Clediane Nascimento Santos
Sueli Aparecida De Souza
Rosângela Custodio Cortez Thomaz
UNESP  Univ. Estadual Paulista, Brasil
cle26santos@gmail.comRESUMO - As festas tradicionais em suas mais diversas vertentes distribuídas por todo contexto do país, têm emergido na contemporaneidade como atrativos turísticos em potenciais. Nesse sentido, simultaneamente, essa possibilidade poderá cooperar pelo avivamento e a preservação da cultura, se apoiado em um planejamento coerente com a realidade onde se realiza. Desse modo, esse estudo tem a intensão de abordar e analisar as manifestações culturais existentes no assentamento Gleba XV de Novembro, Município de Rosana e Distrito de Gardênia, município de Rancharia/SP, como as festas tradicionais (Folia de Reis e Festa de São Sebastião) enquanto possibilidade turística. Buscou-se assim, verificar com os percursores acerca dessas festividades os quais revelaram que mesmo em face das mudanças sociais, econômicas, espaciais e culturais, tem se empenhado por preservar suas tradições e costumes.
Palavras chave: Turismo Rural, Festas, Assentamento Gleba XV de Novembro, Distrito de Gardênia.
TOURISM IN RURAL AREAS AS VALUE OF CULTURAL TERRITORIALITIES: THE CASE OF TWO TRADITIONAL FESTIVITIES
ABSTRACT - Traditional  festivals in its various strands distributed throughout the country context ,  have emerged in contemporary times as tourist attractions in potential . In  this sense, simultaneously , that possibility may cooperate for the revival and  preservation of culture, supported by a coherent planning with reality where it  is held. Thus, this study has the intention to address and analyze existing  cultural events in Gleba XV of Novembro settlement, city of Rosana/SP and  Gardenia District, city of Rancharia/SP, as religious traditional festivals (Folia de Reis and Feast  of St. Sebastian) while tourist possibility. It attempted to thus check some  reviews and profiles of participants (locals) about these festivities which  revealed that even in the face of social , economic, spatial and cultural  changes, has been engaged to preserve their traditions and mores. 
  Key words: Rural Tourism, Feast, Settlement Gleba XV de Novembro,  District Gardenia.
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 Clediane Nascimento Santos, Sueli Aparecida De Souza y Rosângela Custodio Cortez Thomaz (2015): O turismo no espaço rural como valorizador das territorialidades culturais: o caso de duas festas tradicionais, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 19 (diciembre 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/19/festas.html
O espaço rural vem se transformando  ao longo do tempo, e com ele, foram surgindo novas atividades econômicas que  tem contribuido para a permanência do homem no campo e igualmente para a  valorização dos suas tradições e costumes.  
   Nesse sentido, a vivência do ser  humano vem gerando ao longo do tempo, uma herança, que pode ser material ou  imaterial, representada em diversas formas, tais como: pensamentos,  sensibilidades, costumes, formas construtivas, manifestações artísticas. “Essa  herança está indissoluvelmente ligada ao território em que ocorre, portanto,  causa uma enorme variedade e riqueza de respostas humanas”. Partindo desse  pressuposto, a cultura evidencia a existência humana e demarca o seu espaço,  caracterizando - o como um território delimitado por especificidade, com  diversos usos e significados que o diferencia de outros lugares (THOMAZ, 2010,  p.38).
   A inserção de novas atividades no  uso do espaço rural, contribuiu também para se pensar na oferta e demanda  turística, por meio de sua segmentação associado com o turismo em espaço rural. 
   Segundo Thomaz (2010), essas  transformações na segmentação turística, especialmente, 
[...] têm valorizado os espaços rurais com um apreciável grau de equilíbrio ecológico. Paralelamente, as transformações na estrutura da produção agrária, consequência da crise de superprodução obrigou novos delineamentos no modelo produtivo rural, entre os quais o fenômeno social do turismo está destinado a constituir-se um recurso econômico de primeira magnitude pela fácil adaptação dos recursos rurais em elementos de oferta turística (THOMAZ, 2010, p. 36-37).
