Luciano Zanetti Pessôa Candiotto
Lucas Araújo Bonetti
UNIOESTE
lucianocandiotto@yahoo.com.brResumo
As políticas públicas  correspondem a um conjunto de ações do Estado, concebidas, regulamentadas e  executadas por instituições do setor público, nos níveis federal, estadual e  municipal. Elas são destinadas ao atendimento das necessidades da sociedade.  Através das políticas públicas, o poder público define normas e ações nos mais  variados setores, sob a responsabilidade estatal. Entre esses setores, está o  turismo, que se constitui em uma atividade socioeconômica vinculada ao  deslocamento de pessoas para viagens com finalidades diversas. O turismo  envolve a produção e comercialização de bens e serviços para a sociedade, tendo  em um dos polos os lugares e empreendimentos que recebem os turistas (oferta)  e, em outro, quem visita, ou seja, os próprios turistas (demanda). Neste  artigo, é discutida a trajetória das políticas públicas federais de turismo no  Brasil, considerando a organização institucional existente, bem como as  diretrizes, planos e programas de apoio ao desenvolvimento do turismo. 
Palavras-chave: turismo, políticas  públicas, Brasil, governo federal, Estado.
PATH OF TOURISM PUBLIC POLICIES IN BRAZIL 
  Abstract
  Public policies are  a set of state actions, designed, regulated and enforced by public sector  institutions at the federal, state and municipal levels. They are designed to  meet the needs of society. Through public policies, the government sets  standards and actions in various sectors under state responsibility. Tourism is  among these sectors, which constitutes a social and economic activity linked to  the movement of people to travel for various purposes. Tourism involves the production  and marketing of goods and services to society, having in one of the poles  places and businesses that receive tourists (supply) and, in another, visitors,  i.e. the tourists themselves (demand). In this article, we discuss the  trajectory of federal tourism public policies in Brazil, considering the  existing institutional organization as well as the guidelines, programs and  plans that support the Brazilian tourism development.
  Keywords: tourism, public  policies, Brazil, federal government, State.
TRAYECTORIA DE LAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO EN  BRASIL (Resumen)
  Las políticas públicas son  un conjunto de acciones estatales, diseñadas, reguladas y ejecutadas por  instituciones del sector público a nivel federal, estatal y municipal. Están  diseñadas para satisfacer las necesidades de la sociedad. A través de las  políticas públicas, el gobierno establece las normas y acciones en diversos  sectores bajo la responsabilidad del Estado. Entre estos sectores se encuentran  el turismo, que constituye una actividad socio-económica vinculada al  movimiento de personas que viajan para diversos fines. Turismo consiste en la  producción y comercialización de bienes y servicios a la sociedad, teniendo por  un lado, las empresas y lugares que reciben a los turistas (oferta) y, por  otro, visitantes, es decir, los propios turistas (la demanda). En este artículo  se analizan la trayectoria de las políticas públicas federales de turismo en  Brasil, teniendo en cuenta la organización institucional existente, así como  las directrices, programas y planes de apoyo para el desarrollo del turismo  brasileño. 
  Palabras-clave: turismo, políticas  públicas, Brasil, gobierno federal, Estado.
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato: 
 Luciano Zanetti Pessôa Candiotto y Lucas Araújo Bonetti (2015): Trajetória das políticas públicas de turismo no Brasil , Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 19 (diciembre 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/19/politicas.html
Introdução
   A partir da  década de 1990, muito se tem falado sobre o potencial da atividade turística em  promover o desenvolvimento econômico do Brasil, de seus estados e municípios.  As estatísticas promissoras vêm inspirando o governo federal e os governos  estaduais a investir em ações voltadas para o setor. 
   O turismo é  visto hoje como uma das atividades econômicas que mais cresce no mundo, sendo  também um fenômeno social, que leva a transformações socioespaciais. O  potencial, a geração de emprego e renda, a quantidade de recursos trazidos  pelos viajantes para um determinado lugar e o número cada vez maior de pessoas  que viajam são apenas alguns indicadores que demonstram a força do setor. No  entanto, o que vem chamando mais a atenção da comunidade acadêmica e dos formuladores  de políticas públicas dedicados à estruturação do setor é o enorme impacto  exercido pelo turista na vida das pessoas e nos locais em que elas vivem, seja  no plano dos chamados impactos positivos, como geração de emprego e renda,  fortalecimento do setor de comércio e serviços, novos investimentos em  infraestrutura, equipamentos e atrativos turísticos; seja no plano dos impactos  negativos (segregação socioespacial, aumento no preço da terra e de mercadorias  nos lugares que recebem turistas, subordinação das populações locais às  empresas do setor, impactos ambientais, entre outros). 
   O turismo  passou a integrar a vida da população, estando em permanente expansão pelo fato  de ser uma forma rápida de expansão do capital, de consolidação de valores  verticais (globais) e do consumismo nos lugares onde se instala, seja em  grandes ou pequenas cidades, áreas rurais ou mesmo em áreas protegidas. 
   O tema  políticas públicas de turismo pode ser definido como um conjunto de intenções,  diretrizes, normas e estratégias estabelecidas no âmbito do poder público, com  o propósito de alcançar e dar continuidade ao desenvolvimento da atividade  turística em um determinado território. No entanto, não é apenas o Estado o  responsável pelo direcionamento das políticas públicas. O setor empresarial e,  em menor proporção a sociedade civil, têm uma importante influência nos rumos  das políticas públicas.
   As políticas  públicas de turismo são secundárias se comparadas a outros setores da gestão  pública, como a saúde, educação, trabalho, etc. No entanto, considerando que o  interesse pelo desenvolvimento do turismo vem aumentando no Brasil e no mundo,  haja vista que o setor consiste em um dos mais importantes na economia global,  gerando não apenas renda, como também o intercâmbio de pessoas e de culturas.  No entanto, a materialização do turismo também conduz a transformações  sociespaciais, que vêm sendo alvo de pesquisas realizadas por geógrafos  [Rodrigues (2000), Cruz (2000), Luchiari (2002), Candiotto (2007), Silveira (2002)].
   Considerando  a importância das políticas públicas como elemento estruturador, regulador e  indutor do desenvolvimento econômico, dos usos do território (Santos, 1997) e  do bem-estar social, buscou-se discorrer sobre a trajetória das políticas  públicas federais de turismo. O procedimento metodológico para a organização do  artigo foi composto pelo levantamento, leitura e análise de artigos e  documentos oficiais do governo federal, sobretudo do Ministério do Turismo. O  artigo apresenta a trajetória das políticas públicas de turismo, considerando a  estrutura pública institucional do turismo no país, a evolução da Política  Nacional de Turismo e os principais programas para o desenvolvimento do turismo  no Brasil. Concomitantemente, estabelece comentários sobre essas políticas  públicas.
1  POLÍTICAS PÚBLICAS
   O conceito  de política pública aparece relacionado ao desenvolvimento do Estado  capitalista. As políticas públicas estão  relacionadas ao Estado, o qual determina as diretrizes e ações prioritárias dos  diversos setores econômicos, sociais, políticos e ambientais, direcionando  também como os recursos públicos serão utilizados para o benefício dos cidadãos  (Meksenas, 2002). Elas são caracterizadas por duas dimensões que se  complementam: a técnica-administrativa e a política (Fernandes, 2007).
