TURyDES
Vol 7, Nº 16 (junio/junho 2014)

TURISMO NO ESPAÇO RURAL NO MUNICÍPIO DE ROSANA/SP: POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO

Clediane Nascimento Santos (CV) y Rosângela Custodio Cortez Thomaz

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o propósito de analisar a potencialidade das manifestações culturais dos assentamentos Gleba XV de Novembro e Nova Pontal como possibilidade de criação de roteiros turísticos.
Para entender o ambiente que essas manifestações estão inseridas, vale uma breve contextualização histórica dos dois assentamentos: Gleba XV de Novembro e Nova do Pontal dos quais são os selecionados para a realização deste estudo.
O assentamento Gleba XV de Novembro está localizado em dois municípios, com lotes distribuídos em vários setores, nos quais, o setor I, II, III localizados em Rosana/SP e os setores IV, V VI em Euclides da Cunha Paulista. Originalmente, foram criados 571 lotes, dos quais 438 estão em Rosana/SP (IOKOI et al., 2005).
O inicio deste assentamento está relacionado às demissões da Companhia Energética do Estado de São Paulo - CESP, das empreiteiras e da Destilaria Alcídia. O desemprego massivo de milhares de pessoas deixaram muitas famílias sem ter para onde ir e nem opção de emprego na redondeza, logo que não havia outras empesas que pudesse acolher todo o contingente dispensado. Aliado a isso, outro agravante que surgiu foi à enchente no rio Paranapanema, no ano de 1983 que desabrigou muitas famílias ribeirinhas. Estas famílias se juntaram em um grande acampamento no trevo de Euclides da Cunha Paulista e organizaram um movimento que tinha como objetivo a luta pela terra (SOUZA, 2007).
Assim, em 15/11/1983 aproximadamente 800 trabalhadores vindos dos municípios de Rosana, Euclides da Cunha, Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema e outras localidades, ocuparam as terras da ex-fazenda Tucano e Rosanela, ambas em Teodoro Sampaio. A ocupação terminou por meio de um pedido de desapropriação feito pelos proprietários e foram despejados e fizeram um acampamento na Rodovia Arlindo Bétio, SP 613 (IOKOI et al., 2005).
Após um tempo foram para uma área provisória cedida pela CESP. Com o agravamento da questão agrária, o governo paulista em 1984, desapropriou uma área equivalente a 15 mil hectares (há) para a implantação do projeto de assentamento, que hoje é conhecido como Gleba XV de Novembro (SANTOS, 2009).
Este assentamento, por ser o mais antigo do Pontal do Paranapanema, sua história evoca aos bastidores da luta pela terra nesta região, protagonizados pelas famílias que conquistaram o direito de ter o seu lugar, o seu pedaço de chão.
Ele é palco de muitos embates internos que faz deste assentamento um caso típico, no qual a luta ideológica dos movimentos sociais pela terra se faz presente. Este fato caracteriza este assentamento no município de Rosana como enigmático para se desvendar o histórico da luta pela terra e para compreender a atuação dos movimentos sociais que lutam pela reforma agrária.
Ele possui algumas festividades popular tais como: Folias de Reis, festa de Aniversário da Gleba XV de Novembro, Festa da Mandioca, Roda de Viola e as festas dos padroeiros, como Nossa Senhora Aparecida, Sagrado Coração de Jesus, Santa Luzia.
Este assentamento é o mais indicado para uma proposta de Turismo no Espaço Rural - TER que valorize os aspectos culturais, representados pelas festas populares, especialmente a Roda de Viola e a Folia de Reis, para as questões de reforma agrária e assim como os aspectos produtivos das propriedades por meio da vivência com as famílias assentadas em sua lida diária com a produção.  
Já o assentamento Nova Pontal, originalmente, era composta por 122 famílias, abrangendo uma área de 2.786 hectares de terra localizando-se nas margens direita e esquerda da rodovia que liga distrito de Primavera ao Paraná, via Diamante do Norte (CRUZ, 2008). Possui em sua área grande capacidade hídrica por estar próxima a margem do rio Paranapanema e do reservatório da Usina Hidrelétrica de Rosana.