Aquém dos fatores financeiros, a  atividade turística, pode contribuir para valorizar os recursos naturais e  culturais existentes, haja vista que, a cultura pode ser uma  abertura para a criação de múltiplos territórios. 
   Assim, o turismo, dentre todos os  seus atributos, pode-se considerar que as peculiaridades de cada local,  entendidas como as territorialidades são unidades basilares para sua  efetivação. Assim, a Folia de Reis e a Festa de São Sebastião são predicativos  sui generis desses lugares que representam parte de sua cultura.
   Nesse sentido, o entrelaçamento do  território, turismo e festividades que tentaremos nos debruçar nesse artigo, refletindo  sobre as possibilidades de fortalecer essas territorialidades apresentadas por  meio das festividades no espaço rural. 
  À vista disso, no que diz respeito  as festividades, serão analisadas duas que estão inseridas no contexto rural da  região do Pontal do Paranapanema, a saber, a Folia de Reis e a Festa de São  Sebastião, que ocorrem respectivamente, no assentamento Gleba XV de Novembro  (Município de Rosana) e Distrito de Gardênia (Município de Rancharia), conforme ilustra a Figura 1. Estas foram selecionadas por serem as mais antigas do recorte  espacial mencionado.  
   Destarte, os procedimentos  metodológicos adotados nessa investigação qualitativa das territorialidades  culturais foram as entrevistas semi-estruturadas realizadas com os seus  precursores e, no caso, específico, da Festa de Sebastião, foi empregado também o  questionário.
A territorialidade é inerente ao  processo de territorialização, ou seja, é predicativo de quem gera território.  Nesse sentido, a territorialização tem como alicerce a vida cotidiana, os que  os indivíduos concebem, percebem e sentem, sejam no setor econômico, político e  cultural (SAQUET, 2005). 
   A concepção do território, de  acordo com alguns autores, tais como Fernandes (2005), Saquet (2005; 2007;  2011) e Raffestin (1993) está associado a noção de poder e ao conflito.
   Segundo Saquet, o Estado,  representa o poder. Partindo desse pressuposto, o poder significa as  divergências, que surgem, especialmente, nas relações sociais, nas distintas intencionalidades,  nas “relações de forças que extrapolam a atuação do Estado e envolvem e estão  envolvidas em outros processos da vida cotidiana, etc”. Assim, o território,  nesta multidimensionalidade do mundo, abarca distintos entendimentos sobre  múltiplas territorialidades (2007, p.33).
   Entende-se que, o poder é exposto  nas relações sociais, nas ações do Estado, nas instituições privadas, na vida  cotidiana, ou seja, ações que tendem ao controle e a dominação sobre os seres  humanos e os bens (SAQUET, 2007, p.33). 
   Para Raffestin, o território tem  sua formação a partir do espaço, por isso, “é o resultado de uma ação conduzida  por um ator”. Este, ao apropriar-se de um espaço, concreta ou abstratamente, se  territorializa (1993, p. 143). 
   Segundo Andrade, a concepção de um  território produz nas pessoas que nele vivem a consciência de sua participação,  atribuindo um sentido subjetivo a territorialidade. Para este autor, a  expressão territorialidade poder ser compreendida, genericamente, como o que se  encontra no território, estando a mercê da gestão territorial pelo Estado, como  também pelo processo subjetivo de consciência (1995).
   De acordo com Souza, o singular de  territorialidade faz uma alusão mais abstrata do que faz o território,  subentendido como aquele regrado “pelas relações de poder espacialmente  delimitadas e operando sobre um substrato referencial”. Já, o uso do termo  territorialidades, no plural, traz um entendimento de como esses territórios  podem ser qualificados a partir de elementos, tais como propriedades, dinâmica,  cultura, etc. (2006, p.99). 
