Revista: Turydes Revista Turismo y Desarrollo. ISSN 1988-5261


TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: UM ENSAIO SOBRE O CORREDOR CULTURAL EM MOSSORÓ/RN

Autores e infomación del artículo

Isabella Ludimilla Barbosa do Nascimento*

Wilker Ricardo de Mendonça Nobrega**

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil

Isabella_ludimilla@hotmail.com

Resumo
O turismo é uma atividade que se utiliza dos espaços e interage diretamente com a dinâmica local, no qual para atender as necessidades que isso demanda, é pertinente que os destinos se preparem para isso, tanto nos aspectos estruturais como socioculturais. Mossoró é o segundo núcleo urbano do Rio Grande do Norte, no qual se destaca por uma forte economia e uma grande influência no cenário político estadual. Um fato marcante para o município foi a construção do Corredor Cultural, de modo que alterou de forma significativa a dinâmica local e gerou desenvolvimento para a cidade, assim como trouxe outras situações que contrastam com isso. Sendo assim, busca-se discutir como o Corredor Cultural se constitui como um expoente para o desenvolvimento local e turístico de Mossoró. Como metodologia, o trabalho se embasa em fontes bibliográficas através de revisão teórica em livros e artigos científicos que contribuam para a discussão na qual a pesquisa se propõe.
Palavras-chave: Desenvolvimento local, Crescimento, Corredor Cultural, Mossoró, Turismo.
Resumen
El turismo es una actividad que utiliza los espacios e interactuar directamente con la dinámica local en el que para satisfacer las necesidades que demandan, es pertinente que los destinos para prepararse para ella, tanto en los aspectos estructurales como socio-culturales. Mossoró es el segundo centro urbano de Rio Grande do Norte, que representa una economía fuerte y una gran influencia en la escena política de estado. Un hecho notable de la ciudad fue la construcción del Corredor Cultural, por lo que alteren significativamente la dinámica local y generó el desarrollo de la ciudad, y trajo otras situaciones que contrastan con ella. Por lo tanto, se pretende analizar cómo el Corredor Cultural se constituye como un exponente para el desarrollo local y turístico de Mossoró. Como metodología, el trabajo se basa en fuentes de la literatura mediante la revisión teórica de libros y artículos científicos que contribuyen a la discusión en la que tiene como objetivo la investigación.
Palabras-clave: Desarrollo local; Crecimiento; Corredor Cultural; Mossoró; Turismo.
Abstract
Tourism is an activity that uses the spaces and interact directly with the local dynamics in which to meet the needs that demand, it is pertinent that the targets to prepare for it, both in structural aspects such as socio-cultural. Mossoró is the second urban center of Rio Grande do Norte, which stands for a strong economy and a major influence on the state political scene. A remarkable fact for the city was the construction of the Corredor Cultural, so that significantly alter the local dynamic and generated development to the city, and brought other situations that contrast with it. Therefore, it seeks to discuss how the Corredor Cultural is constituted as an exponent for local and tourist development of Mossoró. As methodology, the work was grounded in literature sources through theoretical review of scientific books and articles that contribute to the discussion in which the research aims.
Keywords: Local development; Growth; Corredor Cultural; Mossoró; Tourism.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Isabella Ludimilla Barbosa do Nascimento y Wilker Ricardo de Mendonça Nobrega (2016): “Turismo e desenvolvimento local: um ensaio sobre o corredor cultural em Mossoró/RN”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 20 (junio 2016). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/20/crescimento.html


