POTENCIALIDADES LOCAIS, TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CARIRI PARAIBANO

Luiz Gonzaga De Sousa

3.1.3 Uma radiografia para mudança

            Uma radiografia do Cariri Paraibano mostra alguns pontos que servem para um desenvolvimento local pela valorização das potencialidades do entorno via turismo, em termos de valor agregado, que indica o nível de vida da população, o grau de progresso da economia em todos os níveis e categorias sociais na extensão da microrregião; isto representado especificamente por municípios importantes como: Monteiro e Cabaceiras, como os mais significantes para as duas microrregiões do interior do Estado.
            A caracterização do Cariri paraibano, inicia-se pelos limites de tal microrregião onde predomina a bacia hidrográfica do Rio Paraíba, objetivamente com a Sub-bacia do Rio Taperoá, que possui uma extensão de 20.071,83 , a compreender entre as latitudes 6º51’31” e 8º26’21” Sul e as longitudes 34º48’35” e 37º2’15” a Oeste de Greenwich de acordo com a AESA (Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba, 2008).
A significância econômica dessa Bacia é que ela é a segunda maior do Estado da Paraíba com uma abrangência de 38% do território estadual e abrigava em sua extensão uma população de 1.828.178 habitantes, em 2008, cujo tamanho compreende um índice de 52% da sua população total como explica a AESA (Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba, 2008).
            Nos quadrantes do Cariri paraibano, o Rio Paraíba nasce na Serra Jabitacá, no Município de Monteiro, que possui a mais alta vertente originária do Pico da Bolandeira, a 1.079 metros de altitude e beneficia grande parte da economia da microrregião, a começar pela agricultura e pecuária e em menor escala a micro e/ou pequena indústria que ficam às suas margens como explica a Enciclopédia dos Municípios Paraibanos.
            No campo agrícola, a produção microrregional serve de subsistência para o agricultor e sua família; uma pequena parte vai ao mercado para conseguir dinheiro para suprir alguma necessidade extra-agricultura; conseqüentemente, uma produção em pequena escala e de qualidade incompatível para com um mercado competitivo.
            No que se refere à pecuária, essa atividade é um pouco mais expressiva, dadas as condições vocacionais da localização; assim como, a própria origem do soerguimento da microrregião, que foi um campo importante para a criação de gado e seus derivados, pelos seus primeiros habitantes.
            No comércio onde funcionam as relações de troca dos produtos locais e importados, cujo fim é satisfazer as necessidades tanto de compradores como de vendedores ativos na microrregião; pois, a produção interna possui pouca participação no mercado local, onde prevalece a importação bastante forte das cidades como Campina Grande, Arco Verde em Pernambuco e algumas cidades circunvizinhas.
            Um potencial importante para desenvolvimento do Cariri Partaibano, pode-se ter como referência a cidade de Monteiro, com a caprinocultura e ovinocultura, cujo grau de importância está entre um dos mais altos do nordeste e seus rebanhos também são um dos maiores da região nordestina, além de ter animais com alta qualidade genética e criadores renomados nacionalmente, todos criadores de animais PO (puro de origem).
            Tal como em outros municípios da microrregião, o desenvolvimento local em Monteiro aparece com as usinas de beneficiamento de leite, com os mesmos intuitos que as outras localidades, que já utilizam tal prática, como dinamizador da economia do entorno para a geração de emprego e renda para o município e circunvizinhança, com isso é gerado um bom nível de produção e de emprego no local.
            Em complemento, neste município também existem as incubadoras, que também estão em outras cidades, com o intuito de alavancar o desenvolvimento local com a incorporação dos desempregados e subempregados da localidade, assim como inserir os produtores locais nos mercados de todo o estado paraibano e circunvizinhança, com boa aceitação pelos agentes econômicos da localidade e isto pode ser executado pelo turismo.
            Outro ponto essencial para desenvolvimento local em Monteiro é a participação da Associação dos Artesãos de Monteiro (ASSOAM) com bastante criatividade artesanais, ao resgatar trabalhos do mundo europeu, de séculos passados, cujos antepassados legaram aos seus filhos, netos e bisnetos, como forma de sobrevivência, cujo mercado melhora com o turismo.
            O município de Monteiro brinda aos visitantes as mais deslumbrantes paisagens, os lajedos altos para rapel, escaladas e passeios por trilhas difíceis, bem como locas ou cavernas que existem no interior do município e isto aciona os pequenos negócios propiciando uma inserção da economia e sociedade para desenvolvimento local; aí estão: o povoado Catarina a 13 km, Zabé da loca a 18 km, distante da sede da cidade e as rendeiras da Associação dos Artesãos de Monteiro (ASSOAM) com grande atuação no local.