   Cruz (2002)  enfatiza a política pública como instrumento norteador do processo de  planejamento, de modo que aponta para três formas de intervenção do Estado:  participação; indução e controle. A participação ocorre quando o Estado  exerce alguma atividade econômica no setor, como a administração de um meio de  hospedagem. A indução, quando o Estado orienta o comportamento dos  agentes de mercado, como por meio de incentivos financeiros e fiscais. Já o controle, diz respeito à regulação pelo poder público, sobre a forma pela qual a  iniciativa privada poderá explorar determinada atividade econômica. 
   As políticas  públicas são ferramentas do Estado para administrar os bens públicos.  Considera-se o Estado como todo aparato por meio do qual o governo exerce seu  poder através de políticos eleitos, servidores públicos/civis, regulamentações,  normas e leis. O Estado brasileiro (República Federativa do Brasil) é composto  pelos governos federal, estadual e municipal e suas diversas instituições  públicas. As políticas públicas são ferramentas que induzem os rumos do  desenvolvimento de um país (Fernandes, 2007).
   Na visão de  Benevides (2002: 102), as políticas públicas geografizadas instauram um novo  sistema de objetos (e ações), pois os  investimentos públicos “[...] estabelecem  os vetores concretos que condicionam o ordenamento, o controle e a valorização  desses territórios, influenciando, portanto, a logística de sua ocupação e  direcionando os fluxos de pessoas, informações e mercadorias que nele circulam”.
   Assim, existem  intencionalidades – explícitas ou ocultas – nas políticas públicas. Elas  refletem embates políticos e ideológicos, bem como relações de poder entre o  setor público e o privado. 
  A forma de que tradicionalmente as políticas  públicas se revestem para orientar e fomentar diretamente investimentos  privados em atividades econômicas reflete-se no fato de que a ação  governamental é responsável pela criação de grande parte do espaço complementar  capaz de alavancar essas atividades privadas (Sanchez apud Benevides,  2002:103).
   Sob essa  perspectiva, o Estado age como impulsionador da expansão do capitalismo através  das políticas públicas. Contudo, existem políticas públicas que foram criadas a  partir da reinvindicação de outros setores da sociedade, como a classe  trabalhadora, movimentos sociais, associações de classe, entre outras. 
1.1 Políticas públicas de  turismo
   A política  pública do turismo é uma das áreas da política responsável por desenvolver  diretrizes, planejamento, promoção e controle da atividade turística de um  país, estado, região ou município (Hall, 2001). Na maioria das vezes, as  políticas públicas de turismo são criadas pelos órgãos administrativos ligados  ao setor de turismo que são o Ministério do Turismo, Secretarias Estaduais e  Municipais de Turismo.  
  As políticas públicas de turismo são de extrema  importância como instrumento norteador do processo de planejamento, pois há uma  intrínseca relação entre o planejamento governamental e a política pública. O  planejamento público do turismo é, por sua vez, uma espécie de resposta do  poder público aos efeitos indesejados do desenvolvimento do setor (Hall, 2001:  25).
  [...] uma política pública de turismo pode ser  definida como um associado de intenções, diretrizes e estratégias estabelecidas  e ações deliberadas no âmbito do poder público, em virtude do objetivo geral de  alcançar o desenvolvimento da atividade turística em um determinado território (Cruz, 2000:  40).
              Em virtude da exacerbação recente do turismo como vetor  de desenvolvimento no Brasil a partir da década de 1990, as políticas públicas  destinadas a este setor também são relativamente recentes. Além disso, as  políticas públicas de turismo no Brasil seguem modelos utilizados nos países  centrais do capitalismo, onde predominam orientações neoliberais. 
   Silveira  (2002) ressalta que existem políticas publicas de turismo na Europa desde a  década de 1950, com destaque para França e Espanha. Na década de 1960, tais  políticas se espalharam para outros países da Europa. Porém, é a partir da  década de 1980, que o turismo ganha destaque nas políticas de desenvolvimento  territorial de vários países. Na América Latina, o México foi o primeiro país a  elaborar um plano nacional de desenvolvimento turístico. 
   No Brasil, a  primeira Política Nacional de Turismo foi formulada em 1966, porém a Política  Nacional de Turismo mais relevante foi instituída no ano de 1991. Conforme será  debatido nesse artigo, apesar da maior intencionalidade nas políticas públicas  de turismo estarem historicamente ligadas ao desenvolvimento econômico da  atividade, favorecendo sobretudo empresas privadas, o discurso do Governo  Federal passa a ser diferente a partir da década de 1990, quando o termo  desenvolvimento sustentável é incorporado em documentos oficiais. Além do  turismo enquanto vetor de desenvolvimento - onde continua-se a priorizar o  econômico mas adiciona-se o social como consequência do crescimento econômico –  começa-se a falar em turismo sustentável. 
  O governo federal vem anunciando o fomento ao  turismo como uma das armas a serem usadas no combate às desigualdades sociais e  disparidades regionais existentes no território brasileiro, e como um dos  instrumentos na busca do desenvolvimento sustentável do país (Silveira,  2002: 40).
   Benevides  (2002) acredita que, apesar da retórica oficial vinculada à sustentabilidade no  Brasil em vários países, o turismo traz um pressuposto desenvolvimentista,  incorporado nas novas políticas públicas de âmbito nacional, regional e local.
  [...] o status do turismo como um dos setores  prioritários para políticas públicas, [...] passa agora a receber relevância,  por conta da atual reestruturação produtiva do capitalismo, configurador de uma  nova divisão territorial e social do trabalho em escala global, ensejando a  suas periferias uma participação ainda menor na produção industrial e nos  serviços de alto conhecimento e tecnologia (Benevides, 2002: 107).
   Resta então  às periferias se agarrar no turismo como vetor de desenvolvimento, passando a  buscar investimentos externos que viabilizem a atividade turística, sem refletir  ou questionar as implicações socioespaciais desta opção. Assim como Benevides  (2002), Carlos (1996), Rodrigues (2000), Ouriques (2005) e Candiotto (2007)  apresentam uma posição de destaque para a influência do capitalismo como fator  determinante do turismo. No desenvolvimento do capitalismo, o turismo surge  como consequência de amplas transformações anteriormente operadas em outros  setores econômicos e em várias dimensões da vida social (Benevides, 2002).
   Nos dias  atuais, o turismo se apresenta como um setor estratégico em quase todos os  países do mundo. Além de depender de toda uma infraestrutura e dos  investimentos privados, o desenvolvimento do turismo necessita de políticas  públicas. 
   A história das políticas públicas em turismo tem sua origem  a partir da própria expansão do turismo. Em virtude de conquistas e benefícios  trabalhistas, como a limitação de uma carga horária máxima para a jornada de  trabalho, ao décimo terceiro salário, as férias remuneradas e a aposentadoria,  bem como em avanços técnicos, vinculados aos transportes, comunicação e demais  setores do meio  técnico-científico-informacional (Santos, 1996 e 1997).
2  TRAJETÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL
   Desde sua origem, o Estado brasileiro não estava preocupado  com o bem estar da sociedade, mas sim em explorar as riquezas do território e  encaminhar para a Metrópole. A população brasileira sempre foi desigual, de  modo que na construção da cultura brasileira não foi instituído o hábito da  participação ativa das decisões do governo (Meksenas, 2002).
   Assim, a  gestão pública e a formulação de políticas públicas no Brasil, sempre foram  centralizadas por uma elite, com poder político e econômico que caracteriza a  história do país. 
