econômicos e de curto prazo, ninguém duvida, todavia assim como qualquer outra atividade do mercado capitalista, para garantir a sustentação do turismo no mercado competitivo, fazendo com que este ofereça cada vez mais produtos e serviços de qualidade e que tragam outros benefícios também a médio e longo prazo é preciso investimento de tempo e recursos. Com isto, atesta-se que para o bom desempenho do turismo como atividade econômica e social faz-se necessário inicialmente um planejamento adequado.
Compreende-se por planejamento turístico a organização de ideias e ações orientadas para o futuro (PETROCCHI, 2002; DIAS, 2008) e a partir dele é possível conhecer uma realidade, suas potencialidades e limitações, para que sejam trabalhadas atividades que tragam benefícios para a localidade e moradores dela. Neste sentido, afirma-se que o planejamento é ferramenta essencial para a organização de uma localidade que deseja ter no turismo uma atividade econômica e que traga consigo benefícios em outras esferas, atingindo-se assim o ideal de desenvolvimento local/comunitário (RUSCHMANN, WIDMER apud ANSARAH, 2000).
Para que tal planejamento seja adequado para a implantação e/ou organização da atividade turística, faz-se preciso incluir nele todos os agentes que estarão relacionados com a atividade, sendo órgãos do setor, agências de fomento, empreendedores e comunidade, assegurando aos envolvidos participação efetiva no processo de desenvolvimento por meio do turismo (TONON, CARDOZO, 2011), dito isto, compreende-se que o planejamento participativo é uma ferramenta que garante avaliação macro dos impactos da atividade no meio em que ela se dá.
Se tais afirmações baseadas em estudos disponíveis na comunidade científica mostram a viabilidade do planejamento participativo como ferramenta para a prática do turismo e desenvolvimento comunitário, por que na prática o planejamento participativo ainda é negligenciado? Por que muitas comunidades que possuem potencialidade para o turismo não conseguem organizar a atividade de modo que esta assegure benefícios para todos os que estão direta e indiretamente envolvidos? Estas são indagações primárias que comprovam a carência de um aprofundamento no que diz respeito aos benefícios do planejamento participativo do turismo como colaborador no processo de desenvolvimento comunitário.
Muito se fala da inclusão de agentes e sujeitos da sociedade para a discussão da temática, mas pouco se tem comprovado a eficiência deste modelo de planejamento e, tendo este cenário, aqui intenta-se estimular a reflexão acerca do planejamento e desenvolvimento comunitário de maneira plena. Para tal, utiliza-se como recorte de pesquisa comunidades rurais, que geralmente originaram-se para a prática de atividades agropecuárias, porém com a mudança da economia de maneira geral, se veem obrigadas a diversificar suas práticas; tendo a partir disto a inclusão do turismo como uma nova atividade no campo.
Sendo assim, a problemática que este trabalho busca responder é: como pode o planejamento participativo do turismo colaborar no processo de desenvolvimento de comunidades rurais?
O uso do espaço rural para a prática do turismo é relativamente recente, quando comparado a outros segmentos da atividade já consolidados, todavia tem se mostrado como um mercado em ascensão por oferecer aqueles que viajam uma experiência turística diferenciada e que aproxima o visitante da realidade do local visitado. Deste modo, percebe-se a necessidade de planejar estes destinos, de modo a garantir uma prática que contribua para o desenvolvimento destas localidades e dito isto, pode ser comprovado que dedicar-se ao planejamento turístico de comunidades rurais também é uma necessidade.
Quando elaborado um planejamento turístico adequado à realidade dos locais que desejam a atividade é possível avaliar os impactos desta para o meio e, mais que isto, é possível preparar-se para as transformações que ocorrerão, minimizando deste modo os impactos negativos e potencializando os benefícios agregados à prática do turismo. Com base nisso, o objetivo geral do presente trabalho consiste em descrever de que modo o planejamento participativo pode contribuir com o desenvolvimento de comunidades rurais.
Compreender o fenômeno turístico e suas implicações no processo de desenvolvimento tem sido uma constante em pesquisas científicas de diferentes áreas do conhecimento, todavia tais pesquisas envolvendo as duas temáticas geralmente estão pautadas na apresentação de números que justificam a viabilidade da prática do turismo para garantir o desenvolvimento das localidades. Desta forma, a pesquisa aqui proposta vem na contramão do fluxo, uma vez que pauta-se numa discussão sobre o que é de fato o desenvolvimento comunitário e de que forma o turismo pode contribuir para tal.
Sabendo que o desenvolvimento não justifica-se apenas em números e cifras e que o turismo ocorrendo de maneira desordenada não traz benefícios para as localidades em que é praticado, este estudo foca no processo de planejamento da atividade, baseando-se no modelo de participação. Assim, a presente pesquisa é de caráter qualitativo, visando compreender a importância do planejamento turístico participativo no processo de desenvolvimento comunitário de comunidades rurais, para tanto a busca pela resposta do objetivo proposto deu-se por meio de uma revisão bibliográfica apoiada nas temáticas centrais da pesquisa, a saber, turismo e planejamento participativo; desenvolvimento comunitário; e comunidades rurais.  Nota-se que a discussão aqui proposta é apenas uma parte do que pode ser realizado com a temática do planejamento turístico participativo e desenvolvimento comunitário rural, haja vista as múltiplas oportunidades que o campo de pesquisa oferece, neste sentido, intenta-se com este trabalho estimular ainda mais a investigação do turismo como uma ferramenta que contribua para o desenvolvimento comunitário, colocando desta vez em evidência comunidades que podem e devem diversificar suas atividades no campo.

