Contribuciones a las Ciencias Sociales
Febrero 2014

ANTROPOLÓGICA:
INVESTIGAÇÃO ESTRUTURALISTA DE LÉVI-STRAUSS



Arley Silva Oliveira (CV)
Roberto Carlos Amanajas Pena (CV)
robertoamanajas@yahoo.com.br
UEAP





RESUMO

O presente artigo tem por objetivo apresentar as categorias antropológicas ligadas ao pensamento estruturalista de Claude Lévi-Strauss para em seguida considerar de que maneira a obra do antropólogo francês exerce influência nas investigações antropológicas, tendo em vista uma série de conceitos oriundos de obras que relatam: a alma, consciência e inconsciência do pensamento de natureza ameríndia. E que atuam diretamente pela influência linguística de Ferdinand Saussure, ao qual, Lévi-Strauss ver como um dos fundadores do Estruturalismo. O sistema linguista saussuriano para os estudos de parentescos nas ciências sociais e antropológicas, compreende-sea existência de mensagens simbólicas nas trocas matrimoniais que as mulheres exerciam ao povo Kadiwéu, pois, a antropologia busca decifrar tais enigmas e que consideramensageiras, ou seja, a importância simbólica é um diferencial que representa ao social uma questão de estrutura do modelo linguista de investigação antropológica. A ênfase dos estudos ligados a etnológos na sistematização da cultura do outro, com certa distância para não se identificar com o objeto de estudo em questão, ou seja, a aproximação depende de algo real. O objetivo do etnólogo é revelar às estruturas ocultas, que velam a realidade existente nas relações sociais, a existência do homem para os estruturalistas é uma construção social. Pois, a realidade apresentada é um simulacro, ou seja, o sensível também é estudo de inúmeras interpretações a partir da imaginação, fantasmas de reproduções imperfeitas, logo, o estudo por parte do consciente e inconsciente determina um fundo real e objetivo. Claude Lévi-Strauss propõe que nas investigações de culturas ameríndias o etnólogo tente entender o outro, o pensamento selvagem entendido como bricoleur que age com as mãos em objetos que já se encontram no mundo, é análogo ao cientifico. Neste sentido, a antropologia é o arcabouço primário desta investigação junto com as demais ciências que estãointerligadas pelo lado demonstrativo da razão, isto é, tenta evidenciar uma explicação coerente por via da clareza e distinção para sombrear este critério racional do mundo ameríndio. O método investigativo Claude Lévi-Strauss é umaplicativo que coloca as categorias sob o critério de analises constantes, logo, este mecanismo é elucidado de maneira óbvia, sendo assim, existe um juízode anotação para que venha a ser considerado como estudo e pratica ameríndia. O estudo que Claude Lévi-Strauss proporcionou foi além da pratica antropológica o que acentuou a mitologia ameríndia especulações que,ocorriam de ambientes metafisico, a partir de então,é tratado de forma detalhada, pois, ocasionou para a antropologia novos conceitos formulados pelo inconsciente, é claro que, a ciênciaé o que fundamenta asideias pré-existentes e amadurece a compreensão para tais fatos, ou seja, as ideias se fragmentam na raiz e se vincula nas demais vias de acesso ao entendimentoda antropologia. A questão da psicanalise entra como mecanismo para tentar uma adequação entre o juízo analítico em questão e o próprio entendimento real, busca por meio de instrumentos interpretativos ao pensar de tal trajetória, ou seja, um advento que provém da necessidade entre sujeito e a prática autêntica, por meio da sociologia, História, Etnografia e Etnologia para reviver desde Aristóteles o seu percurso na história.

Palavras-chave: Claude Lévi-Strauss.  Estruturalismo. Inconsciente. Antropológico.

ABSTRACT

This article aims to present the anthropological categories linked to the structuralist thinking of Claude Lévi-Strauss to then consider how the work of French anthropologist exerts influence on anthropological investigations, with a view to a series of concepts from works that report: the soul, consciousness and unconsciousness of the thought of Amerindian nature. And that act directly on the linguistic influence of Ferdinand Saussure, Levi-Strauss view as one of the founders of Structuralism. The linguist saussuriano system for studies of relationships on the social and anthropological sciences understand the existence of symbolic messages in the matrimonial exchanges that women exercised the people Kadiwéu the anthropology seeks to decipher such puzzles and that considers messengers, i.e. the symbolic importance is a differential representing the social reasons of model structure research anthropological linguist. The emphasis of studies linked to etnológos on systematization of culture on the other, with distance not to identify with the object of study in question, i.e. the approach depends on something real. The goal of the Ethnologist is to reveal the hidden structures that ensure the existing reality in social relations, the existence of man to the structuralism is a social construct. Yes, the reality presented is a simulacrum, i.e. is also sensitive study of numerous interpretations from the imagination, ghosts of imperfect reproductions, soon, the study by the conscious and unconscious determines a real and objective Fund. Claude Lévi-Strauss proposed that in investigations of Amerindian cultures the Ethnologist try to understand the other, the savage mind understood as bricoleur who acts with his hands on objects that are already in the world, is analogous to the scientific. In this sense, anthropology is the primary framework of this investigation together with the other sciences that are interconnected by the side statement of reason, i.e., attempts to demonstrate a coherent explanation through the clarity and distinctness to shadow this rational criterion of the Amerindian world. The investigative method Claude Lévi-Strauss is an application that puts the categories under the criterion of constant analysis, so this mechanism is elucidated from obvious way, so there is a sense of annotation to be considered as study and Amerindian practice. The study who Claude Lévi-Strauss provided was beyond the anthropological practice which stressed the Amerindian mythology speculations that occur of metaphysic environments, from then on, is treated in detail therefore caused to new anthropology concepts formulated by unconscious, of course, science is what justifies the pre-existing ideas and mature understanding for such facts, i.e. the ideas if fragment at the root and links in other access routes to the understanding of anthropology. The question of psychoanalysis enters as a mechanism to try a match between the analytical judgment in question and the own real understanding, search through the interpretative instruments and thinking in such a trajectory, i.e. an advent from the need between subject and authentic practice, through the sociology, history, Ethnography and Ethnology to revive since Aristotle your route in history.