   As primeiras  normatizações no contexto do turismo brasileiro surgiram no final da década de  1930, com a finalidade de regulamentar o setor de agências de viagens. Em 1938  foi instituído o Decretos-Lei n. 406, de 4 de maio de 1938, que regulamentava a  entrada de estrangeiros no Brasil e a venda de passagens (aéreas, marítimas e  terrestres). Já o Decreto-Lei n. 2.440, de 1940, regulou aspectos do  funcionamento e atuação das empresas e agências de viagens. Na década de 1940, o  governo federal vai regulamentando a atuação de diferentes agentes privados  envolvidos com o turismo, com o objetivo de organizar a atividade, considerando  seu potencial econômico (Bahia; Bolson; Pires, 2004).
   Em 1958,  Juscelino Kubitschek, por meio dos Projetos de Integração Nacional, associado  ao mercado automotivo e a construção de estradas, estimulou uma política para a  formação da classe média, viabilizando o acesso a veículos particulares. Foi  através da gestão Kubitschek que foi possível ampliar a circulação mercantil e  desenvolver os mercados turísticos brasileiros (Becker, 1996).
   Em 1966 foi  promulgado o Decreto-Lei n. 55, que definiu o Plano Nacional de Turismo, e  criou a Empresa Brasileira de Turismo, a EMBRATUR. No final da década de 1960  foi estabelecida a Confederação Nacional do Turismo (CNTur), a qual estabeleceu  o Plano de Prioridade para a localização de Hotéis; e o Plano Nacional de  Turismo (PLANTUR). Para Bahia, Bolson e Pires (2004), o Decreto-Lei n. 55/66 alavancou  o turismo no país, ao fornecer instrumentos específicos ao setor.
   Segundo Cruz (2000), ainda que a primeira política nacional  de turismo tenha sido lançada apenas em 1966, existiram outras normativas  anteriores, conforme indicado acima. Porém, o Decreto-Lei n.º 55 de 1966 (já  revogado), foi um marco em termos de legislação turística no Brasil, pois criou  a EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo), o Conselho Nacional de Turismo, e  definiu elementos da primeira Política Nacional de Turismo. Enquanto ao  Conselho cabia função normativa, à EMBRATUR eram destinadas as funções  executivas. O Conselho Nacional de Turismo, como órgão superior à EMBRATUR,  formado por representantes do governo, da própria EMBRATUR e do trade turístico (composto por empresas variadas  do setor, especificamente as agências de viagem, rede hoteleira e  transportadoras), formavam o considerado “tripé” da atividade turística. 
   O artigo n. 13 do Decreto-Lei n. 55/66 coloca como  atribuição da EMBRATUR “fomentar e  financiar diretamente as iniciativas, planos, programas e projetos que visem ao  desenvolvimento da indústria do turismo, na forma que for estabelecida na  regulamentação deste Decreto-Lei ou com resoluções do Conselho Nacional do  Turismo”. A referida norma estabelece que cabe à EMBRATUR registrar,  autorizar e fiscalizar todas as atividades relacionadas ao Turismo.
   Os  investimentos em infraestrutura urbana a partir da década de 1960 contribuíram  para a ocupação e para o desenvolvimento turístico da zona costeira. Em meados  da década de 1970, a concepção reformista do II Plano Nacional de  Desenvolvimento (PND), refletiu “novos interesses econômicos e funcionais ao  processo de acumulação, favorecendo a concentração de atividades e serviços  turísticos nos grandes centros urbanos hegemônicos, particularmente Rio de  Janeiro e São Paulo”. (Cavalcanti; Hora, 2002: 61). Portanto, durante a década  de 1970, marcada pela ditadura militar, os investimentos em infraestrutura  contribuíram para melhorias nas áreas de transportes e energia, sobretudo na  Região Sudeste do país.
   Na década de 1980, com o processo de redemocratização do  Brasil, o turismo brasileiro sofre uma mudança radical em sua estrutura, no  sentido de redução da centralização por parte da EMBRATUR (e do Estado) e da  maior liberalização do setor. No Decreto-Lei n. 2.294 de novembro de 1986, que  dispõe sobre o exercício e a exploração de atividades e serviços turísticos, o  primeiro artigo determina que “são  livres, no país, o exercício e a exploração de atividades e serviços  turísticos, salvo quanto às obrigações tributárias e às normas municipais para  a edificação de hotéis”. Era o fim da obrigatoriedade do registro e da  classificação das empresas turísticas junto à EMBRATUR. 
   A partir da  década de 1990, o governo federal volta a olhar o turismo como um importante  setor da economia, de modo que surgem novas normas e programas com o objetivo  de expandir a oferta turística no Brasil. Assim, o turismo no Brasil passou a  ter uma notável importância com relação às políticas públicas setoriais. 
   Essa  valorização foi resultado de diferentes fatores associados como o crescimento  econômico do setor de serviços no mundo. O crescimento do turismo foi  influenciado pela potencialidade natural/turística do país; disponibilidade de  capitais estrangeiros para financiamento de projetos; e o posicionamento  público e privado favorável ao desenvolvimento da atividade (Bahia; Bolson;  Pires, 2004).
   Influenciado  pelas determinações da afirmação do neoliberalismo com o consenso de  Washington, em 1989, o Governo Sarney, “lastreado  pelo novo projeto político-ideológico e econômico, (...) liberou o mercado para  o exercício e a exploração de atividades e serviços turísticos”. (Cavalcanti;  Hora, 2002: 62). 
   Já em 1991,  foi promulgada a Lei n. 8.181/91, que estabeleceu a Política Nacional de  Turismo, definida como o conjunto de diretrizes e normas integradas para o  desenvolvimento do setor e, reestruturou a EMBRATUR. O órgão passou a ser  denominado Instituto Brasileiro de Turismo, tornando-se uma autarquia especial  com o objetivo de formular, coordenar, executar e fazer executar a Política  Nacional de Turismo (PNT) (Bahia; Bolson; Pires, 2004).
   Com as novas  competências da EMBRATUR, a expectativa era promover a passagem de um  capitalismo tutelado pelo Estado para um capitalismo moderno, baseado na  eficácia e na competitividade, onde o setor privado seria o motor central das  atividades econômicas. (Cavalcanti; Hora, 2002).
   Fernandes  (2007) ressalta que a Lei n. 8.181/91 é a mais detalhada e completa da história  das políticas federais para o turismo. Nela, estão contidas as seguintes  estratégias: a) ordenamento, desenvolvimento e promoção da atividade pela  articulação entre governo e iniciativa privada; b) descentralização da gestão  turística; c) implantação de infraestrutura básica e infraestrutura turística  adequada as potencialidades regionais, além da qualificação profissional dos  recursos humanos envolvidos.
   Ainda 1991,  surge o primeiro grande Programa de apoio ao desenvolvimento do turismo,  chamado de Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR),  gerenciado pela EMBRATUR e pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste  (SUDENE). Com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o  PRODETUR foi responsável por investimentos em infraestrutura (aeroportos,  rodovias, etc.) em várias capitais da região Nordeste. A concentração dos  investimentos no Nordeste justificava-se pelo potencial turístico da região,  sobretudo por suas praias, bem como pelas dificuldades econômicas e sociais  históricas no Nordeste brasileiro.
   O objetivo  do PRODETUR consistia no desenvolvimento do turismo regional, estruturado pelo  Governo Federal e pelos estados, para financiar a infraestrutura de suporte do  turismo, incentivando investimentos da iniciativa privada para a implantação de  equipamentos turísticos (Cruz, 2000).
   Em 1992, durante o governo Itamar Franco, outra Lei  importante para o setor do turismo foi criada. Trata-se da Lei n. 8.623/1993, a  qual menciona a ética, dispõe sobre a profissão de guia de turismo e o  conceitua como o profissional que, devidamente cadastrado na EMBRATUR  (Instituto Brasileiro de Turismo), “exerça  as atividades de acompanhamento, orientação e transmissão de informações a  pessoas ou grupos, em visitas, excursões urbanas, municipais, estaduais,  interestaduais, internacionais ou especializadas”. Tal Lei foi  regulamentada pelo Decreto n. 946/1993, prevendo as formas de capacitação e  também os pré-requisitos e as infrações disciplinares aos guias de turismo. 