Sua fundação está atrelada a concessão da Fazenda Timboril Agropecuária Ltda, para o Estado, em 1998. O Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”- ITESP realizou assembleia com 122 famílias selecionadas para ocupar as terras. Este assentamento foi um caso especifico já que foi formado por quatro grupos diferentes: o MST, o MAST, ex-funcionários das fazendas e os sindicatos de Porto Primavera. Cada qual ficou com uma área do assentamento (CARNEIRO, 2007).
Segundo pesquisa de Carneiro (2007) as famílias iniciais deste assentamento enfrentaram algumas dificuldades, pois não havia infraestrutura no local, tais como: estradas, água canalizada, energia elétrica, meios de transporte, escolas. Somado a isso a falta de recurso para investir na terra fizeram com as famílias buscassem ajuda na gestão municipal da época para sua produção, e para perfurar poços. Do Estado conseguiram ajuda para construir estradas e escola. Dessa forma com o apoio conquistado e com o esforço das famílias as dificuldades foram superadas.
Atualmente este assentamento é visto com grande potencialidade para o desenvolvimento do turismo. Constitui-se, portanto, num assentamento de grande beleza cênica pela proximidade com o rio Paranapanema e em virtude de seu formato ficou conhecido com “tuiuiú” (CARNEIRO, 2007). Este assentamento foi diagnosticado como propício para o projeto piloto de desenvolvimento do Turismo Rural – TR, mas também como possibilidade para o TER.
Este artigo é um estudo de caso de natureza descritiva e exploratória. O estudo de caso é uma “investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, especialmente quando o limite entre fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2005, p. 32).
Além disso, “parte do principio de que o estudo aprofundado de um caso pode ser representativo em muitos outros, ou mesmo em casos semelhantes”, isso é o que induziria a escolha do objeto de estudo (GIL, 2008, p. 18).
A natureza descritiva da pesquisa tem como características: observar, registrar, analisar e correlacionar fatos. Este tipo de pesquisa é utilizado principalmente nas ciências humanas, especialmente para obtenção de dados que não consta em documentos. Dessa forma, a pesquisa descritiva, em suas diversas formas, trabalha sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade (CERVO E BERVIAN; 2002).
Do mesmo modo, a pesquisa exploratória é importante, porque tem como “finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Este tipo de pesquisa se caracteriza como aquela que exige pouco rigor no planejamento e envolvem levantamento bibliográfico e documental e aplicação de entrevistas não padronizadas, no qual está muito presente nos estudos de casos (GIL, 2008, p.27).
A coleta de dados se deu por meio da pesquisa bibliográfica, documental e entrevista semi-estruturada, com roteiro elaborado previamente e com questões em aberto, pois este tipo de entrevista possibilita mais flexibilidade à pesquisadora em inserir alguma questão sobre algum aspecto importante surgida no ato da entrevista, e que não tenha sido contemplada no roteiro.
Os entrevistados foram escolhidos: 1- por serem representantes da Roda de Viola e da Folia de Reis; e 2- por ocuparem cargo ou função em órgão público que esteja relacionado com a temática de cultura e turismo.
As entrevistas foram norteadas por questões que levariam a caracterização e a compreensão da cultura local e do desenvolvimento do turismo. Por isso entendeu-se que não era possível à padronização e a aplicação do mesmo roteiro para todos os entrevistados, exceto para os representantes das manifestações culturais.
As manifestações com potencialidade para a criação do roteiro turístico são: Folias de Reis e a Roda de Viola. Elas foram escolhidas dentro do contexto cultural, por estar mais associada com o espaço rural e trazem as características da ruralidade, tais como: a musicalidade da viola, a transmissão do saber por meio da oralidade e da tradição da Folia de Reis “Estrela Guia”.

