Revista: Turydes Revista Turismo y Desarrollo


ENGODOS DA RELAÇÃO ENTRE TURISMO E SUSTENTABILIDADE: REFLEXÕES SOBRE O DESCARTE DO LIXO EM UM HOTEL NA CIDADE DE MOSSORÓ, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

Autores e infomación del artículo

Jean Henrique Costa

Roberto Rangel Pereira

Nacor Aran Alves Leite

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

jeanhenrique@uern.br

RESUMO
Este breve estudo objetivou discutir alguns caminhos e descaminhos do descarte do lixo hoteleiro a partir de um estudo preliminar em um hotel na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil. O estudo foi realizado mediante observação in loco, aplicação assistemática de formulários com trabalhadores do hotel escolhido para o estudo e entrevista com o poder público (Empresa SANEPAV Saneamento Ambiental LTDA). Como considerações empíricas do estudo, observou-se que o hotel em questão dispõe de uma política interna de separação do lixo que, embora simples, consegue cumprir sua tarefa básica. Todavia, a gestão externa do lixo fica comprometida quando inexiste sintonia com o poder público. A SANEPAV, empresa responsável pela coleta e destinação final do lixo, mistura todo o lixo separado no hotel diretamente no caminhão da coleta e o joga sem separação no aterro sanitário. Logo, percebe-se que ambientalmente a qualidade de vida na cidade de Mossoró é afetada e corporativamente todo o trabalho despendido pelo hotel fica comprometido. O cuidado ambiental termina se tornando, pois, mais um engodo para o discurso da responsabilidade socioambiental de empresas.
Palavras-chave: Turismo, Hotelaria, Sustentabilidade, Lixo, Mossoró/RN.

ABSTRACT
This study discusses some ways and non-disposal of hotel waste from a preliminary study in a hotel in the city of Mossoró, Rio Grande do Norte, Brazil. The study was conducted through on-site observation, application forms with hotel workers chosen for the study and interviews with public authorities (Environmental Sanitation Company SANEPAV LTDA). As empirical considerations of the study, it was observed that the relevant hotel has an internal policy of separation of garbage, although simple, can fulfill their basic task. However, external waste management is compromised when nonexistent tune with the government. The SANEPAV, the company responsible for the collection and disposal of garbage, mixing all the garbage in separate hotel directly at the truck collects and plays without treatment and / or separation in the landfill. Soon, you realize that environmentally the quality of life in the town of Mossoró is affected and the work expended by the hotel is compromised. The environmental care ends becoming so more bait to the discourse of environmental responsibility of companies.
Keywords: Tourism. Hospitality. Sustainability. Garbage. Mossoró/RN.



Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Jean Henrique Costa, Roberto Rangel Pereira y Nacor Aran Alves Leite (2014): “Engodos da relação entre turismo e sustentabilidade: reflexões sobre o descarte do Lixo em um hotel na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 17 (diciembre 2014). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/17/lixo.html


