Revista: Turydes Revista Turismo y Desarrollo. ISSN 1988-5261


EDUCAÇÃO E INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL: elaboração de um plano interpretativo para a Casa da Cultura de Irati-PR

Autores e infomación del artículo

Diego Geovan dos Reis*

Leandro Baptista**

Poliana Fabíula Cardozo***

Universidade Estadual do Centro-Oeste / Universidade de Caxias do Sul, Brasil

diego.gdosreis@gmail.com

RESUMO

Esta pesquisa visa analisar a importância da educação e interpretação patrimonial para a conservação dos edifícios históricos e então, com foco em um estudo de caso distinto, a Casa da Cultura, localizada na cidade de Irati, estado do Paraná, Brasil, desenvolver um plano interpretativo para o local. A metodologia é literária, documental e empírica, analisando a atual situação do sítio estudado para que então fosse desenvolvido o referido plano interpretativo. Os resultados deste trabalho são ao mesmo tempo conceituais, pois fundamentam a importância do objeto de estudos para o recorte espacial no qual está inserido e sua comunidade, e também funcionais, pois apresentam de forma empírica as possíveis ações à serem tomadas na consecução do projeto interpretativo.

Palavras-chave: Educação, Patrimônio, Interpretação Patrimonial, Turismo.

EDUCATION AND HERITAGE INTERPRETATION: the development of an interpretive plan for the Irati-PR Culture House.

ABSTRACT

This research aims to analyze the importance of education and heritage interpretation for the conservation of historic buildings, focused on a distinct case of study, the House of Culture, located in the city of Irati, state of Paraná, Brazil, then to develop an interpretive plan for the building. The methodology consists of literacy, documental and empirical work, analyzing the current situation of the study sites allowing this interpretive plan to be developed. The results of this work are both, conceptual, because it underlines the importance of the study on this object to the spatial area in which it is located and the local community, and also functional, since it has empirically possible actions to be taken in achieving the interpretive project.

Keywords: Education; Heritage; Heritage interpretation; Tourism.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Diego Geovan dos Reis, Leandro Baptista y Poliana Fabíula Cardozo (2016): “Educação e interpretação patrimonial: elaboração de um plano interpretativo para a Casa da Cultura de Irati-PR”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 20 (junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/20/irati.html


 INTRODUÇÃO

Preservar a identidade cultural concentrada em bens materiais e imateriais de um grupo social ou região é parte fundamental do processo de compreensão dos modos de vida e sua evolução pelos quais as pessoas passam ao longo dos anos. Sabe-se que nem sempre é possível preservar essa identidade com a mesma velocidade com a qual ela é modificada. Além da modernidade, que demanda constante evolução e faz com que antigas construções sejam demolidas para que novas sejam colocadas em seu lugar, ainda existe o problema da depredação causada àquelas construções as quais ainda permanecem completa ou parcialmente edificadas.
Observa-se que um dos motivo da realização de atos depredativos aos monumentos históricos provém em grande parte da falta de informação quanto à importância que tal edifício possui para a comunidade. Faz-se então necessária a preservação e conservação desses bens em conjunto com a aplicação de um sistema de educação patrimonial que permita a interpretação desse edifício para que então a história e identidade à qual ele faz parte sejam mantidas. Os visitantes, compreendendo que já haja um fluxo de visitas, não serão sensibilizados quanto à importância do edifício histórico ad libitum, é necessário que exista uma indução consciente do conhecimento a ser adquirido na visita, um plano epistemológico que torne possível a assimilação e correta interpretação de todos os motivos da visita e que responda perguntas psico-intuitivas: o que era este local? Para que era usado? Quem aqui morava? As respostas a estas perguntas devem exceder acepções tautológicas e portanto, germinar a auto análise no visitante para que este questione a si mesmo: Por que esse esse local é importante para mim? Que valor tem com a história da minha região, ou desta região, ou em um sentido mais profundo, com a minha história? Responder estas perguntas caracteriza tarefa de um plano interpretativo corretamente elucidado, que seja capaz de tornar o patrimônio edificado parte fundamental do processo de compreensão histórica, reavivando de forma presencial a identidade de determinado povo.
A Casa da Cultura, localizada na área urbana do município de Irati-PR, consiste em um exemplo de edifício histórico que encontra-se ainda erguido, porém enfrentando dificuldades devido à ação depredadora do tempo e o próprio homem como agressor material. Dessa forma apresentou-se a problemática empírica de compreender como a educação, utilizando-se da interpretação patrimonial, contribuem para a valorização dos edifícios históricos. Para elucidar tal problemática essa pesquisa buscou resolver o seguinte problema em uma micro escala espacial: Como a educação, através da interpretação patrimonial, contribuirá para valorização da Casa da Cultura de Irati? Tal percepção concretizou-se especificamente pela análise da atual situação do edifício em estudo resultando na conclusão de que o referido edifício não possui ações que busquem a criação de um sentimento de pertencimento na comunidade local. Buscou-se então, em um segundo momento, a proposição de um projeto de interpretação patrimonial a ser aplicado à casa. O que torna, no entanto, a interpretação patrimonial, uma ferramenta de educação suficientemente capaz de gerar tal sentimento de pertencimento? Faz-se necessário assim, entender o que vem a ser a interpretação patrimonial e um plano interpretativo.

2. INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL

Seria virtuosamente proveitoso se as crianças, desde sua educação de base, tivessem acesso ao estudo das artes e conceitos patrimoniais, pois assim cresceriam com uma maior concepção valorativa de seu próprio passado. É possível que, se esse conhecimento fosse trazido de tenra idade e aperfeiçoado durante os anos de estudos secundários, essas crianças, então jovens, concluíssem seus estudos com uma concepção fortemente entrelaçada à importância da proteção patrimonial, como o que é feito na Itália. “Na Itália, a iniciação dos jovens ao espaço edificado começa na escola primária. O ensino obrigatório da história das artes plásticas, da arquitetura e do ordenamento é conduzido durante os três últimos anos dos estudos secundários [...].” (Choay, 2011, pp. 39-40). O resultado é uma comunidade que tem por um de seus princípios básicos a proteção de seu passado edificado. Como essa base educacional não possui referentes práticos no Brasil, educar as pessoas, já adultas, torna-se fundamental para a compreensão do patrimônio e, ações como a interpretação patrimonial visam alcançar esse propósito.
Freeman Tilden é considerado o pai da interpretação patrimonial. Ele define a interpretação como uma atividade educativa, que se propõe revelar significados e inter-relações por meio do uso de objetos originais, do contato direto com o recurso e de meios ilustrativos, em vez de simplesmente comunicar informação literal (Tilden, 1977). Segundo o autor, a interpretação vai além de simplesmente passar a informação ao visitante, mas antes, passar a informação de uma forma que possa ser interpretada de maneira correta.
Para Morales (1998) a interpretação patrimonial pode ser definida como uma estratégia de comunicação-apresentação do patrimônio que utiliza um conjunto de técnicas de comunicação a fim de facilitar a interação entre o patrimônio e a sociedade, nesse sentido, Morales reforça que o objetivo da interpretação é fazer o visitante interagir de uma forma mais profunda com o local ou monumento visitado. Já Don Aldridge (1973, p. 14) apresenta uma definição mais romântica sobre a interpretação, ele diz que ela é “a arte de explicar o lugar do homem em seu meio, com o fim de sensibilizar o visitante sobre a importância dessa interação e despertar nele um desejo de contribuir, para a conservação do meio”. Don Aldridge além de contextualizar o significado da interpretação, foi além, reforçou que seu fim visa à preservação por meio da sensibilização do visitante.
É possível perceber através das definições supracitadas, que o sentido primordial da interpretação patrimonial não é o simples fato de passar a informação, mas antes, instigar a curiosidade do visitante para que ele manifeste em si o desejo de conhecer, viver e ser, metaforicamente falando, transportado para uma realidade paralela à sua, um tempo no qual o patrimônio visitado não era apenas um prédio antigo, mas algo de valor social e que isso faz parte de sua própria história, seja como morador local, seja como ser humano.
A Interpretação pode ser apresentada, basicamente, em duas formas, a guiada e a autoguiada. O Instituto Nacional de Florestas [IEF] (2002) e Pires (2006) evidenciam que a guiada conta com um intérprete especializado encarregado de conduzir e interpretar o meio aos visitantes. Já a autoguiada não se utiliza de pessoas, mas de outros recursos auto interpretativos como mapas, placas, flyers, etc. As duas modalidades possuem referenciais positivos e negativos e medidas pontuais devem ser tomadas com vistas a não prejudicar o resultado da interpretação.
No caso da interpretação guiada, um fator de extrema importância é que haja um intérprete extremamente qualificado. O intérprete, segundo IEF (2002, p. 26), “é aquele que intermedia e facilita o contato entre o visitante e os recursos de um lugar. Ele deve desempenhar o papel de 'traduzir' as informações [...]” Ainda sobre a atuação do intérprete, IEF (2002, pp. 26-27) reforça que “cabe ao intérprete cativar e ganhar a admiração do visitante como forma de ter, neste, um potencial aliado no trabalho de conservação.” Assim, a forma com a qual o intérprete conduz a visita e passa as informações, são fatores determinantes para uma interpretação bem sucedida por parte dos visitantes. Se o intérprete traduziu e repassou as informações de forma a reviver sensações e momentos nos quais os visitantes se sentiram fora de seu mundo habitual, realizou bem seu trabalho. Por outro lado se, apenas repetiu informações, como um gravador ou um texto lido, a interpretação obtida pelo visitante não será aquela esperada.
No que concerne à interpretação autoguiada, diferentes fatores de abordagem devem ser levados em consideração. De acordo com Pires (2006, pp. 40-42) os meios de interpretação autoguiados utilizados para a realização da interpretação patrimonial são: “Publicações: mapas, folhetos, cartazes, roteiros ou guias; Placas e painéis interpretativos; Modelos e maquetes; Guias portáteis de som e audiovisuais.” Assim, é de fundamental importância que esse material contenha informações cautelosamente selecionadas para que possam transmitir a mesma mensagem de uma visita guiada.
Muitas vezes é possível encontrar ambas as formas integradas, nas quais existe um intérprete e ao mesmo tempo, diversos materiais como textos, mapas, placas e etc., como suporte ao visitante. Dessa forma, a interpretação tem mais chances de acontecer de maneira bem sucedida. Ambas as formas de interpretação são válidas desde que elaboradas de forma correta e que atuem sob a perspectiva de uma temática, ou seja, um tema central de exposição.
O tema central da interpretação irá direcionar os acontecimentos ocorridos durante uma visitação. Segundo IEF:

Na interpretação o 'tema interpretativo' é uma mensagem. Esta mensagem está relacionada a uma ideia mais geral sobre a qual se deseja falar - o Tópico [...] Um mesmo tópico pode dar origem a diferentes temas interpretativos. Os tópicos referem-se ao objeto de apresentação e podem ser variados. (IEF, 2002, p. 42).