Keywords: ClaudeLévi-Strauss. Structuralism. Anthropological. Unconscious.

Resumo
El presente artículo tiene por objetivo presentar las categorías antropológicas conectadas al pensamiento estruturalista de Claude Lévi-Strauss para enseguida considerar de que manera la obra del antropólogo francés ejerce influencia en las investigaciones antropológicas, con miras a una serie de conceptos oriundos de obras que relatan: el alma, conciencia e inconsciência del pensamiento de naturaleza ameríndia. Y que actúan directamente por la influencia lingüística de Ferdinand Saussure, al cual, Lévi-Strauss ver cómo uno de los fundadores del Estruturalismo. El sistema linguista saussuriano para los estudios de parentescos en las ciencias sociales y antropológicas, se comprende la existencia de mensajes simbólicos en los cambios matrimoniais que las mujeres ejercían al pueblo Cadiweu, pues, la antropología búsqueda descifrar tales enigmas y que considera mensagerias, o sea, la importancia simbólica es un diferencial que representa al social una cuestión de estructura de la plantilla linguista de investigación antropológica. La énfasis de los estudios conectados la etnológos en la sistematización de la cultura del otro, con cierta distancia para no identificarse con el objeto de estudio en cuestión, o sea, la aproximación depende de algo real. El objetivo del etnólogo es revelar a las estructuras ocultas, que velan la realidad existente en las relaciones sociales, la existencia del hombre para los estruturalistas es una construcción social. Pues, la realidad presentada es un simulacro, o sea, el sensible también es estudio de incontables interpretaciones a partir de la imaginação, fantasmas de reproducciones imperfeitas, luego, el estudio por parte del consciente e inconsciente determina un fondo real y objetivo. Claude Lévi-Strauss propone que en las investigaciones de culturas ameríndias el etnólogo intente entender el otro, el pensamiento salvaje entendido como bricoleur que actúa con las manos en objetos que ya se encuentran en el mundo, es análogo al cientifico. En este sentido, la antropología es el andamiaje primario de esta investigación junto con las demás ciencias que están interligadas por el lado demonstrativo de la razón, es decir, intenta evidenciar una explicación coherente por vía de la claridad y distinción para sombrear este criterio racional del mundo ameríndio. El método investigativo Claude Lévi-Strauss es un aplicativo que coloca las categorías bajo el criterio de analices constantes, luego, este mecanismo es elucidado de manera obvia, siendo así, existe un juízo de anotación para que venga a ser considerado como estudio y practica ameríndia. El estudio que Claude Lévi-Strauss proporcionó fue además de la practica antropológica lo que acentuó la mitologia ameríndia especulaciones que, ocurrían de ambientes metafisico, a partir de entonces, es tratado de forma detallada, pues, ocasionó para la antropología nuevos conceptos formulados por el inconsciente, es claro que, la ciencia es lo que fundamenta las ideas pre-existentes y amadurece la comprensión para tales hechos, o sea, las ideas se fragmentam en la raíz y se vincula en las demás vías de acceso a la comprensión de la antropología. o sea, las ideas se fragmentam en la raíz y se vincula en las demás vías de acceso a la comprensión de la antropología. La cuestión de la psicanalise entra como mecanismo para intentar una idoneidad entre el juízo analítico en cuestión y la propia comprensión real, búsqueda por medio de instrumentos interpretativos al pensamiento de tal trayectoria, o sea, un advento que provém de la necesidad entre sujeto y la práctica auténtica, por medio de la sociología, Historia, Etnografia y Etnologia para revivir desde Aristóteles su recorrido en la historia.
Palabras clave: Claude Lévi-Strauss. Estruturalismo. Inconsciente. Antropológico.

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Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Silva Oliveira, A. y Amanajas Pena, R.: "Antropológica: investigação estruturalista de Lévi-Strauss", en Contribuciones a las Ciencias Sociales, Febrero 2014, www.eumed.net/rev/cccss/27/levi-strauss.html

INTRODUÇÃO

A Antropologia Estrutural possui modelos que permitem abordar os fundamentos etnológicos nos estudos antropológicos e explicar os aspectos da cultura e da natureza, suas peculiaridades, como a relação simbólica existente na arte ameríndia. O estruturalismo de Lévi-Strauss é fundamental para os estudos antropológicos e filosóficos no campo das estruturas mentais inconscientes.
O debate das culturas ameríndias, como no romantismo rousseauniano do século XVIII, a “figura do bom selvagem” representa o estado de pureza do homem, a da boa natureza. Já os filósofos, Kant e Hegel, descreveram as sociedades indígenas americanas como primitivas, inferiores, que estão em um “estágio não civilizacional” (LAPLANTINE, 2007. p. 46).
 A influência do pensamento indígena em debate com questões filosóficas surge ao nos depararmos com sociedades que em suas estruturas sociais não comportam desigualdade e nem um Estado centralizador, então surge o questionamento: “qual a base estrutural que sustenta as relações econômicas, politicas, estruturas sociais”, “por que é diferente”, “existe um modelo analítico válido para todos?”. Escolas no decorrer do século XIX e XX irão se dedicar a descrever em escritórios ou em campo a ciência das sociedades primitiva, estudo pertencente à área científica da Sociologia e Antropologia.
Neste sentido,do ponto de vista estrutural, a pesquisa divide-se em três pequenos momentos, primeiramente, relatará o método estrutural e suas estruturas tanto linguísticas quanto antropológica segundo Claude Lévi-Strauss. Posteriormente,o entendimento sobre o inconsciente de Lévi-Strauss encontra em Mauss e Durkheim uma combinação para a reconstrução do fato sociale a ideia do papel do inconsciente das representações sociais.Epor fim o terceiro momento comentará uma interação com as ciências do ponto etnológico, sociológico, etnográfico e o positivismo comtiano. 