1 INTRODUÇÃO

            O turismo se constitui como sendo uma atividade que influencia diretamente nas localidades e acaba alterando e adaptando a sua dinâmica local para atender as necessidades da sua demanda. Esse fator gera diversos efeitos e também proporciona o desenvolvimento e crescimento da área em diversos aspectos, seja ele econômico, social, cultural, político, dentre outros.
            O município de Mossoró é uma das principais cidades do estado do Rio Grande do Norte, tendo destaque e contribuições pertinentes em diversos setores, como uma forte economia com a produção de sal e extração de petróleo, assim também com uma grande atuação na política estadual.
            A construção do Corredor Cultural trouxe uma nova realidade e proporcionou novos espaços de lazer e turismo para a cidade, possibilitando um fluxo considerável de pessoas nesse local, tanto de moradores como também de turistas. Com esses novos cenários, proporcionou também espaços para a realização de diversos eventos como, por exemplo, o Mossoró Cidade Junina, principal festividade do município.     
A partir disso, tem-se como objetivo discutir como o Corredor Cultural se constitui como um expoente para o desenvolvimento local e turístico de Mossoró/RN. Para atingir a isso, pretende-se abordar discussões sobre a relação entre turismo e desenvolvimento; apresentar o Corredor Cultural e suas implicações para a dinâmica local; e analisar de que forma a sua construção contribuiu para o turismo em Mossoró.
Como procedimento metodológico para o embasamento desse estudo, foi realizado uma revisão bibliográfica, buscando levantar o maior número possível de informações sobre os temas de interesse para fundamentar a pesquisa realizada. O estudo se caracteriza como estudo exploratório, e também como descritivo, no qual se baseia o conhecimento profundo do problema por parte do pesquisador, onde descreve e analisa os fatos decorrentes do objeto de estudo (GIL, 2010).
Dessa forma, primeiramente será apresentada uma discussão referente a relação entre o turismo e o desenvolvimento, destacando definições e autores importantes para esse entendimento e enriquecimento da pesquisa. Posteriormente, será apresentado o Corredor Cultural de Mossoró e de que forma esse espaço veio a contribuir para o desenvolvimento local.

2 O TURISMO E O DESENVOLVIMENTO LOCAL

O turismo é uma atividade que vem crescendo e se destacando na economia do terceiro setor no decorrer das últimas décadas, no qual o mesmo pode ser caracterizado como um conjunto de serviços que pode ser segmentado e consumido pelos viajantes, sejam eles a procura de lazer, negócios, cultura, dentre outros.
Muitos enxergam no turismo a possibilidade de desenvolver os destinos e assim gerar um fluxo de capital e de visitantes, proporcionando assim promover o crescimento e o desenvolvimento nessas localidades. É uma atividade capaz de dinamizar diversos elementos que estão direta ou indiretamente interligados com o turismo, já que a mesma se utiliza do espaço e interage diretamente com a localidade e com os seus habitantes (DIAS e AGUIAR, 2002). Essa interação e dinâmica com a região receptora gera impactos que podem ser positivos ou negativos.
Conforme explica Dias (2006) a respeito do turismo, por ser uma atividade em que é utilizado o espaço para poder produzir e consumir seus produtos, isso causa diversos efeitos para a região. Quando o turismo não é planejado de maneira adequada ou é gerido de forma ineficiente, pode gerar vários impactos negativos com dimensões diversas na economia, no meio ambiente, na cultura, e dentre outros. Entretanto, se bem trabalhado, pode favorecer também a geração de benefícios para a destinação e para os autóctones, de forma a promover o seu crescimento e desenvolvimento. Entretanto, esses fatores ficam interligados, pois a atividade irá gerar pontos positivos para a localidade, mas isso acarretará também em suas consequências.
Para Boullón (2002: 61) referente a esse planejamento e estruturação da atividade, é necessário a intervenção de organismos competentes no qual possam atender as necessidades que o turismo demanda, como pode-se constatar a partir dessa afirmação do autor:

A superestrutura turística compreende todos os organismos especializados, tanto públicos como da iniciativa privada, encarregados de otimizar e modificar, quando necessário, o funcionamento de cada uma das partes que integram o sistema, bem como harmonizar suas relações para facilitar a produção e a venda dos múltiplos e dispares serviços que compõem o produto turístico.

