TURyDES
Vol 6, Nº 14 (junio/junho 2013)

O ENSINO SUPERIOR EM TURISMO: HUMANO OU MERCADO?

Waléria Thabata Roldão Niquini (CV) y Leandro Benedini Brusadin (CV)

1. Introdução

O presente artigo pretende discutir a educação no campo do Turismo, sua forma de ensinar, aprender e aplicar tais conhecimentos. Procura-se debater a relação entre esse mercado de trabalho e a educação, busca-se uma forma de compreender que são as ferramentas educativas que levam ao desenvolvimento da sociedade. Tem-se em vista que, por muitas vezes, discutiu-se a empregabilidade na área de turismo antes mesmo de se analisar os critérios da formação do turismólogo. Isso gerou deficiências educativas na formação docente e discente que proporcionam consequências no próprio ensino e, consequentemente, no mercado de trabalho. Pressupomos que essa análise reflexiva não deve fragmentar o ensino e o mercado, mas, sim, na confluência dessa relação sob a vertente humanista e social aplicada.
Essa produção é fruto dos estudos e pesquisas da iniciação científica no Programa de Iniciação a Pesquisa (PIP) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A bibliografia que trata de educação é vasta devido ao desenvolvimento de pesquisa nesse ramo de conhecimento. Entretanto, ao relacionar tal campo com o Turismo, nota-se a carência de estudos que reflitam as relações de ensino-aprendizagem. Para tanto, esse trabalho propõe o entendimento que o campo da Educação deveria estar mais presente nas produções científicas em Turismo no país.
Quando se trata do ensino em Turismo, sabe-se que é uma área nova comparada com outras áreas do conhecimento. No Brasil data da década de 1970 coincidindo com o surgimento do turismo de massa que precisava de profissionais para atuar no setor, essencialmente no setor de agências de viagens. Assim, desde o inicio do curso de Turismo, foi objetivado profissionalizar a mão de obra e não se pensava o Turismo em seu aspecto fenomenológico. Por esse fato, algumas vezes, o bacharelado em Turismo é confundido com o ensino técnico na égide do mercado de trabalho. Tal fato decorre da necessidade da empregabilidade para os alunos egressos e da incipiência científica desse campo. Apesar disso, essa premissa pode ser alterada diante das possibilidades científicas dos cursos de Turismo em uma vertente interdisciplinar em meio ao entendimento reflexivo da praxe cotidiana desse ensino, tal como pressupõe ao seu campo de conhecimento, ou seja, ciências sociais aplicadas.
Estudar os docentes e discentes dos cursos de Turismo, especificamente, as experiências enquanto discente Universidade Federal de Ouro Preto foi à ferramenta para realizar esse artigo. As seguintes problemáticas foram analisadas: como esta sendo a formação educacional dos futuros Turismólogos enquanto ensino superior? A educação vem sendo preterida diante das necessidades do mercado de trabalho? Buscou-se, assim, ressaltar que a educação deve ter um debate mais assíduo nos cursos de Turismo, pois, afinal, são ações educacionais que podem determinar a qualidade profissional.