TURISMO NO ESPAÇO RURAL: PROPOSTA DE ROTEIRIZAÇÃO PARA OS ASSENTAMENTOS RURAIS GLEBA XV DE NOVEMBRO E NOVA PONTAL

O turismo, dentre todas as suas características, pode-se afirmar que tem como elemento substancial para sua efetivação, as peculiaridades de cada local, a identidade e a cultura. Assim, os assentamentos rurais de Rosana/SP, é um diferencial para o desenvolvimento da atividade turística. Dessa forma, é necessário o entrelaçamento dessa singularidade, que leve em consideração a vida dos trabalhadores assentados, a geração de renda, emprego, autoestima, valoração da identidade e do modo de vida do pequeno agricultor, pois a relação entre turismo e cultura é riquíssima.
A busca pelo turismo no espaço rural encontrou na transformação da estrutura da produção agropecuária um campo favorável, pois propiciou ao delineamento de um novo modelo produtivo rural, no qual o turismo é uma alternativa como provedor de recurso econômico em virtude de sua fácil adaptação dos recursos rurais em oferta turística. Assim, em meio à dificuldade enfrentada pelo agricultor familiar em manter-se no meio rural, o turismo surge como saída que poderá agregar valor ao que é produzido (THOMAZ, 2010).
Para o Ministério do Turismo - MTur (BRASIL, 2008), a conceituação de turismo no espaço rural engloba as diversas atividades desenvolvidas no meio rural, independente de suas especificidades, tais como: o turismo rural, o agroturismo e o turismo rural na agricultura familiar. É o conjunto de atividades comprometidas com as atividades agropecuárias e com a valorização do patrimônio cultural e natural como feições da oferta turística no meio rural.
Este município, chamado Rosana/SP, no qual neste trabalho estuda a possibilidade de inserção do turismo no espaço rural, há tempos, desde o período que José Ferrari Leite estudou a ocupação do Pontal do Paranapanema, que fora percebido e identificado o seu o potencial e sua vocação para o turismo, no seguinte dizer:

Nesta estação, a vila de Rosana fica envolvida pelas águas excedentes dos dois rios em enchentes colossais. Assim, envolvida pelas águas, Rosana revela toda a beleza de sua geografia selvagem em que o sol vermelho da tarde mostra milhares de garças e patos-selvagens voando no horizonte avermelhado em direção ao ocidente. A visão levou um geógrafo a sonhar com um polo turístico paulista com base em Rosana, por sua semelhança com o Pantanal (LEITE, 1998, p. 20-21).