2.  o estímulo ao TURISMO como uma atividade alternativa para as realidades econômica e social do meio rural

2.1. Planejamento turístico para a transformação de realidades rurais

A atividade turística é compreendida como um importante fator que traz significativos benefícios seja porque gera empregos ou porque fomenta o consumo transformando as realidades sociais onde ela se dá. O pensar em turismo, contudo, não deve levar em consideração apenas a geração de renda e o que esta pode proporcionar, é preciso analisar os impactos gerados pela atividade. Desta forma, é fato que estes locais que desejam desenvolver o turismo e que tenham condições para tal tracem metas e objetivos a fim de organizar a atividade buscando a maximização dos seus benefícios, fazendo deste modo uso do planejamento turístico para melhor prática da atividade.
Durante o planejamento do turismo é possível reconhecer as fragilidades e potencialidades locais e a partir disso corrigi-las ou melhor explora-las. Assim, compreende-se que planejar uma localidade para que receba o turismo é um desafio, haja vista a necessidade preocupar-se com o já existente e/ou tornar este lugar apto para ser explorado por uma prática que utiliza-se do espaço e tudo aquilo que nele está inserido para sua execução. O planejamento do turismo deste modo consiste em
enquadrar os projetos no contexto da planificação geral, definindo-os não somente em suas relações com os critérios de rentabilidade de mercado, mas também levando em consideração os aspectos naturais, sociais e culturais (ASCARENZA, 1987 apud CÉSAR, 2011: 83).
A finalidade do planejamento turístico é, portanto, avaliar a localidade em que será desenvolvida a atividade para que a execução de tal se dê da melhor forma.
Quando pensando em comunidades rurais nota-se que a organização destas não se deu prioritariamente em função do turismo, todavia ele vem compondo o cenário socioeconômico destas localidades e transformando a realidade dos moradores; o turismo desenvolvido em áreas rurais é parte relativamente recente da atividade, isto porque as comunidades rurais geralmente estavam voltadas para a prática de atividades agropecuárias. As comunidades rurais sempre foram responsáveis pelo desenvolvimento de atividades ligadas à agropecuária sustentando deste modo as necessidades da sociedade de modo geral; todavia percebeu-se que ficou cada vez mais difícil para pequenos produtores manterem-se no mercado com a oferta destes produtos do campo em virtude da existência de grandes proprietários que, com suas áreas produtivas, atendem às necessidades de consumo da sociedade de maneira satisfatória, assim a realidade do meio rural vem aos poucos mudando porque ser produtivo tem exigido a concentração de grandes áreas e com isto os pequenos produtores não conseguem manter-se no mercado competitivo, sendo muitas vezes obrigados a vender suas terras e mudar-se para as áreas urbanas, alterando suas ocupações de atividades campestres para atividades relacionadas à indústria e comercio, apenas para exemplificar (ARAÚJO, 2010).
Diante de tal panorama, diversificar o uso do campo e as atividades a ele relacionadas fez-se um imperativo para os pequenos produtores rurais e com isto entra em cena como uma das alternativas na geração de emprego e renda a atividade turística, que tem o consumo do espaço e o que nele está inserido como o seu principal motor de funcionamento (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2003; ARAÚJO, 2010; TULIK, 2010). Deste modo, a crise sofrida pelos pequenos proprietários no agronegócio mostrou-se como uma oportunidade para a prática da atividade turística neste ambiente, fortalecendo a economia destas localidades e sendo um agente que contribui para a inocorrência do êxodo rural.
O turismo ganhou espaço de desenvolvimento, utilizando-se da paisagem e o que nela está inserido para a sua prática e a partir disto a atividade tem contribuído para que pequenos proprietários de terras permaneçam no meio rural e iniciem uma diversificação na oferta de produtos e serviços relacionados ao lazer (ARAÚJO, 2010; TULIK, 2010). Para além disso, a prática do turismo em áreas rurais tem conferido benefícios sociais, econômicos e ambientais, haja vista a transformação menos agressiva ao meio em que se desenvolve (WANDSHEER E TEIXEIRA, 2010).
O desenvolvimento do turismo na atualidade oferece “novas possibilidades de trabalho para o conjunto de mão de obra familiar, contribuindo para o aumento de renda e para uma visível melhoria das condições de vida por parte da população local” (MIELKE, 2009:20) e por isto mostra-se enquanto uma alternativa viável a ser melhor explorada nos cenários rurais. Com isto, faz-se necessário pensar que a prática do turismo nestas comunidades deve ser cuidadosamente planejada, de modo a garantir aos moradores o desenvolvimento comunitário atrelado a uma prática viável e que agregue valor ao meio e à cultura rural dos moradores.