Assim, suponha-se que em uma exposição, o tópico central seja o Antigo Egito, e nessa exposição diversos temas sejam abordados, como por exemplo: a vida dos faraós, a construção das pirâmides, a religião egípcia, etc., cada um desses temas pode transmitir uma mensagem específica, de acordo com os objetivos elaborados pelos coordenadores da exposição. É importante que os temas sejam apresentados já no início da visitação, independentemente do meio interpretativo, dessa forma o visitante poderá fazer a conexão entre o que está sendo repassado e a ideia central objetivada. Por isso a mensagem tem que ser atrativa e criada de forma que o visitante compreenda-a com rapidez. Deve-se usar uma linguagem simples, compreensível pelo visitante (Morales, 1998). É preciso levar em consideração que o visitante está em seu momento de lazer e não está disposto, muitas vezes, a dispender tempo com leituras ou explicações técnicas que, sumariamente, não possui conhecimento técnico para compreender, a não ser que seja uma visita técnico-científica.
Para que a interpretação ocorra de forma satisfatória e coerente, há que se destacar alguns princípios básicos que devem ser seguidos, enfatizando que a interpretação deve ser: prazerosa; significativa; organizada; provocante; diferenciada e temática. Esses elementos coligidos fazem da visitação uma ação bem sucedida de interpretação e sensibilização. Por outro lado, existem fatores que podem comprometer seriamente o resultado positivo, ou até mesmo anulem a interpretação como um todo, entre eles: usar de linguagem técnica; conduzir o visitante, sem permitir que ele tenha as suas próprias sensações e percepções; influenciar a percepção do visitante, usar textos grandes; reduzir o texto, comprometendo a fluidez do mesmo e; apresentar informações isoladas, sem conexão. (Tilden, 1977).
Evitando-se fatores comprometedores e trabalhando o desenvolvimento dos fatores que contribuem para uma correta interpretação, a visitação tende a ser uma experiência única para o visitante. A interpretação, como bem destaca Cardozo (2011, p. 194) “toca o visitante, fazendo com que ele compreenda em profundidade o que visita. Pode ainda fazer com que leve consigo mais do que uma experiência turística, mas uma mensagem que possa modificar seu modo de pensar e agir”. A interpretação, mais que apenas um conjunto de técnicas, pode ser a chave para um modelo de educação patrimonial versátil, bem sucedido, e, por consequência, incutir o senso de pertencimento no visitante.
Tendo assim, uma melhor compreensão da importância da educação patrimonial e da interpretação como sua ferramenta chave no conceito de valoração dos edifícios históricos e criação do senso de identidade regional, observar-se-á agora sua aplicabilidade ao objeto de estudo deste trabalho, realizado na cidade de Irati, estado do Paraná, região sul do Brasil.
           

3. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDOS

            A cidade de Irati está localizada a aproximadamente 150 Km da capital estadual, Curitiba. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2016), a cidade possui população estimada de 59.339 habitantes, a maior parte vivendo na área urbana do município. No constante ao quesito etnográfico, a população iratiense é composta, em sua grande maioria por imigrantes europeus que, segundo o IBGE (2016), vieram para Irati após esta ter sido elevada à categoria de município. As principais etnias de imigrantes a chegarem foram alemães, holandeses, ucranianos e, principalmente e em maior número, poloneses.             Segundo Carneiro (2005), o município de Irati tem seu turismo voltado principalmente ao ecoturismo, devido à presença de muitas cachoeiras e da Floresta Nacional de Irati. Há ainda na localidade outros atrativos diversificados, como os ligados ao turismo religioso, representado pela imagem de Nossa Senhora das Graças, observada na figura 01, com 22 metros de altura e considerada a maior imagem de Nossa Senhora das Graças do mundo, bem como a romaria e via sacra em locais próximos à Igreja Assunção de Nossa Senhora; o turismo de negócios e eventos, com festas étnicas e gastronômicas, como a Festa Polonesa, com missa, apresentações culturais e gastronomia típicas; a Deutsches Fest – Baile do Chopp e da Linguiça, para os descendentes de alemães; e a Festa das Nações, que reúne tanto os pratos típicos quanto as principais manifestações da cultura de alemães, holandeses, italianos, poloneses e ucranianos.

Localizada em Irati, a Casa da Cultura (Fundação Edgard & Egas Andrade Gomes) caracteriza-se por um edifício do início do século XX, especificamente construída no ano de 1919 por Arcélio Baptista Teixeira para servir de residência ao seu então patrão e sua família, o Cel. Emílio Baptista Gomes. Segundo a Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico e Legado Étnico de Irati, PMI, (2016), a família Gomes foi pioneira no processo de colonização do município e sua emancipação política, ocorrida durante um significativo ciclo econômico do estado, o Ciclo da Madeira, que foi o responsável pelo desenvolvimento de inúmeras cidades, incluindo Irati.
De acordo com Kosinski (2013), a casa foi inicialmente erguida com inspirações do neoclassicismo espanhol, possível herança cultural do patriarca da família, o Cel. Emílio B. Gomes, o qual possuía raízes espanholas. A casa possuía paredes duplas, algumas em estuque 1, contava com fiação elétrica e banheira com funcionamento à caldeira. Ainda sobre a estrutura da casa, PMI (2016) transcreve:

Sua estrutura conserva as características originais, em madeira sobre alicerce de pedras, edificada em um pavimento sobre porão alto. As paredes possuem vedação dupla, feitas por tábuas dispostas em sentido horizontal, no sistema de encaixe, macho e fêmea. O acesso principal é localizado na lateral do edifício, através de uma escada estruturada em arcos, com dois lances frontal e posterior que chegam ao mesmo patamar. Adentrando na varanda que dá acesso ao segundo pavimento. A cobertura em 4 águas é composta por telhas de cerâmica, do tipo francesa, sendo o imóvel arrematado por lambrequins. O que se remete ao um processo de circularidade cultural, devido a influência da cultura eslava, também presente na região. (PMI, 2016, s/p)