            Em Monteiro, nos finais de semana, em meses de alta estação como o caso do São João e São Pedro que recebe uma média de 85 mil visitantes e alguns outros eventos menores que congrega aproximadamente 60 mil pessoas, como as vaquejadas e as apresentações na Semana Santa com uma média de 35 mil visitantes, ao melhorar a auto-estima da população, para e busca de um desenvolvimento local pelo turismo.
Do mesmo modo em Cabaceiras, assim como em outros municípios, que convivem também com uma Caatinga arbustiva, típica das regiões mais áridas do nordeste, com seus cactos, arbustos e árvores típicas como o xique-xique, coroa de frade, juazeiro, umbuzeiro, jurema, e alguns outros tipos que podem ser convertido em desenvolvimento local. Em algum tempo do passado, os cactos não tinham expressão econômica, mas hoje já começam a ter valor comercial.
            Em tal município também existem as usinas de beneficiamento de leite, como já explicado, que possuem os mesmos propósitos dos outros municípios, isto significa dizer, dinamizar a sociedade e economia local para incorporar aqueles que se encontram fora do mercado de trabalho municipal e estadual, com grande sucesso em termos de ganhos sociais, portanto, desenvolvimento local.
            Outra potencialidade fundamental para desenvolvimento local é a inserção da mão-de-obra local abundante de maneira promissora, pois, Cabaceiras possui instalada a ARTEZA, cooperativa de artesãos, que facilita a compra de matérias-primas para produção e venda de seu produto final, cujo resultado é genuinamente de criatividade local das jovens e dos jovens artesãos do entorno.
            Essa cooperativa caracteriza o orgulho do Cabaceirense, em conjunto com outras da microrregião que dinamizam o local, acompanhada por algumas outras menores, tais como as das rendeiras e as que utilizam catemba de coco, barro, tecidos, que impulsionam uma forma cooperada de fomentar emprego, com 1.600 filiados e renda média para a população de R$ 720,00 per capita, especificamente com o envolvimento das mulheres do entorno.
            Ainda quanto à economia de Cabaceiras, assim como a de Gurjão, cidade próxima a 55 km; está a festa do Bode Rei, cuja economia local é bastante aquecida pelo fluxo médio de 55 mil turistas, que convergem para a localidade, numa ação direta envolvendo os pequenos negócios que surgem e os que já estão estabelecidos com sua atividade cotidiana.
            A economia do turismo toma corpo na dinâmica da economia da localidade, onde a oferta de lazer e festividades aquece o pequeno comerciante e o pujante mercado ofertador e consumidor de produtos do entorno, como o agropecuário, o dos pequenas transformação e beneficiamento e o de comércio e serviços como dinamizadores econômico e social, cujo desenvolvimento local pode ser fomentado.
            Um outro elemento importante em Cabaceiras é o sítio Pai Mateu, com as suas pedras gigantes em formatos excêntricos e místicos para os apreciadores de novidades, cuja presença é estimada em  75 mil visitantes por ano; consequentemente, uma estada no Hotel Fazendo do local, que é muito visitado pelos turísticos que demandam gastronomia típica da localidade, lazer e descanso.
            De acordo com a Secretaria do turismo local, de Cabaceiras, muitos outros empreendimentos são efetivados na cidade, cujo objetivo é iniciar em alguns momentos e incentivar em outros o turismo local, tais como: as festas de São João e São Pedro, a festa do Padroeiro, as caminhadas, prática de enduros com bicicletas, com Jeeps, com motocross, com jumentos; assim como, o futebol de final de semana com exposição da história do futebol local.
            Outro ponto importante é o Projeto Cooperar, de Boqueirão, que contempla 241 famílias, assim distribuídas: agroindústria de Derivados de Cactus, no Sitio Moita; apoio ao artesanato no Sitio Tabuado; sistema de abastecimento d’água singelo no Sitio Tanques / Tanque Comprido; sistema de abastecimento d’água singelo nos sítios Olho d’água e Roberto; sistema de abastecimento d’água singelo, no Sítio Mineiro; e apoio a caprinocultura nos Sítios Carcará / Urubu, com bons resultados, segundo alguns habitantes do local (Plano Diretor do Município, 2005).
            Ainda neste município está em execução o Projeto de Incubadoras, que dá origem, orienta e põe em execução atividades que se propõem a trabalhar as matérias-primas locais, conseqüentemente propicia emprego e renda para os habitantes locais e da circunvizinhança, com alguns resultados bastante promissores, já demonstrando eficiência.
