Revista: Caribeña de Ciencias Sociales
ISSN: 2254-7630


METAMORFOSES NO TRABALHO AGRÁRIO EM TOMÉ-AÇU (PA) A PARTIR DA DENDEICULTURA: ESTUDO DE CASO NA FORQUILHA

Autores e infomación del artículo

Ana Cláudia Alves de Carvalho*

Universidade Federal do Pará, Brasil

carvalho_anaclaudia@yahoo.com.br

Resumo: Com a chegada da dendeicultura nos diversos municípios paraenses, mais precisamente na microrregião de Tomé-açu, temos o emergir de um evento que vem reconfigurar a dinâmica existente no lugar, desencadeando metamorfoses no trabalho agrário em Tomé-açu, enfatizaremos aqui a Vila Forquilha, pois antes da instalação da empresa produtora de óleo de palma Biopalma, o trabalho possuía uma dinâmica diferente da existente hoje. Como metodologia construímos a partir de bibliografia e entrevistas com os moradores locais uma caracterização de como era o trabalho antes da instalação da dendeicultura, e outra após este evento. As metamorfoses ocorridas na vila com relação ao papel do trabalho, ecoaram de maneira tão significativa, que recaem no espaço habitado e no modo de vida de seus moradores.

Palavras-chave: Dendeicultura, Estado, Trabalho, Tomé-açu, Forquilha.

METAMORFOSIS EN EL TRABAJO AGRÍCOLA EM TOMÉ-AÇU (PA) DESDE LA CULTURA DE PALMA: ESTUDIO DE CASO LA FORQUILHA.

Resumen: Con la llegada de la cultura de palma en los distintos municipios de Pará, en concreto la micro-región de Tomé-Açu, tenemos la aparición de un evento que viene reconfigurar la dinámica en su lugar, lo que provocó metamorfosis en el trabajo agrícola en Tomé-Açu, que destacar aquí el pueblo Forquilha, porque antes de la instalación del aceite de palma empresa productora Biopalma, el trabajo tuvo existe una dinámica diferente en la actualidad. La metodología construida a partir de la literatura y entrevistas con los residentes locales una caracterización de cómo el trabajo era antes de la instalación de la cultura de palma, y otro después de este evento. Metamorfosis se produjo en el pueblo con el papel de la mano de obra, se hizo eco de manera tan significativa que caen en el espacio de vida y modo de vida de sus residentes.

Palabras-clave: Cultura de palma; Estado; Trabajo, Tomé-açu y Forquilha.



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Ana Cláudia Alves de Carvalho (2017): “Metamorfoses no trabalho agrário em Tomé-açu (PA) a partir da dendeicultura: estudo de caso na Forquilha”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (marzo 2017). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2017/03/dendeicultura.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1703dendeicultura