   Consoante a isso, Saquet, afirma  que o território é consequência das relações, sejam elas: sociedade e a  natureza como qualidade para a reprodução social; “campo de forças que envolvem obras e relações sociais (econômicas –  políticas – culturais) historicamente determinadas”. O território é fruto e  decisivo na reprodução da relação sociedade-natureza e, consequentemente da  territorialização, sendo resultado do processo de interação dos grupos ou das  classes sociais com suas territorialidades cotidianas, num constante devir  (2011, p.26-27).
   As territorialidades, segundo  Saquet (2011) podem ser econômicas, políticas e culturais. Todas, são,  concomitantemente, consequência dos condicionantes e caracterizadoras da territorialização  e do território numa oscilação constante de desterritorialização e  reterritorialização, a partir das relações sociais, das apropriações e das  demais práticas espaço-temporais. Em virtude disso, as territorialidades  definem cada território, “influenciando, ao mesmo tempo, na sua própria  reprodução (com rupturas e permanências), a partir do território formado, isto  é, são influenciadas pelo território em cada relação espaço-tempo” (p.27).
   Para Soja (1993), por meio da  teoria de Foucault, aponta que a territorialidade é um produto da  operacionalidade do espaço/poder/saber que municia a base para espacializar e  temporalizar o funcionamento do poder.
   A territorialidade compreende um  processo de troca e/ou comunicação, ou seja, “relações que são mediatizadas,  simétricas e dissimétricas com a exterioridade”, no qual está imerso em um  “quadro da produção, da troca e do consumo das coisas” (RAFFESTIN, 1993, p.  161).
   Cada sistema territorial, converge  e segrega sua própria territorialidade, no qual os indivíduos vivem. A partir  disso, Raffestin, afirma que, “a territorialidade se manifesta em todas as  escalas espaciais e sociais; ela é consubstancial a todas as relações e seria  possível dizer que, de certa forma, é a “face vivida” da “face agida” do poder”.  Sendo que, só será possível a sua análise por meio do entendimento das relações  reais contextualizada, sócio-histórico e espaço - temporalmente (1993, p.  161-162). 
   Por isso, Saquet, ressalta que o  território “é resultado do processo de territorialização e das  territorialidades vividas por cada grupo social em cada relação espaço-tempo”  (2011, p.15).
   A esse respeito as contribuições de  Soja (1993, p. 183), apontam que, a territorialidade é um termo mais abrangente  e faz alusões a 
noções particularizadas, como soberania, propriedade, disciplina, vigilância e jurisdição. Refere-se à produção e à reprodução de recintos espaciais que não apenas concentram a interação (o que é um traço de todos os locais), mas também intensificam e impõem sua delimitação. A territorialidade, quase por definição, está presente em todos os locais, pelo menos na fronteira mais externa (onde começa a ausência de interação). Mas essa delimitação pode ser mais ou menos rígida ou permeável e pode mudar de forma ao longo do tempo. Também pode existir dentro do cenário local.
Por isso, a territorialidade também  significa correlações de poder, política, econômica e cultural; distinções,  identidades e representações; apropriações, controles, delimitações e domínios;  influências e redes; práticas espaço-temporais construídas e definidas a  partir das sociabilidades cotidianas (SAQUET, 2011).
   Territorialidades que se fazem  presentes na multiplicidade da existência humana, como por exemplo, nas  relações que são vividas, sentidas, percebidas e compreendidas, simultaneamente  e com ritmos e intensidades distintas (SAQUET, 2011). Nesse sentido, a Folia de  Reis e a Festa de São Sebastião, conferem aos territórios onde se localizam,  particularidades que tornam sua presença e existência única. Sendo assim, podem existir  muitas outras Folias de Reis e tantas outras Festas de São Sebastião, mas nenhuma  delas poderão representá-las, pois cada uma tem sua própria peculiaridade, sendo singular  para as pessoas que preparam e participam no assentamento Gleba XV de Novembro  e Distrito de Gardênia.