2. Educação e cursos de Turismo no Brasil

Os turismólogos sempre vislumbraram a regulamentação da profissão para seu reconhecimento. É fato que isso poderia ceder autoestima e normatização suficiente para melhor enquadramento no mercado funcional. Esse ato deve servir ainda como autoestima psicossocial desses profissionais. No entanto, indica-se que tal revindicação não vem acompanhada da pretensão de melhor qualidade da formação superior. Salientamos que a cruzada pelo reconhecimento não pode ser dissociada da questão educacional, mas, sim, essa última deve prescindir o debate para atuação profissional de forma dialógica.
A educação em si é algo complexo de ser discutido, imagine tratar de educação no Turismo, uma área relativamente nova que se insere a pouco mais de 40 anos no Brasil, mas em alta velocidade que busca desenvolver lugares e estimular as pessoas a viajarem com qualidade. Será mesmo que a educação está sendo aplicada no Turismo de forma eficiente? Para se falar em educação no turismo é necessário contextualizar a educação em si que é o propulsor para valoração de um campo científico – profissional.
No caso brasileiro, desde o inicio, a educação era para poucos, para manter uma sociedade e não com ato de cidadania para a construção de um futuro. Estava concentrada nas mãos de aristocratas onde apenas os filhos de boas famílias poderiam ter o privilégio de estudar. Isso se reforça quando a família real chega ao Brasil, trazendo o padrão de educação da Europa, pois a educação popular não teve um papel social, mas, sim, civilizatório de acordo com os interesses da colônia.
Nesse sentido, recordamos da chegada de Dom João VI ao Brasil que para preparar sua estadia, foram abertas a Academias Militares, Escola de Direito e Medicina. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior.  Porém, a educação não foi pensada pela dimensão certa da sua importância para uma sociedade, só podemos mudar um lugar quando educamos quem ali habita. Os passos iniciais da educação brasileira oriundo da colonização portuguesa ocasionaram aspectos excludentes da formação que aqui fora estabelecida.
Tempos depois, entre as décadas de 1950 e 1960, diversos fatores influenciaram o aumento da escolarização, o que resultou em um aumento da procura e oferta pelo ensino superior nos anos seguintes. Em 1968, a Lei nº 5.540 modificou a estrutura da educação superior no país, promovendo a Lei da Reforma Universitária, a qual foi responsável pela tentativa de ampla mudança do sistema superior no país. Na década seguinte, a educação passa a ter uma visão mais tecnicista do que de aquisição de conhecimentos, a preocupação estaria, assim, mais voltada mais para um treinamento de qualidade, preocupando-se com as necessidades do mercado aos moldes do sistema norte-americano. A criação dos cursos de Turismo foi incentivada pela Lei 5540/68, pois constava na Reforma do Ensino Superior que deveria ser incentivada a criação de cursos cuja carreira pudesse impulsionar o desenvolvimento, sendo o turismo visto como um âmbito importante para o desenvolvimento econômico. (BARRETO, TAMANINI, SILVA, 2004).
Como pensar a educação no Turismo?  Ou mesmo de que forma o Turismo pode contribuir para a educação?  Nota-se que o segmento do turismo é recente e em constante mutação. Pode se dizer que há a extrema necessidade da educação no Turismo, tanto para os viajantes tanto para aqueles que estudam e planejam o fenômeno. O estudo do turismo como já foi se desenvolveu com o capitalismo e se tornou um importante elemento do processo de globalização, levando a criação de cursos para qualificar mão de obra especializada e não necessariamente para estudar esse fenômeno.
A formação educacional em nível superior foi motivada pelas múltiplas possibilidades do setor turístico para o desenvolvimento socioeconômico nacional e pela expansão do ensino superior privado no Brasil. A Faculdade de Turismo do Morumbi (atual Universidade Anhembi-Morumbi), de São Paulo, foi pioneira nessa área, criando o curso em 1971. A partir de então, muitas instituições começam a implantar cursos superiores de Turismo, entre elas, a Faculdade Ibero- Americana, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS e a Universidade Estadual de São Paulo – USP (HALLAL, 2010), essa última, em uma preocupação de caráter científico.
Verifica-se que o curso de Turismo da Faculdade Anhembi-Morumbi, desde seu inicio foi voltada para o mercado de trabalho, já a Universidade Estadual de São Paulo-USP, por meio das Escolas de Comunicações e Artes (ECA) foi voltado para o lado tido como humanístico do turismo, já visualizando a necessidade de se estudar esse fenômeno como forma de desenvolvê-lo.
Estudar turismo ou estudar em um curso de Turismo? Barreto, Tamanini, Silva (2004) fazem esse questionamento que realça a dicotomia entre mercado e academia. É possível identificar essa divisão nos próprios alunos que no decorrer do curso escolhem a área que mais se identificam, mas essa escolha pode ser influenciada pelos professores que de diferente modo de lecionar acabam incitando mais para uma área do que para outra de acordo com seus próprios interesses de estudo e trabalho.
Fernández Fúster (1991), cuja primeira publicação de seu livro Introducción a la teoría y técnica del turismo foi em 1975, ao se referir ao ensino do Turismo considera duas possíveis práticas: a de formação profissional para atender a crescente oferta de postos de trabalho no setor de viagens e turismo (educação esta proporcionada pelo ensino profissionalizante e superior); e o ensino do Turismo como uma prática educativa que pode influenciar positivamente na formação da personalidade do indivíduo, que não pretende formar profissionais e sim proporcionar aos alunos uma compreensão do fenômeno turístico e atitudes responsáveis frente a ele. Há necessidade de se ensinar as duas formas de ensino nas salas de aula, sendo que o aluno procure trabalhar o turismo em todas suas vertentes e não havendo uma fragmentação eletiva entre uma forma e outra.
A expansão da educação em Turismo é fato no cenário das universidades públicas brasileiras. Se por um determinado tempo essa educação dependia da iniciativa privada, nesse momento, tal ramo educativo se cristaliza nas possibilidades do ensino público. Para ir, além disso, o curso de Turismo precisa avançar em discussões que se iniciaram no âmbito de sua formação.

