Contribuciones a las Ciencias Sociales
Agosto 2013

SABERES DE POPULAÇÕES TRADICIONAIS: ETNOCIÊNCIA EM PROCESSOS DE BIOCONSERVAÇÃO



Francisca de Jesus Pimentel da Silva (CV)
Therezinha de Jesus Pinto Fraxe (CV)
tcheska_22@hotmail.com
Universidade Federal do Amazonas



RESUMO
 A partir dos processos que a etnociência proporciona através de seus métodos, as populações tradicionais passam a ser o foco de análise para a potencial manutenção dos recursos naturais, em especial a conservação biológica. Diante desse cenário, novas concepções vêm sendo merecedoras de discussões. Visando acessar esse universo discursivo sobre essa temática emergem questionamentos antagônicos à teoria. Os saberes das populações tradicionais sobre o meio natural são verdadeiramente valorizados? Até que ponto as populações tradicionais interferem na conservação biológica? A etnociência, a partir de seus fundamentos, permite na prática a construção de uma racionalidade ambiental através do saber local? As respostas a essas perguntas poderão revelar as relações entre os saberes das populações tradicionais e a etnociência em processos de bioconservação.

Palavras-chave: Etnoconhecimento; biodiversidade; conservação.

ABSTRACT
Starting from the processes that the etnociência provides through their methods, the traditional populations start to be the analysis focus for to potential maintenance of the natural resources, especially the biological conservation. In this scenario , new conceptions are being worthy of discussions. Seeking to access that discursive universe on that theme antagonistic questionamentos emerges to the theory. Knowledge of traditional  populations  about the environment natural  way are truly valued? To what extent do the traditional populations interfere in the biological conservation? Does the etnociência, starting from their foundations, allow in practice the construction of an environmental rationality through the local knowledge? The answers the those questions can reveal the relationships among them know of the traditional populations and the etnociência in bioconservação processes.

Keywords: ethnoknowledge; biodiversity; conservation.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Pimentel da Silva, F. y de Jesus Fraxe, T.: "Saberes de populações tradicionais: etnociência em processos de bioconservação", en Contribuciones a las Ciencias Sociales, Agosto 2013, www.eumed.net/rev/cccss/25/biodiversidade.html
  • INTRODUÇÃO

A biodiversidade tornou-se um tema de interesse internacional, sendo, principalmente, objeto de estudo dos cientistas naturais, e começa a ganhar espaço também nas ciências sociais (PEREIRA, 2009). Nessa perspectiva, a análise das formas concretas pelas quais as diferentes formações culturais se apropriam do meio onde se desenvolvem, requer, pois, especificar os processos que conformam os estilos étnicos de seus recursos naturais. Essa apreciação ocorre através de uma expressiva evolução que constitui a chamada etnociência, a qual parte de ferramentas teóricas para a reconstrução histórica das relações sociedade - natureza (LEFF, 2009).
Nesse sentindo, esta questão sociedade - natureza passa a abranger as populações tradicionais e seus respectivos saberes a respeito do mundo natural aonde a etnociência vem perfilhando alternativa para os paradigmas correntes, com efeito benéfico ao conhecimento científico. Entretanto, a abordagem de assuntos relacionados com conhecimentos tradicionais implica em uma série de discussões desenvolvidas em diversas esferas científicas, causadoras de embates, visto que estes conhecimentos são alvos de diversos interesses (DIEGUES, 2008).
Considerando que a etnociência envolve hoje conceituações bastante diversificadas, se torna necessário abordá-la de forma crítica, não tanto a sua conceitualização ligada a classificações, porém, na eficaz dinâmica das relações sociedade - natureza, pois nos questionamos se etnociência a partir de seus fundamentos permite na prática a construção de uma racionalidade ambiental através do saber local. Resgatam-se ainda, alguns aspectos pertinentes da etnociência para o entendimento de saberes e técnicas sobre populações tradicionais.
Desse modo, para a abordagem e análise desse questionamento realiza-se a discussão a partir de alguns autores relevantes. Essas reflexões vinculadas a essa discussão indicam até que ponto as populações tradicionais interferem ou não junto à conservação biológica, assim como analisar se os saberes das populações tradicionais sobre o meio natural são verdadeiramente valorizados. Nesse processo, há necessidade de fazer uma interlocução com analise histórica.
Sob esta perspectiva, o presente texto apresenta a possibilidade de oferecer argumentos favoráveis ao processo da etnociência na intersecção entre o saber tradicional junto à bioconservação. Em suma, interessa aqui atentar para a necessidade de se aprofundar em discussões desse aspecto, com o intuito de entender os subsídios desta abordagem para a conservação dos recursos naturais.