   O território é o epicentro que  concentra as relações multidimensionais que se (i) materializam, se constroem e  se desconstroem, num constante processo relacional, num vai-e-vem que se  territorializam em consonância com as temporalidades e territorialidades  (SAQUET, 2011). A Folia de Reis e a Festa de São Sebastião são frutos dessas  relações espacio-temporais-territoriais, do recorte espacial selecionado.
A sociedade contemporânea, sob as  implicações das contínuas mudanças (sociais, econômicas, científicas e  culturais) vivenciadas nas últimas décadas tem avivado seu interesse pelo  patrimônio cultural. Esse fato é compreendido por diversos motivos, dentre os  quais, os próprios debates acerca da identidade, patrimônio cultural,  etc., suscitados no mundo globalizado  (ALMEIDA, 2014). 
   Nesse âmbito, o turismo como um  sistema amplo que se movimenta pelas mais vastas ofertas de atrativos tem, nas  manifestações culturais, um produto em potencial a ser aproveitado (RIBEIRO, 2004). De acordo  com Tomaz (2010), áreas que dispõem de bens culturais têm, na atividade  turística, uma oportunidade de instrumentalizar o desenvolvimento comunitário  e, simultaneamente, contribuir na preservação de suas tradições. 
   Igualmente, Almeida (2014) vem  corroborar que o turismo, como um fenômeno social com notável crescimento na  contemporaneidade, tem assumido relevante função econômica, viabilizando  dinamizar áreas deprimidas nas dimensões econômicas e sociais. Nessa lógica,  Madeira (2006) adverte que, o patrimônio cultural material ou imaterial em suas  mais diversas manifestações, como marca e memória das práticas do homem ao  longo do tempo, necessita ser tratado com cautela por parte do poder público em  uma proposta de turismo cultural. 
   Posto isto, a autora Madeira (2006)  acrescenta que dentre as ações que visam minimizar os impactos negativos  factíveis da atividade turística estão a averiguação das opiniões dos envolvidos  (moradores locais e visitantes/turistas), o gerenciamento efetivo por parte dos  agentes responsáveis, como o Poder Público municipal e a adoção de programas  educativos visando a preservação dos atrativos.
   Conforme anunciado por Almeida, a  relevância do turismo como fonte econômica, tem atualmente, também inserido o  patrimônio cultural como perspectiva de desenvolvimento. Assim sendo,  consequentemente, revela-se o interesse pela preservação, recuperação e difusão  dos diversos elementos que compõe esse patrimônio cultural, a fim de, por meio  de seus aspectos singulares inserirem no mundo globalizado. Nesse âmbito,  complementa Almeida, que, para e pelo turismo as distintas manifestações  culturais (festas religiosas, peregrinações etc.) são reinventadas como  atrativos turísticos (2014).
   Para Jurkevics (2005), as festas  religiosas como fenômeno cultural têm sido recriadas e revitalizadas como um  prolífero campo de investigação, ultrapassando sua perceptibilidade,  demonstrando crenças e saberes de uma identidade coletiva delimitada por um  tempo. 
   A mesma autora expõe que “as festas  revelam a essência de respeito fundante à fé e a fraternidade comunal, que  alimentam as manifestações religiosas e perpetuam as tradições que constituem  um verdadeiro patrimônio cultural”. Dessa forma, tem-se caracterizado as festas  brasileiras desde os séculos iniciais da colonização, representando um momento  único de sociabilidade, posto que, majoritariamente, era por meio dessas  manifestações que a população interagia (JURKEVICS, 2005, p.74).
   No tocante as festas, estas revelam  a sociedade, podendo ser uma diversão privada ou de uma memória coletiva que se  quer guardar. Outro elemento que a qualifica é a possibilidade de se entender o  passado histórico-cultural, por meio da associação entre o passado e o presente  (SANTOS, 2009).
   Segundo Brandão a festa pode ser  considerada um ritual ou uma configuração de rituais, cujo acontecimento se  opõe à rotina e coloca as pessoas, as instituições e a própria vida social  diante do espelho fiel ou invertido do que são, quando não são a festa, parece  ocorrer com uma a que tem acontecido com o outro (2010; 2003).