            Sendo assim, a partir da citação acima, fica evidente a relevância dessa integração entre os setores e organismos públicos e privados, sendo os intervenientes que geralmente tem maior destaque e participação no planejamento turístico, para a execução da atividade e também para prezar pelo bom funcionamento da mesma. Além disso, esses órgãos também tem grande influência para a divulgação dos destinos, de modo a induzir os turistas em potenciais a conhecer o local.
Além desses elementos já citados, é interessante também integrar a comunidade a essa análise e planejamento, pois o turismo impacta positivamente e negativamente e atua diretamente com esses fatores e tem a possibilidade de modificar essa dinamização do espaço e da população local. Referente a essa inclusão dos grupos sociais no planejamento, Putnam (2006) afirma que as ações coletivas entre esses atores traz diversos benefícios ao desenvolvimento local, de modo que há esse crescimento uniforme e integrado das partes a fim de haver a melhora do todo.
            A partir desse planejamento e dessas intervenções, além de outros fatores complementares, é possível gerar o desenvolvimento da destinação através do turismo. Há uma linha de pensamento já consolidada na qual diferencia o crescimento do desenvolvimento, principalmente quando está relacionado com a análise de um local. O crescimento está relacionado a questão quantitativa, no qual o objetivo dessa teoria é avançar na medida em que cresce a sua economia, o seu número populacional, o seu Produto Interno Bruto, e dentre vários outros aspectos. Já o desenvolvimento ocorre quando há uma evolução não somente nos fatores quantificáveis, mas também com melhorias significativas para a população, como a melhora no nível educacional, melhores condições de moradia, de saúde, e etc (SEN, 2010).
            Para Brandão (2008), esse desenvolvimento deve ocorrer de forma integrada entre os agentes públicos, privados e pela comunidade local, no qual deve ser realizado através de ações coletivas que corroborem para um fim específico, de modo que deve atender a demanda do contexto da realidade do local.
            Dessa forma, dialogando com os autores acima, fica evidente que o desenvolvimento deve envolver o avanço conjunto tanto do local, mas também dos atores envolvidos nesse processo.
A respeito da sua conceituação, existe uma relevante discussão referente as definições de desenvolvimento, pois diversos autores o conceituam de acordo com o seu enfoque e sua linha de pensamento. Para fins de discussão da presente pesquisa, será destacada a definição e percepção de Max-Neef (1994), pois o autor possui uma visão holística e dá um maior enfoque ao desenvolvimento que é direcionado a melhoria da qualidade de vida das pessoas e que possa proporcionar a satisfação das necessidades humanas prioritariamente as econômicas. O viés econômico é muito presente e perceptível e não pode ser desconsiderado, entretanto, pelo objeto de estudo se tratar de um espaço destinado ao lazer e a cultura da população e dos visitantes, é relevante realizar essa discussão a partir desses elementos.
            Referente a essas necessidades humanas elencadas por Max-Neef (1994: 30) a partir do processo de desenvolvimento, destacam-se:

Tal desarrollo se concentra y sustenta en la satisfacción de las necesidades humanas fundamentales, en la generación de niveles crecientes de autodependencia y en la articulación orgánica de los seres humanos con la naturaleza y la tecnología, de los procesos globales con los comportamientos locales, de lo personal con lo social, de la planificación con la autonomía y de la sociedad civil con el Estado.

            Essa percepção do desenvolvimento a partir dos elementos destacados na citação acima dialoga com o entendimento de Sen (2010) que também afirma que o desenvolvimento é um processo que pode possibilitar a expansão das liberdades reais de um indivíduo. Seguindo assim o pensamento de Sen (2010), a liberdade que a pessoa possui em poder realizar algo, é diretamente influenciado pelas oportunidades econômicas, pela liberdade política, o acesso a educação, e dentre vários outros elementos que incentivam e dão estímulo para as suas iniciativas.
            Sendo assim, o desenvolvimento nesta perspectiva pode ser entendido como sendo um processo que proporcione melhores condições de oportunidades e de qualidade de vida para as pessoas, sejam elas autóctones ou apenas visitantes.
            Dessa forma, o turismo como dinamizador e causador de efeitos diversos nas localidades, possibilita esse desenvolvimento a fim de atender as necessidades da sua demanda. Sendo assim, é relevante uma análise para avaliar de que forma e quais as implicações que estão relacionadas com esse desenvolvimento e/ou crescimento nas destinações, como será feito a seguir com a cidade de Mossoró e a construção do seu corredor cultural, objeto de estudo da seguinte pesquisa.