No tocante ao usufruto dos pavimentos da Casa, Kosinski (2013) também relata que a casa conta com dois pavimentos, o inferior, o qual primeiramente funcionou como Banco Francês, com sede na França. Logo após serviu para comércio e também para moradia da família. Esse pavimento contava inicialmente com 14 cômodos, sendo que um deles funcionava como Ateliê de Costura para Pepita Gomes, no qual muitas senhoras do município encomendavam os seus trajes. A parte superior da Casa contava com mais 11 cômodos fora o hall, sala de piano, para festas da alta sociedade iratiense, pois conforme a revista Iraty de 1923 “A residência do Sr. Emílio. B. Gomes constitue um mimo elegante de arte e de esthetica”. (KOSINSKI, 2013, p. 1). Observa-se assim a importância arquitetônica e socio-cultural da casa no auge de seu usufruto.
No ano de 1989 a família Gomes cedeu a residência para uso do município, em regime de comodato, através da lei nº769/87, na gestão municipal, à época, do prefeito Sr. Alfredo Van Der Neut e como Secretária Municipal de Cultura a Sra. Luiza Nelma Fillus. Segundo PMI (2016) o intento da doação foi estabelecer no local a Secretaria Municipal de Cultura, o Museu Municipal e também a Biblioteca Municipal. Nessa época houve a primeira reforma da casa, feita pelos técnicos da Secretaria Estadual da Cultura, com intuito único de garantir a possibilidade de uso da residência. Nenhuma informação técnica a respeito dessa reforma pôde ser encontrada nesta pesquisa.
Em 2001, dez anos após a inauguração, a casa passou por uma nova ‘reforma-restauro’. Como relata Kosinski (2013), desta vez sob a na gestão do prefeito Sr. Antonio Toti Colaço Vaz, sendo a secretária municipal de Cultura Educação e Desportos a Sra. Rita de Cassia Almeida, e o Coordenador da Secretaria de Cultura, o Sr. Júlio César Dias. Nesta reforma buscou-se retratar com precisão os aspectos originais da casa, para isso a varanda, situada à frente da casa, também passou por modificações. A cor externa foi alterada, de verde passou a ser vermelha. Novos muros de tijolos foram construídos também nesta reforma. Não foi possível nesta pesquisa encontrar informações orçamentárias sobre esta reforma. Em 08/07/2002 a casa foi entregue novamente aos serviços da comunidade, para uso da Secretaria de Cultura Municipal e também para o Museu Municipal, oferecendo ainda cursos e oficinas de artes, músicas e línguas no pavimento inferior. No ano de 2004 a casa foi doada definitivamente ao poder público, através da lei municipal nº 2111/2004. Atualmente dois departamentos compõem a Casa da Cultura, o Departamento de Cultura e o Departamento de Museologia. Uma nova ‘reforma-restauro’ está em fase final de aprovação. Esta contará com um projeto mais arrojado e com maior aporte financeiro, utilizando-se inclusive de projeções em 3D na sua apresentação. Informações técnicas ou teóricas sobre essa nova reforma no entanto, ainda não estão disponíveis ao domínio público para que possam ser apresentadas nesta pesquisa.
Contudo, em visita ao local é perceptível que a estrutura permanece sem investimentos adequados até o momento para sua utilização como museu e que uma nova reforma é necessária. A estrutura está visivelmente deteriorada, e no que diz respeito ao acervo no primeiro pavimento é possível encontrar algumas peças bem dispostas e à exposição pública, porém muitas outras encontram-se guardadas no andar térreo sem as devidas condições de exposição. A história precisa ser mostrada para ser lembrada, do contrário será esquecida. Cabe ressaltar que a Casa da Cultura ainda não é um patrimônio tombado, por motivos burocráticos variáveis que não permitiram tal ação. Assim, é visivelmente necessário desenvolver um plano de ação para incrementar o uso do museu municipal, fomentar a importância de sua história para a população, conscientizar através da educação patrimonial e suas devidas ferramentas pois, mais importante do que qualquer reforma física-estrutural é a reforma na percepção de como a população vê e interpreta o patrimônio como parte de si mesma e sua história.

4. PLANO INTERPRETATIVO

         Passar-se-á agora, pois, ao plano de Interpretação Patrimonial elaborado para o referido objeto de estudo. Segundo Pires (2006) os objetivos de um plano de interpretação prático são: 1) Conhecimento (como contribuir para que os visitantes e a comunidade conheçam os fatos históricos do ambiente visitado); 2) Afetividade (como despertar nos visitantes e nos moradores sentimentos de orgulho pelo patrimônio), e; 3) Novas atitudes/comportamentos (como contribuir para a formação de valores que resultem na conservação do ambiente) – além de todos precisarem estar em boa sintonia.
            Murta e Albano (2002, p. 20) reforçam alguns princípios a serem observados na elaboração de um plano interpretativo, segundo as autoras, um plano visa “estabelecer no espaço uma rede de descobertas e de desfrute para residentes, visitantes e turistas, ampliando as possibilidades de desenvolvimento de projetos turísticos e culturais.” No que concerne às etapas do plano interpretativo, Murta e Albano (2002) resumem três aspectos a serem abordados; 1) O inventário e registro de recursos, temas e mercados; 2) O desenho e montagem da interpretação e; 3) A gestão e promoção. Morales (2001) ressalta que os planos interpretativos devem estar assegurados pela unidade de gestão de uma determinada estrutura e devem considerar: 1) Equipamentos ou infraestruturas; 2) Meios de interpretação – suporte ou veículo através do qual se transmite a mensagem ao visitante; 3) Estrutura do serviço de interpretação – secções ou unidades em que se organizam os serviços interpretativos.  Na perspetiva de Badarocco e Scull (1978), a construção de um plano de interpretação é uma tarefa simultaneamente simples e complexa. Simples, porque se concentra apenas na escolha dos meios e programas que se julgam mais eficazes para transmitir uma mensagem. Complexo, porque esta escolha exige criatividade e intuição e uma avaliação permanente da sua eficácia, ou seja, plano e respetivos recursos. 
Assim, tendo como base os princípios e conceitos de Pires (2006); Murta e Albano (2002); Morales (2001); e Bardarocco e Scull (1978); e da análise da aplicabilidade e adaptação local, é possível então a elaboração do plano interpretativo estipulado nesta pesquisa. Intitulou-se este projeto de: “Resquícios do Tempo: interpretando a Casa da Cultura”, e, antes de expor as ações propostas no plano, compreende-se necessária a observação de alguns aspectos dos atuais usos da casa e uma reflexão axiológica à seu respeito.
Na casa funcionam concomitantemente a Secretaria de Cultura municipal, no segundo piso, e o Museu municipal, no térreo, que foi inicialmente utilizado como sede do então banco Francês. A primeira sugestão derivada desse plano é a adjeção do museu à Secretaria de Cultura, considerando-se todo o edifício como museu. Não existe placa indicativa sobre o museu e as pessoas que visitam o local muitas vezes nem mesmo sabem da existência de um museu municipal. Uma vez cumprida essa etapa será possível trabalhar o edifício como um referencial histórico todo, e não a quota-parte de um mecanismo dividido. No andar térreo, onde teoricamente encontra-se o museu, não há necessariamente um sistema de organização que o caracterize como tal. O local serve mais como um depósito de arquivos dos mais diversos. Este acervo guarda referencial histórico do município o qual deveria ser exposto ao público e no entanto, constitui apenas fonte de pesquisa para interesses específicos. É possível também encontrar objetos, indumentárias, quadros e até mesmo instrumentos musicais. Um acervo depositado e sem uso público.
O segundo piso, onde funciona a Secretaria de Cultura, é o mais utilizado e mais visitado. Foi o local de moradia da família Gomes e em alguns cômodos é possível ainda encontrar objetos que por eles foram utilizados. Não há contudo, placas indicativas, salvo algumas excessões, e não há também um tema específico para as visitas. Diferentes obras estão também expostas pela casa, desde alguns quadros que retratam antigas imagens da cidade de Irati à outras obras as quais não necessariamente constituem parte do conjunto histórico local. Esporadicamente são trazidas algumas exposições para a cidade, como o que ocorreu no ano de 2010 e novamente em junho de 2015, quando foi trazida à Irati uma exposição sobre o antigo Egito. Grandes exposições como essa demandam que o acervo seja movido para dar espaço às peças da mostra, o que não é aconselhável pois nem todas as peças de um museu podem ser movidas sem afetar seu estado de conservação.
Inicialmente programada para acontecer entre os dias 11 de maio de 2015 a 26 de junho de 2015, a exposição teve seu encerramento prorrogado para o dia 03 de julho, devido ao grande interesse da população local. A exposição é do Museu Egípcio Rosa Cruz de Curitiba e foi a Irati a convite da Secretaria Municipal de Cultura, Patrimônio Histórico e Legado Étnico de Irati. Segundo Leveovix (2015) correspondente do jornal local, Folha de Irati, a exposição atraiu mais de duas mil pessoas à Casa da Cultura, o que chega a ser um número maior que a quantidade de visitantes que o local recebe em um ano.
De acordo com informe público da Prefeitura Municipal de Irati [PMI] (2015, p. 01), divulgado em rádio local, a rádio Najuá FM, a supervisora do museu, Vivian Tedardi, relatou que “a exposição é muito importante para que todos possam conhecer um pouco sobre o passado do povo egípcio.” No mesmo informe publicitário, de acordo com PMI (2015), Fernanda Popoaski, Secretária de Cultura, Patrimônio Histórico e Legado Étnico de Irati, reitera que:

Todos devem visitar a Casa da Cultura para ver essa linda exposição. Para Irati é muito importante receber uma mostra deste nível, que além de agregar cultura, faz com que conheçamos um pouco mais deste povo que é detentor de uma incrível e importante história. (PMI, 2015, p. 01)

Cabe aqui uma observação que correlaciona as declarações citadas ao objetivo de estudo desta pesquisa. Não levantam-se questionamentos a respeito da importância de tal exposição para a população local, contudo, como destacado pela supervisora do museu Egípcio, a exposição é importante para conhecer sobre o passado do povo egípcio, declaração factual, no entanto, e quanto a importância de se conhecer mais afundo a história local, a população, seus costumes e tradições?
A secretária de cultura enfatiza que todos devem ir a Casa da Cultura para ver esta tão importante mostra. Acentua-se em sua declaração o dever com que a nota é expedida. Não deveriam também, os moradores locais, visitar a Casa da Cultura para conhecer um pouco mais sobre sua própria história? E se o mesmo entusiasmo direcionado à essa mostra fosse também aplicado à estruturação e elaboração de mostras locais? É factual que o povo egípcio deixou um marco na história contemporânea, deve-se sim conhecê-la pois é parte de um patrimônio pertencente à humanidade, contudo, será sua importância maior do que a história da própria comunidade local, seus costumes e patrimônios? Não seria esta, uma representação da valoração do patrimônio externo em relação ao interno?
O grande número de visitantes da referida mostra egípcia evidenciou uma realidade factual, a própria população não sente interesse na história local, mas um grande apreço e ligação ao patrimônio global, que é vendido pela mídia e acarreta muitas vezes o desmantelamento da identidade cultural local. É importante conhecer, cuidar e identificar aquilo que caracteriza a história da humanidade como um todo, no entanto, é também e talvez mais ponderoso, identificar e valorizar aquilo que de mais próximo há para com uma comunidade, a longa ou curta história que os trouxe até aquele lugar, o que os localizou no tempo. A valorização interna deve preceder a externa, e não o contrário. Para que essa prática não seja utópica é necessário educar o visitante para a importância da história local retratada em seu patrimônio, para tal um correto plano interpretativo do local é dever sine qua non no que tange à percepção identitária comunitária. Relevadas todas essas acepções, incluem-se no plano as seguintes ações:

  • Restauração: Este não é necessariamente um fator obrigatório no processo interpretativo, mas fundamental para a criação do senso de pertencimento e fortalecimento da identidade local.
  • Placa indicativa e/ ou painel interpretativo: Unificar o museu à Secretaria e dispor uma placa indicativa que enfatize o museu regional. É importante colocar um pequeno resumo sobre o edifício, por quem foi habitado e quando foi construído. Essas informações devem ser dispostas em português, inglês e espanhol.
  • Folhetos auto-explicativos: Esses folhetos podem ser confeccionados com o mapa interno da casa e uma breve descrição sobre as obras que compõe o local. Não são ecologicamente corretos, pois podem ser substituídos por painéis explicativos quando no local, evitando o uso do papel como matéria prima, contudo, constituem um aporte de divulgação em outros locais, como por exemplo, escolas.
  • Painéis explicativos: Podem ser colocados antes da entrada de cada cômodo portando uma pequena descrição das obras que ali serão encontradas.
  • Placas explicativas: Pequenas placas com uma breve descrição, colocadas logo abaixo ou ao lado de cada obra, como quadros, móveis, vestuários, entre outros objetos variados que possam estar à mostra.
  • Modelos e maquetes: Possíveis modelos, feitos de cera ou outro material específico, dos antigos moradores da casa em seus aposentos.
  • Horário de funcionamento: Considera-se este um elemento mais informativo do que interpretativo, mas importante. Atualmente a Casa da Cultura funciona de segunda à sexta feira, das 08h00 às 11h30 min, e das 13h00 às 17h00, e quando há exposições também aos sábados, das 13h00 às 16h00. Sugere-se que também esteja aberta aos domingos, dia em que muitos museus estão abertos à visitação para aqueles visitantes que vêm nos fins de semana.
  • Material de vídeo: Exibir um vídeo no início de excursões guiadas, sobre os atrativo, sua história, antigas utilizações e importância para o município.
  • Organização do espaço: Organizar as obras para que tenham características que não contrastem com o atrativo. Não incluir obras que não possuem ligação histórica com a casa.
  • Organização do acervo: Dispor obras que retratem a história e cultura local. Fazer uma análise sobre todo o acervo em depósito e procurar a melhor forma de colocá-los à mostra.
  • Decoração temática: O andar térreo foi utilizado, nos primeiros anos da Casa da Cultura, como sede do banco Francês. Poucas pessoas tem esse conhecimento. As pequenas janelas ainda dão acesso à calçada, assim, decorar o ambiente retratando o dia a dia do antigo banco, com possíveis encenações durante as visitas guiadas seria uma forma vívida de gerar sentimento interpretativo nos visitantes.
  • Condutor especializado: Um condutor que possua profundos conhecimentos de todo o acervo e história do local, de preferência que seja morador da região e que receba os treinamentos necessários.
  • Exposições específicas: Exposições frequentes que foquem na história, cultura e influência da família e do edifício para o município.
  • Pré disposição e comparação de imagens: Pré-dispor imagens antigas e novas, ou, mais relevante ainda, posicionar uma imagem antiga em um local em que o visitante possa observar com seus próprios olhos, o edifício em si em momento hic et nunc.
  • Acessibilidade: No constante à interpretação patrimonial, a acessibilidade deve ser observada no tocante à disposição das informações e ao sentimento gerado na visita. As informações em placas indicativas de locais ou peças devem também ser expostas em braile. Guias capacitados para trabalhar especificamente com pessoas com variadas deficiências físicas também é indicado, como por exemplo, condutores que dominem o uso da língua brasileira de sinais (LIBRAS). Orienta-se também, sensatamente, a adequação do espaço físico dos locais para cadeirantes e pessoas com outros tipos de deficiências físicas.
  • Visitas encenadas: Nestas, o visitante assistirá, ou tomará parte, de um pequeno teatro apresentado com intuito de introduzi-lo no tema da visita. É interessante que a encenação retrate a vida no edifício no auge de seu uso, em seu período temporal específico. Esta atividade pode ser utilizada em conjunto com a seguinte.
  • Visitas com pernoite: Neste tipo de visita, um grupo, que pode ser formado de crianças, adultos ou grupo misto, passará uma noite no museu. Atividades noturnas, com guias especializados serão realizadas de acordo com a temática exposta.
  • Exposições táteis: Peças específicas que possam ser tocadas pelos visitantes, elas podem ser alocadas em estandes ou colocadas esporadicamente entre as demais, devidamente indicadas.
  • Jogos Infantis: Jogos de tabuleiro/mesa que ensinem algo sobre o edifício.
  • Audioguias: Constituindo uma ferramenta da interpretação autoguiada, os audioguias podem ser usados de variadas formas. Dentre elas, iniciar o dispositivo de audio automaticamente assim que os visitantes adentrarem determinada sala do museu. Esta ação, não obstante, é bastante restritiva à grupos e museus de grande porte. Outra forma é inserir um botão junto à cômodos e peças que, quando pressionado inicie o dispositivo de audio que explanará sobre o objeto ou local em questão. Essa ferramenta também pode ser restritiva, uma forma de amenizar tal fato é implantar entrada para fones de ouvidos junto às peças e fornecer os fones para os visitantes antes da visitação. Esse modelo de interpretação ainda é encontrado, porém, devido à sua restrição espacial e comodidade, vem sendo substituído por processos mais tecnológicos, como descrito a seguir.
  • Aplicativos para tablets e smartphones: Ferramenta muito utilizada atualmente, os aplicativos para dispositivos móveis possuem uma gama considerável de opções facilitadoras para a interpretação patrimonial. Uma delas, já inclusa nos planos específicos, é a pré disposição de imagens. Outras possibilidades, conquanto mais simples, também estão disponíveis. Pode-se criar para o edifício aplicativos específicos que incluam todos os seus dados históricos, bem como informações relevantes, como horários de funcionamento e divulgação de exposições específicas. Os recursos de visitas audioguiadas também podem ser inclusos nesse aplicativo, eliminando a necessidade de investimentos em tecnologia ultrapassada. Dessa forma, dentro do próprio aplicativo, poderiam ser incluídas as informações de todos os cômodos e peças do museu e, quando acessadas iniciariam a explanação em audio ou até mesmo em vídeo dos ambientes ou peças referidas. Para esse tipo de visita é interessante que o museu disponibilize conexão de rede sem fio aos visitantes. Outro recurso que pode ser empregado com o uso dos aplicativos é a disposição de informações por QR code. Esta não dispensaria o uso das placas físicas pois nem todos fariam uso dessa modalidade, contudo poderiam trazer informações adicionais àqueles que a utilizar.
  • Realidade virtual: Este é um recurso inovador que se utiliza da tecnologia de realidade aumentada durante as visitas ou tours. É o mesmo dispositivo utilizado nos museus virtuais, mas aplicado em pontos específicos no percurso da visita. Seu conceito nesse caso, é similar à pré-disposição de imagens em dispositivos móveis, contudo, ao invés de tablets ou telefones móveis, o visitante portará um óculos de realidade virtual que, em determinados hot spots, poderá ser usado para gerar uma imagem 3D de realidade aumentada, que pode ou não incluir animações. O Virtual Heritage é uma rede mundial que abrange diversas iniciativas nesse conceito que vão desde a arqueologia virtual a seu uso turístico. Um exemplo desse tipo de interpretação é o produto espanhol Past View©™, operante, no momento, em algumas cidades da Europa e Turquia. Nesse tipo de passeio, o visitante utiliza-se de smartglasses e um touch pad enquanto se desloca pela cidade e, em pontos específicos, ao fazer uso dos óculos, poderá ver um determinado edifício reconstruído ou o local como costumava ser em predeterminada época, como observa-se na figura 04.