2.2 Planejamento participativo com vistas ao desenvolvimento comunitário

Para que as transformações necessárias para a prática do turismo não impliquem na perda de características do rural faz-se necessário o engajamento do maior número de interessados na atividade, principalmente os moradores destas localidades, por serem eles os agentes que estarão em contato direto com o visitante; neste sentido, pode-se afirmar a importância de um planejamento eficiente para que o turismo atue em harmonia com o meio e com a sociedade que nele está inserido e sobre isto, faz-se necessário destacar que o planejamento do turismo em comunidades rurais deve dar-se de maneira participativa, de modo que os interesses de todos os envolvidos no processo sejam colocados em evidência, assegurando deste modo uma prática inclusiva e benéfica para estas localidades (CARDOZO et al, 2016).
Compreende-se pois que o planejamento participativo é uma alternativa que pode se enquadrar nas necessidades dos moradores de comunidades rurais, para Vignat (2008:230) ele é tido como “uma resposta da sociedade à necessidade de assegurar que as decisões políticas atendam a interesses públicos legítimos e que a continuidade não se veja afetada pelas mudanças do governo”. O autor afirma ainda que executar o planejamento do turismo de maneira participativa é um desafio, posto que é preciso que os interesses individuais abram espaço para a defesa de interesses coletivos, assegurando que o reflexo das ações possam ser sentidos por todos os envolvidos no processo de planejamento e execução da atividade. Para Mielke (2009:104) o planejamento participativo na atividade turística existe para que “todos os atores sociais, em algum momento, desempenhem um papel fundamental ao sucesso da estruturação e venda dos produtos turísticos regionais”.
Dito isto, nota-se que é possível existir êxito na prática da exploração do meio rural pelo turismo, entretanto é necessário o engajamento das esferas pública, privada e comunidade local para o planejamento e efetivação das ações com vistas ao sucesso da atividade e consequente desenvolvimento comunitário. Para Tonon e Cardozo (2011) o planejamento participativo é um exercício de cidadania, pois além das propostas lançadas para a transformação de dada localidade ele permite que todos os envolvidos sejam corresponsáveis pela prática das ações e supervisão dos resultados obtidos; além disso, é preciso tornar este tipo de estratégia uma prática mais cotidiana quando pensado na melhora da qualidade de vida de todos, pois neste modelo de planejamento as decisões tomadas como essenciais para a transformação local são amplamente discutidas e só tomadas a partir do momento em que demonstram benefícios para a maioria dos envolvidos.
Reafirmando esta ideia, o planejamento participativo é entendido por Barretto (2005) como uma maneira de valorizar o saber e o ideal da comunidade que está buscando melhorar dada realidade; para Molina e Rodriguez Abitia (1987 apud BARRETTO, 2005), no caso específico do turismo, o planejamento participativo só é possível a partir do momento em que envolve todos os setores da sociedade e todos os indivíduos dela, pois isso reafirma o compromisso de todos os sujeitos na prática das ações previamente decididas em conjunto. Para Holm e Cardozo (2013: 09)