   Becker  (1996) faz uma síntese das políticas públicas relacionadas ao turismo no Brasil  até a década de 1990. Para a geógrafa, a política nacional de turismo iniciou  em 1958, com regulações feitas pelo governo Juscelino Kubitchec, ligadas à energia, transportes  (popularização do fusca) e estradas. Em 1966, a Empresa Brasileira de Turismo  (EMBRATUR) foi criada como autarquia, mas como era o regime militar que  governava o país, esta se manteve centralizada e controlada. Na década de 1980,  houve uma liberalização do mercado turístico, e em função do estreitamento  entre os temas turismo e questão ambiental, a EMBRATUR lançou o turismo  ecológico em 1987. A Constituição de 1988 delegou maior autonomia aos estados e  municípios, incentivando a descentralização, e em 1991, o governo Collor  implantou uma nova Política Nacional de Turismo (PNT), fundada na  descentralização, de modo que a EMBRATUR deixou de ser legisladora e executora  do turismo, passando a ser coordenadora e indutora de atividades, dando maior  poder aos estados e municípios, e incorporando a iniciativa privada. O Plano  Nacional de Turismo, de 1991, foi fundamentado na diversificação e distribuição  geográfica da infraestrutura, que estava concentrada no Sul e Sudeste, e propôs  polos integrados de turismo, em novas áreas, associadas à expansão de  infraestrutura, estradas, aeroportos, etc. No entanto, o único projeto  implementado deste plano foi o Programa de Desenvolvimento do Turismo na região  Nordeste (PRODETUR-Nordeste).
   A partir do final do governo Itamar e início do governo  Fernando Henrique Cardoso, em 1994, amplia-se a ênfase no turismo como um setor  econômico estratégico, capaz de gerar renda e emprego. Para a consecução das  propostas para o setor turístico, constantes no documento “Mãos à Obra,  Brasil”, o governo de FHC lança em 1996, sob a responsabilidade do MICT  (Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo) e da EMBRATUR, a “Política  Nacional de Turismo”, a qual deveria complementar as estratégias gerais  estabelecidas no Plano Plurianual de Investimentos. Esta política possuía como  principal objetivo promover e incrementar o turismo como fonte de renda, de  geração de emprego e de desenvolvimento socioeconômico do país (Brasil, 1996). 
   Na década de 1990, o governo FHC também implantou o  Programa “Avança Brasil”, dando continuidade ao PRODETUR, financiado pelo Banco  Interamericano de Desenvolvimento (BID). Isso possibilitou o direcionamento de  investimentos na ordem de US$ 133 milhões para a melhoria de aeroportos e de  US$ 560 milhões para melhorias, incluindo a recuperação de monumentos  históricos e a preservação ambiental (Brasil, 2002). 
   Outra importante política pública de turismo da década de  1990 foi o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), criado em  1994. O PNMT visava aplicar um modelo de gestão da atividade turística com base  na escala municipal, uniformizando diretrizes para os municípios planejarem o  desenvolvimento do turismo e busca de maior profissionalismo e eficiência econômica  na administração do turismo doméstico.
   A criação do  PNMT tinha por objetivo promover a conscientização e capacitação dos monitores,  a fim de despertar e reconhecer a importância e a dimensão do turismo como  gerador de emprego e renda; conciliar o crescimento econômico com a preservação  e a manutenção dos patrimônios ambiental, histórico e cultural (Brasil, 2001).  O Programa buscava incentivar os municípios a se organizarem para o turismo,  através de cursos e de uma retórica de descentralização da esfera federal para  a municipal. A instituição dos Conselhos Municipais de Turismo (CMT), formado  por representantes do poder público municipal, empresas privadas do setor e  sociedade civil, era um elemento dessa descentralização. 
   Caberia aos  CMTs, participar da definição e da gestão de políticas, dos programas e das  ações locais destinadas ao desenvolvimento do turismo sustentável. A criação de  parcerias para o desenvolvimento das atividades turísticas; estímulo da  sociedade para atuar e decidir na busca de alternativas e objetivos comuns; e a  necessidade da capacitação com o propósito de promover a qualificação das  pessoas envolvidas com o setor turístico no município, eram objetivos do PNMT (Brasil,  2001).
              Apesar das oficinas que foram realizadas em diversos  municípios brasileiros, entende-se que o PNMT indicava as diretrizes para o  desenvolvimento do turismo na escala municipal, porém não chegou a contribuir  efetivamente para que os municípios pudessem avançar em relação à compreensão  de toda a complexidade e das consequências negativas do turismo. O PNMT dizia o  que os municípios deveriam fazer, mas não indicava o como fazer. Considerando  que a maior parte dos municípios não possuía estrutura e uma equipe técnica  para planejar e gerenciar o turismo no início da década de 1990, as  dificuldades para efetivar o turismo através do PNMT foram grandes. Apesar de  alguns municípios terem avançado a partir desse Programa, muitas lacunas  ficaram. Apesar dos problemas, durante a década de 1990 houve um crescimento do  número de municípios cadastrados no PNMT (1.250), assim como do número de  turistas no Brasil. O PNMT foi mantido até o final da gestão de FHC, em 2002.
   Segundo Cruz  (2002), uma política de turismo de verdade, com objetivos e estratégias  estabelecidas surgiu apenas em 1996, durante o governo Fernando Henrique  Cardoso. Contudo, a sustentação jurídica da Política Nacional de Turismo  (1996-1999), foi aprovada durante o governo Collor. A Política Nacional de  Turismo implantada a partir de 1996 atribuiu ênfase na articulação entre  governo e iniciativa privada, mantendo a orientação neoliberal dos governos  anteriores. 
   Cruz (2002)  aponta três grandes programas nacionais de indução pública ao turismo da década  de 1990: 1) O Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), que  atribuiu aos municípios o papel de realizar inventários do potencial turístico e  organizar a oferta turística municipal; 2) Os Programas de Ação para o  Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), que abrangeria as regiões da Amazônia  legal-Centro Oeste; Sul; Sudeste; e Nordeste, mas que apenas direcionou  investimentos para as regiões Nordeste e Sul; 3) Programas de ecoturismo, com  destaque para o Programa Parques do Brasil e PROECOTUR Amazônia, de 1990. 
              Fazendo uma análise destes programas, Cruz (2002) indica  que falta articulação da Política Nacional de Turismo com outras políticas  setoriais, pois o turismo movimenta vários setores da economia, como transportes,  cidades, serviços diversos, entre outros. Portanto, a política pública de  turismo deveria ser um documento público que reunisse o pensamento do poder  público (local, estadual e nacional) com relação à organização do turismo no  território nacional. Todavia, como o turismo está sujeito a influências de  políticas globais, as ações governamentais favoreceram a internacionalização de  fluxos e de empreendimentos turísticos, consolidando um modelo segregador de  desenvolvimento do turismo no Brasil.
2.1  Políticas públicas de turismo nos governos Lula
   Durante a  primeira gestão de Luis Inácio Lula da Silva (2003-2007), foi criado o primeiro  ministério exclusivo para as questões do turismo, isto é, o Ministério do  Turismo (MTur). O ministério é composto por órgãos de assistência direta e  imediata ao ministro e também por órgãos finalísticos que são: Secretaria de  Políticas de Turismo; Secretaria de Programas de Desenvolvimento do Turismo;  Instituto Brasileiro de Turismo e; Conselho Nacional do Turismo. Estes órgãos  têm por finalidade orientar as ações necessárias para consolidar o  desenvolvimento do setor turístico (Brasil, 2001). 