3 UMA BREVE INTRODUÇÃO SOBRE A POLÍTICA E A ECONOMIA DE MOSSORÓ

Mossoró é um município situada no alto-oeste do estado do Rio Grande do Norte. Se destaca atualmente por ser o segundo núcleo urbano do estado, com uma área de 2120,07 km² e aproximadamente 259.815 habitantes, segundo o censo 2010 do IBGE. Além disso, possui ainda uma forte economia, principalmente na extração de petróleo e produção de sal (IBGE, 2014). Destaca-se juntamente com outros centros urbanos de médio porte do Nordeste, sendo eles Caruaru em Pernambuco, Campina Grande na Paraíba e Sobral no Ceará.
Em meados do século XIX e XX, vários comerciantes advindo da Paraíba, do Ceará, e ate mesmo da Europa, instalaram em Mossoró os seus comércios de importação e exportação de mercadorias, pois a cidade já despontava como um importante centro comercial da região. Além dessa forte economia, vários fatos importantes aconteceram durante esse período, como o primeiro voto feminino do Brasil, a libertação dos escravos, a resistência contra o bando de Lampião, e dentre vários outros. Todos esses elementos constituíram, e constituem até hoje, um ideal que fortalece a identidade do mossoroense, por ser um povo pioneiro, com gestos nobres e de coragem (COSTA, 2010).
As gerações posteriores a esses comerciantes herdaram esse sentimento de desenvolver a economia da cidade e consolidar a sua identidade. A partir da década de 1940, uma família passa a ter um grande destaque, principalmente no cenário político de Mossoró, sendo essa a oligarquia dos Rosado. Tendo o farmacêutico e influente líder local Jerônimo Rosado como patriarca, no qual os seus descendentes que iniciam o legado da família na política. Sua plataforma sempre esteve ligada na realização de grandes obras para o desenvolvimento da cidade e também na consolidação e divulgação da cultura e da identidade mossoroense. Inicia-se assim um longo período que se estende até os dias de hoje, no qual a família Rosado é protagonista na política em Mossoró e também muito influente na política estadual (FELIPE, 2001).
Em relação a economia, desde o século XX o município já se configurava como um importante centro comercial e de serviços regional, com um comércio de exportações considerável e serviços de referência, além de indústrias e da intensa modernização e expansão urbana da cidade já no final do século. Além desses elementos, sua história é marcada por importantes acontecimentos históricos, que estão presente até os dias atuais na memória e nos prédios históricos e eventos da população mossoroense (COSTA, 2010).
A partir das décadas de 1980 e 1990, Mossoró passa por uma reestruturação econômica, no qual foram implementadas políticas públicas estaduais e federais que possibilitaram uma acelerada expansão urbana da cidade. Com esses incentivos, houve a criação de novos bairros, um aumento considerável da população e, consequentemente, uma migração intensa dos moradores rurais e das cidades vizinhas. Em relação a economia, durante esse período, houve o fortalecimento e a consolidação de atividades que contribuíram significativamente para o desenvolvimento e o crescimento da cidade, com destaque a fruticultura irrigada, a salinicultura e a extração de petróleo. Diversas empresas também se instalaram em Mossoró e houve a expansão dos serviços básicos que são oferecidos para a população da cidade e também da região.
Com essa expansão acelerada no final do século XX, também houve um grande investimento público e privado na construção de estruturas, principalmente para a área do comércio e de serviços, além da urbanização das ruas e dos espaços públicos, gerando assim um grande crescimento na cidade nesse período. Percebe-se então esse desenvolvimento de Mossoró muito interligado a expandir a cidade e gerar novas oportunidades de comércio e negócios, mas também para atender as novas demandas da população. Dessa forma, possibilitando um desenvolvimento local e do território, a partir dessa expansão realizada pelos intervenientes envolvidos (BRANDÃO, 2008).
A partir dessas condições e também pela iniciativa do poder público e privado, criou-se o projeto de construir um corredor cultural na cidade, na qual concentra vários espaços de interesse do lazer e turístico para os moradores e também para os visitantes, como será discutido posteriormente.