é correto afirmar que não basta apenas desejar o turismo, mas faz-se necessário o planejamento e a integração de diferentes saberes e sujeitos para que o sucesso de sua execução seja atingido, tendo em vista que necessita do envolvimento não apenas dos gestores da atividade, mas também dos próprios membros da comunidade, bem como daqueles que da atividade irão fruir.

A partir da existência de um modelo de planejamento que considere as percepções de todos os que serão afetados pela atividade, é possível caminhar com mais foco rumo ao desenvolvimento da comunidade que vê no espaço em que habita a possibilidade de fomentar a prática do turismo e esta assertiva aplica-se adequadamente ao contexto rural, em que o espírito comunitário ainda prevalece para a tomada de decisões que impliquem em transformações para a coletividade.

2.3 Aplicação do planejamento participativo do turismo no meio rural para haver desenvolvimento comunitário

            O turismo carrega consigo hoje um fardo de ser o salvador das economias locais, quando na verdade ele é uma parte do processo necessário para que tal fato ocorra. O engajamento coletivo é imperativo para que o turismo contribua no processo de desenvolvimento de comunidades rurais (e não rurais), deste modo, considera-se que o desenvolvimento de maneira plena só acontece quando há melhora na qualidade de vida dos sujeitos que vivem em determinada localidade, ele é visto como um processo no qual encaixam-se as esferas econômica, social e ambiental em que a comunidade pode lograr dos benefícios em curto, médio e longo prazo (SOUZA, 2005).
Para o Ministério do Turismo (2010) quando o turismo é planejado adequadamente para a apropriação do espaço rural é possível que ele contribua para a reestruturação econômica e social, mas mais que isto, que ele fomente a valorização da cultural local e do ambiente em que os sujeitos estão inseridos. Desta forma, pode-se afirmar que a prática do turismo em áreas rurais é uma oportunidade para que haja melhora na qualidade de vida tanto do visitante quanto do visitado e atrelado a isto é possível promover o desenvolvimento de maneira plena, conforme apregoa Souza (2005).
Rodríguez, Fernández e Campos (2013) dizem que o turismo por si só não é capaz de transformar a realidade de dada localidade, contudo a atividade pode contribuir para que benefícios sociais, ambientais e econômicos sejam logrados pelas pessoas que nela habitam; no caso do rural, o turismo não mostra-se como o salvador da economia ou ainda como o gerador de fluxos de recursos tamanhos quando comparado à agropecuária, mas é possível que por meio de um planejamento adequado e participativo dele haja uma melhora na vida dos moradores que já possuem a matéria-prima para que a atividade aconteça.
Tal maneira de planejar e executar o turismo, embora seja um desafio, é uma das possibilidades que mais se aproxima de atingir o objetivo do desenvolvimento comunitário, uma vez que este é entendido como um processo de superação de problemas por meio da integração de diferentes saberes e sujeitos (RASTREPO, 2008; GUTIÉRREZ, 2013; HOLM, 2015). Para tais autores, o desenvolvimento comunitário só é possível a partir do momento em que objetivos comuns sejam alcançados e melhorem a realidade local. Dito isto, percebe-se que o planejamento turístico participativo pode contribuir para o desenvolvimento de comunidades rurais, sendo uma forma de alcançar benefícios coletivos e transformando uma realidade que ora estava vinculada somente a atividades campestres e que não necessariamente atendia as necessidades dos moradores locais.
Rastrepo (2008) e Gutiérrez (2013) são categóricos ao dizer que o desenvolvimento comunitário pode ser compreendido como uma busca constante de melhoramento da realidade de agrupamento de pessoas, portanto, é notável a importância de envolver todos os atores sociais interessados na discussão do turismo, porque isto reforça a ideia de supervisão das ações desenvolvidas no local conforme dito anteriormente.