   O Plano  Nacional do Turismo (PNT 2003-2007) estabeleceu como principais objetivos para  o desenvolvimento do turismo a criação do produto turístico brasileiro de  qualidade, que valorizasse as diversidades regionais, culturais e naturais; e estimulasse  o consumo do produto turístico brasileiro nos mercados nacional e internacional  (Bahia; Bolson; Pires, 2004).
   De acordo  com o Plano Nacional de Turismo 2003-2007 (Brasil, 2003), a importância do  turismo no processo de desenvolvimento de um país não depende apenas da  existência dos recursos naturais e culturais. Os impactos econômicos, sociais,  ambientais, políticos e culturais gerados pelo turismo exigem um processo de  planejamento e gestão que oriente, discipline e o transforme em um instrumento  de aceleração do desenvolvimento no país.
              Além das alterações na estrutura institucional do turismo  brasileiro, o governo Lula substituiu o PNMT, fundamentado na escala municipal,  para o PRT (Programa de Regionalização do Turismo), o qual passou a priorizar o  desenvolvimento do turismo na escala regional, procurando agregar municípios  com pequena capacidade de atração de visitantes.
   Cruz (2002) já alertava para a necessidade de integração entre  os diversos setores direta ou indiretamente envolvidos com o turismo, para a  formulação de políticas públicas e de planos e programas de desenvolvimento do  turismo. No entanto, ao fazer uma avaliação das ações do governo Lula no setor,  Cruz e Sansolo (2003: 3) entendem que 
  [...] a  criação de um Ministério do Turismo é, portanto, paradoxal: de um lado sugere  que o setor está sendo elevado a um alto patamar de importância na  administração pública; de outro, faz pensar que pelo fato de o turismo ser um tema  inexistente ou periférico nos ministérios que têm ingerência direta sobre seu  desempenho, a administração pública federal vê como única alternativa para  tentar reverter este quadro criar um Ministério só para ele. 
   Por sua vez, o Governo Federal justifica a criação do  Ministério do Turismo como órgão da administração direta, e articulador do  turismo com os “demais Ministérios, com  os governos estaduais e municipais, com o poder legislativo, com o setor  empresarial e a sociedade organizada, integrando as políticas públicas e o  setor privado”. (BRASIL, 2003: 11)
   Desde 2003, o Ministério do Turismo tem a seguinte  estrutura: - Secretaria de Políticas de Turismo; - Secretaria de Programas de  Desenvolvimento do Turismo; - Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR; -  Conselho Nacional do Turismo. Ademais, o governo Lula afirma implantar “um novo modelo de gestão descentralizada  com a reformulação do Conselho Nacional do Turismo e dos Fóruns Estaduais” (Brasil, 2003, p. 7). Estes fóruns estaduais teriam uma representação nacional  por meio do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo. “Ainda como parte da política de  descentralização, os Municípios serão incentivados a criar os Conselhos  Municipais de Turismo e organizarem-se em consórcios para formar Roteiros  Integrados, ofertando um conjunto de produtos turísticos” (Brasil, 2003:  13).
2.2 O Programa de  Regionalização do Turismo (PRT)
   O Programa de Regionalização do Turismo (PRT) foi  implantado no Brasil em 2004, no primeiro Plano Nacional de Turismo do governo  Lula (2003-2007), um ano após a criação do Ministério do Turismo. Com o segundo  mandato do governo Lula, o Plano Nacional de Turismo (2007 a 2010) instituiu a  regionalização como um macroprograma do Ministério do Turismo, com o objetivo  de continuidade e aprofundamento do programa criado em 2004. De acordo com o  próprio Programa de Regionalização do Turismo, essa regionalização trata-se de  uma organização do espaço geográfico em regiões para fins de planejamento,  gestão, promoção e comercialização integrada e compartilhada da atividade  turística. O PRT tem como princípios básicos: a) participação b)  sustentabilidade c) integração e d) descentralização.
   A participação de todos os segmentos sociais, empresariais  e governamentais comprometidos com os objetivos do programa, é evidenciada no  contexto do PRT, pois entende-se que esse elemento é fundamental para  determinar o alcance dos objetivos do programa. No entanto, cabe ressaltar que  há uma grande diferença entre criar os espaços/fóruns de participação e  efetivar uma participação democrática. Em relação à questão da  sustentabilidade, também é preciso relativizar esse conceito e sua  aplicabilidade. Hoje, fala-se muito em sustentabilidade, de modo que esse termo  vem permeando diversos documentos e políticas públicas. Porém, além de  problemas de ordem estrutural do conceito (o que são necessidades econômicas? O  crescimento econômico vigente respeita a integridade cultural e os processos  ecológicos?), é preciso avaliar em que medida as práticas do setor turístico  vêm sendo sustentáveis e quem tem sido favorecido com esse discurso.
   Já a integração, funciona como um movimento de aproximação  do governo da sociedade e do terceiro setor. Segundo o governo, essa integração  vai muito além dos indivíduos envolvidos, integrando também as ações dos  agentes públicos e privados. Todavia, também é preciso analisar como essas  formas de integração vêm ocorrendo e quais seus resultados. Em relação ao processo  de descentralização, o objetivo é implantar políticas públicas em parceria  entre o Estado e a sociedade; ampliar os atores responsáveis pela gestão do  desenvolvimento do turismo; e efetivar a autonomia entre as instâncias  municipais, regionais, estaduais e federais. Nesse sentido, para que o processo  de descentralização se dê de forma satisfatória, faz-se necessário que todas as  instâncias estejam devidamente capacitadas em termos técnicos, humanos e  financeiros, que haja participação popular e, que as ações sejam integradas  desde a instância federal até a municipal.
   Existem nove módulos relacionados com as diretrizes do  Programa de Regionalização do Turismo: sensibilização; mobilização;  institucionalização das instâncias de governança regionais; elaboração do plano  estratégico de desenvolvimento turístico regional; implementação; elaboração do  sistema de informações turísticas do Programa; do sistema de monitoramento e  avaliação; roteirização turística; e promoção e apoio à comercialização (Brasil,  2004a e 2004b). 
   Outra ação do PRT esteve no apoio à segmentação da  atividade turística, através da publicação da coletânea Cadernos da  Segmentação, que objetivou “apresentar as  linhas estratégicas de segmentação da oferta e demanda e a estruturação de  roteiros turísticos no País”, a partir de nove modalidades turísticas:  cultural; rural; de aventura; ecoturismo; turismo náutico; de pesca; estudos e  intercâmbio; negócios; e eventos e sol e praia (Brasil, 2013: 18).
   Como resultado do processo de participação durante o  Programa de Regionalização do Turismo, foi constituída a Rede Nacional de  Regionalização, composta dos atores ligados à atividade turística. Além disso,  houve a definição dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico  Regional, priorizados pelo Plano Nacional do Turismo 2007-2010 (Brasil, 2013).
   Em 2008, ocorre outro marco legal no contexto do turismo  brasileiro, através da chamada Lei do Turismo (nº 11.771/2008), que dispõe  sobre a Política Nacional de Turismo, define as atribuições do Governo Federal  no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico; revoga a Lei no  6.505, de 13 de dezembro de 1977, o Decreto-Lei no 2.294, de 21 de novembro de  1986, e dispositivos da Lei no 8.181, de 28 de março de 1991; e dá outras  providências. Segundo o Ministério do Turismo (Brasil, 2013: 19), essa Lei “torna-se referência na gestão pública do  setor, trazendo no seu escopo o marco regulatório definindo competências e  responsabilidades do poder público e de toda a cadeia produtiva do turismo,  garantindo a gestão ética, responsável, transparente e cidadã”.