            Como disponibilidade para desenvolvimento local verifica-se no município de Boqueirão o Pacto do Novo Cariri, que possui como meta uma dinamização na fabricação de produtos que dinamizam a pequena e média empresa local, assim como direcionam o Projeto para a produção de doces, de licor, de materiais de limpeza e algumas outras atividades que devem surgir da criatividade do pequeno ou micro empresário, cujos pequenos resultados já se mostram importantes.
            Não se deve esquecer a grande importância que possui o açude Epitácio Pessoa ao distribuir água para diversos municípios, inclusive Campina Grande e também serve de lazer nos finais de semana para a juventude da microrregião e adjacências (média de 550 visitantes por final de semana) e que também dinamiza a economia do local, com a produção de peixes e de tomates, com grande significado para o local e o estado paraibano.
Além do mais, em Boqueirão existe uma produção de redes para descanso (dormir) em em escala, mesmo tendo boa parte de arte individual, cujo montante de produção é de 150 mil peças por ano e emprega grande número de pessoas, com uma renda de no mínimo dois salários mínimos; pois existem também os agregados, que não possuem vinculação direta com os produtores, significa ganhos empresariais, que têm o turismo como alavancador deste setor.
            O município de Gurjão, quanto a sua economia é composta basicamente por atividades de pecuária, agricultura e pequeno comércio. A pecuária figura como a principal atividade econômica da extensão territorial. Destaca-se a criação de gado para corte e leiteiro e a caprino-ovinocultura, essa última apresentando um forte crescimento e se consolidando como vocação natural da localidade (Depoimento de comerciante, 2008).
            A pecuária, através da ovinocaprinocultura dinamiza-se o local tanto pela produção e comercialização, como pelo turismo que é acionado pela Festa do Bode na Rua, com intensa participação dos movimentos organizados; cujo evento acontece uma vez ao ano e tem a presença de uma média de 45 mil visitantes nessa temporada e com isto os pequenos negócios da circunvizinhança fluem para participar de tais vantagens comparativas locais e os spillovers (externalidades) formados.
            Este município contempla uma usina de beneficiamento de leite, que tem como objetivo aproveitar a produção da bacia leiteira da localidade para um melhoramento do produto e distribuição no comércio local; assim como, para outros municípios do entorno, cujo momento atende às escolas municipais e estaduais.
            Em Barra de Santana, por ser um município tipicamente rural, sua economia centra-se também na criação de caprinos e bovinos (principalmente na produção de leite). Como o clima do município é caracterizado por chuvas irregulares, a cultura do milho e do feijão (tradicionalmente cultivados no Cariri paraibano) pode ser considerada de pouca relevância comercial, mas utilizada para consumo das famílias.
            Na pecuária, torna-se mais comercial, uma fase importante do município, que é a produção do queijos de manteiga e de qualho, cuja produção vem crescendo bastante, caracterizando o território como a produção do melhor queijo da microrregião, em conjunto com Barra de São Miguel e Alcantil, que vendem no local para os municípios vizinhos e até mesmo para a Capital.
            No que respeita à cidade de Serra branca, a sua economia possui como fundamental basicamente a agricultura de subsistência e um fraco comércio. As principais culturas são milho e feijão. Na pecuária predomina a criação de caprinos e ovinos. O clima é do tipo semi-árido com chuvas ocasionais entre dezembro e março.
            O turismo também aparece neste Município, visto que inscrições rupestres são vistas com freqüência em muitos lajedos, que se encontram na extensão da localidade, não preenchida pela agricultura comercial, nem pela pecuária e tão pouco com a indústria de transformação, sem significância para o local, por ser micro e pequeno empreendimento.
Na microrregião como um todo a história do local é patente e uma experiência acumulada de grande valor, que desperta a curiosidade de grandes cientistas que acorrem ao local, pois, tais visitas melhoram o entorno, que dinamizam e impulsionam formas de desenvolvimento local, com a participação efetiva da população (empowerment) nas prioridades que crescem e progridem o local.
            A microrregião do Cariri paraibano possui todo um acervo de recursos naturais ou ambientais, humanos, culturais e históricos, que já são acionados para ganhos econômicos e sociais; assim como, o envolvimento da população economicamente ativa (empowerment), desempregada ou subempregada também participa desse processo de desenvolvimento local, com implantação de programas que deram certo em outros lugares (spillovers).
            Essa nova forma de conseguir um desenvolvimento local participativo, com poucos custos de transação, é o turismo que deve iniciar com uma organização pequena, mas com espaço para crescer de forma equilibrada pela deliberação de todos num planejamento que organize as prioridades desde os emergentes, aos necessários e exeqüíveis.

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