           
Já a pré disposição e comparação de imagens é um item altamente funcional na interpretação. No ato de interpretar, todos os sentidos podem ser amplamente explorados com o intuito de proporcionar ao visitante uma experiência inolvidável. O sentido mais explorado e de mais fácil utilização no entanto é a visão. Tilden (1977) nos diz que a imagem é a primeira percepção utilizada na interpretação, pois já ao ver o edifício o visitante se sente ou não tocado pelo seu conjunto histórico. Ao utilizar-se de imagens antigas, que retratem o local em tempos passados, cria-se na imaginação do visitante a comparação temporal comparativa, ele pode observar, se já foi devidamente informado a respeito do histórico local, a vida que ali acontecera. Uma forma de auxiliar esse processo é fazer uma pré disposição de imagens, antigas e novas, ou, mais relevante ainda, posicionar uma imagem antiga em um local em que o visitante possa observar com seus próprios olhos, o atual. Existem duas formas mais conhecidas de se utilizar dessa abordagem.
            A forma mais prática e economicamente viável é a disposição de imagens em um local específico no qual o visitante possa ao mesmo tempo ver em imagens o local como ele era e como ele está hoje. Isso pode ser feito colocando-se duas imagens, uma antiga e uma recente, lado a lado, ou, mais eficientemente, colocar a imagem em um local de dupla visualização. Por exemplo, coloca-se do lado de fora da casa uma imagem, com boa resolução, em um painel que seja posto de preferência na horizontal ou semi horizontal, com um breve histórico do local escrito ao lado. Assim o visitante pode ver a imagem antiga e, ao levantar seus olhos, ver a casa em seu tempo, como o que é mostrado na figura 05.

            Este tipo de disposição objetiva criar no visitante a observação contemplativa do bem histórico, instiga a curiosidade e o aproxima da história do local. Imagens lado a lado podem ser úteis quando não há a possibilidade de dispô-las junto ao edifício, contudo o sentimento de estar pisando, tocando, vendo e sentindo o local é advindo da observação contemplativa e ao vivo. Para tal, é indicado que os painéis dêem preferência à imagens maiores com textos menores, deixando históricos mais extensos reservados aos interessados em repositórios específicos. Este item interpretativo pode ser utilizado na Casa da Cultura de Irati. Um painel como o mostrado na imagem 05 pode ser posicionado no pátio interno da Casa, junto ao busto do Ce. Emílio B. Gomes ou até mesmo em frente à sacada, pois instigaria a curiosidade do visitante que, obrigatoriamente, teria que passar pelo painel para entrar na casa. Esta mesma técnica pode ser utilizada dentro da casa, não necessariamente com painéis, mas com imagens antigas de cômodos que sejam visualizadas em contraste com este local durante a visita. Também nas janelas seria possível pré dispor imagens antigas da rua, assim o visitante observaria as imagens de como era e de como ele a vê atualmente. Estas técnicas não demandam considerável dificuldade de implantação, sejam elas técnicas ou financeiras, contudo o ganho interpretativo para a visita é intrinsicamente significativo.
            Outra forma de trabalhar a técnica da pré disposição e comparação de imagens foi desenvolvida pelo Museu de Londres. Denominada Street Museum, amplamente utilizada na Europa e nos Estados Unidos. Ela utiliza-se da tecnologia para causar a mesma sensação interpretativa ao visitante. Ao invés da disposição de painéis com imagens antigas, foi desenvolvido um software para tablets e smartphones baseado em GPS, o qual localiza pontos históricos nas ruas e automaticamente faz a busca pela imagem daquele lugar quando o visitante nele se encontra. Assim, ao posicionar o aparelho com a câmera direcionada para o determinado ponto, é possível fazer um comparativo entre o passado e o presente através das imagens, como observa-se na imagem 06, na utilização do Street Museum na Holanda.