3. Formação em Turismo: foco mercadológico ou estudo humanístico?

A perspectiva de fronteiras de ensino elencadas entre o mercado de trabalho e humano, que são vistos, muitas vezes, separadamente dentro da academia, nos dias que correm não podem ser mais analisados isoladamente. No decorrer do curso identifica-se que a maioria dos estudantes busca uma formação mais profissionalizante para poderem atuar rapidamente no mercado, conseguindo um retorno financeiro mais rápido. Porém, é necessário pensar o turismo quando se esta sentando nos bancos da academia, entender como esse fenômeno se desenvolveu e, inclusive, se ele pode ser chamado mesmo de “indústria”. Torna-se imprescindível compreender o fenômeno turístico e sua ótica no mundo capitalista, pois a forma de atuar nesse mercado pode levar para um desenvolvimento sócio-cultural da atividade.
Quando se fala em formação não se pode discutir apenas a formação dos turismólogos, mas, também, a formação dos professores que atuam nos cursos de Turismo, se esses docentes estão preparados para dividir o seu conhecimento, qual sua qualificação, e, talvez, se tem vocação para lecionar.  
O Turismólogo vive uma luta constante com profissionais de outras áreas que se inserem no setor turístico, mesmo sabendo que o turismo é um campo multi-interdisciplinar, que necessita de outras áreas para ensinar, o Turismólogo disputa mercado com administradores, geógrafos, historiadores, economistas, antropólogos entre outras formações. Porém, pressupõe-se que para lecionar no curso de Turismo, esses profissionais de outras áreas, muitas vezes, não relacionam seu conhecimento de forma aplicada no turismo. Um exemplo são alguns professores de economia, estatística, contabilidade, calculo que não aplicam seu conteúdo relacionado com o turismo, criando duvidas aos alunos que pouco conseguem aplicar o conteúdo no seu dia-a-dia. Tal acompanhamento deve ser realizado pelos turismólogos que gerem o curso de Turismo, pois sabe da aplicação do conhecimento dessas áreas para formação do estudante de Turismo. Apesar disso, pressupõe-se a importância dessas mesmas áreas na formação em nível de pós-graduação dos turismólogos, pois devido à incipiência de mestrados e doutorados nessa área de formação em si, recorrem a outras áreas de conhecimento, fato que amplia a interdisciplinaridade de tais professores e pesquisadores.
O Turismo, fenômeno social total, segundo o conceito de Marcel Mauss (1974), não somente aceita, mas precisa do concurso de várias ciências para o estudo e seu manejo.  Assim há necessidade de outros profissionais e outros conteúdos para se ensinar o Turismo, contudo é necessário desenvolver o turismo de forma interdisciplinar com outras áreas a fim de desenvolver uma teoria madura ao próprio Turismo.
Mas afinal, quem é esse profissional de turismo, denominado como Turismólgo? Conhecido por poucos, mas com uma carreira tida como promissória. Esse profissional está mesmo capacitado para atuar na área de turismo que oferece um leque imenso de opções? Dentro da sala de aula ele está sendo capacitado para por em prática todo o seu conhecimento?  O Bacharel em Turismo é mesmo esse “super profissional” capacitado para trabalhar em todas as áreas?  Esse “super profissional” seria algo impossível, mesmo com tanta flexibilidade no turismo, os futuros profissionais não conseguem se desdobrarem tanto diante do caráter multidisciplinar do curso.    
Outra questão norteadora são os próprios alunos que não pensam o turismo em si, não pensa o Turismo como fenômeno ou simplesmente busca-se trabalhar com o turismo e não entendendo o mesmo como algo além do mercado. Diversos alunos visualizam o turismo pelo senso comum e muitos ali estão dentro dos cursos de Turismo pelo simples status de estudar Turismo ou por acreditar que no decorrer do curso entendem tal ensino como uma perspectiva de lazer-trabalho, fato este que desestimulam os mesmos durante o processo de graduação.
 Necessita-se educar os discentes para a realidade do Turismo, fazendo com que acreditem no curso que escolheram, sendo inúmeras vezes os próprios alunos não acreditam em sua formação, pois muitas vezes não fornecem credibilidade ao curso.
Nota-se a busca incessante de mão obra qualificada pra atuar em todos os setores turísticos, entretanto, a desvalorização financeira da profissão leva a contratar mão de obra desqualificada para o setor turístico, pagando baixos salários, sendo que, muitas vezes, o recém-formado em Turismo aceita essa desvalorização da sua formação por precisar de emprego.   
Identifica-se a necessidade de mudanças no setor turístico, principalmente, pela valorização dos bacharéis em Turismo, buscando-se a lutar pela qualidade da educação e, consequentemente, pela regulamentação no Brasil. É preciso que a sociedade entenda que durante os quatro anos que foram passados dentro das Universidades fez com que aquele profissional se tornasse capacitados para atuar de forma segura e consistente no campo do Turismo. Apesar disso, os bacharéis em Turismo não podem ser apenas mão de obra qualificada, mas, sim, pensadores do fenômeno turístico que acreditam no Turismo como uma atividade que a cada dia cresce e se modifica, tal como outras áreas do mercado de trabalho e campos científicos.
Deve-se ressaltar que os Turismólgos busquem cada vez mais qualificações não esperando uma formação pragmática e instantânea. Participar de feiras, congresso, eventos da área, submeter publicações, aprender idiomas, sendo hoje não apenas um diferencial e sim primordial para quem trabalha na área de turismo.
A dicotomia mercado e ciência é presente nesta formação. Por isso, a necessidade clara das duas áreas serem debatidas e trabalhadas afins, a teoria e a prática na maioria das vezes são ensinadas separadamente, porém, é dever alicerçar prática e teoria. Precisa-se entender o Turismo de uma forma que a prática seja trabalhada com embasamento teórico consistente.
Porém, são escassos trabalhos acadêmicos que dêem foco para tal entrelaçamento, mostrando-se que os segmentos devem ser lecionados juntos dentro da sala de aula. O professor deve se manter atualizado a questões cientificas, mas, mantendo-se atento ao mercado de trabalho.  Esse tipo de atividade ajuda os discentes a entenderem o mercado de trabalho e própria ciência de forma dialética.
Em sala de aula, o estimulo a leituras dinâmicas que possibilitem o aprendizado mais fácil, trabalhos em campo mostrando a complexidade do turismo incentiva a formação de uma capital intelectual, muitas vezes, ausente nos egressos do curso, sendo este importante à ciência em si e ao desenvolvimento do mercado.
Desse modo, o mercado e ciência não podem ser dicotômicos, tal como o saber-fazer/ fazer- saber (Moesch, 2000). A produção do saber turístico, buscando-se, tanto o saber tanto o fazer induzindo a fusão dos conhecimentos entre teoria e prática em relação dialógica e sincrônica.