   Segundo Ribeiro (2004, p. 48) as  festas populares são realizadas para comemorar um acontecimento, seja, agrícola  ou religioso “que faz parte do cotidiano, possui sua organização no seio da  comunidade, a partir da arrecadação de recursos e da ajuda do poder municipal”.  Essa concepção para o autor (2004) está estritamente em conformidade com os  símbolos e a identidade do lugar, sendo a expressão de uma comunidade que se  reúne por interesses comuns pela fé, ou apenas para celebrar. 
   Para Araújo, as festas são  comemorações que acontecem desde o homo  faber. Nesse período o ser humano deixou de ser nômade, pois passou a  produzir seu próprio alimento, plantando e, assim permanecendo  na terra. Dessa maneira, as festas realizadas representavam o agradecimento  pelo sucesso da colheita (1997). 
   A partir do plantio agrícola  surgiram os ritos para proteção e produção, com o culto as divindades nas quais  acreditavam. Assim, foram incluídas as festividades, elementos, tais como, o  trabalho, as técnicas, a distribuição, fortalecendo a organização enquanto  sociedade (ARAÚJO, 1977).
   As festas que foram surgindo com as  colheitas e semeaduras, contribuíram para que houvesse momento  de socialização entre os indivíduos. Algumas destas festividades sobreviveram  ao longo do tempo, a saber, a festa de São João e do Divino Espírito Santo. Com  o decorrer dos tempos, as festividades que eram realizadas em comemoração pela  colheita foram se expandindo, dando origem a diversas outras, como por exemplo,  as de celebração dos santos padroeiros, aos bailes, etc. (ARAÚJO, 1977).
   A Igreja Católica Apostólica  Romana, também foi responsável pelo surgimento de algumas festividades e com a  institucionalização de um calendário festivo religioso. Esse calendário é  seguido tanto no espaço rural quanto no urbano. Assim, a festa de São  Sebastião, segue o calendário festivo da Igreja Católica (ARAÚJO, 1977;  BRANDÃO, 2010).
   Na compreensão de Almeida a festa  em sua gênese “é um dia de celebração marcado por um contexto religioso. É o  dia da demonstração pública pela qual se deseja “tocar” o espírito do próximo  [...]” (ALMEIDA, 2014, p.126). Nessa linha de compreensão, a autora (2014,  p. 126) complementa embasada em Duvinaud (1991), que “as festas são um pretexto  ideológico das sociedades que projetam nelas seus valores que elas gostariam de  consolidar e, por meio da teatralização, o homem procura dar certa  representação de si mesmo”.
   As festas para o homem do campo, na  década de 1970, tinham três conotações: atividade religiosa como, por exemplo,  Corpus Christi, Semana Santa; as festas  profano-religiosas, tais como os reisados, festa do Divino, procissões;  e festança, que é uma festa laica, desvinculada da religião, tais como  carnaval, festa de cowboys (ARAÚJO, 1977). 
   Segundo Brandão (2010), na  contemporaneidade, há, 
Novas formas de viver o festejo ou a redescoberta de formas antigas para nosso mundo parecem estender o poder e o significado da festa. Cada vez mais ela não quer tanto se opor à rotina, ao trabalho produtivo, mas sim invadi-los. Invadir a política, o lado sério, as relações que entre si os homens trocam. Para aqueles a quem o sentido da festa tem sempre a ver com o tradicional, a memória do antigo ou a proximidade do sagrado [...] BRANDÃO, 2010, p. 21.
As festividades, segundo Santos  (2009), são acontecimentos que se fazem presentes nos lugares turísticos. Em  alguns casos, são elas, o próprio atrativo, como podem ser citados o turismo de  cunho cultural e religioso nas cidades de Aparecida, Iguape, e Pirapora do Bom  Jesus, o turismo cultural, nos quais as pessoas se deslocam à Salvador para  presenciarem a lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim, na Bahia, para assistirem  o festival folclórico de São Luiz do Paraitinga/SP, entre tantas outras  festividades existentes no país. 