1 O MÉTODO ESTRUTURAL E SEUS DESDOBRAMENTOS

Presente na filosofia desde Aristóteles, o termo “estrutura” manifesta os mais variados significados no curso da história tanto na matemática, nas ciências biológicas, quanto na economia, mas só modernamente assumiu destaque, especialmente integrando campos de estudos diversos como as ciências da linguagem (linguística), as ciências naturais, as ciências matemáticas e as ciências histórico-sociais. Por exemplo, é o comentário de Reale a Antiseri a respeito da presença do termo estrutura nas áreas anteriormente citadas (REALE e ANTISERI, 1991, p. 941).
Tratando-se da gênese do vocábulo “estrutura”, etimologicamentestructura (lat.) deriva do verbo struere, o qual significa construir, no sentido de “construir edifícios”. Este termo expressa em seu significado original o mesmo sentido por meio do qual a noção de estrutura seria empregada pelas correntes estruturalistas no século XVII, a partir de então, o emprego da palavra possibilitou uma dupla direção: “ao homem, cujo corpo pode ser comparado a uma construção (disposição de órgãos, por exemplo) como faz Fontelenne e em direção às suas obras, em especial, à língua (distribuição das palavras na oração, composição de um estilo poético), com Balzac e Vaugelas” (BASTIDE, 1970, p. 2).
Para ficar claro o que pretendo ao recortar produtos historiográficos da possível matriz estrutural, basta recorrermos às ferramentas fonológicas aprimoradas no campo da linguística para estudos etnográficos e da língua de um povo, e às raízes dos estudos saussurianos, conforme apresentados no Curso de Linguística Geral, publicado postumamente, em 1915, por dois de seus alunos, Bally e Sechehaye. Eis a definição a partir da obra de Saussure:

A fisiologia dos sons (em alemão Lautphysiologie ou Sprache-phusiologie) é frequentemente chamada de “Fonética” (em alemão phonetik, inglês phonetics, francês phonétique). [...] fonética designou a princípio, e deve continuar a designar, o estudo das evoluções dos sons. [...] A Fonética é uma ciência histórica; analisa acontecimentos, transformações e se move no tempo. A Fonologia se coloca fora do tempo, já que o mecanismo da articulação permanece sempre igual a si mesmo (SAUSSURE, 2006, p. 43).

“Ferdinand de Saussure constatou que cada língua forma um sistema em que todas as partes se inter-relacionam, onde os fatos e os fenômenos se governam uns aos outros, e não podem ocorrer nem isolados, nem contraditórios” (BENVESTINE, 1970, p. 24). Já ao tratar das leis fonéticas, Benveniste ressalta a descrição desse movimento em ideias ao definir que “Saussure jamais empregou, em nenhum sentido, o termo estrutura. Ao seu ver, a noção essencial é a de sistema”. Em resumo a lição do Cursoé de oposição à linguística histórica, comparativa e evolucionista, até então dominante.
Lima (1970, p. 20) exemplifica em seus estudos de linguística que o sentido de história da linguagem cobriu o campo integral dos estudos linguísticos e foi, por muito tempo, um dogma aceitodurante todo o século XIX, período de desenvolvimento da linguística.
O mesmo autor coloca que em “uma ciência, ou em qualquer atividade intelectual, para que sejam possíveis resultados rigorosamente válidos é necessário efetuar o corte sincrônico do seu objeto, saber como suspender seu objeto do domínio dos eventos, sem, contudo, mutilá-lo, ou seja, atomizá-los face aos outros objetos específicos” (idem, ibidem). Pois a preocupação de Saussure é descobrir os recortes essenciais específicos de seu objeto.

O gesto de Saussure com maior efeito na discussão [...] é a sua separação sincronia-diacronia, ou melhor dito: a sua proposta de que o objetolíngua pode ser estudado fora da dimensão dos efeitos do tempo. Mas a intervenção de Saussure é, antes de tudo, fundadora de um objeto-língua definido como sistema, e do interesse científico pelas relações entre os termos no interior de cada sistema estaticamente considerado. É nesse contexto que toma sentido sua discussão sobre o binômio diacronia-sincronia, colocado como uma questão de dinâmica versus estática (SOUSA, 2006, p. 18).

Piagetafirma que o estruturalismo propriamente linguístico nasceu no dia em que Saussure mostrou que os procedimentos da fala não se reduziam à diacronia, dando o exemplo que a história de uma palavra está, frequentemente, longe de dar conta de sua significação atual. Ele diz:

 A razão disso é que, além da história, existe o “sistema” (Saussure não dizia estrutura) e um tal sistema consiste essencialmente em leis de equilíbrio que repercutem sobre os elementos e que, a cada momento da história, dependem da sincronia: com efeito, relação fundamental que intervém na língua sendo uma correspondência entre signo e o sentido,[...], posto que essas significações são relativas umas às outras, e um sistema sincrônico, visto  que essas relações são interdependentes (PIAGET, 2003, p. 68).

Para Saussure (2006, p. 30-31) a língua é um sistema que conhece somente sua ordem própria [...]; a língua é um sistema convencional de sinais [...]; cujas partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônicas [...]”. O sistema não é isolado em partes, e também que se poderia começar pelos termos e construir o sistema somando-os; pelo contrário, deve-se partir do todo solidário para obter, por análise, os elementos que ele engloba. (MELLO, 2011, p. 264).
Esclarecendo alguns aspectos da linguística de Saussure discutidos por Lévi-Strauss em seus estudos antropológicos,o qual comenta que “a linguagem é um fenômeno social” que cedo se fez presenta na história da humanidade, preocupando-se inicialmente com a microestrutura, para somente após se estender às estruturas mais externas da linguagem. (Lévi-Strauss, 2003, p. 72).
A respeito do método estruturalista, em sua concepção mais moderna, Dosse destaca a importância do modelo linguístico presente nas investigações do antropólogo estruturalista:

Lévi-Strauss inovou o stricto sensu, ao transpor para a antropologia o modelo linguístico, quando até então, na França, a antropologia estava ligada às ciências da natureza, sendo dominante a antropologia física ao longo de todo o século XIX. [...] Lévi-Strauss vai buscar nas ciências humanas, mas precisamente na linguística, um modelo de cientificidade (DOSSE, 1993, p.37).