4 O CORREDOR CULTURAL DE MOSSORÓ: UM ESPAÇO DE DESENVOLVIMENTO E CONTRASTES

Durante o domínio da oligarquia dos Rosados, várias construções foram feitas para o crescimento e desenvolvimento de Mossoró, com a reforma e construção de diversos espaços. O espaço urbano é um elemento essencial para o convívio e para a constituição da sociedade. Segundo Gomes (2001: 96) “o espaço torna-se um conjunto indissociável de formas e práticas sociais”. Ou seja, as formas do espaço constitui-se pela dimensão física do seu ambiente, seu espaço determinado e delimitado, enquanto as práticas sociais são as dinâmicas e a interação entre os grupos sociais que ali ocorrem.
Durante os anos de 1996 a 2002 o espaço público se constitui como um debate central nas disputas eleitorais, como destaca Gomes Neto (2013: 93):
O espaço público adquiriu uma centralidade no debate eleitoral durante todo esse período, que vai do ano de 1996 até 2002 quando constatamos a valorização destes equipamentos, seja na concepção de praças, seja no discurso que é criado em torno delas, geralmente positivo, dando ênfase às qualidades estéticas e cidadãs dos espaços. É fácil perceber pela cidade um aumento significativo das áreas públicas nos últimos anos, principalmente de praças.
            Nesse contexto, foi implementado o projeto do Corredor Cultural, no qual visava a reforma do espaço já existente na avenida Rio Branco, localizada no centro da cidade, e a construção de diversos espaços nessa mesma área para o lazer e entretenimento dos moradores e visitantes. A maior parte do investimento veio através do poder público, com parceria entre empresas privadas e outros stakeholders envolvidos. A população local não foi consultada durante a tomada de decisões para a sua concepção, entretanto, o complexo é bem aceito pelos moradores e pessoas que visitam o local. (GOMES NETO, 2013).
Dessa forma, o Corredor Cultural foi inaugurado em 29 de maio de 2008 como sendo um complexo de lazer e turístico. Atualmente, o Corredor Cultural conta com os seguintes espaços: Praça da Criança, Praça de Eventos, Estação das Artes, Teatro Municipal Dix-huit Rosado, Memorial da Resistência, Praça da Convivência e a Praça de Esportes (CASTRO, 2012).
A partir dessa construção, Mossoró ganha uma grande área de lazer e entretenimento, além de vários espaços culturais para fortalecer a identidade local e para a realização de eventos. Esses cenários e prédios construídos aumentaram significativamente a circulação de pessoas nesses espaços, tanto de autóctones quanto de visitantes, além de gerar oportunidade de comércio e negócios. Sendo assim, o Corredor Cultural foi um marco para a história de Mossoró, que além das questões já levantadas, também proporciona esse fortalecimento da cultura mossoroense e se configura como a principal opção de entretenimento no município, com foco na satisfação das necessidades humanas, como já apontado por Max-Neef (1994).
Em relação ao turismo, a sua implementação só veio a contribuir para a atividade, como afirma Gomes Neto (2013: 58)
Se levarmos em conta que a cidade não dispõe de “atrativos naturais” como praias, serras ou outras paisagens de “cartões postais”, entende-se que a edificação deste projeto por parte dos gestores municipais tem como um dos objetivos a construção de uma imagem que agregue valor à cidade.
            Sendo assim, o Corredor Cultural se configura como sendo uma das principais imagens na qual é vendida Mossoró. Dentre os espaços construídos, três tem um maior interesse em relação a atividade turística, sendo elas a Praça da Convivência, o Memorial da Resistência e a Praça de Eventos.
A Praça da Convivência se destaca por ter uma arquitetura diferenciada, fazendo referência aos antigos casarões do século XIX. É uma área que se concentra os estabelecimentos comerciais, principalmente relacionados com a gastronomia, com vários restaurantes, bares, sorveterias, dentre outros. Além disso, ainda possui um espaço e uma programação regular de apresentações culturais de artistas locais. Se configura como um dos principais cartões postais do município (CASTRO, 2012).
O Memorial da Resistência é um espaço aberto ao ar livre que dispõem de galerias, fotos, material áudio visual, e dentre outros, no qual remonta a história da resistência de Mossoró a invasão do cangaceiro Lampião no ano de 1927. Um dos principais destaques deste espaço são imagens gigantes de Lampião e alguns de seu bando, local muito frequentado pelos visitantes (CASTRO, 2012).
A Praça de Eventos é o local no qual se realizam exposições, feiras, festividades, e dentre outros. O principal evento que ocorre neste espaço é o Mossoró Cidade Junina, no qual ocorre durante todo o mês de junho, nas festividades juninas, e atrai milhares de turistas. É o evento mais importante da cidade, em termos de circulação de pessoas, fluxos de turistas e de divisas (CASTRO, 2012).
Entretanto, apesar das grandes contribuições que a construção do Corredor Cultural trouxe a cidade de Mossoró, vários sãos os aspectos que contrastam essa situação. A concepção desse projeto surgiu também a partir de um discurso político para fortalecer e consolidar o governo vigente da época e garantir o seu legado. Referente a isso, Gomes Neto (2013: 59) atesta que