   A Organização das Nações Unidas  para a Educação e Cultura – Unesco (2005, p. 3), estabelece o patrimônio como  “o conjunto de elementos naturais e culturais, tangíveis e intangíveis, que são  herdados do passado ou criados recentemente”.
   Na concepção de Thomaz (2010, p.38)  patrimônio cultural:
É um conjunto de valores tangíveis e intangíveis que se têm conservado até nossos dias e que se identificam com um grupo humano. Um patrimônio, que vai desde o próprio meio natural ao artístico passando pelo histórico, etnológico, documental, e, mesmo, pelas formas do pensamento. É, portanto, fruto da natureza e da ação do homem, pelo qual se constitui como elo das sociedades antecedentes, que nós temos a responsabilidade de não só recuperar, conservar e transmitir senão também de acrescentar as contribuições de nosso tempo.
Nesse sentido, de maneira mais  abrangente do que representa patrimônio pode-se considerar todos os elementos  materiais ou imateriais que simbolizam a ação humana, logo compreendida como  cultura (ARAGÃO; MACEDO, 2011).
   Dado o exposto, o patrimônio  cultural representa as territorialidades culturais que são realizadas pelos  sujeitos, no recorte espacial desse artigo. Nesse sentido, as territorialidades  são a Folia de Reis do  assentamento Gleba XV de Novembro e a Festa de São  Sebastião, no distrito de Gardênia.
O município de Rosana está  localizado no extremo oeste do estado de São Paulo, pertencente à região do  Pontal do Paranapanema. Tem como limites os seguintes municípios: Teodoro  Sampaio (SP), Euclides da Cunha Paulista (SP), Diamante do Norte (PR),  Bataiporã (MS) e Anaurilândia (MS).
   Segundo o IBGE (2010), o município  possui uma área de 742, 870 km² e uma população total estimada em 19.691  pessoas, no qual 15.859 é urbana e 3.832 rural. Compõe o seu território, quatro  assentamentos de reforma agrária: Gleba XV de Novembro, Nova Pontal, Bonanza e  Porto Maria. Entretanto fará parte dessa pesquisa apenas o assentamento Gleba  XV de Novembro.
   A denominação do grupo de Folia de  Reis é Estrela Guia. Este grupo iniciou sua atividade na cidade de Belo  Horizonte/MG, com a liderança de Domingos Soriano. Com a mudança para o estado  de São Paulo com sua família, em busca de melhores condições de vida, trouxe a  Folia consigo. O  precursor antes de falecer, pediu ao seu filho que  continuasse com o grupo, e assim por meio de uma promessa feita ao seu pai, o filho aceitou  o compromisso e deu continuidade a tradição da família (SANTOS, 2009; 2013).
   De acordo com Ikeda (2011), há  diferentes tipos de folias: a baiana, a goiana e a mineira. No caso, esta Folia  de Reis é de tradição mineira, em virtude do próprio local de nascimento do precursor.  
   No que diz espeito ao período de  realização, a festa acontece sempre no dia 06 de janeiro, e o local é a capela  que fica dentro do lote dos próprios mestres. Nesse sentido, desde de 1987, a  festa vem sendo realizada no lote dos percursores da Folia.
   A sua realização compreende um  ritual, que normalmente fundamenta-se em: saída, também conhecido como giro ou  jornada; a visita nas casas e o fechamento da bandeira. Para isso, alguns  elementos são indispensáveis, para o desenvolvimento da jornada, a saber, os  instrumentos musicais, os participantes e a bandeira. 
   Não há uma rigorosidade em relação  ao período de saída com a bandeira (Figura 02). Dessa forma, o mestre e o  próprio grupo dispõem de autonomia para adequar a sua realidade. 
   A saída é, normalmente, feita antes  do Natal, em virtude da quantidade de casas que o grupo tem que visitar, assim, sair  antecipadamente é uma tentativa de passar na casa de todos que pediram a  visita. 