INTRODUÇÃO

De acordo com a ideia de período geográfico de Santos (2006), constatamos o surgimento de um período no Estado do Pará. Surgindo ainda na década de 1950, com os primeiros plantios de dendê ainda em fase experimental, o qual chamamos de “Período do dendê” (Carvalho, 2013). Período este que se desenvolveu tendo como base a produção da monocultura do dendê no Estado, incentivado pelo uso de técnicas avançadas de melhoramento genético de sementes pela Embrapa, amplos Zoneamentos agroecológicos que permitiram a delimitação de diversas áreas aptas ao plantio; assim como inúmeras políticas públicas que mais do que incentivo, foram o fio condutor dos investimentos.
            Dentre eles destacamos o Programa Nacional de Uso e Produção do Biodiesel (PNPB), que foi um verdadeiro divisor de águas no desenvolvimento da dendeicultura no Estado. A criação dos “Polos de Produção de Biodiesel”, criados pela Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário também foi um grande impulsionador da expansão da produção de óleo de palma, com a intenção de favorecer a inclusão dos agricultores familiares na cadeia produtiva do dendê.
No Pará, o polo 1 alcança cerca de 37 municípios, o que possibilitou que a cultura do dendê pudesse expandir-se. Atuando no Estado atualmente desde empresas nacionais a internacionais, algumas tendo sua produção voltada ao biodiesel e outras ao ramo alimentício e/ou de cosméticos. Os novos atores ao instalarem-se na região, trazem consigo novos investimentos, criam uma nova configuração territorial aos lugares onde aportam, fazendo nascer diferentes relações que transformam as dinâmicas existentes, fazendo com que a dendeicultura se tornasse um evento (Nahum; Malcher, 2012) no Estado.
A metamorfose ocorrida em Forquilha com relação ao papel do trabalho, ecoaram de maneira tão significativa, que extrapola as relações de trabalho, e caem no modo de vida de seus moradores. Portanto, temos como objetivo geral, analisar as metamorfoses no trabalho agrário em Forquilha a partir da chegada da dendeicultura. Para isso, vamos inicialmente conceituar a ideia de metamorfoses e espaço agrário, assim como as categorias: agricultores familiares, camponeses, trabalhadores rurais, pecuaristas, dentre outros; faremos uma caracterização do mundo do trabalho rural em Tomé-açu antes e a partir da vinda da dendeicultura; analisaremos a dendeicultura enquanto um evento em Tomé-açu.
Nosso foco seria a unidade familiar em si, composta pelo tripé: terra, trabalho e família, sendo o trabalho a categoria escolhida para mostrar as metamorfoses ocorridas a partir da instalação da empresa BIOPALMA, nas proximidades da comunidade Forquilha, em Tomé-açu.
Como metodologia operacional temos, um trabalho de investigação sobre a ideia de metamorfoses, trabalho rural, bem como espaço agrário, e revisão da literatura sobre dendeicultura no Pará. Realizaremos pesquisa de campo, utilizando perguntas abertas ou semi-estruturadas, entrevistaremos representantes da empresa BIOPALMA, e os moradores da Forquilha, além dos representantes da associação de moradores. Neste momento coletaremos dados referentes a como se estruturava o trabalho na comunidade antes da chegada da BIOPALMA no município, que metamorfoses ocorreram nas relações de trabalho existentes na Forquilha. A partir do referencial teórico e da pesquisa de campo é possível construir a caracterização do mundo do trabalho rural em Tomé-açu antes e a partir da vinda da dendeicultura no município.
Como metodologia analítica, trata-se aqui de enfatizar o que chamamos de “Situação Geográfica”, que seria... uma fração do tempo e do espaço, que contém determinadas condições, contraditórias ou não, que possibilitam as relações ocorrerem da maneira como ocorrem. Ou seja, neste caso, uma situação geográfica como um conjunto de fatores que possibilitam a emergência do evento, aqui a instalação de uma empresa produtora de dendê, que vai se aproveitar dessa oportunidade para se desenvolver neste lugar, se utilizando das contradições recorrentes no lugar, para se beneficiar.
Como exemplo temos a empresa BIOPALMA, que chega em Tomé – açu, trazida e impulsionada pelas politicas de incentivo a instalação e produção de biodiesel no Estado do Pará. (não se pode elencar tais relações pois estas são em sua totalidade diversamente dinâmicas, estão em constante metamorfoses). Estamos falando de determinações sociais, um conjunto delas, que moldam e criam uma situação geográfica, antes mesmo que seja percebida pelo homem. Trata-se de intencionalidades que juntas compõem essa tal situação geográfica.
Ao se instalar em Tomé-açu a BIOALMA chega como um “objeto estranho” ao lugar, porém, tanto ela quanto a Forquillha, são frutos da mesma situação geográfica, e estabelecem-se sem se perceber inicialmente, irão estabelecer uma “parceria”, o que ocasionará metamorfoses, dentre elas, destacaremos aqui as relacionadas ao trabalho. Já que a empresa irá, a partir de sua instalação usar mão-de-obra local, vinda de forquilha e de demais comunidades ao seu em torno, para desenvolver sua produção de dendeicultura. Dinâmica essa que é exportada para outros lugares, outros estados e até mesmo outros países.
Portanto, buscamos caracterizar em um primeiro momento a situação geográfica que se estabelecia antes da chegada da BIOPALMA, em Forquilha, focando nas relações de trabalho. O que chamamos de “situação geográfica 1” – (SG1), que seria um tempo onde o local ainda não era subordinado ao tempo do mundo, não é passado porque não existe um tempo passado, pois a SG1 é composta por um leque de tempos, consolidados e unidos.
Este seria um presente com relações passadas, não existe o ontem, existe uma situação geográfica que está em construção até chegar no agora, que é a situação geográfica favorável a emergência do evento. Um conjunto de singularidades correspondentes ao trabalho social, sistemas técnicos, políticos e a complexidade do mercado. O SG1 não corresponde ao antes e sim é composto por um conjunto de condições que possibilitaram o evento se estabelecer.
O evento em si não almeja a homogeneização e sim a hegemonia, fazer com que tudo gire em torno dele, e contribua para sua reprodução, para isso, ele usa o território e suas singularidades para se reproduzir.  As atividades que eram desenvolvidas não deixam de existir, algumas apenas deixam de comandar lugar. O evento é maior que a empresa BIOPALMA, ela é apenas a materialização dele, o evento é todo o processo.
Em seguida, trataremos do evento, mostrando como este se instala no município de Tomé-açu. Após isso, caracterizaremos a situação geográfica a partir da chegada da dendeicultura. Dessa forma, teremos dados suficientes para identificar e analisar que metamorfoses ocorreram na dinâmica do trabalho agrário em Forquilha a partir da chegada da dendeicultura.