  • POPULAÇÕES TRADICIONAIS: OS SABERES LOCAIS

Desde o seu surgimento, o uso do termo “populações tradicionais” tem sido bastante questionado no meio acadêmico. Entretanto, o termo é utilizado nesse contexto em sentido amplo para os propósitos deste texto. As "populações tradicionais" são aquelas que possuem conhecimento da natureza, que se relacionam de forma muito íntima, em simbiose e dependência, conhecendo os segredos, suas propriedades e utilizando dos seus recursos para viver e transmitindo esses valores de geração a geração (STEFANELLO, 2012). Assim sendo, a utilização desse termo não está, neste trabalho, associada à idéia de “populações atrasadas” ou “populações marginalizadas”, mas sim, às sociedades humanas que dispõem de uma estreita relação e experiências com o meio natural.
Partindo da análise significante que as populações tradicionais têm em relação ao meio natural, nos permite realizar uma avaliação da valorização dos seus saberes. Na visão de Chagas et al. (2007), estudar os saberes populares é importante para entender como essas populações utilizam estes conhecimentos. Diegues, Andrello & Nunes (2001) definem o conhecimento tradicional como o conjunto de saberes e saber fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural. Porém, uma questão importante, prende-se nessa noção dos saberes. O termo “saber” significa, em primeira mão, ter conhecimento e consciência de alguma coisa; é apreender o objeto; é captar os fenômenos em suas diversas manifestações. No ato de conhecer se estabelece uma relação entre o sujeito e o objeto. O sujeito apreende as qualidades do objeto; e o objeto com a sua passividade deixa-se conhecer, seja ele material, cultural, ou espiritual e humano (BASÍLIO, 2006).
Assim, concebemos o saber local como os conhecimentos acumulados a respeito de suas relações. A partir dessa premissa, podemos deduzir que o conhecimento dessas populações seja um aliado à conservação da biodiversidade; como ensina MODESTO et al. (2012), o qual afirma que as informações obtidas junto a essas populações têm se configurado em uma importante ferramenta para estudos conservacionistas, por auxiliar nas informações dos ecossistemas. Nesse sentido, Saldanha (2005) deixa claro que os esforços de conservação devem identificar e promover os processos sociais, que permitem às populações tradicionais conservar e aumentar a biodiversidade como parte de seu modo de vida. É valido observar também que a cultura deve ser protegida da mesma forma que a natureza.
Compreende-se, no presente trabalho, que a forma como as populações se organizam está intimamente relacionada diretamente com o meio natural. Para Moura & Diegues (2007), a consistência e a adequação do conhecimento tradicional à conservação do meio levaram alguns pesquisadores a sugerir seu uso na definição de propostas oficiais ou para gerar desenvolvimento com sustentabilidade ecológica e cultural. Observa-se a partir dessas pequenas bases teóricas, proveniente dos pesquisadores da área, que há um reconhecimento dos saberes das populações tradicionais, principalmente, como ponto de partida para a conservação do meio natural. Haja vista, que valorizar esse saber local é ter consciência do funcionamento dessas populações tradicionais a partir das suas próprias práticas.
Portanto, é possível afirmar que o saber local tem grande importância na conservação do meio natural, uma vez que ele se torna uma ferramenta fundamental dentro desta conjuntura. Isso tem revelado também, que a conservação da biodiversidade pode ser mais efetiva, se houver mais envolvimento das comunidades que vivem no entorno das áreas naturais (MAROTI, 2002). É possível considerar ainda que, a necessidade do uso racional dos recursos naturais configura-se também como um requisito para a perpetuação das populações tradicionais nos ambientes nos quais estão inseridas; ou seja, há uma correlação necessária entre sociedade/meio natural que não pode ser subestimada.
Reconhecendo, enfim, que a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica têm como papel fundamental os saberes das populações tradicionais, os quais passam a ser extremamente importantes, valorizadas e de mútuo interesse. E, como já vimos, a valorização do saber local pode oferecer condições para a ampliação de uma busca equilibrada da relação sociedade-natureza com as prerrogativas do desenvolvimento local, que articula a melhorias da qualidade de vida e o uso responsável dos recursos naturais.