O turismo depende de muitos fatores para sua concretização, para este conjunto de fatores constitui o chamado sistema turístico, que há certas particularidades para seu funcionamento, tais como: demanda, oferta, produto, potencialidade, o empreendimento turístico, os atrativos, a infraestrutura. Por este motivo, por depender de inúmeros fatores se faz necessário o seu planejamento, para que seja uma atividade responsável.
Assim, o turismo compromissado com a realidade local é aquele que atrai as pessoas para conhecer o lugar e desfrutar de sua cultura, da beleza natural, assim como, o turista deve ser respeitado e acolhido com qualidade, segurança e oferta de bons serviços. Dessa forma a infraestrutura é indispensável para que o acolhimento aconteça (CORIOLANO, 1997).
Diante da possibilidade de se transformar um recurso ou um bem patrimonial em atrativo turístico surgiu a proposta de criação de roteiros que leve em consideração o espaço rural e o seu patrimônio cultural, por meio do aproveitamento do fluxo de visitante da Usina Hidrelétrica Eng. Sérgio Motta e do Museu de Memória Regional, pois ambos são atrativos turísticos formalizados no município em questão.
Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta – UHE Eng. Sérgio Motta, anteriormente foi chamada de Usina Hidrelétrica Porto Primavera está localizada no Rio Paraná, a 28 km a montante da confluência com o Rio Paranapanema.
A barragem dessa Usina é a mais extensa do Brasil, tem 11.380 m de comprimento. A seleção pelo município de Rosana se deu devido às condições geográficas do lugar. A usina foi projetada para ter dezoito turbinas, mas só 14 estão operando, no qual todas podem gerar 1.980 megawatts. A primeira etapa do enchimento do reservatório, na cota 253,00 m, foi concluída em dezembro de 1998 e a segunda etapa, na cota 257,00 m, em março de 2001. Em Outubro de 2003, entrou em operação a unidade geradora 14, totalizando assim, 1.540 MW de potência instalada. Devido ao pouco declive do local, o tamanho da área a ser inundada para a criação da barragem da usina foi gigantesco – o maior lago artificial do Brasil e um dos maiores do mundo, com 2.250 Km², ou 225 mil hectares, com uma capacidade de 20 bilhões de m³ de água o que aumentou em nove vezes o leito do rio Paraná.
Todo o impacto gerado pela construção dessa usina leva a questionamentos sobre a sua capacidade de produção energética e colocando muitas vezes em xeque todo o discurso defendido pela CESP em relação ao custo – beneficio, atrelado a essa Usina.
Os municípios mais afetados do lado de Mato Grosso do Sul, foram: Anaurilândia, Bataguassu, Brasilândia, Santa Rita do Pardo e Três Lagoas, que fica a montante da barragem. Já os municípios do estado de São Paulo foram: Rosana, Teodoro Sampaio, Presidente Epitácio, Panorama, Paulicéia, Castilho, Caiuá, Nova Guataporanga, Nova Independência, Presidente Venceslau, Ouro Verde. No total foram dezesseis municípios que conseguiram indenização da CESP.
Além disso, foram afetados os pescadores, agricultores, e toda a cultura local, presentes nos sítios arqueológicos, e do patrimônio histórico e cultural que foram perdidos a partir do momento que as famílias foram realocadas para outro lugar. Por esses e outros motivos, várias ações judiciais passaram a ser movidas contra a CESP para que houvesse um reparo por essas perdas, não que o valor indenizatório recuperasse o que foi perdido, mesmo com o EIA – RIMA, nem todos os animais conseguiriam ser resgatados e consequentemente serem salvos. Igualmente a perda imaterial representada pelo patrimônio histórico cultural foi irreparável.
Vale alertar que tanto o viveiro de mudas quanto o museu são obras de compensação da CESP, que de acordo com um estudo de impactos realizado precisariam ser criados para fins de “minimizar” os impactos causados com a construção da Usina.
Conhecendo um pouco sobre o histórico da Usina, entende se o porquê foi necessário indenizar os municípios que foram impactados pela sua construção, no qual estão retratados no Museu. O inicio das visitações na Usina, segundo o Entrevistado relata, foi desde o princípio da construção da Usina se tomamos por base o inicio no ano de 1982, já são mais de 30 anos que a Usina recebe visitantes.
Sobre o sistema de vista na Usina foi verificado que há um roteiro no qual inclui três locais: usina, viveiro de mudas e museu. Geralmente há uma recepção que é feita no auditório, e dependendo da sugestão do responsável é feita a visita a usina, o viveiro de mudas e o museu, não tendo uma ordem definida. Pode ser que um local não dê tempo de ser visitado, o que vai depender também da disponibilidade do visitante e do objetivo da visita, mas geralmente ocorrem as visitações nos três locais.
Em relação aos pontos de visitação da Usina foram elencados os seguintes: elevador e escada para peixes, a eclusa e a própria estrutura da UHE são os principais motivos para sua visitação, já no que diz respeito ao viveiro todas as técnicas e o processo de produção de mudas para o reflorestamento tanto dos locais afetados pela construção da Usina quanto do município de Rosana são tidas como atrativos.