   Dado o exposto, a saída ocorre  entre o dia 10 e 15 de dezembro, mas, tradicionalmente, ela deveria ocorrer na  noite do dia 25 de dezembro após a missa do Natal.
   O grupo sai com aproximadamente,  entre 8 a 12 pessoas para realizar a jornada. Destarte, esse número, pode ser  inferior, em virtude da dificuldade de reunir mais participantes que possam  deixar seus afazeres, seu trabalho com a lida na propriedade para acompanhar o  grupo.
   As principais funções exercidas  pelas pessoas que acompanham o grupo são: embaixador; rainha, bastiões e foliões.  O mestre, também conhecido por embaixador, tem a responsabilidade de coordenar  o grupo e compete a ele puxar os cantos em primeira ou segunda voz. O  contramestre é incumbido de cuidar das ofertas recebidas e se, por ventura  necessitar, poderá substituir o mestre. A rainha, também conhecida por  bandeireiro, bandeirista ou alferes da bandeira, é encarregada de proteger a  bandeira (BOTELHO; SANTOS, 2003). 
   Os bastiões, também conhecidos como  palhaços, são responsáveis pela execução do ritual da folia: cantar pedindo a  oferta ou esmola e as brincadeiras que animam a folia (SANTOS, 2009). São três  bastiões, representando simbolicamente o número dos três Santos Reis. 
   A entrevista com o precursor desta  festividade apontou que, a realização da Folia de Reis é a maneira na qual eles podem  manter a tradição dos pais. Nesse  sentido, a festa simboliza as permanências de uma cultura enraizada no modo de vida  local e, portanto, é territorialidade cultural que sobreviveu ao longo do tempo. 
   A Folia de Reis, até o momento da  realização da pesquisa não desfrutavam de ajuda do poder público municipal. E,  assim, percebeu-se que este grupo necessitava de apoio para comprar novas  vestimentas; novos instrumentos; objetos decorativos para enfeitar a bandeira;  entre outros.
   Além disso, corre-se o risco desta  festividade vir a se perder, e não se ter registro municipal sobre a sua  existência, já que o Município não dispõe de arquivo histórico.
No tocante as territorialidades  culturais, ou seja, das festividades, particularmente foi constatado por Souza  (2012) e Souza; Thomaz (2014), que mesmo em face das mudanças socioeconômicas  decorridas nas últimas décadas do Século XX, sobretudo, com a modernização da  agricultura, o Distrito de Gardênia contém expressivos elementos culturais. A  exemplo, as festas tradicionais religiosas como a Festa de São Sebastião, a  Festa de São Benedito e a Festa de Nossa Senhora Aparecida, festividades que  integram o calendário religioso e de eventos do Município e o cotidiano dos  seus munícipes que as aguardam com grande entusiasmo. Entretanto, para este  artigo será retratado a festa que ocorre no espaço rural, dessa forma, será  investigado a Festa de São Sebastião.
   Assim, diante de um conjunto  paisagístico e cultural aprazível as primeiras iniciativas visando ao  aproveitamento das potencialidades turísticas do Distrito de Gardênia, deram-se  a partir de meados da década de 1990, objetivando atrair investimentos geração  de empregos (PREFEITURA MUNICIPAL DE RANCHARIA, 1996).
   Baseando-se em Ribeiro (2004) e  pesquisas empíricas, Souza; Thomaz (2014, p. 8) explicitam que, a Festa de São  Sebastião se evidencia como uma expressão  secular e “religiosa organizada por pessoas da  comunidade, sob mediação da igreja, em que se realiza uma homenagem sacra a São  Sebastião com missas, procissão, bênçãos e quermesses”. Assim, as  autoras (2014) constataram por meio de fontes orais que a Festa iniciou-se em  1918, e teve como motivação o cumprimento de uma promessa a São Sebastião, em  consequência de uma seca que se prolongou por vários meses. 