No plano da funcionalidade, constata-se que este espaço possui uma dupla finalidade. Primeiro, tem a função urbana que todo espaço público reúne como local do encontro, do passeio, do lazer, da vida urbana. Mas, por outro, congrega elementos de um discurso político que é trabalhado para manter uma oligarquia no poder.
            Dessa forma, o espaço do Corredor Cultural é utilizado para dar uma maior qualidade de vida da população, entretanto, surgiu a partir de um interesse político e dos stakeholderes envolvidos no processo, no qual o espaço público em questão passa a ser a tradução de uma demanda política, fomentada pelo discurso e para embasar plataformas de campanhas eleitorais.
 Desse modo, a sociedade e as associações tiveram uma participação passiva na sua concepção, contrastando com o que Putnam (2006) alega, que quando a ação coletiva é valorizada e colocada em prática, através do capital social e da cooperação, isso trás diversos benefícios para todos os atores envolvidos, desde que haja compromisso e confiança das partes.
            Nesse caso, a concepção do Corredor Cultural está relacionada a utilização dos aspectos culturais de Mossoró para dar uma significação maior aos espaços e também fortalecer a identidade local, de modo a divulga-la e vende-la para os visitantes. Referente a isso, Gomes Neto (2013: 39) aponta que:
as cidades passam a planejar as políticas públicas e efetivá-las no plano dos espaços públicos, tendo como uma das lógicas centrais a questão da cultura, e os espaços que são concebidos no âmbito do contexto urbano, por serem basicamente temáticos, revelam em sua área física a história, a cultura dos povos que ali viveram. Fazendo dessa lógica um espaço destinado ao consumo, em suas mais diferentes escalas.
            Sendo assim, fica evidente de que os políticos se preocuparam mais com a visibilidade da obra, a propaganda e repercussão que isso gerou, a espetacularização dos espaços, enquanto a população deve se adequar para ter acesso a todos os ambientes disponíveis. Esse fator implica em outra questão preocupante, que é a segregação social que existe nos espaços do Corredor Cultural. Principalmente a área da Praça de Convivência, que possui o comércio gastronômico, não possibilita o acesso viável a toda a população de Mossoró, com preços elevados para a realidade local (GOMES NETO, 2013). Sendo assim, os principais beneficiados da utilização desses espaços são os comerciantes que possuem seu empreendedorismo nessa região e também o governo que recolhe os impostos.
Além disso, outros espaços também são tomados e frequentados por grupos que se apoderam daqueles espaços, impedindo a livre circulação de outras pessoas, pois o território também deve ser entendido como um território de conflitos (BRANDÃO, 2008). Gomes Neto (2013) considera essa situação como sendo a utilização do espaço como “cenário” e “bastidor”, no qual o governo, os comerciantes e as pessoas que tem condições atuam como protagonistas desses espaços enquanto a população que não tem acesso apenas o assiste, como um espectador.
Esses elementos distorcem dos ideias de Max-Neef (1994), pois apesar do Corredor Cultural oferecer esses espaços de lazer para os moradores e para os visitantes, há algumas restrições que ficam implícitas no espaço de acordo com a dinâmica social que ali ocorre.
Diante do exposto, percebe-se que o Corredor Cultural oferece diversos benefícios para a cidade de Mossoró, entretanto, traz também alguns aspectos que devem ser analisados de forma mais profunda para se ter uma noção da dimensão desde a concepção até a execução da obra. Mas é relevante destacar que o Corredor é um importante expoente para o desenvolvimento local de Mossoró, pois possibilita esse avanço na cidade em termos econômicos, sociais e culturais, possibilitando novas oportunidades a partir dessa construção.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Mossoró é um importante município a nível estadual e regional, que viveu nas últimas décadas várias transformações e investimentos para a sua expansão e modernização. Sendo assim, a dinâmica local foi modificada devido a esse fator e o turismo está incluso nesse processo de desenvolvimento e crescimento.
O desenvolvimento é um fator que possibilita o avanço de vários elementos em uma localidade, sendo eles econômicos, sociais, culturais, ambientais, dentre outros. O turismo, por ter a particularidade de consumir o espaço enquanto está consumindo o produto turístico, tem grande influência quanto a esses efeitos.
            Dessa forma, essa integração que acontece entre o turismo e o desenvolvimento necessita de uma análise mais aprofundada para buscar entender quais as consequências a partir dessas intervenções. É o caso do Corredor Cultural de Mossoró, que atualmente traz um fluxo considerável de pessoas ao centro da cidade, moradores e visitantes, e gera esses efeitos a partir disso.
Diante do exposto, é relevante refletir a respeito das contribuições e das implicações que envolvem o desenvolvimento local e turístico para a localidade a partir desses elementos que são incorporados e construídos a fim de expandir e proporcionar a geração de novas oportunidades para os indivíduos.
REFERÊNCIAS