   Nas diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo  publicada em 2013, o Ministério do Turismo afirma a busca de transversalidade  em suas políticas públicas com outros setores do Estado, e aponta os principais  desafios do turismo brasileiro: - ampliar a participação do diálogo e do  controle social; incentivar o brasileiro a viajar pelo País; - incrementar a  chegada de turistas e a geração de divisas internacionais; - promover a  sustentabilidade e a inclusão social por meio da geração de oportunidades de  emprego e empreendedorismo; - aumentar a competitividade do turismo brasileiro;  - incentivar a inovação e o conhecimento; - fortalecer a gestão descentralizada  do turismo no Brasil; - preparar o turismo brasileiro para os megaeventos (Brasil,  2013: 13). No mesmo documento, o MTur indica uma perspectiva de continuidade do  Programa de Regionalização do Turismo.
  [...] na sua concepção filosófica e conceitual,  o Programa de Regionalização do Turismo não sofre alterações. Os ajustes  propõem qualificar a concepção estratégica, as ferramentas de gestão e  incorporar mecanismos de fomento capazes de provocar e promover concepções  inovadoras ao enfrentamento das fragilidades diagnosticadas (Brasil,  2013: 19).
   Assim, o governo federal, através do Ministério do Turismo,  vem dando continuidade ao processo de Regionalização do Turismo desde o ano de  2004. No entanto, apesar da retórica da sustentabilidade e do turismo como  vetor de desenvolvimento econômico, social e de erradicação da pobreza, a  atuação do principal órgão público promotor e regulador do turismo no Brasil (MTur)  continua sendo eminentemente economicista. 
   Antes de abordar impressões - nossas e de outros  pesquisadores – acerca das políticas públicas de turismo no Brasil, cabe  apresentar, de forma sucinta, a atual estrutura institucional do Ministério do  Turismo.
3 ESTRUTURA  INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO DO TURISMO
   Para definir e executar as políticas públicas de turismo,  sobretudo o Plano Nacional de Turismo e seus Programas, é preciso uma estrutura  institucional que procure atuar de forma integrada e dialogada com a sociedade.  Assim, cabe apresentar o organograma das instituições que atuam com o  desenvolvimento do turismo no Brasil (Figura 1) e tecer alguns comentários  sobre os quatro órgãos principais.
3.1 EMBRATUR
   Atualmente,  a função da EMBRATUR consiste em executar a Política Nacional de Turismo do  governo federal, no que se refere à promoção, marketing e apoio a  comercialização e divulgação dos destinos, serviços oferecidos e dos produtos  brasileiros no mercado externo (BRASIL, 2007).
   As ações da  EMBRATUR são orientadas tendo como base o Plano Aquarela, que consiste no  marketing turístico internacional. Este, foi elaborado em 2005, sendo  responsável por orientar as estratégias, definindo os principais mercados de  atuação, conforme o atual volume de turistas que enviam e as receitas que geram  no país; a acessibilidade aérea, marítima ou  terrestre; oportunidades de crescimento; e as afinidades culturais (BRASIL,  2007). 
3.2 Conselho Nacional Do Turismo
   O Conselho  Nacional de Turismo (CNT) é um órgão colegiado com a atribuição de assessorar o  Ministro de Estado do Turismo na formulação e aplicação da Política Nacional de  Turismo e dos planos, programas, projetos e atividades derivado. Ele foi criado  pela Medida Provisória nº 2216-37 de 31 de agosto de 2001 e pelo Decreto n°  4.686, de 29 de abril de 2003, tendo sido alterado pelo Decreto n° 4.804, de 11  de agosto de 2003. Seu regimento interno é regulamentado pela Portaria n.  55/2009, do Ministério do Turismo (BRASIL, 2009).
   Sua formação  é composta por representantes do governo federal e dos diversos segmentos do  turismo. O Conselho é integrado por 70 conselheiros de instituições públicas e  entidades privadas do setor em âmbito nacional.
   Os  principais objetivos do Conselho Nacional do Turismo são: sugerir, discutir e  formular propostas para o planejamento e execução da Política Nacional de  Turismo; acompanhar as ações e fornecer subsídios assegurando a transparência  do processo de execução da Política Nacional de Turismo; fornecer apoio ao  Ministério do Turismo no fortalecimento e continuidade da Política Nacional de  Turismo; analisar e propor soluções aos problemas relacionados ao turismo; para  assuntos de interesse do turismo brasileiro; e sugerir o aprimoramento de  procedimentos relacionados a execução da Política Nacional de Turismo, visando  a ética e a sustentabilidade do turismo (BRASIL, 2009).
   O CNT possui nove câmaras temáticas, que tem o objetivo de  identificar e discutir assuntos específicos referentes à consecução da Política  Nacional do Turismo. As câmaras são as seguintes: 1) financiamento e  investimento; 2) infraestrutura; 3) legislação; 4) negociações internacionais  de serviços turísticos; 5) promoção e apoio à comercialização; 6) qualificação  profissional; 7) regionalização; 8) segmentação; 9) turismo sustentável e  infância.
3.3 Secretaria  Nacional de Políticas de Turismo
   A Secretaria  Nacional de Políticas de Turismo auxilia na formulação, na elaboração e no  monitoramento da Política Nacional de Turismo, de acordo com as diretrizes  propostas e os subsídios fornecidos pelo Conselho Nacional de Turismo. Além de  monitorar e avaliar a execução dessa política, deve implementar o modelo de  gestão descentralizada do turismo nas suas dimensões gerencial e territorial,  alinhando as ações do Ministério do Turismo (MTur) com o Conselho Nacional de  Turismo (CNT), o Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de  Turismo (FORNATUR) e os Fóruns/Conselhos Estaduais de Turismo nas 27 Unidades  da Federação.
   Desde a  criação do Ministério do Turismo (MTur), em 2003 e da adoção do Plano Nacional  de Turismo - documento que referencia as políticas para o desenvolvimento do  setor no país - o governo brasileiro vem concentrando esforços no aprimoramento  das políticas públicas destinadas a ampliar a capacidade inclusiva da atividade  turística.
              Nesse sentido, alguns avanços  ocorreram nos últimos anos, porém, ainda há muito a ser feito em termos de  políticas públicas, sobretudo as que promovam uma inclusão maior da sociedade  na sua efetivação, e que ampliem os beneficiários do desenvolvimento do  turismo.
3.4 Secretaria  Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo
   A Secretaria  Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo subsidia a formulação dos  planos, programas e ações destinados ao desenvolvimento e ao fortalecimento do  turismo nacional. Também estabelece e acompanha os programas de desenvolvimento  regional de turismo e a promoção do apoio técnico, institucional e financeiro  necessário ao fortalecimento da execução e da participação dos Estados, do  Distrito Federal e dos municípios nesses programas (BRASIL, 2010).
   Essa  secretaria é composta pelos seguintes departamentos: Departamento de  Infraestrutura, Departamento de Financiamento e Promoção de Investimentos no  Turismo, Departamento de Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo, e  Departamento de Qualificação e Certificação de Produção Associada ao Turismo  (BRASIL, 2010). 