4. O ensino nos cursos de turismo e as relações de ensino aprendizagem

O ensino nos cursos de Turismo diferencia-se de instituição para instituição, mudanças de grande curricular e modo de ensinar são direcionadas a partir das suas linhas de ensino. Em geral, o ensino em Universidades Públicas brasileiras é voltado para o lado humanístico, ou seja, preferência o entendimento do turismo devido à formação de seus professores De certa forma, isso distância o alunado do mercado de trabalho, ficando a cargo apenas do estágio supervisionado ou algumas disciplinas mais específicas no campo da hotelaria e agenciamento.  Já as instituições privadas, em geral, promovem o ensino para o mercado de trabalho, com a visão de capacitação de mão de obra e parece distanciar-se de uma formação acadêmica tida como mais reflexiva. Pressupomos que seria necessário o aprendizado mútuo das áreas e que como já a foi dito anteriormente necessita-se o ensino mutuamente.
  Segundo Trigo (2001) a docência e pesquisa em Turismo são recentes, mesmo internacionalmente.  É necessário o interesse na pesquisa, buscando novos conceitos e acompanhando as mudanças dessa área. Ainda a pouco interesse na área de turismo, podendo-se destacar alguns autores que trabalham fortemente o Turismo nesta concepção, sendo eles: Trigo (2000) Rejowski (1996); Ansarah (2002). Já há vários novos autores interessados em estudar o segmento do Turismo, mas ainda são poucos para uma atividade nova que precisa de investimento em pesquisa para se alcançar resultados mais satisfatórios, essencialmente, os que se interessam em vincular Educação e Turismo.
A proliferação de cursos de turismo desenvolveu o turismo em geral:

A chamada proliferação de cursos de Turismo e hotelaria pelo país, tão criticados por algumas pessoas mais ou menos ligadas a áreas educacionais, foi responsável pela elevação dos padrões de qualidade dos serviços turístico em geral (Trigo, prólogo em Shigunov Neto e Maciel 2002, p.7).

Inúmeras monografias são apresentadas como trabalho de conclusão de curso de Turismo em diversas instituições todos os anos. Entretanto, muitas vezes esses trabalhos permanecem vinculados apenas ao mundo acadêmico. Necessita-se estimular a pesquisa para além da academia, mesmo que a ciência possa ser o seu próprio por em causa.
           Barreto, Tamanini e Silva (2004) apresentam uma problemática bem pertinente: será que os diplomas que estão sendo conferidos nos cursos de turismo vêm acompanhados dos saberem necessários para o desempenho das diferentes tarefas da diversificada área de turismo?  Será mesmo que esses futuros profissionais então saindo capacitados para atuarem nos setores turísticos, e não somente os alunos, mas os professores que estão encima do tablado estão prontos e qualificados para ensinar?  Tais perguntas colocadas pelas autoras nos leva a pensar e o que esta sendo aprendido dentro da sala de aula está mesmo servindo para alguma coisa fora dela.
Fato é que alunos do curso de Turismo devem ter mais com comprometimento com a academia, pois o desenvolvimento de uma profissão perpassar o seu amadurecimento intelectual.
          Relatava-se que com o crescimento da oferta dos cursos de Turismo a mão de obra no setor turístico seria mais bem capacitada. Entretanto, o exercício da profissão nos mostra baixos salários havendo, assim, um desestímulo do próprio profissional. Outro ponto importante é a atuação isolada de três fatores importantes para o turismo, empresas privadas, poder público e academia. A falta de diálogo desses setores trazem danos para o turismo e ate para própria formação dos discentes que busca no decorrer do curso estágios nesses setores sendo que, muitas vezes, não há oportunidades qualificadas para o estudante de turismo. Desse modo, as instituições de ensino e seu professorado devem pensar como se articular com tal dificuldade.   
Sugere-se maior experiência entre o mercado de trabalho e a academia para que o professor possa dar exemplos mais atuais e consistentes em sala de aula. Necessita-se acompanhar tudo que acontece, principalmente, pelo fato do setor de turismo ser tão recente em relação a outras linhas de conhecimento e pela sua mutação constante. Contato, o alunado em Turismo aponta que o professor precisar fazer um papel duplo: integrar o que está acontecendo no mercado com o que está sendo trabalhado na universidade.

(...) Um certo desânimo entre os estudantes, porque consideram que ao final dos estudos, não estão preparados para ocupar um posto de trabalho para o qual teoricamente foram  preparados. (OMT, 1995, p.88)

Marutschka (2000) aponta que o saber-fazer / fazer – saber é necessário, a teoria é a base, mas também saber colocar em pratica, sendo que na maioria das vezes ou se tem uma ou se tem o outro, necessita-se uma integração com a academia. Os professores quando não tem experiência mercadológica acabam dando aulas que não estimulam os alunos a aprenderam diante da distância de suas realidades profissionais e cotidianas.  
 Paulo Freire (2005) critica que, muitas vezes, essa educação funciona como uma operação bancária. O educador deposita todo conteúdo aos educandos que nada mais fazem do que arquivar esse conhecimento dado pelo professor, um fato muito decepcionante para o professor que tem todo um trabalho de preparação de aula, para chegar e não conseguir fazer diferença no aprendizado do aluno. A falta de processamento do que é passado acaba sendo esquecido porque o aluno não assimila o conteúdo com algo já estudado, não questiona o que é passado, e quando questiona coloca exemplos do senso comum e nada cientifico, assim não há um a criação de senso critica.
Esse mesmo pensador diz que esperam que os que julgam sábios passem tudo que é necessário a eles e pronto, só isso basta. Há uma falta de capital cultural, falta interesse em pesquisa durante ou pós-faculdade, principalmente para aqueles que pretendem se mantém no mercado de trabalho. Já os educadores estão mais voltados para as suas próprias pesquisas, esquecendo-se do ensino e da extensão universitária:

Se o educador é o que sabe, se os educandos são os que nada sabem, cabe àquele dar, entregar, levar, transmitir o seu saber aos segundos. Saber que deixar de ser de “experiência feito” para ser de experiência narrada ou transmitida. (Paulo Freire, 2005, p. 68)

 .O professor fica desse modo, como narrador e o aluno como ouvinte paciente que nada faz com que aprender.
Para se aprender turismo é preciso desenvolver a habilidade de adequar conhecimento com criatividade. Ensinar Turismo, portanto, pressupõe que o professor seja capaz de transpor para a aula o dinamismo do dia-a-dia do profissional da área, o que exige fundamentação teórica e interface com os empreendimentos turísticos. (Gaeta, 2005, p.226).

Muitos alunos indagam a formação dos professores que, muitas vezes, são tão bem qualificados, mas não sabem passar o conhecimento necessário. Lecionar seria assim uma vocação? Max Weber, em Ciência e política, afirma que o discente precisa desenvolver sua vocação acadêmica durante toda sua graduação, desenvolvendo atividades voltadas para o campo cientifico.
 Todo jovem que acredite possuir a vocação de cientista deve dar-se conta de que a tarefa que e o espera reveste duplo aspecto. Deve ele possuir não apenas as qualificações do cientista, mas também as do professor. Ora, essas duas características não são absolutamente coincidente. É possível ser, ao mesmo tempo, eminente cientista e péssimo professor (WEBER, Ano 2004, p.22).

          Segundo Weber (2004) sala cheia é sinônimo de aprendizagem. Entretanto, há discordâncias, pois sala cheia não quer dizer que todos que ali estão aprenderam algo, onde muitas vezes o aluno está desprendido do assunto. Dentro dos cursos de Turismo falta um estimulo para se debater assuntos além do senso comum. Um dos caminhos é criar grupos de discussão de alunos e professores para troca de ideias: a discussão da educação no Turismo deve ser mais incluída na pauta dos fóruns e congressos dessa área no Brasil.

5. Considerações finais

A educação em Turismo é algo novo que precisa ser estudado cada vez mais e desenvolvido.  A educação deve andar junta com o desenvolvimento do turismo, buscando-se acrescentar sempre conhecimento. Para tanto, é imperativo estudar a própria educação, sendo isso carente no campo do Turismo. Sugerimos que a educativa deva ser dialógica ao ponto contrário da concepção bancaria colocada por Paulo Freire (2005) debatendo-se mercado e ciência para que sejam trabalhados de forma integrada levando-se em conta o cotidiano de uma profissão.
Ao decorrer desse artigo é possível concluir que a prática e a teoria se interagem e precisam ser trabalhados juntos para que haja sentido.  Necessita-se, assim, buscar formas diferentes de se trabalhar dentro das salas de aula, mostrar ao aluno a importância de se aprender, e o prazer de ensinar, assim como, para o Turismo, é necessário encontrar formas educativa de vincular teoria e prática.  De tal forma, entendemos o turismo como algo humano que vincula ao mercado dessa profissão haja vista que se insere no campo das ciências sociais aplicadas na regulamentação de ensino do Brasil.
          É mister dizer que a educação é chave principal para o desenvolvimento do Turismo e  que a ótica humanista dá razão de ser a esse campo de estudo. Conclui-se que o mercado turístico é algo humano o qual necessita de toda a teoria possível para desenvolver o seu trabalho e que a própria academia consiga fundir a teoria com a pratica em um ensinamento interdisciplinar.

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WEBER, Max. (2004) Ciência e política: Duas vocações. Editra Cultrix. São Paulo

Recibido: 27/04/2013
Aceptado: 30/05/2013
Publicado: Junio 2013



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