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BRANDÃO, Carlos. Pactos em territórios: escalas de abordagem e ações pelo desenvolvimento. O&S. v. 15, n. 45. Abril/Junho 2008.
CASTRO, Carla Yara Soares de Figueirêdo. O corredor cultural: espaço de materialização da exclusão social em Mossoró. Natal – RN. Tese de doutorado. UFRN, 2012.
COSTA, Almir Nogueira da. Mossoró – nossa terra I. Mossoró – RN, 2010.
DIAS, R. Turismo e patrimônio cultural – recursos que acompanham o crescimento das cidades. São Paulo: Saraiva, 2006.
DIAS, R., & AGUIAR, M. R. Fundamentos do turismo: conceitos, normas e definições. Campinas, SP: Editora Alínea, 2002.
FELIPE, José Lacerda. A (re)invenção do lugar: os Rosados e o “País de Mossoró”. Revista Território. Ano VI, nº 10, p. 33-49. Jan/jun 2001.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GOMES, Paulo César da Costa. A cultura pública e o espaço: Desafios Metodológicos: In: Religião, identidade e cultura. (org) ROSENDAHL. Z., CORRÊA, R.L. Geografia Cultural, Vol. 9, Eduerj, 2001.
GOMES NETO, José. As faces do corredor cultural em Mossoró: cenários e práticas sociais. Natal – RN. Dissertação de mestrado. UFRN, 2013.
MAX-NEEF, Manfred A. Desarrollo a escala humana. Barcelona: Icaria Editorial. 1994
PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. 5ª ed.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

* Guia de Turismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN (2013) e Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (2014). Atualmente é aluna do mestrado no Programa de Pós Graduação em Turismo da UFRN. Publicou artigos em periódicos na área de turismo e áreas afins em âmbito nacional. Tem como principais áreas de interesse: turismo e cultura, patrimônio histórico, planejamento turístico e desenvolvimento regional.

** Bacharel em turismo pela Universidade Federal do Pará - UFPA (2003), mestre em cultura e turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz e Universidade Federal da Bahia - UESC/UFBA (2006), doutor em ciências do desenvolvimento sócioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA/UFPA (2012). É membro integrante dos grupos de pesquisa em Cultura e Turismo: Políticas e Planejamento da UESC e Turismo, Cultura e Meio Ambiente da UFPA. É líder do Grupo de Pesquisa em Planejamento e Organização do Turismo (GEPPOT/UFRN/CNPQ). Autor do livro "TURISMO: planejamento e políticas públicas na Amazônia", lançado em 2007 pela Editora (e-papers). Publicou artigos em periódicos na área de turismo e áreas afins em âmbito nacional e internacional. Publicou também capítulos de livros. Foi o coordenador responsável pelo reconhecimento do curso de turismo em janeiro de 2008, na ocasião recebeu nota máxima (5/5/5) em todos quesitos: corpo docente, espaços físicos e projeto pedagógico de curso - PPC. Atualmente é professor adjunto II do departamento de turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, campus Natal.


Recibido: 23/02/2016 Aceptado: 20/06/2016 Publicado: Junio de 2016

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