4  AVALIAÇÕES SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL
   A história  do desenvolvimento do turismo brasileiro foi marcada pelo incentivo do Estado  (sobretudo o Governo Federal) a investimentos estrangeiros e pela falta de  políticas públicas estruturais e combinadas com outros setores que são  fundamentais para o próprio turismo, como transportes, comunicações, saneamento,  entre outros. Até a década de 1990, o Estado priorizou o financiamento de  empreendimentos turísticos privados, com destaque para empresas estrangeiras. A  partir da década de 1990, o aporte de recursos públicos ao setor privado  continua ocorrendo, na forma de parcerias. Porém, houve uma maior estruturação  do turismo pelo governo brasileiro através de novas instituições e políticas  públicas. Apesar de avanços normativos e de uma maior descentralização,  diversos autores fazem uma análise crítica à ação do Estado brasileiro no que  tange o turismo.
   Cruz (2000 e  2002) afirma que há uma inação do Estado em relação ao turismo no Brasil, pois  as políticas públicas de turismo foram historicamente negligenciadas. Apesar  das normas federais estabelecidas para o turismo brasileiro, a autora considera  que a legislação e a regulamentação do turismo abordam apenas aspectos  parciais.
   Na visão de  Silveira (2002), a partir da década de 1990, a Política Nacional de Turismo  passou a se fundamentar na descentralização das ações de fomento para o turismo  e no envolvimento dos agentes que fazem parte do trade turístico (redes hoteleiras, empresas de transporte, bancos,  restaurantes, agências e operadoras de viagens). A prioridade era melhorar a  infraestrutura turística e a qualidade dos serviços prestados, para poder  atingir a competitividade, tornando o turismo capaz de atrair uma fatia maior  do turismo internacional e fomentar o crescimento do turismo interno.
   A citação  acima reforça a visão de Cavalcanti e Hora (2002), que entendem a Política  Nacional de Turismo como mais uma política publica de forte tendência  neoliberal. Ao analisar o Plano Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT),  que parece ser mais democrático e participativo, os autores mostram a  concentração da metodologia e das oficinas de capacitação nas mãos da EMBRATUR;  e o caráter mecânico e aleatório da descentralização, que desconsidera as  condições específicas de cada realidade. Para eles, a condução do PNMT foi  centralizada e autoritária, inibindo a criatividade por parte dos estados e  municípios.
              Pereira (1999) divide as políticas públicas de turismo em  duas fases. Até o final dos anos 1980, predominava a verticalização, ou seja, a  centralização no planejamento e na coordenação, e uma estrutura organizacional  com ausência de representatividade. A partir da década de 1990, sobretudo com o  PNMT, o setor de turismo busca se horizontalizar, através da integração entre  os atores. Na concepção do autor, o Estado, que vinha atuando como financiador,  hoje atua mais como regulador. No entanto, Pereira aponta o turismo como um dos  setores mais propensos à privatização e à implantação da ideologia neoliberal,  pois a iniciativa privada ampliou sua influência sobre o setor sem qualquer  manifestação pública contrária.
   Ao discorrer  sobre o PNMT, Endres (2002) indica uma transição de condução do Estado no setor  turístico, pois engloba características de um planejamento centralizado, mas  também fala em redes políticas de negociação. A centralização vem do Conselho  Nacional e dos Conselhos Estaduais de Turismo, e do fato do PNMT só se  viabilizar com sujeição às normas da EMBRATUR. A descentralização vem dos  Conselhos Municipais de Turismo. No entanto, conclui que a estrutura do PNMT  foi hierárquica e centralizadora.
              Apesar de não estar restrita ao turismo internacional e  de prever recursos para o incentivo ao turismo doméstico, na prática, a  Política Nacional de Turismo de 1991 foi formulada para atrair investimentos,  sobretudo estrangeiros (hotéis, resorts, companhias aéreas, entre outros).  Silveira (2002) constata o boom de empreendimentos privados no setor  turístico nacional, sobretudo cadeias hoteleiras internacionais e grupos  empresariais nacionais.
              Em virtude da mudança na condução do governo federal,  ocasionada com a eleição do presidente Lula a partir de 2003, ocorreram algumas  alterações na condução do turismo no Brasil. Todavia, tais mudanças apresentam  um caráter mais normativo do que estrutural. 
   A partir da  criação do Ministério do Turismo, o governo Lula formula e apresenta já em 2003  o Plano Nacional de Turismo:  diretrizes, metas e programas (2003-2007). Na retórica oficial do  governo:
  O Plano Nacional foi concebido de forma  coletiva, com uma ampla consulta às mais diversas regiões brasileiras e a todos  os setores representativos do turismo e constitui-se em um processo dinâmico de  construção permanente. Traduz uma concepção de desenvolvimento que, além do  crescimento, busca a desconcentração de renda por meio da regionalização,  interiorização e segmentação da atividade turística (Brasil, 2003: 7).
              Além da ênfase na participação, o  governo entende que a regionalização, interiorização e segmentação do turismo  podem conduzir a desconcentração de renda, e aponta o turismo como um setor  estratégico para a redução das desigualdades sociais. No entanto, Almeida  (1998) enfatiza que apesar dos documentos oficiais que evidenciam o turismo  desenvolvido com responsabilidade ambiental, respeito e participação das  populações residentes, há uma exclusão da comunidade local nas políticas  públicas. Assim, apesar do discurso, o governo Lula não deixa de apresentar  diretrizes de cunho neoliberal, pois ressalta o turismo como negócio e a maior  competitividade internacional como um dos objetivos para tornar o turismo um  vetor de desenvolvimento e de inclusão social. A “visão sistêmica e cooperada entre os diversos atores resultará em  maior competitividade empresarial e proporcionará maior inclusão social” (Brasil,  2003: 7).
   Conforme indica Bursztyn (2003), a partir da década de 1990,  órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco  Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional para a  Reconstrução do Desenvolvimento (BIRD) passaram a incentivar a atividade  turística como possível redentora para a crise econômica. As políticas públicas desenvolvidas sob a égide do ideário neoliberal  tendem a priorizar a formação de produtos turísticos voltados para o grande  mercado, forçando a adequação das condições locais no sentido de alcançar uma  maior eficiência em seus serviços e, consequentemente, gerar o maior lucro  possível (Bursztyn, 2003: 11). 
   Mesmo com toda uma trajetória de contestação ao domínio do  mercado, o governo Lula adotou fundamentos neoliberais em seu Plano Nacional de  Turismo, primando pelo viés econômico e pelo aumento da competitividade do país  no mercado internacional, apesar de um discurso de benefícios coletivos a  partir do turismo. Conforme afirmam Cruz e Sansolo (2003), o governo Lula manteve  uma perspectiva economicista para o turismo e planejou o turismo desvinculado  de algo mais complexo e importante, que seria o planejamento do território. 
   Além disso, o governo alia aumento da competitividade –  aspecto considerado por Milton Santos (1996) como um dos fundamentos da atual  globalização excludente – com melhorias sociais e proteção ambiental, denotando  uma contradição baseada no uso da retórica do desenvolvimento sustentável e de  melhorias sociais, com o incentivo ao trade turístico, que é privatista e segregador. “O  aumento da competitividade do setor, o seu impacto na melhoria das condições de  vida da população, a descentralização das decisões e o respeito ao meio  ambiente, são pilares para a construção de um novo padrão de desenvolvimento,  no qual todas as regiões possam crescer de forma integrada” (Brasil, 2003:  19).