DESENVOLVIMENTO

Com a chegada da dendeicultura nos diversos municípios paraenses, mais precisamente na microrregião de Tomé-açu, nordeste paraense, temos o emergir de um evento que vem reconfigurar a dinâmica existente nas comunidades que localizam-se ao seu redor. Onde se instala traz consigo a mudança, gerando novas relações aos atores envolvidos, reorganizando a dinâmica territorial das comunidades próximas aos empreendimentos, (Nahum e Malcher, 2012).
Somado a isso, gostaria de enfatizar o trabalho realizado desde o ano de 2010 do grupo Dinâmicas territoriais do espaço agrário na Amazônia (GDEA), realizando pesquisas vinculadas ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará (UFPA), vem detendo-se a pesquisas sobre “Usos do território, dendeicultura e modo de vida na microrregião de Tomé-açu Pará”, localizado no nordeste paraense, onde a dendeicultura tem se desenvolvido, expandindo-se em grandes áreas de cultivo.
Assim como Nahum e Malcher (2012), também concebemos a dendeicultura como um evento para o lugar, pois onde se instala traz consigo mudança, gerando novas relações entre os atores envolvidos, reorganizando a dinâmica territorial das comunidades próximas aos empreendimentos, criando singularidades e transformando o espaço. Somado a isso, visualizamos tal qual Nahum e Santos (2014) como tendência no horizonte regional onde o evento da dendeicultura aporta, o fenômeno da descampesinização, isto é, a formação de um campo sem camponeses, posto que estes se metamorfoseiam paulatinamente, em trabalhadores para o capital, sejam como assalariados das empresas ou mesmo associando-se aos projetos de agricultura familiar.
Além disso, consideramos a preocupação de Nahum e Silva (2012) ao tratar da relação dos usos do território, o agronegócio do biodiesel e a agricultura familiar, na microrregião de Tomé-açu, área de grande relevância e expansão na produção do dendê. Avaliamos ser de grande importância a contribuição de Nahum e Santos (2013) ao tratar dos impactos socioambientais ocasionados pela dendeicultura em comunidades tradicionais, localizados na Amazônia paraense, um esforço afim de mostrar a existência de tais impactos, o que difere da maioria dos trabalhos realizados sobre a temática.
 Dessa maneira, acreditamos que a dendeicultura constitui um período do dendê (CARVALHO, 2013), estruturado por uma gama de planos e ações políticas e incentivos fiscais que possibilitaram a chegada das empresas e que fazem do dendê uma cultura vistosa para a produção de biodiesel em áreas degradadas; ligado a isso temos um conjunto de técnicas utilizadas a fim de facilitar a expansão da produção, e por último os usos do território, que influenciam e transforma as relações que resultam em espaços heterogêneos.
Observamos as várias interpretações da expansão da dendeicultura no Estado, atentamos para os trabalhos que enfatizam o lado negativo desta história, das relações de trabalho criadas pelas empresas, constituindo-se um outro campo de pesquisas,  como os da ONG Repórter Brasil, que tratam desse tema a partir de denúncias, tentando mostrar  como essas relações de trabalho, estabelecidas pelas empresas de dendê tem gerado problemas a esses trabalhadores, outros autores como Silva, Homma e Pena em artigo pela EMBRAPA, acreditam ser o dendê a promessa de um novo ciclo econômico na Amazônia, destacando seu importante papel na economia regional e local, bem como Viégas e Muller (2000).
Destacamos ainda a tese de Vilela (2014) que contribui para a concepção de que a dendeicultura é uma das únicas culturas que oferece um grande leque de vantagens no que diz respeito a fins energéticos, em bases sustentáveis, na utilização de áreas desflorestadas e de pastos.