Em média o tempo de permanência é de aproximadamente 7 horas, com o intervalo de uma ou duas horas de almoço, neste tempo o grupo pode ou não ter trazido um lanche, quando não utilizam os restaurantes e mercados de Primavera. Outras vezes a visita é feita em meio período, parte da manhã ou da tarde, ou seja, há uma flexibilidade de horários para atender a demanda dos grupos.
O número de visitas ao ano é de aproximadamente de oito mil pessoas, com uma média de 650 visitas ao mês, tendo nos meses de férias escolares uma queda na média de visitas já que as visitas são em grande parte de grupos de estudantes. 
O público visitante da Usina são geralmente grupos de estudantes, caracterizando uma visita técnica pedagógica, provenientes dos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, e outros estados que aparecem esporadicamente. O perfil dos visitantes são em sua maioria constituídos por grupos de estudantes, técnicos, outros e estrangeiros.
A partir das informações obtidas com a Usina, percebe-se que há uma potencialidade turística, representada pelos aspectos naturais e tecnológicos do município, contudo sua fragilidade consiste na questão do fomento, pois segundo o entrevistado da CESP é o que falta para desenvolver o turismo local.
Há uma procura dos visitantes da Usina por artesanato o que cria uma perspectiva de desenvolvimento de um produto que traga as características do local, o que pode trazer tanto uma referência dos rios, da paisagem natural ou do espaço rural. Isso é outra possibilidade para trabalhar o turismo local.
O município indiretamente, por meio da Usina faz parte do Circuito Oeste Rios, que é um roteiro regional, com o objetivo de dinamizar o turismo regional. Este roteiro poderia ser integrado com a proposta de roteiros que se fará nesse trabalho. O roteiro do Circuito Oeste Rios poderá ser aprimorado no sentido de contribuir significativamente para o turismo local.
Na percepção da Usina, é possível aproveitar o fluxo de visitantes para outros atrativos do município, inclusive para os assentamentos. Uma pratica que é extremamente organizada, como acontece na Usina poderá ser um ponto central para iniciar um processo de turistificação nos demais atrativos ou potencialidades do município. No caso dos assentamentos é possível a concretização de um roteiro que venha a incorpora-lo dentro das visitações da Usina, como meio para se conhecer as formas de produção, a cultura, tais como, o modo de vida, a culinária, entre outros. Este último seria essencial logo que o perfil do público visitante da Usina, em sua maioria, permanece o dia todo e sendo assim, necessitam de serviços de alimentação. E tendo um prato típico da localidade este poderá ser apreciado pelos visitantes, que poderia ser relacionado ao rio, logo que o município está entre dois importantes rios. Também poderia ser relacionado ao assentamento, o que não excluiria o elemento rio, pois há dois assentamentos as margens dos rios.
Ainda, segundo a Usina, o turismo poderá aproveitar ainda a eclusa que está parada, o aeroporto, e também alguns elementos que estão em construção, como a ferrovia norte-sul sobre a usina formando a rodoferroviária e o porto intermodal, que são recursos que poderão contribuir para o desenvolvimento do turismo.
Partindo de uma leitura da entrevista sobre a visitação na Usina, percebe-se que há um potencial grande que permite o entrecruzamento da proposta de Turismo no Espaço Rural – TER nos assentamentos rurais por meio de roteiro de visitação. 
Também foram entrevistados a Roda de Viola e a Folia de Reis, que, relataram o desejo de ver essas manifestações culturais como atrativo turístico, de receber visitantes, pois seria uma maneira de valorizar o que cada um faz.
A Roda de Viola é uma expressão cultural que surgiu no assentamento Gleba XV de Novembro há aproximadamente dez anos. Iniciou com a reunião de amigos, com o propósito de confraternizar, e conforme o passar do tempo, os próprios participantes sentiram a necessidade de tornar essa reunião um encontro que pudesse reunir os violeiros das cidades próximas.
A Roda de Viola iniciou em 2007 no sitio localizado no assentamento Gleba XV de Novembro, no qual teve o objetivo de incentivar a cultura rural por meio da moda de viola com a música de raiz. Nesse contexto, o entrevistado afirmou que por meio da Roda de Viola, alguns violeiros conseguiram avançar e gravar CD.
A Folia de Reis do assentamento Gleba XV de Novembro, é chamado de Estrela Guia. Este grupo iniciou sua atividade na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerias, com a liderança do senhor Soriano. Com a mudança para o estado de São Paulo com sua família, em busca de melhores condições de vida, trouxe a Folia consigo. Este senhor antes de falecer, pediu ao seu filho que continuasse com o grupo, e assim por meio de uma promessa, deu-se continuidade a este patrimônio cultural imaterial (SANTOS, 2009).
Tendo como proposta conhecer mais esta manifestação e entendendo que esta é portadora de saberes, com grande riqueza cultural, que a mesma foi escolhida para este trabalho com o intuito de poder enriquecer o estudo sobre o desenvolvimento do turismo, podendo ser um atrativo em potencial para a proposta de Turismo no Espaço Rural - TER.
Conhecendo o perfil dos visitantes da Usina, bem como a disposição de tempo de alguns grupos propõe-se a elaboração de dois tipos de roteiros, no qual englobam os visitantes de meio período e período integral conforme o quadro 01 e quadro 02.