              Assim, da mesma forma que no governo  FHC, o governo Lula manteve um cunho neoliberal para o tratamento do turismo no  Brasil, destacando as parcerias entre o setor público e privado e a ideia de  descentralização das ações no turismo, através do discurso de incentivo à  participação das diversas instituições envolvidas, e também da sociedade civil.  Contudo, ao menos na retórica, o governo Lula pareceu buscar mecanismos mais  eficazes de participação (vide o processo de construção do Plano Nacional de  Turismo). 
   Outra mudança na retórica do governo, diz respeito à  priorização de investimentos em micro e pequenos empreendimentos. Entende-se  que priorizar os pequenos empreendimentos turísticos é algo novo frente os  benefícios históricos que os grandes empreendimentos – sobretudo estrangeiros -  vêm recebendo pelos governos brasileiros. No entanto, mesmo os pequenos  empreendimentos turísticos são gerenciados a partir de uma racionalidade  economicista e mercantil, propagada, sobretudo, pelo Serviço Brasileiro de  Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).
              Ao fazer uma análise crítica do  Plano Nacional de Turismo do primeiro governo Lula (2002 a 2005), Cruz e  Sansolo (2003) consideram que, mesmo apresentando um Plano Nacional de Turismo  – que deveria ser um produto da Política Nacional de Turismo – o governo Lula  não explicita qual a sua política para o turismo no Brasil. 
  [...] a visibilidade da política pública de  turismo alcançada no governo FHC está, neste momento, perdida. [...] não temos  clareza de qual é a política pública de turismo que está por trás deste Plano.  Este governo apressou-se em elaborar um plano de ação, negligenciando a  importância da definição, da clareza e da publicidade da política pública como  instrumento da gestão pública. Neste sentido, há uma perda relativamente ao  governo que o antecedeu (CRUZ; SANSOLO, 2003: 4).
              Apesar da pertinência da afirmação, entende-se  que, por não explicitar uma política pública de turismo, o governo Lula parece  ter continuado utilizando os fundamentos da política de turismo do governo FHC.  Mesmo com as ressalvas apontadas sobre a regionalização do turismo frente sua  municipalização; à maior busca de participação social; e a priorização de  investimentos em pequenos empreendimentos turísticos, o governo Lula seguiu  diretrizes neoliberais similares àquelas seguidas pelo governo FHC, no que  tange o incentivo ao turismo. Por outro lado, é preciso considerar que haveria  grande dificuldade do governo Lula estabelecer uma ruptura com os ditames das  instituições que comandam o capitalismo e defendem o neoliberalismo, bem como  com parte da elite brasileira, que o apoiou em sua primeira e segunda eleição.  Isso conduziria a grandes dificuldades de governabilidade no país.
   Além da crítica ao governo Lula no que tange a falta de uma  política pública de turismo, Cruz e Sansolo (2003: 4) não poupam críticas ao  governo FHC: “a política pública de FHC  previa a elaboração de um plano nacional de turismo que nunca foi feito”. Considerando as lacunas dos governos FHC e Lula frente o turismo, bem como a  ausência de políticas e planos de turismo na história do Brasil, os autores  concluem que “em termos de planejamento  governamental, ainda não vivenciamos um processo completo em que política  pública federal e plano nacional de turismo fossem objetivamente organizados,  devidamente congruentes e necessariamente publicizados” (2003: 4). [...] “uma cultura de valorização do turismo não é  algo que se constrói da noite para o dia ou por meio de atos administrativos ou  de diplomas legais. Isto somente pode ser construído social e historicamente” (Cruz;  Sansolo, 2003: 3). 
  O que se deve enfatizar é o modelo de  desenvolvimento que se quer e o tipo de turismo que, consequentemente, se  deseja desenvolver e isto envolve todos os setores da administração pública e,  sobretudo, suas políticas globais como política econômica e políticas sociais (Cruz;  Sansolo, 2003: 5).
Considerações  Finais 
   As políticas  públicas devem ser destinadas a melhorar a qualidade de vida da sociedade, de  modo que precisam ser revistas e orientadas de acordo com as necessidades das  populações. Entre as diversas políticas públicas, algumas atingem a maior parte  da sociedade, porém outras, como é o caso das políticas públicas de turismo,  acabam beneficiando diretamente, aqueles que podem pagar pelas viagens ou os  que são empregados por empresas do setor. 
   Não resta  dúvida de que o turismo é uma importante atividade econômica e que deve ser  objeto de políticas públicas. No entanto, mais do que políticas públicas para  se promover o crescimento do turismo, é preciso desenvolver programas, normas e  investimentos para se regular a atividade turística, visando transformá-la em  uma atividade que consiga distribuir melhor seus benefícios perante a sociedade  brasileira. Assim, as políticas públicas de turismo devem estar integradas a  uma política de desenvolvimento mais ampla, na qual o foco esteja na redução  das desigualdades sociais, na conservação ambiental e na promoção de benefícios  coletivos a partir do desenvolvimento do turismo. 
   No Brasil,  ainda não há um processo completo de planejamento e gestão participativos do  turismo. Em virtude da ausência de uma visão de longo prazo, são direcionados  investimentos para ações específicas, sobretudo para instalação de complexos  hoteleiros de corporações e grupos transnacionais, reduzindo o possível efeito  multiplicador do turismo. 
   No contexto  da trajetória das políticas públicas de turismo no Brasil, destaca-se a  Política Nacional de Turismo, instituída com a Lei n. 8181/1991; O Programa  Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), criado em 1994; e o Programa  Nacional de Regionalização do Turismo, de 2004.
   Enquanto a  gestão do presidente Fernando Collor, no início da década de 1990 primava pela  liberalização do turismo e pela expansão dos investimentos privados  estrangeiros, a gestão de Fernando Henrique Cardoso combinou ações direcionadas  à atração de investimentos e de turistas estrangeiros, com o PNMT, que visava  estruturar municípios brasileiros para receber turistas domésticos, ampliando  assim sua capacidade de geração de emprego e renda. A escala prioritária de  ação do PNMT era o município, que deveria criar Departamentos ou Secretarias  Municipais de Turismo, realizar Inventários Turísticos e compor os Conselhos  Municipais de Turismo e os Fundos Municipais de Turismo.
   Já na gestão  do presidente Lula, a escala de atuação prioritária para o desenvolvimento do  turismo no Brasil passou a ser a região, apesar da falta de uma definição  acerca da composição das regiões turísticas. Assim, caberia a cada estado da  federação definir suas regiões turísticas, congregando diversos municípios,  para então, instituir os Grupos de Governança Regional do Turismo para cada  região turística, composto por representantes do setor público, privado e da  sociedade civil. O Programa de Regionalização se mantém até hoje como principal  política pública de turismo no Brasil, porém, encontra-se estagnado. 
   Concomitantemente  à regionalização, o país tem investido muitos recursos públicos na realização  de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de Futebol, em 2014 e, os  Jogos Olímpicos de 2016. No entanto, esses gastos vêm sendo questionados pela  sociedade brasileira, pois, além de ultrapassarem os valores orçamentários  iniciais, são direcionados à construção de estádios e instalações para a  recepção dos atletas, apesar de algumas obras de mobilidade, sobretudo em  aeroportos, metrôs e outros meios de transporte, que serão os principais  legados destes eventos.
   Apesar do  avanço das políticas públicas de turismo no Brasil, muitos desafios e problemas  ainda permanecem. É preciso refletir sobre os impactos positivos e negativos do  turismo e, por meio das políticas públicas, procurar estruturar, promover e,  sobretudo, regular o setor turístico. Acredita-se que somente com uma efetiva participação  social, seja possível regular o turismo de forma adequada, reduzindo os  impactos negativos da atividade e beneficiando a coletividade, e não somente  empresários e políticos.
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