Dessa maneira, temos como hipótese de pesquisa que a dendeicultura desencadeia metamorfoses no trabalho agrário em Tomé-açu, enfatizaremos aqui a comunidade de Forquilha, (dar características da comunidade e explicar que ela foi escolhida), pois antes da instalação da empresa BIOPALMA no município, esta comunidade possuía uma dinâmica diferente da existente hoje. Onde prevaleciam as relações ligadas a extração da terra, agricultura e ao cultivo de animais, relações ligadas ao seu entorno, contendo uma solidariedade e unidade entre as comunidades, utilizando o território para a reprodução de sua vida. É importante destacar que nesse momento as relações se baseavam nos vínculos fraternais, através das áreas comuns e mutirões, além das festas religiosas que servia como mecanismo de integração nas comunidades.
O relativo isolamento vivido por tais comunidades gerou particularidades em seu modo de vida, além de permitirem certa autonomia por parte de suas atividades econômicas, pois aqui o uso da natureza se dava em prol da reprodução da existência, apenas isso, não para a acumulação.
O Estado, que durante muito tempo não propôs políticas voltadas para a agricultura camponesa, propõem os programas de produção do óleo de palma para o biodiesel como uma saída para incluir o agricultor familiar na cadeia produtiva do agronegócio. A ação estatal direciona investimentos em infraestrutura a fim de oferecer subsídios que permitam a instalação dos grandes projetos de produção da dendeicultura nos municípios paraenses.
A partir da chegada da dendeicultura nos diversos municípios paraenses, mais precisamente na microrregião de Tomé-açu, temos o emergir de um evento que vem reconfigurar a dinâmica existente nas comunidades que localizam-se ao seu redor. Buscamos destacar como categoria principal o trabalho, pois ele é a categoria central que media as relações entre os seres humanos e a natureza. Antes o trabalho se dava em Forquilha, conduzido por determinações locais, girando em torno do tempo do lugar, existindo por razões locais. Agora o trabalho se dá, voltado a determinações globais, giram em torno do tempo global, existindo por razões globais.
Neste caso, tanto os trabalhos assalariados oferecidos pela BIOPALMA, quanto aos sistemas de parceria na produção do dendê, correspondem a uma necessidade que não é da Forquilha, nem de Tomé-Açu, e talvez nem seja do Pará. Que é o cultivo da dendeicultura, voltada á produção de biodiesel.
A empresa na área oferece um leque muito de grande de empregos, desde os mais manuais, que lidam com a manutenção dos dendezeiros, colheita de cacho, transporte dos cachos até os contendes, retirada dos frutos soltos do chão, fito sanidade, que é analise manual de cada fruto, estes cargos compreendem em sua maior parte mão-de-obra local.
Além dessas funções que são as mais “pesadas”, a empresa emprega desde camareiras, cozinheiras, secretárias, técnicos em agronomia, á trabalhadores da indústria, mecânicos, motoristas, engenheiros, e outros. Recebendo em sua maioria mão-de-obra local, já possui parceria com algumas famílias na produção da dendeicultura, onde o agricultor familiar juntamente com sua família passa a cultivar dendê recebendo todo o aparato técnico necessário para a produção, tendo um contrato assinado pela empresa de compra dessa produção.
Entrando no mercado de óleo de palma, a BIOPALMA chega já possuindo 50 mil hectares plantados com palma, tendo em 2013 cerca de 80 mil hectares plantados e outros 90 mil hectares destinados à reserva legal e à área de preservação permanente. A BIOPALMA possui cinco polos agrícolas na região do Vale do Acará e Baixo Tocantins, no nordeste do Pará, e será responsável pela produção de 600 mil toneladas de biodiesel em 2019, quando a lavoura atingir sua maturidade.
Empresa pertencente a Vale em sociedade com o Grupo MSP, a BIOPALMA da Amazônia S/A, inaugurou sua primeira usina extratora de óleo de palma de dendê em 2012. A usina encontra-se em Moju, a 150 km de Belém, no Pará, e é a primeira de duas unidades que serão construídas para extrair o óleo de palma, prevê-se a construção de uma unidade para transformar o óleo em biodiesel a partir de 2015.
            É importante destacar que a Biopalma não possui o Selo Combustível Social porque não produz biodiesel, pois considera que essa seria uma atribuição da Vale, produtora do combustível. A respeito da agricultura familiar a empresa, em 2010 havia 24 famílias de agricultores familiares, basicamente na região de Mojú, em 2011 entraram 100 famílias, em 2012, 130 famílias, em 2013 esperam alcançar 500 famílias e chegar em 2015 com 2000 famílias com 20 hectares de terra.