  • ETNOCIÊNCIA: ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO

Considerando o saber como um conjunto de aptidões possíveis de ser transmitidas entre pessoas e com pretensão de descobrir os princípios que organizam as culturas e determinam até que ponto eles possam ser universais (ALVES et al., 2008), surge a etnociência trazendo  abordagem antropológica, por meio da qual as culturas deixam de ser vistas como conjuntos de artefatos e comportamentos e passam a ser consideradas sistemas de conhecimentos ou de aptidões mentais, como revelados pelas estruturas linguísticas. Partindo desse ponto de análise, essa ciência têm se mostrado uma excelente ferramenta metodológica para o estudo das interações entre o homem e o meio natural, com ênfase nos aspectos culturais (MARQUES, 2001).
De tal modo, o fundamento da etnociência permite orientar e apoiar a construção de uma racionalidade ambiental a partir dos saberes locais. Isso nos leva a especificar a complexa relação entre os saberes nos diferentes níveis, buscando os sentidos culturais e as aplicações práticas de seus saberes para a reflexão sobre os saberes tradicionais. Assim, a etnociência interroga os saberes das populações tradicionais, os não codificados pelas normas da racionalidade científica moderna (LEFF, 1998). Porém, toda essa fundamentação teoria permite na prática, a construção de uma racionalidade ambiental através desses saberes das populações tradicionais?
Partindo dessa reflexão, para Leff (1998) implica analisar a etnociência quanto ao reconhecimento das questões físicas e climáticas dos ecossistemas, verificando sua limitação quando ausente de seus objetos de estudos; as particularidades étnicas em relação à utilização da natureza que diferentes povos possuem sobre cada cultura local. Reconhece-se assim, as formas e as funções adaptativas ao meio e de reprodução cultural, isto é, a adaptação dos seres humanos no decorrer dos tempos, em determinada região, torna-se fator determinante nas diferenças de uso de cada comunidade étnica e sua apropriação do meio.
Se o ser humano é único nos processos mentais e extremamente diverso nos seus produtos, devemos nos aproximar da realidade sócio-cultural do outro com nossos processos mentais comuns para entender seu produto sócio-cultural, sempre diverso do nosso (AMOROZO, 2002), tendo em vista, o comprometimento com benefícios práticos para as comunidades locais. Por isso, é necessário analisar a atuação dos processos práticos da etnociência. Em outros termos, não satisfaz apenas reconhecer os propósitos da etnociência, mas observar através de seus métodos superação do caráter teórico, e assim, dar explicações consistentes sobre a relação entre sociedade – natureza.
A partir desta concepção, em decorrência da função prática do saber de populações tradicionais, deve-se contextualizar socialmente e espacialmente, pois os elementos do conhecimento tradicional e suas aplicações emergem e funcionam dentro de contexto sócios específicos (DIEGUES, 2000).  De tal modo, o esboço teórico metodológico etnocientífico tem inspirado intervenções relacionadas às interfaces da antropologia com as ciências da natureza e as tecnologias, bem como às ligações entre diversidade biológica e cultural (ALVES et al., 2008).
Vale ressaltar aqui Bruno LATOUR (1983) que nas suas análises de cunho etnográfico fornece um dos importantes referenciais para uma perspectiva etnográfica que - contemplando tanto representações quanto comportamentos - articule trans - e interdisciplinaridade no trabalho de campo em um meio ambiente, não só de flora e fauna, mas que, sobretudo, inclua o ser humano. Latour é bastante atento para as questões de respeito ao outro, sempre presentes no trabalho etnográfico o qual exige que se atribua simetria na consideração de diferentes modos de pensar e saber.
Dessa forma, superando criticamente as abordagens essencialmente classificatórias, a etnociência tem permitido uma maior abertura para pesquisas mais focalizadas na dinâmica das relações (AMOROZO et al., 2002) o que articula os diferentes níveis de construção de saberes, promovendo não apenas estudo desses saberes locais, mas também indo além da valorização e conservação das suas práticas. Permitindo assumir que existem uma nítida afinidade teórica e prática que nos levam a arriscar em uma crescente atuação favorável às lutas das populações tradicionais em prol de alternativas mais sustentáveis. Porém, almejando sempre uma maior simetria no diálogo entre saberes e técnicas (LATOUR, 1983; LATOUR, 1987).