Para o BID (2009) o desenvolvimento comunitário é uma forma de promover o desenvolvimento harmônico de dada localidade. Rastrepo (2008) diz que o desenvolvimento comunitário se dá a partir da união de quatro elementos, a saber, ser, fazer, participar e decidir. Com tal assertiva é possível atestar que a ideia de planejamento participativo e desenvolvimento comunitário estão alinhados e podem ser aplicados na atividade turística, uma vez que ela é dependente de uma série de fatores e indivíduos que, pensando e agindo de maneira coletiva, conseguem trazer benefícios múltiplos para as localidades em que se desenvolve.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto pode-se notar a importância de discutir o planejamento turístico participativo quando escolhida tal atividade para compor o cenário de comunidades rurais, pois o este tipo de planejamento mostra-se como uma alternativa viável para contribuir no processo de desenvolvimento comunitário, todavia devido aos desafios de sua execução, por dar voz e vez a todos os agentes sociais da comunidade, ainda é pouco utilizando, provando deste modo que ainda há carência de discussões que tornem sua prática uma constante.
É sabido que o turismo contribui para o desenvolvimento local, sobretudo no que diz respeito aos aspectos econômico e social, deste modo, passou-se a acreditar que se ele for pensado envolvendo a coletividade de indivíduos direta e indiretamente afetados pela sua prática pode-se garantir o desenvolvimento comunitário via planejamento participativo e/ou integrado.
Atestou-se por meio da revisão bibliográfica empreendida que as comunidades rurais ainda estão apoiadas no modelo participativo e/ou de cooperação, uma vez que são agrupamentos que abrigam pequenos produtores e que organizam-se de forma comunitária para manterem seus negócios (geralmente relacionados à agricultura familiar e/ou criação de animais de pequeno porte); portanto para a exploração do turismo nestas localidades é possível que o modelo de planejamento participativo seja o mais adequado, por valorizar a coletividade, bem como a realidade do cotidiano desses sujeitos sociais.
Os autores utilizados como base para a realização da presente discussão permitiram fazer uma série de levantamento de possibilidades de atividades que podem ser exploradas pelo turismo nestas comunidades rurais, sendo por exemplo a vivência do cotidiano rurícola, oferta da culinária local, atividades no meio natural, tais como pesca, cavalgada, trilhas, lida com os animais, etc. Para além disso, a cultura das comunidades é um diferencial que pode ser utilizado na experienciação turística; ela pode estar manifestada na crença, arquitetura, manifestações artísticas e saber fazer, somente para ilustrar, e isto se estiver em acordo com o desejo dos residentes e fizer parte das estratégias de ação definidas coletivamente para a exploração do turismo, podem por si só atrair a demanda e com isto ser uma possibilidade de desenvolvimento das comunidades rurais que veem no turismo uma alternativa de atividade para a diversificação da oferta do campo.
Deste modo, investir em descobertas teóricas e práticas acerca da viabilidade do planejamento turístico participativo com vistas ao desenvolvimento comunitário é uma necessidade para a produção do conhecimento, contribuindo assim para a implantação de novos modelos de gestão em comunidades rurais localizadas em distintos lugares. Implantar tal modelo de gestão buscando o desenvolvimento destas comunidades é uma maneira de assegurar a permanência dos moradores do campo envolvido em atividades econômicas que tragam ao seu turno benefícios também nas esferas social e ambiental, contribuindo deste modo que as localidades ofereçam produtos e serviços turísticos de qualidade, além de que permaneçam residindo em comunidades desenvolvidas e que contam com a oferta de uma qualidade de vida suficientemente boa.

           
4. Referências

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* Bacharel em Turismo (2010) e Mestre em Desenvolvimento Comunitário (2015) pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e professora do curso de Turismo e Meio Ambiente da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Desenvolveu pesquisas acadêmicas nas áreas de Planejamento e Organização do Turismo; Gestão de Pessoas na Hotelaria; e Cultura e Desenvolvimento Comunitário. Atualmente realiza pesquisas que abordam temas relacionados ao Turismo, Antropologia e Geografia, tais como planejamento, migrações, território, identidade, patrimônio cultural, manifestações culturais e desenvolvimento comunitário.
Recibido: 02/12/2016 Aceptado: 11/12/2016 Publicado: Diciembre de 2016

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