Dessa forma, constitui-se uma nova dinâmica territorial voltada para a produção da dendeicultura, onde o lugar passa a receber ordens de fora, comandos exógenos fazem com que este lugar  se torne altamente dependente, além do mais, para tais comunidades, até então esquecidas pelo poder público o projeto da dendeicultura passa a ser apresentado pelo Estado como única política de desenvolvimento territorial para o meio rural capaz de gerar emprego, renda e inclusão social, fazendo com que as relações tidas entre eles e seu lugar ganhem outros sentidos, metamorfoseando seu modo de vida de lugar historicamente estruturados sobre um modo de vida camponês tradicional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A hipótese estruturadora deste trabalho nasceu a partir de observações feitas durante trabalhos de campo realizados com o grupo de pesquisa GDEA, onde tivemos a oportunidade de observar e analisar mais de perto as transformações ocorridas na microrregião de Tomé-açu, na Amazônia paraense. E como as comunidades localizadas próximas as empresas produtoras de dendê tem passado por um processo de ressignificação.
Assim como Nahum e Santos (2014), concebemos a dendeicultura como evento, que reorganiza a paisagem, a configuração espacial e a dinâmica social.  A partir disso emerge no lugar uma tendência a descampesinização, ou seja, a formação de um campo sem camponeses, metamorfoseando-os em trabalhadores para o capital, pois tornam-se assalariados das empresas ou em outros casos associam-se aos projetos de agricultura familiar. Diante disso, decidimos analisar mais de perto as metamorfoses no espaço de Tomé-açu, precisamente a vila Forquilha, posto que antes da instalação da Biopalma no município, a vila possuía uma dinâmica social diferente da existente hoje. Tendo como foco o trabalho, que se transformou no lugar assim como a lógica existente na vila, que tinha a terra como único meio para a sua reprodução de vida.
O trabalho tinha como característica a pluriatividade, a policultura, que eram desenvolvidas em unidades familiares, a família trabalhava coletivamente entre seus membros, a produção correspondia as necessidades locais. Relações camponesas com a terra em que prevalecia o uso sobre a posse, onde a paisagem era marcada pela ausência de sistemas técnicos, e a terra como a única forma de obtenção de renda. Essa relação com a terra era fruto de uma determinada situação geográfica, que se altera a partir do emergir da dendeicultura aos arredores da vila Forquilha.
O Estado, através de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da agroindústria do dendê, propõe os programas de produção do óleo de palma para o biodiesel como uma saída para incluir o agricultor familiar nessa cadeia produtiva. A ação estatal direciona investimentos em infraestrutura a fim de oferecer subsídios que permitam a instalação dos grandes projetos de produção da dendeicultura nos municípios paraenses. O capital privado e o mercado passam a ditar as regras ao lugar, metamorfoseando-o.
A Biopalma chega na região por volta do ano de 2009, mas as mudanças surgem muito antes, no momento em que os eventos começam a ser pensados, quando nasce a intencionalidade de realiza-lo, nesse momento os movimentos de compra e venda de terras se iniciam, terras estas que seriam utilizadas pela empresa para o plantio de dendê. Temos assim uma redução no número de fazendas, pois algumas delas foram absorvidas pelas empresas para serem usadas no plantio da dendeicultura, desencadeando a concentração de terras para a produção dessa monocultura.
Os trabalhos assalariados oferecidos pela Biopalma, e os sistemas de parceria na produção do dendê, correspondem a uma necessidade imposta à vila Forquilha. O cultivo da dendeicultura voltada à produção de biodiesel transforma as relações de trabalho no lugar, pois agora elas se dão voltadas a determinações globais, girando em torno do tempo global. O que muito difere da situação geográfica anterior.