  • BIODIVERSIDADE: PRIORIDADE DE CONSERVAÇÃO

 

Ostentando tal importância nesse processo de valorização dos saberes das populações tradicionais, admite uma maior estima em suas múltiplas dimensões na conservação da biodiversidade. Isso evidencia o grande potencial dos atores locais para manutenção dos recursos naturais, tendo em vista a estreita relação que estas populações possuem com a natureza, como anteriormente foi citado.
De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica (2009), a biodiversidade é definida como sendo a variabilidade de organismos vivos de todas as fontes; isto inclui a diversidade dentro das espécies, entre espécies e dos ecossistemas. O termo surgiu na década de 1980 e até o presente momento a biodiversidade tem sido alvo fértil do debate ambiental planetário em detrimento de seu valor intrínseco, e também social, cultural e econômico.
Partindo desse pressuposto, corroboramos a abordagem sistêmica e a teoria da complexidade de Edgar Morin, o qual tem produzido novos arranjos teóricos e metodológicos relevantes com a finalidade de aproximar as ciências naturais, as ciências humanas e os saberes locais - etnociência - em torno da questão da biodiversidade. Diante desse aspecto, nos leva a avaliar como a etnocência auxilia a partir dos saberes de populações tradicionais o processo de bioconservação. Haja vista, que a biodiversidade não é simplesmente um produto da natureza, mas em muitos casos é produto da ação das próprias populações tradicionais.  Tal percepção contrasta assim, com a conservação da biodiversidade comumente acentuada somente em seus aspectos técnicos e científicos, sem considerar teorias mais amplas relativas aos estudos das relações entre humanos e a natureza.
De forma mais específica, cabe citar novamente LATOUR (1983), com as considerações das relações sociedade-natureza a qual se reproduzem numa dupla diversidade: de natureza e de cultura. As culturas humanas constituem-se de forma diversa em diferentes ecossistemas naturais, mesmo que do ponto de vista das características bio-geológicas, estes sejam distintos, semelhantes ou mesmo idênticos.
Partindo das fundamentações teóricas clássicas para entendermos sobre esse processo, diversas são as linhas de pesquisa da etnocioência que contribuem para o estudo do saber tradicional, os quais trazem subsídio prático para o processo da conservação biológica. A Etnobotânica, ciência que estuda a influência da vegetação na cultura e como a ciência das relações entre o homem e as plantas (YEPES, 1953), parte como nosso primeiro exemplo. Além de o conhecimento etnobotânico contribuir para o conhecimento científico das espécies vegetais, seu estudo tem como foco, também, a reversão do conhecimento fornecido pelos informantes para sua própria comunidade.
Desta forma, a etnobotânica não serve apenas como ferramenta para resgatar o conhecimento tradicional, mas também é importante no resgate dos próprios valores das culturas que entra em contato (PRANCE, 1987; DELWING et al., 2007). Nesse caso, a perspectiva de Latour, (1997) com sua etnografia de ciências e técnicas da sociedade, pode ser útil, quando aliada a abordagens para o entendimento da construção de saberes e técnicas entre populações tradicionais, assim como das relações sociedade-natureza.
As populações tradicionais ainda por apreenderem grande parte de informações inexploradas pela ciência oficial, sobre a forma de lidar com ambientes biologicamente diversificados, podem ser muito úteis para a compreensão destes ecossistemas e para o desenvolvimento de práticas menos predatórias ao meio; ou seja, tais conhecimentos são de fundamental importância para o desenvolvimento de práticas sustentáveis. Partindo dessa apreciação, a Etnoecologia, como nosso segundo modelo de analise contribui para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento sustentável, uma vez que investiga formas peculiares de conhecimento ecológico. A interpretação e manejo da natureza passam a não ser restritos ou originários apenas do saber sistematizado, mas científico prático (TOLEDO,1992).
Evidentemente, a etnociência contém inúmeros outros campos de estudo acrescidos do prefixo etno: etnobiologia, etnozoologia, etnofarmacologia etc. (ROUÉ,1997). Porém, neste trabalho o enfoque como forma ilustrativa se atentará a Etnobôtanica e Etnocologia.  Desse modo, a etnociência, tal como tem sido praticada por associações interdisciplinares de pesquisadores desenvolveram instrumentos cognitivos para identificar mudanças no meio ambiente, a fim de buscar novas alternativas e estimular a capacidade humana de se adaptar a novas situações. Em algumas circunstâncias essa adaptação tem sido possível (DIEGUES, 2004). Nesse tipo de análise se combinar a visão do observador estranho (pesquisador) à cultura, refletindo a realidade percebida pelos membros de uma comunidade. Os elementos de análise são as categorias e as relações lógicas que se estabelecem entre o todo e suas partes. O pesquisador procura inferir as categorias “êmicas” dos povos em estudo (POSEY, 1987).
Geralmente as populações tradicionais têm seu conhecimento embasado em estratégias de manejo focalizadas nas espécies consideradas mais importantes, o que pode ser fundamental no uso sustentável e na conservação (LYKKE, 2000). Mas até que ponto as populações tradicionais interferem ou não junto essa conservação? Pode - se ponderar, então, a partir dos autores apresentados, que as populações tradicionais implicam não apenas na detenção do rico saber local, porém se tornam importantes na escolha de estratégias de conservação, considerando em muitos casos parceiras na manutenção da biodiversidade. Concluir-se que então, que a biodiversidade pertence tanto ao domínio do natural e do cultural, mas é a cultura enquanto conhecimento que permite as populações tradicionais entendê-la, representá-la mentalmente, manuseá-la, retirar espécies, colocar outras e freqüentemente enriquecendo-a (DIEGUES, 1999).

  • CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos referenciais teóricos, principais norteadores estabelecidos nesse trabalho consolidam os questionamentos abordados, situando o leitor em relação aos processos fundamentais para explicitar como os saberes de populações tradicionais refletem nos aspectos da etnociência em ação, a bioconservação. A apreciação deste processo demonstrou que nas populações tradicionais é conservado e reproduzido o que tem identidade, com o saber local, com a cultura, seus usos e suas simbologias. É necessário reconhecer também, a utilidade da etnociência mediante as descobertas dos processos e das regras estruturais, as quais em questão, uma população tradicional classifica o seu meio, tendo em vista que os referenciais mencionados promovem a evidente necessidade de consolidar práticas de conservação por meio da integração do conhecimento de saber local das populações tradicionais.
Associados a essas considerações, foi possível entender sobre a concepção que a etnociência abarcar quanto às populações tradicionais, porém, não apenas nesse sentido, mas não negligenciando a sua importância de intersecção em relação aos saberes em função ao meio natural. De tal modo, poder compreender que a biodiversidade é fortemente relacionada e dependente do saber local, assim como analisar que o sucesso da pesquisa em etnociência não está apenas no grande número de informações obtidas, mas, sobretudo nos esforços na construção do conhecimento, baseado nos valores etnos. Portanto, a articulação entre o meio natural e o social, pode se harmonizada pela etnociência. Enfatizando assim, o investimento no reconhecimento de sua identidade, na valorização de seu saber e na garantia de sua participação na construção de uma política de conservação da qual sejam também beneficiados.
Resumindo, embora óbvio, mas convém destacar que há um reconhecimento dos saberes das populações tradicionais, principalmente, como ponto de partida para a conservação do meio natural, e a partir desse ponto, promove-se importantes escolhas de estratégias de conservação, considerando em muitos casos parceiros primordiais na manutenção da biodiversidade. Essa ligação faz com que a etnociência contribua não apenas para a bioconservação, mas também, no resgate dos próprios valores das culturas. E superando as criticam existenciais a etnociência, permite-nos assumir que existem uma nítida afinidade teórica e prática do seu processo, que nos levam a arriscar em uma crescente atuação favorável ás lutas das populações tradicionais em prol de alternativas mais sustentáveis.

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