Pensar a relação entre turismo e meio ambiente significa, ab initio, pensar as formas pelas quais o capital gerencia aquilo que não o reproduz ou que impede sua reprodução ampliada. Daí que, estruturalmente, o problema ambiental passa, pois, pela compreensão dos mandos e desmandos empresariais.
Nesse meio tempo muitas empresas apostam no chamado ecologicamente correto. O engodo desse discurso, apoiado numa pretensa sustentabilidade (de fato nada é sustentável no capitalismo), escorrega sempre em si mesmo. O capital não tem responsabilidade social, tampouco ambiental. As grandes empresas, como já apontou enfaticamente Milton Santos, não têm responsabilidade social e não têm responsabilidade moral sobre tudo. Por isso, desorganizam os territórios tanto socialmente como moralmente. Decididamente, empresa solidária, ecologicamente correta ou de economia verde expressa, via de regra, mais produção de ideologia. Se quisermos termos mais concretos, visando a esquiva dos perigos da ideologia do conformismo, deveríamos pensar empresas que buscam obter vantagens competitivas (comparativas) em mercados que “cobram” selos ambientalmente sustentáveis. Este discurso é menos ideológico e expressa maior vitalidade metodológica. Isto é, empresa verde é “verde” para se reproduzir e não para fazer caridade ambiental.
Assim, seja “pela legislação vigente, pela pressão dos órgãos ambientais ou mesmo pelo fator custo” (ALVES; CAVALCANTI, 2006, p. 05) muitas empresam têm aderido ao fator qualidade ambiental como fator de diferenciação e competitividade. No turismo, especificamente no setor hoteleiro, algumas organizações vêm passando por alterações tecnológicas e organizacionais, objetivando maior competitividade. Uma dessas alterações pode ser evidenciada na preocupação com questões ambientais. Os hotéis na fase fordista de reprodução do turismo funcionavam apenas como meios de hospedagem e suas missões eram, simplesmente, oferecer serviços básicos de hospedagem, alimentação e recreação. Atualmente a preocupação com as expectativas dos clientes traz à tona uma apreensão maior com a qualidade e coloca a visão do consumidor como basilar (pelo menos em economias avançadas de capitalismo moderno). A qualidade ambiental passa, então, a ser fator de competitividade e de sustentabilidade na chamada Nova Era do Turismo (FAYOS-SOLÁ, 2004).

O segmento hoteleiro, em particular, sofre cada vez mais pressões no que se refere à demonstração de um bom desempenho em relação às questões ambientais. Os hóspedes já começam a exigir dos hotéis um novo tipo de requisito que não está apenas atrelado à qualidade dos serviços diretamente prestados, mas, fundamentalmente, associado à implementação da estrutura de gestão ambiental, ou seja, à qualidade ambiental (ALVES; CAVALCANTI, 2006, p. 03).

Evidentemente, “um dos segmentos que gera muitos resíduos é o hoteleiro [...]. O setor hoteleiro, especialmente nas grandes redes, tem adotado estratégias para a gestão ambiental” (SILVA et al., 2013, p. 250). Na hotelaria já notamos um aumento na preocupação com a disposição final do lixo, de maneira que alguns empreendimentos têm tomado uma série de providências para assegurar, a longo prazo, a sustentabilidade de suas receitas. Nesse cenário, a qualidade do entorno ambiental passa a ser decisiva. O hotel não está isolado na reprodução do sistema turístico. Logo, precisa adotar ações “ambientalmente” responsáveis, de modo a dotar não apenas sua estrutura interna, mas cooperar com todo o destino receptor, de qualidade ambiental.
Assim, já podemos identificar certa vantagem competitiva dos empreendimentos que demonstram preocupação com a gestão de seus resíduos. Reaproveitamento da água, diminuição do uso de energia elétrica, aumento da ventilação natural, uso da energia solar, descarte correto e reaproveitamento de materiais que antes seriam apenas jogados no lixo são sinais de melhorias na qualidade ambiental dos hotéis.
Pode-se alegar que as características desses empreendimentos “ecologicamente corretos” geram, nos hóspedes, uma satisfação, por poderem colaborar com a prática de descarte seletivo e, com isso, ajudar na tão propalada sustentabilidade. Certo ou não, muitas empresas e turistas apostam nessa onda verde.
Vale destacar também que hotéis de grande porte cobram preços mais altos quando adotam sistemas de gestão ambiental. Prontamente, “ao mesmo tempo em que reduzem custos, ampliam as margens de ganho cobrando mais por serviços ambientais, em um posicionamento estrategicamente interessante” (RIVERA 2002 apud SILVA et al., 2013, p. 250).
Estrategicamente o conhecimento da escassez dos recursos naturais assegura a necessidade de assumir um papel ambiental dentro das empresas. Na hotelaria não seria diferente. Destarte, a prática de cuidar do próprio lixo requer, dos empreendedores do setor hoteleiro, uma análise cuidadosa sobre a geração de lixo e a atuação de práticas que podem ser adotadas no cotidiano, de forma que não alterem o bem-estar dos hóspedes e a qualidade de seus serviços, gerando benefícios ao meio ambiente e obtendo competitividade hoteleira.
Na hotelaria, embora não seja um setor industrial, muitos resíduos sólidos são produzidos. Para Mandelli (1997 apud DE CONTO et al., 2004, p. 1242-1243), constituem resíduos sólidos de um meio de hospedagem:

matéria orgânica putrescível: restos alimentares de origem animal e vegetal (cascas de frutas, erva-mate, preparo da alimentação), guardanapos impregnados com gordura ou restos alimentares, flores, grama, ervas gramíneas e podas de árvores.

plástico: sacos, sacolas, garrafas de refrigerante e água, isopor, embalagens de biscoito, embalagens de batata frita e de café, recipientes de produto de limpeza, copos de água e embalagens de iogurte.

papel e papelão: caixas, revistas, jornais, cartões, pratos, guardanapos, toalhas de mesa, informativos em geral.

vidro: garrafas de bebidas (refrigerantes, cerveja, vinho, espumante e champanhe), embalagens de produtos alimentícios, embalagens de produtos de limpeza, embalagens de cosméticos e embalagens de medicamentos.

metal ferroso: enlatados (produtos alimentícios), lã e palha de aço e materiais de construção.

metal não-ferroso: latas de bebidas e fiação elétrica.

madeira: caixas de frutas e verduras, palitos de fósforo e material de construção.

panos, trapos, couro e borracha: peças de vestuário, pedaços de tecidos, panos de limpeza, balões e pó da máquina secadora de roupa.

contaminante químico: pilhas, medicamentos (comprimidos e pomadas), embalagens com medicamentos, lâmpadas fluorescentes, embalagens com produtos químicos, cera de assoalho, embalagens pressurizadas, vidros com esmalte de unhas, canetas com tinta, latas de óleo de motor, cosméticos em geral, solventes, cera, sabonetes e sabões.

contaminante biológico: papel higiênico, curativos, gazes, absorventes higiênicos, fraldas descartáveis e palito de dente.

misto: embalagens longa vida (leite e suco), papel aluminizado, fiação elétrica, papel de sabonete, embalagens impermeabilizadas, lixas de mão e de pé.

diversos: pontas de cigarro, rolhas, goma de mascar, papel celofane e pó de aspirador.

Diante das possibilidades de resíduos elencadas acima, mesmo não se tratando de um setor industrial, que materialmente produz resíduos de maior periculosidade, a hotelaria produz uma gama substancial de lixo heterogêneo, o que não deve ser negligenciado  pelas empresas, tampouco pelo poder público.
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 10004, 2004, p. 01), são resíduos sólidos:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

A bibliografia que trata acerca do problema da gestão de resíduos sólidos é quase consensual:

Os critérios básicos de gestão de resíduos sólidos são universalmente aceitos atualmente. São a minimização na geração de resíduos, segregação na origem dos resíduos gerados, forma de acondicionamento e transporte temporários e destinação final dos resíduos. A disposição final envolverá a reutilização dos materiais no estado em que se encontram, a reciclagem dos materiais, que se constitui num novo processo de industrialização, ou destinação a aterro sanitário licenciado (CARVALHO; NAIME; BLANCO, 2010, p. 37-38).

A PNRS também observa esta condição1 . Deste modo,

Para implantar uma política de gerenciamento de resíduos sólidos gerados nas atividades hoteleiras é importante identificar as condições de manejo dos mesmos. No diagnóstico desse tipo de fonte geradora de resíduos podem ser identificadas diferentes situações: a) serviços oferecidos aos hóspedes; b) características dos diferentes setores do hotel; c) número de hóspedes; d) características dos hóspedes; e) tipologia dos resíduos sólidos gerados em cada serviço; f) produção per capita de resíduos sólidos; g) tipos e características dos dispositivos de acondicionamento dos resíduos; h) segregação dos resíduos; i) periodicidade de coleta interna e externa; j) comportamento dos hóspedes em relação aos resíduos que geram; k) comportamento dos gerentes, cozinheiros, camareiras, garçons, entre outros agentes em relação aos resíduos sólidos; l) informações aos hóspedes sobre condutas a serem desenvolvidas em relação aos resíduos sólidos; m) locais de armazenamento dos resíduos; n) organização da fonte geradora; o) tratamento dos resíduos sólidos e p) disposição final (DE CONTO et al., 2004, p. 1239).