A entrada das relações de trabalho assalariado (D-M-D'), com o morador da vila que não possui terra para plantar, na maioria dos casos ele é o imigrante que chegou em busca de novas oportunidades para se estabelecer no lugar. O emergir do circuito do capital comercial (M-D-M’), observado no sistema de parceria existente entre a empresa e o agricultor familiar. E o capital financeiro (D-D’), estabelecendo-se na presença do arrendamento, venda de terras as empresas de dendeicultura, garantem a vila Forquilha uma nova dinâmica social.
O crescimento populacional ocasionado pela expansão da dendeicultura no lugar, pois a instalação da empresa no município é fator de atração de jovens e adultos que se dirigem para lá buscando oportunidades de emprego, uma vez que a empresa tem como carro chefe a produção agrícola. Esse crescimento desordenado sofrido pela vila consequentemente desencadeia uma maior circulação de dinheiro e de pessoas, a vila se expande, sistemas de energia e telefonia são implantados.
Tais metamorfoses transformam a situação geográfica inicial, o campo era reflexo das relações de produção camponesa, após a instalação dos diversos sistemas técnicos que buscavam equipar o território para assim atrair investimentos. Posto que o desenvolvimento regional era a meta buscada, tais mudanças fizeram da Amazônia um palco para a criação de grandes projetos, deixando-a aberta ao capital privado e internacional, inaugurando nesse contexto o agrário.
Atendendo agora a lógica do global, as empresas e o mercado passam a controlar a produção da dendeicultura na vila, o trabalho torna-se individualizado, e a chegada de novas fontes de renda caracterizam o momento atual vivido pelos moradores. Com essa complexidade, convivem juntos o camponês, o latifundiário, o agricultor familiar, os assalariados rurais e o agronegócio. O estado através das instituições, do mercado, dos conglomerados nacionais e internacionais, estabelece-se compondo o que para nós agora é o rural.
As metamorfoses ocorridas no trabalho acarretam mudanças no modo de vida dos moradores da vila Forquilha, que estão diretamente relacionadas a reprodução da sua existência. A tríade terra, trabalho e família foi quebrada, quando se fala do trabalhador assalariado na empresa, este não é mais possuidor de terra, e seu salário passa a ser sua principal fonte de renda, e não mais o roçado antes realizado com sua família, ele perde a sua autonomia e tornase dependente da empresa. 
A pluriatividade vem sendo perdida, pois agora o ato de criar, cultivar e extrair tem dado lugar aos longos plantios de dendê, no caso dos agricultores que trabalham no sistema de parceria, além disso, a venda do dendê para a empresa a preço de mercado, vem refletir uma lógica totalmente exógena ao lugar, pois antes sua produção era comercializada a preço de custo, e o valor recebido servia para a reprodução de seu modo de vida. Essa relação muda, o dendê produzido por eles está inserido em uma cadeia produtiva cujo objetivo maior é a ampliação do capital.
Entendemos que em um movimento comum as transformações aconteceriam a longo prazo, porém a instalação das empresas próximas a vila vem quebrar a lógica existente nesses lugares, acelerando os processos, inserindo novas relações de trabalho. Nossa intenção aqui não é julgar se tais mudanças foram positivas ou negativas, isso cabe aos moradores definir, muito menos nomear os sujeitos ou defini-los. Os moradores da vila Forquilha continuarão sendo eles mesmos, tentamos a partir de investigação deixar que eles nos dissessem quem eles são, o que fazem, e como fazem. Nosso papel enquanto pesquisadores é mostrar qual a importância deles, e o seu papel na configuração espacial e dinâmica social do espaço agrário amazônico.