Quadro 01: Roteiro I.


Roteiro 1 – Usina no contexto ambiental e cultural

Meio Período

Atividade

A combinar

Recepção no Auditório

1h00 minutos

Vista a Usina: enfatizar sobre a construção da Usina e a produção de Energia.

00h40minutos

Visita ao Viveiro de Produção de Mudas: enfatizar sobre os impactos ambientais.
- visitar o banco ativo de germoplasma;
- Trilha até o Auditório ao Ar Livre.

00h40minutos

Auditório ao ar Livre: falar dos aspectos culturais da relação homem com a natureza
- apresentação de Violeiros da Roda de Viola ou do grupo de Folias de Reis.

00h40 minutos

Finalizar a Visita
- Retornar ao Auditório interno.
- Café no local com alimentos caseiros dos assentamentos rurais: queijos, doces, compotas, leite, café, sucos, etc.
- Despedida do grupo.

Fonte: Autora.

No primeiro roteiro podem ser contemplados os aspectos ambientais e técnicos como a escolha do local para a construção da Usina; os benefícios e os malefícios da geração de energia por meio de Usina hidrelétrica; os impactos na fauna e flora com destaque para as espécies em extinção, bem como os reflorestamentos, unidades de conservação, manejo da fauna silvestre; e o remanejamento populacional com a criação dos reassentamentos e os impactos que isso ocasionou.
Dos aspectos culturais poderiam ser mencionados os espaços ao ar livre que as famílias utilizavam como forma de lazer com os piqueniques, entre outras, e fazer essa contextualização ao espaço que eles estão que é o Auditório ao ar livre. Mencionar o modo de vida das famílias assentadas e sua relação com o meio ambiente natural, logo que a maioria das famílias realocadas de suas residências em virtude da construção da Usina dependia do meio ambiente para sobreviver, dessa forma poderia ser abordada a questão dos ribeirinhos e sua relação com o rio Paraná, os agricultores e sua relação com a terra, e os oleiros que retiravam a argila em uma das áreas que foram inundadas para construção do lago; além dos aspectos de alimentação, trabalho, os meios de transporte.
Nos meios de transporte pode haver uma breve contextualização com o transporte do inicio do povoamento da região com os que são utilizados pelos assentados na atualidade, falando de sua importância para quem vive no campo.
Este roteiro poderá ser alterado para se adequar a necessidade do grupo que está visitando, com a inserção de outras atividades ou temáticas que seja mais pertinente ao grupo visitante.
Para o segundo roteiro foi entrevistado o Museu de Memória Regional. Na entrevista com o Museu de Memória Regional, quando foi questionado sobre a criação do roteiro que integrasse o museu, a usina e os assentamentos rurais, o entrevistado foi favorável, apontando que esse caminho é possível.
Dessa forma, quando indagado sobre as atividades que poderiam integrar o turismo local, além de pesca, foi mencionado o turismo de aventura aproveitando os rios, a prática de canoagem, de remo, caminhada, cicloturismo, arvorismo, turismo rural, entre outros. 
Como já mencionado, há interesse da Folia de Reis e da Roda de Viola, em ser um atrativo turístico e um anseio dos organizadores para que haja um reconhecimento por parte do poder público local sobre a importância dessas manifestações para a cultural municipal, conforme entrevistas realizadas.
Estas duas manifestações foram selecionadas por serem aquelas que permitem um deslocamento para a cidade para apresentações e em virtude das características já mencionadas nesse texto.
Neste segundo roteiro é dada ênfase para aspectos técnicos da Usina, como já é de costume se fazer, mas igualmente os aspectos culturais e a visita nos assentamentos. Dessa forma, este roteiro tem como objetivo enfatizar sobre o processo de construção da Usina, com dados técnicos e essenciais para se compreender o porquê que a Usina foi instalada no município, bem como a questão da produção de energia, a escada para peixes e a eclusa.