Nesse ínterim, a produção de lixo vem se tornando um problema estrutural não apenas nas grandes cidades, mas também em cidades médias que já contam com uma regular estrutura de serviços e/ou produção industrial. Na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil, a maioria dos empreendimentos hoteleiros não aplica nenhuma ação rigorosamente planejada de gestão de seus resíduos sólidos, e em termos de sustentabilidade, há apenas ações esporádicas e solitárias, sem o envolvimento de todo o trade hoteleiro da cidade.
O objeto de estudo desta pesquisa circunscreve a política de separação e descarte de resíduos sólidos feita pelo Hotel Alfa 2, empresa pertencente a uma rede internacional de hotéis. O estudo se deu através de observação direta e aplicação assistemática de formulários com trabalhadores desse Hotel, buscando entender algumas das vicissitudes presentes na destinação final do lixo produzido neste espaço organizacional.
 Constatou-se primeiramente que este hotel recebe o selo do ISO 9001, certificação destinada a empreendimentos que assumem características certas ambientais. No decorrer da análise dos dados colhidos, observou-se que existe uma prévia separação do lixo em vários setores do hotel. Os funcionários do setor de governança, no momento de limpeza e organização dos dormitórios, recolhem os resíduos deixados nos quartos pelos hóspedes. O lixo jogado no cesto do banheiro é recolhido e classificado como “contaminado”. A separação é feita por tipos. Há lixeiras coloridas, divididas entre corredores, recepção e cozinha. Há, também, um recipiente específico para o recolhimento de pilhas e baterias, que são materiais extremamente poluentes, pois, se despejados em lixo comum, atingem, ao longo dos anos, os lençóis freáticos.
Para um consumo menor de energia, a fachada da recepção é toda feita de vidro refletido, diatérmico que diminui a intensidade do calor solar interno e, dessa maneira, aproveita ao máximo a iluminação solar, reduzindo o gasto de energia elétrica.
Para embalar sabonetes, xampus e condicionadores, é utilizado um material composto por plástico biodegradável, o qual gera menos impacto ao meio ambiente, por ter vida menos durável que outros plásticos não degradáveis.
Por todo o hotel, são distribuídos cartazes informativos, com dizeres entusiásticos, incentivando os hóspedes a colaborar com a redução de resíduos. De diversas formas, a administração chama a atenção do hóspede para os benefícios de gestos simples que possam contribuir, a longo prazo, com a qualidade do meio ambiente. O hóspede pode colaborar em sua hospedagem, deixando um panfleto em cima da cama, autorizando as camareiras a não fazer a troca de seus lençóis; nos banheiros, podem-se encontrar panfletos que pedem que suas toalhas não sejam substituídas. Essas atitudes geram um consumo reduzido de água. Além disso, o estabelecimento conta com uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que é aplicado em forma de pergunta ao hóspede: se ele deseja reutilizar sua toalha, e indica que a cada cinco toalhas reutilizadas, uma árvore será plantada. Não cabe a este estudo qualificar a efetividade deste plantio de árvores.
Prosseguindo, outro setor que colabora com a separação dos resíduos é a cozinha. No decorrer do dia, seus resíduos são separados em lixeiras específicas e, no final do expediente do grupo de funcionários, os materiais inorgânicos são recolhidos e levados até um pequeno depósito, protegido da ação da chuva e do vento, para que o caminhão da coleta o recolha em sua passagem. Já em outro depósito, há refrigeração artificial, para que os resíduos orgânicos sejam despejados e esperem o recolhimento. Essas ações protegem a proliferação de doenças e o ataque de pequenos animais aos seus resíduos.
Em suma, há ações, efetivas ou não (novamente não cabe a este estudo preliminar qualificá-las), de gestão de resíduos sólidos no Hotel Alfa. Sem cair no engodo administrativo de valoração da organização como empresa verde, interessa destacar que existe certa preocupação com o descarte do lixo. Assim sendo, o capital age de maneira mais estratégica nesta empresa.
Por outro lado, observando o poder público municipal (responsável pela coleta e tratamento do lixo recolhido), o mesmo selo “verde” não pode ser atribuído. A SANEPAV, empresa prestadora de serviços para o município de Mossoró, é responsável pela coleta, transporte e destinação final do lixo. Através de conversas informais com funcionários da empresa que recolhe os resíduos, percebeu-se que a coleta funciona de forma precária. Todo o material recolhido é jogado em um caminhão e destinado a um aterro sanitário, localizado às margens da BR 110. Todo o material recolhido pelos caminhões é depositado no aterro, sem nenhum tipo de separação, até mesmo em relação aos orgânicos e inorgânicos. Dados do IBGE, citados por Roa et al, já apontam que “mais de 50% dos resíduos gerados no Brasil são destinados em vazadouros a céu aberto, conhecidos também como lixões” (ROA et al., 2013, p. 04).