Lévi-Strauss ao investigar a sociedade indígena Cadiweu,na expedição relatada em Tristes Trópicos, de início destaca sua preocupação em sistematizar a organização de relações psicológicas e físicas, abordadas nos estudos etnológicos, em que “as mulheres são objeto da troca nos grupos que são identificados por Strauss como bens por excelência por serem escassas e essenciais”(PASSETTI, 2007-2013, p. 29).
Com o modelo estrutural da linguística de Saussure,Lévi-Strauss objetiva que o sistema de parentesco é uma linguagem, no entanto, não é uma linguagem universal, sendo a língua o sistema de significação por excelência. Nessa perspectiva o método fonológico segue os seguintes procedimentos em resumo nos estudos antropológicos do estruturalismo:

A reciprocidade representa também o denominador comum entre a antropologia estrutural e a linguística, pois em ambos os casos ela é a estrutura fundadora. O objetivo do sistema do parentesco, como o da linguagem, é instituir um campo aberto da comunicação, no qual cada sujeito só se define por sua colocação com relação ao outro. [...] nos sistemas de parentesco as mulheres configuram-se como valores. (LÉVI-STRAUSS, 1980, XIX).

A difusão da obra de Saussure foi constantemente mediada pela escola de Praga, sobretudo por Trubetzkoi e Jakobson, este último irá influenciar fortemente Lévi-Strauss em encontros, na cidade de Nova York; é que lá o filósofo assiste às aulas do linguista sobre fonologia estrutural que lhe conduz a formular tanto a tese de correspondência formal entre a língua e o sistema de parentesco, quanto o modelo da metodologia estruturalista, “[...] elaboração de uma antropologia estruturalista, graças ao encontro decisivo entre Lévi-Strauss e seu colega linguista Roman Jakobson [pois] é da simbiose de suas investigações respectivas que vai nascer a antropologia estrutural” (DOSSE, 1993, p. 33), que consequentemente potencializará a defesa da tese As estruturas elementares do parentesco (1948), que se tornou referência nos estudos antropológicos (SALES, 2003).
Já para pensadores estruturalistas que criticam o método investigativo, no caso, os modelos estruturais de Lévi-Strauss no campo dos estudos da antropologia social, Piaget informa que Lévi-Strauss tirou seus modelos estruturais diretamente da álgebra geral e que a estrutura mais antiga que foi conhecida e estudada como tal foi a “estrutura de grupo”, descoberta por Galois. Piaget a determina assim:

Um grupo é um conjunto de elementos (por exemplo, os números inteiros, positivos e negativos) reunidos por uma operação de composição (por exemplo, a adição) tal que aplicada aos elementos do conjunto, torna a dar um elemento do conjunto; existe um elemento neutro (no exemplo escolhido, o zero), tal que, composta com outro, não o modifica (aqui n + 0 = 0 + n = n) e, sobretudo, existe uma operação inversa (no caso particular a subtração) tal que, composta com a operação direta, fornece o elemento neutro (+ n – n = - n + n = 0); finalmente, as composições são associativas (aqui [n + m] + 1 = n + [m + l ]). (PIAGET, 1968, p.19 – 20).

          A contribuição das investigações matemáticas forneceu ao estruturalismo, que forjou seu modo de pensar, vem do grupo do Bourbaki, que procurou subordinar as matemáticas inteiras à ideia de estrutura. (SALES, 2003,p. 165) comenta que “os Bourbaki operam uma abstração de segunda ordem: além do fato de não ser considerada a natureza dos elementos (ou seja, os elementos já possuem um caráter abstrato não importando seu conteúdo), são colhidas certas transformações comuns aos conjuntos que podem ser aplicadas a quaisquer elementos por meio de um princípio de isomorfização”.
Essas transformações conduzem as estruturas gerais, chamadas de “estruturas mães, e a seus axiomas, que desloca a atenção aos termos das relações para as relações entre os termos. [...] André Weil, proveniente do grupo Bourbaki contribuiu diretamente para os estudos de Lévi-Strauss ao escrever o apêndice matemático de As estruturas elementares de parentesco”(SALES, 2003, 165).
Lévi-Strauss apodera-se das abordagens linguísticas e matemáticas, objetivando os estudos no campo da antropologia, buscando um refinamento sistemático na antropologia cultural, que consiste metodologicamente no uso da epistemologia e da sociologia do conhecimento, chegando à conclusão de que o fundamental nas relações estruturais permanece de maneira oculta. Para ele, foi preciso esperar que os antropólogos descobrissem que os fenômenos sociais obedecem às ordens estruturais sendo a razão que essas “estruturas apenas se mostram a uma observação feita de fora” (LÉVI-STRAUSS, 1971, p. 38).

Para enfatizar o conceito relativo de estrutura Lévi-Strauss cita:

O princípio fundamental é que a noção de estrutura social não se refere à realidade empírica, mas aos modelos construídos em conformidade com esta. Assim aparece a diferença entre duas noções, tão vizinhas que foram confundidas muitas vezes: a de estrutura social e a de relações sociais. As relações sociais são a matéria-prima empregada para a construção do modelos que tornam manifesta a própria estrutura social [...]. (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 7).                                           