Quadro 02: Roteiro II.


Roteiro 2 – UHE Eng. Sérgio Motta e o espaço rural

Período Integral

Atividade

A combinar

Recepção no Auditório

1h00 minutos

Vista a Usina: enfatizar sobre a construção da Usina e a produção de Energia

00h40minutos

Visita ao Viveiro de Produção de Mudas: enfatizar sobre os impactos ambientais
- visitar o banco ativo de germoplasma: enfatizar a questão dos impactos da construção da Usina
Trilha até o Auditório ao Ar Livre:
- área de reflorestamento.

01h00minutos

Visita ao Museu de Memória Regional: falar dos aspectos culturais da região.
- Povoamento;
- Cotidiano e Lazer (Painel Cotidiano e Energia) ressaltar as brincadeiras, atividades do cotidiano, atividades esportivas e de lazer como os bailes, a musicalidade, entre outras.

1h45 minutos

Deslocamento para o assentamento
- almoço no assentamento
- apresentação do grupo de Folias de Reis ou Violeiros da Roda de Viola.

01h00

- visita a algumas propriedades próximas ao rio Paranapanema ou Paraná.

01h00 minutos

- Apresentação do grupo de Folias de Reis ou Violeiros da Roda de Viola.
- Café da tarde no local com alimentos caseiros dos assentamentos rurais: queijos, doces, compotas, leite, café, sucos, etc.
- Despedida do grupo.

Fonte: Autora.

Na visita ao Viveiro de Produção de Mudas poderiam ser exemplificados com as principais ações que a CESP desenvolve para minimizar os impactos causados pela construção da Usina; a questão das sementes e o banco ativo de germoplasma, relatando sobre as principais espécies de flora que foram retiradas para a construção do lago; assim como na parte da trilha os visitantes podem ver os exemplos dessas espécies cultivadas como meio para garantir sua existência; mencionar a fauna que foi remanejada.
Nos aspectos culturais mencionar na visita ao Museu de Memória Regional sobre o modo de vida das famílias que residiam nos municípios impactados, falar sobre as formas de lazer, as brincadeiras, os bailes, a musicalidade, que podem ser contextualizadas com a viola e o grupo de Folias de Reis.
Nos assentamentos ficaria a parte da alimentação, o contato com os aspectos culturais, com o modo de vida e produtivo dos assentados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração de roteiro que integre a visita da Usina e do Museu com os assentamentos é uma possibilidade que poderá contribuir para o desenvolvimento do turismo no espaço rural.
Estes roteiros serão eficazes se tiverem a participação da comunidade assentada e o poder público local. Para isso a utilização do planejamento é de suma importância para pensar em toda a infraestrutura necessária para que isso se torne realidade.
Neste contexto, a vivência dos assentados articulado com a atividade turística é uma possibilidade que permitirá a esses pequenos agricultores se manterem em seus lotes ao mesmo tempo em que seu poderá ter a valorização da sua produção, seu saber - fazer, suas músicas, suas tradições, suas religiosidades, entre outros aspectos.
O aproveitamento do fluxo de visitação que ocorrem na usina hidrelétrica, para trabalhar em conjunto com as comunidades rurais é um caminho que abre portas para outras atividades, como por exemplo, feira de artesanato com doces caseiros produzidos nos assentamentos, oferta de produtos diversos que podem ser desenvolvidos no município. A oferta de roteiro pode favorecer para que outros roteiros sejam elaborados no município e outras atividades de lazer e atrelados a pratica do turismo sejam criadas.
Entretanto, mais uma vez se faz necessário o planejamento para que o turismo seja desenvolvido de acordo com o desejo da comunidade, para que esta atividade não seja priorizada em detrimento de elementos que são substanciais para o cotidiano da comunidade como: a educação, saúde, transporte, saneamento básico, lazer, entre outros.
Por isso é de suma importância pensar na responsabilidade que todos têm sobre o turismo, desde o poder público local, a sociedade civil e as associações. A atuação em conjunto para pensar o turismo fará com que este seja um sucesso ou não.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Turismo - MTur. Turismo rural: orientações básicas. Brasília, 2008. Disponível em: < http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/
publicacoes/downloads_publicacoes/Turismo_Rural_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf>. Acesso em 20 jan. 2013.