   A Figura 03 ilustra a imagem do  santo, bem como ao fundo a toalha que acompanha anualmente, desde de sua  criação, a festa.
   Portanto, as autoras Souza e Thomaz  (2014) observaram que a festa sofreu algumas alterações como a não execução de um  sorteio para a escolha dos “festeiros” que organizarão a festa do próximo ano. Há, contudo, indicações dentre a comunidade local a fim de  averiguar quem serão os interessados em realizar a festa, medida tomada segundo  os festeiros, para garantir a tradição, porém o rito de coroação foi preservado. 
   Entretanto, observamos que algumas  características organizacionais foram readaptadas e outras conservadas. Mesmo  com a massiva perda populacional no campo a festa tem sido realizada nesse  espaço, ainda que, quando necessário, em propriedade cedida por amigos e/ou  parentes.  
   Nesse âmbito, de acordo com os  festeiros, dentre as dificuldades atuais para a promoção da festa, considerando  as mudanças ocorridas (econômicas, tecnológicas, espaciais e sociais) no  contexto do Distrito, destacam-se a massiva perda populacional, especialmente  no campo. Constatamos desse modo, que essa manifestação cultural é a mais  tradicional e atrativa e, diferentemente das demais festas que não serão  aqui expostas, sua idealização e organização, apesar de sua natureza sacra, se dá  espontaneamente, por membros da comunidade que, se encarregam de realizá-la. A  vista disso, o pároco da capela assume o papel de mediador somente se  responsabilizando pela realização de uma missa na véspera da festa, posto que,  os responsáveis pela novena é a própria comunidade. Quanto aos recursos  financeiros, são obtidos durante e após a festa e não são necessariamente doados  à capela. 
   Conforme observamos, admitimos que  por ser uma festa originária no contexto rural, com o objetivo de agradecer a  chuva e as benesses da colheita, a missa é celebrada em ação de graças a esse  acontecimento, com oferendas de diversos frutos e sementes. 
   Outro fato substancioso que  verificamos, é que em alguns casos, as propriedades utilizadas a fim de  realizar a festa, se encontram desabitadas e arrendadas para o cultivo da  cana-de-açúcar ou soja/milho, tendo a função atual de garantir que a festa se  realize mesmo diante de um novo contexto produtivo.
Alicerçado  em dados preliminares obtidos, podemos constatar que  mesmo com as mudanças ocorridas na contemporaneidade a comunidade local tem se  unido a fim de preservar a sua tradição. Assim, as festas tradicionais  religiosas presentes no Distrito de Gardênia, mesmo com algumas adaptações, têm  resistido e se efetivado como marca de uma identidade que transpôs gerações.  Nesse sentido, considerando o uso e a apropriação do espaço pela prática do  turismo no Distrito, e em vista de elementos culturais em potenciais, tem no  turismo cultural uma possibilidade promissora para dinamizar o Distrito. 
   No  caso da Folia de Reis, é uma manifestação cultural  que está fragilizada, em virtude dos problemas enfrentados mencionados anteriormente, e, por isso, para seu fortalecimento, enquanto territorialidade cultural  local, necessita de apoio do órgão público.
   Entretanto, as opiniões acerca  desses eventos vêm indicar que há necessidade de ações por parte dos agentes  públicos responsáveis que venham atender as reais necessidades apontadas e,  assim, por meio de um planejamento participativo contribuir para um  desenvolvimento socioeconômico adequado com a realidade das festividades  existentes, para que  assim, valorizados, sejam um recurso em potencial para o turismo.
   Por  tudo isso, acredita –se que todos os envolvidos devam se  sensibilizar de que, estas festividades simbolizam a permanência ao longo do  tempo das tradições culturais de um povo. Assim, tendo em vista, a situação em  que ambas se encontram, acredita-se que a formulação de políticas públicas que  estreitem às relações com a cultura e o turismo, como uma possibilidade de  valoração do modo de vida rural, é basilar para a sua sobrevivência.
  
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