Em a Noção de Estrutura em Etnologia, o antropólogo nos leva a pensarmos, com efeito, que para merecer o nome de estrutura, os modelos devem exclusivamente satisfazer quatro condições:
          Em primeiro lugar, uma estrutura apresenta um caráter de sistema. Consiste em elementos tais que uma modificação qualquer de um deles leva a uma modificação de todos os outros.
Por segundo, todo o modelo pertence a um grupo de transformações das quais cada uma corresponde a um modelo da mesma família, de sorte que o conjunto dessas transformações constitui um grupo de modelo.
Em terceiro, as propriedades acima indicadas permitem prever de que maneira reagirá o modelo, em caso de modificação de um de seus elementos.
Finalmente, o modelo deve ser construído de maneira tal que seu funcionamento possa dar conta de todos os fatos observados. (LÉVI-STRAUSS, 1980).
Um fato interessante da vinda do filósofo ao Brasil, é destacar que, Lévi-Strauss afirmou que a escolha do aprendiz de etnologia,o jovem agregéem filosofia, de perfil particular — não-francês, nãonormalista, judeu e militante socialista —, é indicado por Bouglé;Lévi-Strauss afirma que a escolha de um aprendiz de etnologia avesso à tradição durkheimiana chocou-se de imediato com as intenções doscontratantes paulistas, imersos na influência comtiana e durkheimiana,e que desejavam um professor de sociologia herdeiro dessa tradição.

Fui para o Brasil porque queria ser etnólogo. Eu tinha sido conquistado pela etnologia em rebelião contra Durkheim, que não era um homem de campo, ao passo que eu descobria a etnologia de campo através dos ingleses e dos americanos. Eu estavaportanto numa posição falsa. Chamaram-me para perpetuar a influência francesa, por um lado, e a tradição Comte-Durkheim, por outro. Eu estava conquistado naquele momento por uma etnologia de inspiração anglo-saxônica. Isto me criou uma série de dificuldades (ERIBON e LÉVI-STRAUSS, 1990, p. 31).

2 INCONSCIENTE ANTROPOLÓGICO EM LÉVI-STRAUSS

O projeto lévi-straussiano é instrumentar os trabalhos realizados por etnográficos e principalmente etnólogos nos estudos antropológicos, em Antropologia Estrutural I, enfatiza que “a realidade empírica, concreta e a escrita não são suficientes para chegar às estruturas, já que há ação de símbolos no consciente e inconsciente humano, em seu entender a finalidade da etnologia é atingir, além da imagem consciente e sempre diferente que os homens formam de seu devir, um inventário de possibilidades inconscientes, que não existem em número ilimitado; [...] fornecem uma arquitetura lógica a desenvolvimentos históricos que podem ser imprevisíveis, sem nunca ser arbitrários” (LÉVI-STRAUSS, 2003, p. 39). É procurando atingir as estruturas mentais inconscientes que Strauss define:

O etnólogo se interessa sobretudo pelo que não é escrito, não tanto porque os povos que estuda são incapazes de escrever, como porque aquilo por que se interessa é diferente de tudo o que os homens se preocupam habitualmente em fixar na pedra ou no papel (LÉVI-STRAUSS, 2003, p. 41).

Lévi-Strauss celebra Franz Boas como um dos mestres do pensamento estruturalista, sendo ele um precursor nos estudos antropológicos, ao qual coube “o mérito de ter, com uma lucidez admirável, definido a natureza inconsciente dos fenômenos culturais [...], ele antecipava acerca do desenvolvimento ulterior do pensamento linguístico”(LÉVI-STRAUSS, 2003, p. 35).
Lévi-Strauss encontrou em Mauss e Durkheim uma dupla de protagonistas para a reconstrução do fato social. Com eles, dois conceitos assumiram grande importância: a ideia de sistema aplicado ao conjunto da realidade social, e a ideia do papel do inconsciente das representações sociais. Com essa conjugação, Lévi-Strauss teve condições de investir nos estudos sobre a lógica de um inconsciente que nos condiciona,manobra e estrutura as formas da impressão social(BRUNO, 2007-2013, p.43).
O estruturalismo lévi-strusiano vê em Mauss, um cientista social francês, como o pai espiritual do estruturalismo (DOSSE, 1993, p.48).
Em introdução à obra de Marcel Mauss, Claude Lévi-Strauss destaca que a cultura é um sistema simbólico e um sistema simbólico por sua vez, é uma construção coletiva, porque não se pode simbolizar sozinho, onde é definido que:
Toda cultura pode ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, à frente dos quais se situam a linguagem, as regras matrimoniais, as relações econômicas, a arte, a ciência, a religião. Todos esses sistemas visam a exprimir certos aspectos da realidade física e da realidade social, e, mais ainda, as relações que esses dois tipos de realidade mantêm entre si e que os próprios sistemas simbólicos mantêm uns com os outros (LÉVI-STRAUSS apud MAUSS, 2003, p. 19).

          Lévi-Strauss ao conhecer os trabalhos de Boas, Kroeber e Benedict, seus colegas americanos, que durante e depois da Segunda Guerra Mundial, por ter passado vários anos nos Estados Unidos, teve contato com as obras de antropologia cultura dos respectivos autores. A qual tomará emprestado ideias essenciais de Ruth Benedict, como comenta Cuche:

Primeiramente, as diferenças culturais são definidas por um certo modelo (pattern). Em segundo lugar, os tipos de culturas possíveis existem em número limitado. Em terceiro lugar, o estudo das sociedades “primitivas” é o melhor método para determinar as combinações possíveis entre os elementos culturais. Finalmente, estas combinações podem ser estudadas em si mesmas, independentemente dos indivíduos que pertencem ao grupo, para quem estas combinações permanecem inconscientes(CUCHE, 2002, p.96).

Para compreender a abordagem frequente de “culturalista”, François Laplantine especifica os conceitos “cultura” e “social”:

O social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, de dominação...) que os grupos mantêm antre si dentro de um mesmo conjunto etnia, região, nação...) e para com outros conjuntos, também hierarquizados. A cultura por sua vez não é nada mais que o próprio social, mas considerado dessa vez sob o ângulo dos caracteres distintivos que apresentam os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções originais (artesanais, artísticas, religiosas...)(LAPLATINE, 2007, p. 120).