CARNEIRO, L. P. M. Proposta de implantação de dois roteiros turísticos no assentamento Nova Pontal, em Rosana, SP: análise das limitações e possíveis soluções. 2007. 115 f. Monografia (apresentada ao final do curso de graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Experimental de Rosana, Rosana. Disponível em: <http://biblioteca.rosana.unesp.br/int_conteudo_sem_img.php?conteudo=168 >. Acesso em: 25 abr. 2009.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5 ed. São Paulo: Perason Prentice Hall, 2002.

CORIOLANO, L. N. M. T. Da sedução do turismo ao turismo da sedução. In: RODRIGUES, Adyr B. (Org.). Turismo, modernidade e globalização. São Paulo: Hucitec, 1997. P. 119-135.

CRUZ, P. M.. Restauração e agroecologia: é possível? Estudo de viabilidade no assentamento Nova do Pontal com base na permacultura. 2008. 105 f. Monografia (apresentada ao final do curso de graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Experimental de Rosana, Rosana. Disponível em: < http://biblioteca.rosana.unesp.br/int_con
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GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

IOKOI, Z. M. G. et al (Org.). Vozes da terra: história de vida dos assentados rurais de São Paulo. São Paulo: Fundação Itesp, 2005.

LEITE, J. F. A ocupação do Pontal do Paranapanema. São Paulo: Hucitec, 1998.

SANTOS, C. N. Cultura e manifestações culturais: um atrativo turístico no espaço rural dos assentamentos do município de Rosana/SP. 2009. 128f. Monografia (apresentada ao final do curso de graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Experimental de Rosana, Rosana. Disponível em: < http://biblioteca.rosana.unesp.br/int_
conteudo_sem_img.php?conteudo=468 >. Acesso em 20 jun. 2013.

SOUZA, S. P. Assentamentos rurais e novas dinâmicas socioeconômicas:  o caso dos municípios de Rosana, Euclides da Cunha Paulista e Teodoro Sampaio – SP. 2007. 200f.  Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Presidente Prudente, 2007. Disponível em: <http://www4.fct.unesp.br/pos/geo/dis_teses/07/sergiopsouza.pdf.>. Acesso em 20 jun. 2013.

THOMAZ, R. C. C. A revalorização e difusão do patrimônio cultural como meio desenvolvimento do turismo rural e cultural: estudo de caso da rede galega do patrimônio arqueológico. Tópos. v. 4, n. 2, p. 33 - 59, Dez, 2010. Disponível em: < http://revista.fct.unesp.br/index.php/topos/article/view/2254>. Acesso em 20 jun. 2013.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos.  3. ed. Tradução Daniel Grassi. São Paulo: Bookman, 2005.

Recibido: 12/2/2013
Aceptado: 10/03/2014
Publicado: Junio 2014



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