Os resíduos sólidos urbanos (separados ou não pelos stakeholders) são coletados pelo serviço público municipal ou empresas particulares, quando for o caso. Quando segregados, os resíduos podem ter dois destinos: a reciclagem ou destinação a aterro sanitário, ou ao processamento de incineração (SILVA et al., 2013, p.257).

No caso de Mossoró, os resíduos sólidos são simplesmente descartados de forma misturada após coleta pela SANEPAV. Todo o trabalho do hotel é desperdiçado mediante a falta de gestão adequada.
Sobre a separação dos resíduos, os entrevistados da SANEPAV relataram que o lixo é depositado de maneira rudimentar no caminhão, não havendo nenhum tipo de cuidado com sua separação dentro do transporte. Ou seja, não é feita nenhuma separação dos resíduos na colocação no caminhão; portanto, nem no transporte, tampouco em seu depósito final.
Vale destacar que o próprio poder público municipal descumpre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS 3), onde em sua legislação deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada.
É importante destacar uma advertência metodológica neste momento de quase desfecho do texto: este estudo é mais uma reflexão provocativa do que a demonstrabilidade empírica de uma realidade substancial. Portanto, longe de valorar ou denunciar certas realidades, este estudo buscou mostrar, singelamente, a não-racionalização do trabalho pós-coleta realizado pelo Hotel Alfa, bem como, as múltiplas consequências que podem surgir do descarte irregular dos resíduos sólidos no aterro sanitário (que por sinal na cidade de Mossoró é guardado a sete chaves!).
Como um adendo, num cenário em que a maioria das empresas não possui gestão racional e planejada do lixo, e nem o poder público municipal atua eficazmente dentro da PNRS, cooperativas 4 de coleta, separação e reciclagem de resíduos podem ser a grande forma eficaz de reduzir os impactos causados pelo lixo. Pode-se, dessa maneira, observar uma fonte de renda para um grande número de pessoas excluídas dos espaços formais do mercado de trabalho. “A separação do lixo além de ser uma boa ação para o meio ambiente colabora na limpeza, reduz o desperdício e pode ser fonte de renda para o próprio estabelecimento ou para a Associação de catadores” (ROA et al., 2013, p. 15). É possível ainda estabelecer formas de reaproveitamento, estudadas e ensinadas através de cursos de capacitação, com o objetivo, pois, de facilitar a geração de renda e a redução da produção de resíduos.
Nesse ínterim, tem-se uma luta insana para os trabalhadores pró Meio Ambiente, pois de nada adianta recolher, separar e reciclar o lixo, se na outra ponta – a do recolhimento e da destinação final – há descompromisso e/ou pouca racionalização em relação ao destino final do lixo.
Seguramente a realidade observada no Hotel Alfa e a possibilidade de pouca racionalidade de seu descarte poderão ser constatadas em outros espaços econômicos em diversos outros municípios do país. O problema do lixo no Brasil não é somente conjuntural. Falta de compromisso político, incapacidade de gestão ou mesmo contradições estruturais da expansão do capital expressam toda perversidade pelas quais certas questões sociais gerais vêm sendo tratadas. A gestão do lixo não está sozinha. O grande consolo – se é que podemos chamar assim – é que os resíduos provenientes da hotelaria não são de grande periculosidade.