As pesquisas que Lévi-Strauss apresentou-se em direção à antropologia estrutural com respeito à linguística, que escreveria “no artigo em 1945 o L´analysestructuraleenlinguistiqueetenanthropologie, registrando que ela constitui hoje entre as ciências humanas, a única sem dúvida, que possa reivindicar o nome de ciência, que tenha conseguido ao mesmo tempo formular um método positivo e conhecer a natureza dos fatos submetidos a sua analise” (LÉPINE, 1974, p. 31).
Como vimos anteriormente, a linguagem não é apenas uma parte da cultura, ela é o equivalente possível de todos os outros sistemas de comunicação. Destacando que a linguística alcançou um nível de formalização comparável ao das ciências da natureza. Pelo grau de formalização do método fonológico e a analogia entre os objetos legitimavam a transposição do método como afirma Lépine:

Lévi-Strauss realizou esta transposição, e se a Antropologia conseguiu alguns resultados que permitem considera-la, com Lacan, uma ciência “rigorosa” é graças ao método estruturalista. Parafraseando o próprio Lévi-Strauss diríamos que a Antropologia conseguiu ao mesmo tempo formular um método positivo e esclarecer a natureza dos fatos submetidos a analise.(idem, ibidem).

O que caracteriza os estudos estruturais é que tais estudos se propõem a isolar níveis significativos, que implicam o recorte dos fenômenos. “Deste ponto de vista, cada tipo de estudos estruturais pretende a autonomia, a independência com respeito a todos os outros e também com respeito à investigação dos mesmos fatos, mas baseada em outros modelos” (LÉVI-STRAUSS, 1980,p.12).
É da problemática mencionada por Lévi-Strauss, das relações entre história e etnologia que a perspectiva de derrubar as divisórias entre diversas disciplinas vizinhas para promover colaboração na questão da “noção do tempo”, apesar das diferenças trabalhadas pelo filósofo em Antropologia Estruturale sendo influenciado pelo positivismo Comtiano.

3 O MÉTODO COMO LIAME DA CIÊNCIA

  Considera-se que “a etnografia e a história se distinguem da etnologia e da sociologia, na medida em que as duas primeiras baseiam-se na coleta e organização de documentos, enquanto que as duas outras estudam antes modelos construídos a partir, e por meio, desses documentos. Em segundo lugar, a etnografia e a etnologia correspondem respectivamente às duas etapas de uma mesma pesquisa que conduz, no fim das contas a modelos mecânicos (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 10);por outro lado, a história, dada a natureza e os objetivos da disciplina, é mais dinâmica, em comparação com as primeiras.
Para o filósofo as relações entre as quatro disciplinas podem ser reduzidas a duas oposições, uma entre observação empírica e construção de modelos, outra entre o caráter estatístico ou mecânico dos modelos, enfocados no ponto de chegada.
Caso seja atribuído arbitrariamente o sinal + ao primeiro termo, e o sinal - ao segundo termo de cada oposição:

 

História

Sociologia

Etnografia

Etnologia

Observação empírica /
Construção de modelos

 

+

 

-

 

+

 

-

Modelos mecânicos /
Modelos estatísticos

 

-

 

-

 

+

 

+

Fonte: LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 13.

Para Lévi-Strauss todas as ciências sociais devem necessariamente adotar uma perspectiva temporal nos estudos de estrutura social, distinguindo-se pelo emprego de duas categorias de tempo como esclarece.
A etnologia apela para um tempo “mecânico”, quer dizer reversível e não cumulativo: o modelo de um sistema de parentesco patrilinear não contém nada que indique se ele sempre foi patrilinear, ou se foi precedido por um sistema matrilinear, ou ainda por toda uma série de oscilações entre as duas formas. Ao contrario, o tempo da história é “estatístico”: não é reversível e comporta uma orientação determinada. Uma evolução que conduzisse a sociedade italiana contemporânea de volta à República romana seria tão inconcebível como a reversibilidade dos processos subordinados à segunda lei da termodinâmica (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 13).

Em aula inauguralcontida na obra O Estruturalismo, Lévi-Strauss comenta a ideia de uma história estrutural e possíveis operações mentais, na oscilação entre a teoria e a observação das sociedades,onde determina que esses dois planos sejam sempre distintos, como a seguir o etnólogo discerne:

Voltando à história, me parece que o mesmo se dá com ela, segundo a intenção seja consagra-se à estática ou à dinâmica, à ordem da estrutura ou à ordem do evento. A História dos historiadores não precisa de que a defendam, mas tão pouco é ataca-la dizer [...] que ao lado de um tempo curto, existe um tempo longo; que certos fatos pertencem a um tempo estatístico e irreversível, outros, a um tempo mecânico e reversível; e que a ideia de uma história estrutural não tem nada que possa chocar os historiadores(LIMA, 1970, p. 59).

Conforme Lévi-Strauss, “o papel da inteligência é o de atualizar, mediante as pressões de uma situação dada, esquemas mentais inconscientes, trazidos pelo cérebro”(LÉFORT, 1967, p. 17). Ainda nosso autor nos diz que o inconsciente “seria o termo medidor entre eu e o outro” uma vez que ele nos fornece “formas de atividades que são ao mesmo tempo nossas e dos outros, condições de todas as vidas mentais de todos os homens e de todos os tempos”. (idem, p. 71).
É em Mauss que Lévi-Strauss busca apoio ao perceber no autor do Manual de Etnografia que percebeu e abriu a interrogação antropológica às outras ciências humanas. É o caso das relações entre a etnologia e a psicanálise, que se descobrem com um objeto comum de análise: o campo do simbolismo, que integra igualmente os sistemas econômicos de parentesco ou de religião, que desde 1924, Mauss definia a vida social como “um mundo de relações simbólicas”, ao citar em seus trabalhos de comparação do xamã em transe com o neurótico. (DOSSE, 1993, p. 48).
O fundamento dos trabalhos de Lévi-Strauss “é a união da antropologia com a psicanálise do grande período estruturalista” (DOSSE, 1993, p. 49). No corpo das investigações, o inconsciente, torna-se importante, reconhecendo Strauss uma intenção precursora de Mauss: “Nada tem de surpreendente que Mauss /.../ tenha recorrido constantemente ao inconsciente como fornecedor do caráter comum e específico dos fatos sociais [totais]” (DOSSE, 1993, p. 49).
A princípio, a formalização de um método positivo para destrinchar os espíritos anteriores, Lévi-Strauss embasa-se no aprofundamento dos estudos da linguística, que para ele seria “a única, sem dúvida, que possa reivindicar o nome de ciência, e que tenha conseguido ao mesmo tempo formular um método e conhecer a natureza dos fatos submetidos a sua análise” (LÉPINE, 1974, p. 30).
Lévi-Strauss, ao transpor para antropologia estrutural os estudos linguísticos saussurianos, parte da análise da linguagem, como componente essencial e integrante de determinada cultura, visto ela possibilitar a formulação de um método apropriado ao objeto simbólico.
Com respeito à linguagem simbólica, Claude Lépine expressa:

[...] ela constitui um sistema extremamente complexo, dotado de uma estrutura lógica bem definida. É uma instituição humana que se superpõe ao mundo físico, organizando-o, ao invés de ser o seu reflexo. O símbolo apresenta uma profunda diferença com as outras categorias de signos, de tal modo que o símbolo apresenta uma profunda diferença com as outras categorias de signos, de tal modo que psicólogos e etnólogos concordam geralmente em reconhecer que o símbolo assinala a passagem do reino animal para o mundo propriamente humano.(LÉPINE, 1974, p. 20).

Ainda segundo Lépine, a espécie humana não é a única privilegiada pela inteligência

pássaros, os mamíferos, e sobretudo os animais domésticos, têm um comportamento comparável ao nosso. Sendo a inteligência que aparece no homem apenas mais refinada e que a tentativa de definir o homem como animal social tampouco é suficiente, já que encontramos entre as abelhas e formigas exemplos de organização social. Mas no plano da linguagem é o que diferencia o homem do animal (idem, ibidem).

A existência no homem do símbolo, dificilmente permanece no estado puro por razões de temporalidade e espacialidade. À questão da passagem simbólica, Lépine nos diz:

A passagem entre o mundo animal e o mundo humano se situa, em conclusão, no ser humano, no momento da ruptura entre a linguagem expressiva e a linguagem simbólica. A linguagem dos sinais, a expressão natural, ainda estão presentes no homem (LÉPINE, 1974, p.22).

Do ponto de vista do estruturalismo, Lévi-Strauss, concebe que as estruturas mentais nada mais seriam do que “modalidades temporais de leis universais em que consiste a atividade inconsciente do espírito” (BASTIDE, 1971, p. 8).
          É na pratica em campo que o etnólogo revive a experiência do outro, “que não pode permanecer indiferente aos processos históricos e às expressões mais altamente conscientes dos fenômenos sociais” (STRAUSS, 2003, p. 39). Ao mesmo passo, o etnólogo precisa reviver a experiência indígena.
As milhares de sociedades que existem ou existiram na superfície da terra são humanas e, por essa razão, elas participamos de forma subjetiva: poderíamos ter nascido nelas, e podemos, portanto buscar compreendê-las como se nelas tivéssemos nascido”. (LÉVI-STRAUSS apud MAUSS, 2003, p. 27).

          O característico dos trabalhos de Lévi-Strauss nos estudos etnológicos é a abertura para o outro, a ponto de Bonomi (apud LIMA, 1970, p.115) considerar que “tal atitude requer antes de tudo a suspensão das categorias operantes no pensamento constituído: que está em discussão [é] tanto a psicologia intelectualista do ‘adulto europeu’, quanto os próprios quadros da lógica tradicional”, que tem por finalidade não só revelar uma experiência nova, mas, sobretudo, “iluminar certas funções universais do sujeito humano, que na investigação etnológica conduzirá além da imagem que fazemos dos ‘primitivos’, o que nos fazíamos de nos mesmos” (BONOMI apud LIMA, 1970, p. 116).
          O olhar do etnológico estruturalista se posiciona a certa distância com o objeto de estudo no caso as sociedades “primitivas” sendo descrita por BONOMI:

A distância que se interpõe entre o observador e a sociedade estudada é garantia de objetividade, enquanto impede a identificação do observador com seu objeto, a redução deste último à perspectiva pré-constituída do primeiro. Ao mesmo tempo, porém, esta distância não tem só um carácter limitativo: constitui o terreno de uma possível comunicação (BONOMI apud LIMA, 1970, 116).

Para Barthes, “o estruturalismo é essencialmente uma atividade (...) e o objetivo de todaatividade estruturalista (...) é reconstituir um objeto, de modo a manifestar nessa reconstituição asregras de funcionamento desse objeto. A estrutura é, pois, um simulacro do objeto” (BARTHES apud DOSSE, 1971, p. 14).

Vale lembrar que Lévi-Strauss.

abandonou o território do filósofo para ganhar outros continentes do saber, tendo seu embasamento desse programa estruturalista marcado pela filosofia kantiana em sua vontade de vincular todos os sistemas sociais a categorias primordiais que funcionam como categorias numéricas. O pensamento está aí controlado por estas categorias apriorísticas, [...] sem deixar de aplicar-se de maneira apropriada a cada caso nas diversas sociedades (DOSSE, 1993, p. 51).
         
Em Tristes Trópicos, Strauss relata seu objetivo etnográfico de transcender o empirismo (saber as afinidades estruturais entre civilizações-sensibilidade).
Sua vinda ao Brasil é marcada pela sua concepção das grandes viagens exploratórias pelo mundo que o mesmo diz “odeio viagens e expedições” e, no entanto, ele se revela em sua expedição como escritor. No decorrer da obra Tristes Trópicos critica a dita civilização moderna (São Paulo), na qual o pensamento primitivo está em via de extinção, com sua abordagem intelectual e filosófica.