            Esta é uma técnica que demandaria um gasto financeiro maior para sua implantação, além de serviço técnico especializado para a criação do software. Apesar de ser utilizada internamente, é mais utilizada exteriormente, em ruas e praças, o que poderia ser um interessante projeto de extensão patrimonial para a cidade de Irati, contudo, não caracteriza objetivo de estudos desta pesquisa.
            As técnicas de interpretação aqui apresentadas foram elaboradas da maneira mais pragmática possível. Foram levadas em consideração a situação física e administrativa dos edifícios e pensado a priori no que poderia ser feito sem muitas alterações no status quo da organização administrativa e financeira. Uma segunda análise mais profunda poderia ser realizada, uma vez implantadas essas ações e medidos qualitativamente e quantitativamente seus resultados. O campo da aplicação no entanto vai além do alcance deste trabalho, que limita-se a analisar e sugerir baseado em conceitos metodológicos teóricos e práticos. A possível aplicação será sugestionada aos poderes administrativos locais, cabendo a eles o estudo e viabilidade do projeto.
            Todavia, assente à fundamentação teórica e técnica realizada, faculta-se a este pesquisador sugerir quais, das ações propostas, poderiam ser aplicadas nos devidos objetos de estudo dada a atual realidade destes. No que concerne à Casa Sede da Fazenda Florestal, inexiste a possibilidade de aplicação de propostas imediatas ao prédio, dado que o museu ainda se encontra em fase de pré projeto. Quanto à Casa da Cultura, as ações propostas para possível aplicação, levando em consideração seus atuais usufrutos são:
            À curto prazo (período de aproximadamente 01 ano): Painéis explicativos: Existem alguns, mas podem ser melhorados e ampliados; Placas explicativas: Existem, mas podem ser melhoradas e ampliadas; Horário de funcionamento: Atualmente a Casa da Cultura funciona de segunda à sexta feira, das 08h00 às 11h30 min, e das 13h00 às 17h00, e quando há exposições também aos sábados, das 13h00 às 16h00. Sugere-se que também esteja aberta aos domingos, dia em que muitos museus estão abertos à visitação para aqueles visitantes que vêm nos fins de semana; Material de vídeo: Inexiste. Criar e exibir um vídeo no início de excursões guiadas, sobre a casa, sua história, antiga utilização e importância para o município; Organização do espaço: Organizar as obras para que tenham características que não contrastem com o atrativo. Não incluir obras que não possuem ligação histórica com a casa; Condutor especializado: Existe, porém de preferência que seja alguém que esteja disponível em tempo integral ao atrativo; Acessibilidade: Informações dispostas também em braile e condutor com conhecimento da língua brasileira de sinais (LIBRAS).
            À médio prazo (período de aproximadamente 05 anos): Restauração: A situação deteriorada do edifício deve, o quanto antes, ser sanada pela restauração; Organização do acervo: Dispor obras que retratem a história e cultura local. Fazer uma análise sobre todo o acervo em depósito e procurar a melhor forma de colocá-los à mostra; Decoração temática: O andar térreo foi utilizado, nos primeiros anos da Casa, como sede do banco Francês. Poucas pessoas tem esse conhecimento. As pequenas janelas ainda dão acesso à calçada, assim, decorar o ambiente retratando o dia a dia do antigo banco, com possíveis encenações durante as visitas guiadas seria uma forma vívida de gerar sentimento interpretativo nos visitantes; Exposições específicas: Exposições frequentes que foquem na história, cultura e influência da família e do edifício para o município; Pré disposição e comparação de imagens: De forma simplificada, sem uso de aplicativos; Visitas com pernoite, visitas encenadas e estandes táteis: Dependem mais de planejamento de pessoal do que orçamentário.
            À longo prazo (período de aproximadamente 05 a 10 anos): Audioguias e aplicativos para dispositivos móveis.
            Para o período de curto prazo leva-se em consideração a relativamente simples aplicabilidade, não demandando grande aporte financeiro, dependente em suma de re-organização administrativa. O período de médio prazo leva em consideração a maior necessidade de planejamento financeiro e pessoal com treinamento e conhecimento técnico específico. O período de longo prazo foi assim delimitado pela necessidade de grande investimento financeiro e técnico. Os itens que não foram inclusos foram considerados, neste momento, incondizentes à atual realidade física e financeira existente. Assim sendo, neste capítulo foram apresentados grupos específicos de ações propostas, de forma ampla e generalizada, bem como apresentado, de forma cândida, um plano para aplicação específica e temporal das ações mencionadas. Cabe agora, como já citado, à prefeitura e órgãos competentes, julgar o que é ou não factível à realidade do município.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A partir do princípio inicial observado, ou seja, da falta do sentimento de pertencimento entre população local e o objeto de estudos e, face também à outros fatores como o estado degradante de conservação do edifício e organização de seu acervo, este trabalho trouxe, como proposição de sanar tais imbróglios, a análise do status quo local, evidenciando o que era cabível de mudança. Desenvolveu-se então como ferramenta solutiva um plano  interpretativo, objetivando a criação de sentimento de pertencimento durante as visitas e valoração histórica local. Seu valor histórico ainda precisa ser reconhecido, não somente pelos que de fora vêm, mas pela própria comunidade, pelos herdeiros de um legado desconhecido, marco de sua própria memória esquecida. A valorização patrimonial deve ser pensada do micro para o macro, do local para o não local. Deve-se aprender a zelar e valorizar primeiramente aquilo que vem a caracterizar um povo como tal, e só então dar o próximo passo, a valorização do outro, pois só assim criar-se-á o sentimento de identidade cultural, não de superioridade ou inferioridade, mas de igualdade e respeito. É assim observação concluinte que, a interpretação patrimonial é aspecto precípuo e essencial para que um edifício histórico seja valorizado. Esta afirmação aplica-se à atual conjuntura da Casa da Cultura. Restaurá-la e implantar um plano interpretativo eficiente será de suma importância para a criação do sentimento valorativo e de pertencimento entre a comunidade iratiense e seu patrimônio o que, consequentemente contribuirá para a preservação desse edifício, encerrando um ciclo de interações salutares entre comunidade-patrimônio.
Através da caracterização do objeto de estudo e apropriado embasamento, esta pesquisa traz à luz não apenas a importância física dos edifícios históricos para uma determinada população, especificamente nesse caso, a população da cidade de Irati, mas também a importância da criação de um sentimento de pertencimento entre população e patrimônio, o que pode ser obtido com a aplicação das ferramentas corretas, como a educação patrimonial, da conservação física dos edifícios e ações específicas de interpretação local.
Conclui-se que a interpretação é, inexoravelmente e, no atual aspecto temporal, intrinsecamente importante para a preservação da Casa da Cultura. Conservar é mais do que manter em pé um edifício, é, antes de tudo, manter vivas as lembranças daqueles que tinham no hoje, o seu amanhã. Visitar é mais que lembrar, é sentir novamente aquela alegria vivida, aquelas tristezas passadas e ser agradecido a eles, àquelas pessoas que nos ensinaram que, para que o amanhã exista, é preciso seguir em frente, sem esquecer jamais, de olhar para o passado.

REFERÊNCIAS

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* Graduado em Turismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO (2015). Mestrando em Educação pela Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO. (2016-2017). Email: diego.gdosreis@gmail.com. Departamento de Turismo – Unicentro.

** Professor do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO. Graduado em Turismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG (2008). Mestre em Geografia - Gestão do Território pela UEPG (2013) e Doutorando em Geografia (2015-2019) pela UEPG. Email: leandro.baptista@live.com. Departamento de Turismo – Unicentro.

*** Professora adjunto do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO. Graduada em Turismo pela UNIOESTE (2000). Mestre em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul - UCS (2004). Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Paraná - UFPR (2012). Email: polianacardozo@yahoo.com.br. Departamento de Turismo – Unicentro.

1 Argamassa feita com gesso. Massa branca ou policromática em cuja composição pode entrar cal, areia fina, pó de mármore e obrigatoriamente gesso e cola. É utilizado como revestimento em interiores, principalmente tectos e ornamentos executados em relevo.
Disponível em: http://www.engenhariacivil.com/dicionario/estuque


Recibido: 30/05/2016 Aceptado: 20/06/2016 Publicado: Junio de 2016

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