Os resíduos sólidos gerados em estabelecimentos de hospedagem são em sua maioria um resíduo de fácil ou nenhum tratamento, uma vez que podem ser considerados resíduos limpos, com quantidades muito reduzidas de contaminantes orgânicos, o que facilita o processo de reciclagem do material (ROA et al., 2013, p. 14).

Entrementes, o desafio da implantação de um sistema de gestão ambiental em empresas hoteleiras passa, antes de tudo, pela ampliação da busca por destinos turísticos menos insustentáveis do ponto de vista socioespacial e, no âmbito do poder público, pelo cumprimento da legislação geral vigente. Os limites são muitos e os desafios permanentes. Nesse ínterim, muitos caminhos são apenas apontados e muitos descaminhos efetivados ao longo das muitas armadilhas dos engodos “ambientais” pró-capitalismo.

Referências

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004: Resíduos Sólidos – Classificação. Rio de Janeiro, 2004.

ALVES, Kerley dos Santos; CAVALCANTI, José Euclides A. A gestão ambiental de resíduos sólidos no setor hoteleiro. Anais... IV Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL, Caxias do Sul, 7-8, p. 1-15, jul. 2006.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 03 ago. 2010.Disponível em :<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 09. set. 2014.

CARVALHO, Sérgio; NAIME, Roberto; BLANCO, Luiz Alonso. Avaliação dos processos de gestão de resíduos sólidos dos hotéis Dall Onder e Novotel. Patrimônio: Lazer & Turismo, Mestrado em Gestão de Negócios - Universidade Católica de Santos, v.76, n. 9, p. 36-59, jan.-fev.-mar./2010.

DE CONTO, Suzana Maria. et  al. Geração de resíduos sólidos em um meio de hospedagem: um estudo de caso. Anais... ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Costão do Santinho, Florianópolis, Santa Catarina, p. 1238-1247, 2004.

ENCONTRO com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá. Direção de Silvio Tendler. Caliban Produções Cinematográficas Ltda, 2006 (89 min.).

FAYOS-SOLÁ, Eduardo. Política turística en la era de la globalización. Mediterráneo Económico, Instituto de Estudios Socioeconómicos de Cajamar, n. 5, 2004.

ROA, Juan Pedro Bretas. et al. Gestão de resíduos sólidos em estabelecimentos de hospedagem: estudo de caso em São João Del Rei – MG. Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG – Brasil – Nº 03 – Ano II – 05/2013.

SILVA, Rosangela Sarmento. et al. Avaliação da gestão ambiental no setor hoteleiro: um estudo nos hotéis do extremo norte brasileiro. ReFAE – Revista da Faculdade de Administração e Economia, v. 4, n. 2, p. 249-272, 2013.

1 “A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos”. Em seu Art. 9 destaca: “Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.

2 Nome fictício, criado visando garantir o anonimato da empresa analisada.

3 Art. 47.  São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos: 
I - lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;
II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração. 

4 O presente estudo, por questões de recorte do objeto e por questões de limites da pesquisa, não entrou no mérito da investigação com as cooperativas de coleta seletiva da cidade de Mossoró/RN. Portanto, o estudo se limitou a entender basicamente a relação funcional entre os resíduos produzidos e trabalhados pelo Hotel Alfa e algumas das vicissitudes de seu descarte.


Recibido: 13/11/2014 Aceptado: 30/11/2014 Publicado: Diciembre de 2014

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