Lévi-Strauss mostrou que o espírito humano, de forma consciente e mais ainda inconsciente, funciona segundo regras muito precisas, gramaticais, geométricas. Tudo pode, de certa forma, ser decodificado. Há no inconsciente humano, regras, uma escrita, uma maneira de formular as coisas que podemos decifrar.  (ISAC CHIVA – Antropólogo francês – documentário-vídeo – Saudades do Brasil, 2005).

O Antropólogo estruturalista elucida seu objeto de estudo dando exemplo de dois planos, um social e mental:

Na costa sul da Nova Guiné os indígenas empreendem longas viagens para executarem uma operação que, do ponto de vista econômico, parece totalmente destituída de significação. Trocam animais vivos. Igualmente, nas trocas que acompanham o casamento Yukaghir os pais que receberam uma rena retribuem com outra.  É que, com efeito, a troca não produz um resultado tangível, como no caso das transações comerciais de nossa sociedade.  O lucro esperado não é nem direto nem inerente às coisas trocadas, como são o lucro dedinheiro ou o valor de consumo. Ou melhor, não é tal de acordo com nossas próprias convenções.  Porque, para o pensamento primitivo, há na verdade outra coisa no que chamamos um "bem", diferente daquilo que o torna cômodo para seu detentor ou para seu negociante. Os bens não são somente comodidades econômicas, mas veículos e instrumentos de realidades de outra ordem, potência, poder, símpatia, posição, emoção, O jogo sábio das trocas (onde freqüentementenão há transferência real, assim como os jogadores de xadrez não dão um ao outro as peças que avançam alternativamente no tabuleiro, mas procuram somente provocar uma resposta) consiste em um conjunto complexo de manobras, conscientes ou inconscientes, para adquirir garantias e prevenir-se contra riscos no duplo terreno das alianças e das rivalidades (LÉVI-STRAUSS, 1982, p. 94).

Para Lépine, o modelo tem a função de “revelar a estrutura social que continua repousando sobre as relações sociais que serviram para construí-la, isto é, sobre dados empíricos” (LÉPINE, 1974, p. 41). O método de Lévi-Strauss “consistiria exatamente em abstrair do real a sua essência, e o produto desta abstração seria o modelo, que seria apenas a imagem plausível do real, construída com o fim de melhor manipulá-lo”. Já para outros autores, o modelo seria, pelo contrário, uma construção teórica elaborada pelo espírito humano e que só existiria no espírito humano como dito anteriormente.
É nas considerações dos trabalhos técnicos, mitopoéticos em O pensamento selvagem, que o projeto do bricoleur se caracteriza por trabalhar com as mãos, a operar com os materiais fragmentados já existentes, ele se volta para os resíduos de obras humanas, ou seja, para um subconjunto da cultura como bem diz (LÉVI-STRAUSS, 2012, p. 36). O antropólogo, em seu entender é em inspiração ao bricoleur “que está a executar um grande número de tarefas diversificadas, porém, ao contrario do engenheiro, não subordina nenhuma delas à obtenção de matérias-primas e de utensílios concebidos” (idem, p. 34).

Jacques Derrida nos reforça o discurso desse método. O bricoleur:

Diz Lévi-Strauss, é aquêle que utiliza ‘os meios à mão’ isto é, os instrumentos que encontra à sua disposição, torno de si, que já estão ali, que não foram especialmente concebidos para a operação na qual vão servir e á qual procuramos, por tentativas várias, adaptá-los, não hesitando em trocá-los cada vez que isso parece necessário, em experimentar vários ao mesmo tempo, mesmo se a sua origem e a sua forma são heterogêneas, etc (DERRIDA, 1971, p. 239).

          O ponto esclarecedor das atividades de bricolagem é que imaginemos pegar um HD de uma CPU, que em sua superfície magnética, a estrutura metálica, em suas portas que dão entrada para conectar fios de dados e energia são entendidos para a função especificas quando foram projetadas, no entanto, o criador a qual “ontologicamente” é relembrado por ideias a priori é criticada por Lévi-Strauss, assim como a ideia de arquétipo, ele concebe as atividades do bricoleur com objetos imanentes, já existentes no mundo. Portanto, se a atividades deste, na junção artística, em pegar fios metálicos e estruturar em forma de uma bailarina em cima de um HD rígido, organizando que suas peças são diferentes, não ocorre produção, pois remitiria a ideia de engenheiro. Nas palavras de Derrida a ideia de engenheiro “um sujeito que fôsse a origem absoluta do seu próprio discurso e o construísse “com todas as peças” seria o criador do verbo, o próprio verbo” (DERRIDA, 1971, p. 239).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Lévi-Strauss, em sua carreira de filósofo e antropólogo, serviu-se de modelos da linguística, que o inspirariam para fomentação do etnólogo em seus estudos das sociedades, aprofundou os estudos acerca da psicologia, sua idealização compreende a construção de um método, através de complexos de conhecimentos de diversas modalidades equiparadas a ciência exata, objetivando conhecer o humano, analisando a ação simbólica, nas atividades humanas. 
O filósofo no início de sua carreia ainda se encontra um durkhemiano, apegado ao método sociológico, da escola francesa.  Sua carreia se destaca com sua vinda ao Brasil, daí em diante a antropologia brasileira, que era incipiente, com os estruturalistas a preocupação com o outro, a convivência com os povos estudados, sua cultura, seu modelo social, devem ser observados pela antropologia, na pessoa do etnólogo estrutural, que irá sistematizar os objetos estudados, que estão relacionados em sua totalidade. O simulacro ao qual ela aparece não é a realidade, não é a realidade exterior que se apresenta no funcionamento da sociedade, no entender do estruturalista o que interessa é o mecanismo interior, a ação do inconsciente, trocas simbólicas.
A Antropologia Estruturalista tem a definição do homem como estrutura, que está inserido em um mundo, no qual o sistema social é modificado. Para o etnólogo estrutural as variantes dos fatos sociais revelam a realidade existente nos conflitos intersociais.

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