Os depoimentos e os dados contidos nesta pesquisa, acreditamos ser suficientes para apontarmos as metamorfoses ocorridas no trabalho na vila Forquilha, e como a situação geográfica 1 foi alterada a partir da instalação das empresas.  Ocorrendo uma diminuição no trabalho produtivo camponês, este deu lugar as novas formas de trabalho que adentraram o lugar. Evidenciamos em decorrência dessa diminuição um aumento no setor de comercio e serviços, que demonstrou ter se expandido, assim como a vila, tornando-se mais dinâmico.
Foi possível ver um aumento no trabalho assalariado, este consolidado pela oportunidade de ser contrato pelas empresas. Uma possibilidade que se impõe na vila e que além de ocasionar a chegada de uma gama de imigrantes em busca de emprego, fez o dinheiro tornar-se o elemento mediador nas relações de trabalho, pois agora o trabalhador vende sua força de trabalho como uma mercadoria a empresa.
O trabalho que antes se dava coletivamente passa a ser individual, a unidade familiar se desmembra no momento em que o pai e/ou os filhos transformam-se me assalariados rurais. Para as famílias que não mais possuem terra, e aos imigrantes a única forma de obter recursos a fim de reproduzir seu modo de vida é tornar-se um assalariado rural, onde a força de trabalho do indivíduo passa a ser seu único meio para a sobrevivência. 
Quanto as relações existentes entre o agricultor familiar e as empresas, vemos que a unidade familiar se transformou em um território usado pelo dendê, subordinando o agricultor familiar a lógica do mercado, que em alguns casos precisa contratar mão de obra de fora para a realização de suas colheitas, quer seja do dendê ou das demais culturas por ele produzidas. Ao incorporar-se a cadeia produtiva do dendê, o agricultor tem sua relação com a terra modificada, ele apenas passa a produzir uma mercadoria para o capital, que se utiliza dele para se reproduzir. 
A situação geográfica 2 conduz os moradores da vila forquilha a essa dinâmica social, e configuração espacial que determinam as formas de trabalho no lugar, uma vez que a existência e o trabalho se confundem em uma mesma síntese econômica e social, temos assim as transformações no modo de vida na vila. A habitação, o consumo e os deslocamentos alteram-se diante das novas formas de trabalho.
O trabalho cria e recria paisagens, a vila Forquilha tem sua paisagem modificada devida expansão do comércio, no número de moradias, a chegada dos sistemas de energia elétrica, estradas, telefonia, as extensas áreas de plantio da dendeicultura produzidos pela Biopalma e pela Galp. A nova configuração espacial da vila é geradora de problemas sociais antes só vividos na cidade, o aumento da violência, gravidez precoce, prostituição, tráfico de drogas, assassinatos, questões que revelam a mudança nas relações existentes no lugar.
A chegada do outro, que imigra afim de conseguir emprego, traz consigo diferentes formas de pensar, de se relacionar com o lugar, a diferença existente entre a oferta e a demanda de empregos gera um contingente de pessoas ociosas, que sem ocupação seguem o caminho da criminalidade, transformando a vila em lugar de tensões, onde a tranquilidade e harmonia das relações estão sendo perdidas. Diante disso, podemos perceber quão diversos podem são os impactos causados pelas metamorfoses no trabalho ocorridas na vila Forquilha.
A crítica que fazemos é quanto a presença ou ausência do Estado, das empresas que estão ali localizadas, das políticas públicas que propõem e dão condições para que o evento aconteça e que ao alcançarem sua realização entregam os territórios a disposição de multinacionais e internacionais. Vemos como um empreendimento pode impactar o meio rural, quando ele é pensado não considerando o lugar e seus moradores

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* Graduada em licenciatura e bacharelado em Geografia pela Universidade Federal do Pará - UFPA, Faculdade de Geografia e Cartografia. Concluiu Mestrado em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEO na UFPA, e faz parte do grupo de pesquisa “Dinâmicas Territoriais do Espaço Agrário na Amazônia” – GDEA.

Recibido: 28/12/2016 Aceptado: 24/03/2017 Publicado: Marzo de 2017

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