POTENCIALIDADES LOCAIS, TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CARIRI PARAIBANO

Luiz Gonzaga De Sousa

1.1 O PROBLEMA E A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

No Cariri paraibano, observa-se uma situação de atraso generalizado, devido a uma situação de caatinga ou semi-aridez, que provoca a seca; com carência de iniciativas locais para propiciarem condições de desenvolvimento local, visto que não há acesso generalizado aos recursos que alavancam o crescimento econômico e social, conseqüentemente, precisam se dinamizar formas alternativas de progresso no entorno, como disseram Autoridades locais consultadas em 2009.
            Em conversa com a população local, neste mesmo ano, verificou-se que a semi-aridez, ou caatinga, na microrregião é uma das causas da baixa qualidade de vida da população, pois ficou claro que os recursos disponíveis nessa localidade não são alocados para melhorar o local, de tal forma que: a má distribuição da água; a não conservação ou preservação dos animais, da terra, das florestas, do ser humano, das montanhas, das serras, dos lajedos gigantes; e, de alguns outros recursos, não são aproveitados eficientemente para transformação do local.
            Algumas Autoridades locais (2009) explicaram que, com a semi-aridez, a seca, quando chega a um nível insuportável para os habitantes, as autoridades implantam as “frentes de emergências”, que têm a finalidade de assegurar o nível de subsistência, até o próximo inverno, que é a alegria do caririseiro, cujo paliativo serve para conservação das estradas federais, estaduais e municipais; limpeza de açudes públicos, ou privados; e/ou outra forma de atenuação da situação do homem do campo, que é quem mais sofre com a desocupação e baixa produção.
            Com dados do SEI/IBGE (2008), no Cariri paraibano, o atraso é visto no baixo valor do Produto Interno Bruto (PIB) percapita de cada município; com dados de 2008, ver-se claramente, que os cinco maiores PIBs por habitante, estão em: Caturité com R$ 7.408,76 em primeiro lugar; em segundo, Parari com R$ 6.891,45; em seguida, Riacho de Santo Antonio com R$ 5.892,82; o município a seguir é Congo com R$ 5.862,29 e Boqueirão com R$ 5.338,76, cujo Estado é de R$ 6.865,98 e o País de R$ 15.989,75 a preços correntes. Estes dados não refletem detalhes importantes, para uma melhor compreensão do local.
            Para o ATLAS de Desenvolvimento Humano do Brasil (2005), o nível de atraso para o Cariri paraibano está também nos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), que em 1991, mostram que para o Cariri ocidental registra-se o mais alto nível de IDH em Sumé, com 0,573, e o pior índice é para São João do Tigre, com um indicador de 0,428. Já no ano 2000, está Serra Branca que apresentou o melhor valor calculado, um índice de 0,662, e o pior, foi São João do Tigre, com índice de 0,527, cujos municípios apresentam pouco diferencial.
Já em 1991, explica o ATLAS que, para o Cariri oriental, a localidade com o melhor índice de IDH foi Cabaceiras, com 0,580, e o pior, ficou com Riacho de Santo Antônio, com um índice de 0,454 em termos de valor calculado para o local. Para o ano 2000, o município com o melhor índice, continua sendo Cabaceiras, com 0,682; e o com o pior foi Barra de Santana, com 0,575.
            Neste mesmo ATLAS, para o Cariri ocidental com 17 municípios, observam-se os índices de IDH entre 0,200 a 0,350, com porcentagem de 35,3%; e entre 0,350 a 0,500 de 64,7% dos envolvidos, para o ano de 1991. Para o ano 2000, entre 0,200 a 0,350 não havia município; 88,2% ficaram no intervalo 0,350 a 0,500; e entre 0,500 a 0,650 ficaram 11,8%; assim, uma pequena melhora para a microrregião. Para o Cariri oriental com 12 municípios, para o ano de 1991, no intervalo entre 0,200 a 0,350 ficaram 25% dos municípios, e entre 0,350 a 0,500, 75%. Para o ano de 2000, o índice entre 0,350 a 0,500 foi de 75%, e entre 0,500 a 0,650 de 25% ao indicar uma forte melhora neste último intervalo.
De acordo com o ATLAS do PNUD/IPEA, os índices que medem o desenvolvimento humano nessas localidades são baixos, ao justificarem uma situação de atraso (intensidade de pobreza no ano 2000 variou entre 42,74 a 63,03 por município, como coloca o ATLAS); tal situação que essa microrregião carrega, é em virtude dos baixos níveis de investimento municipal, para dinamizar a economia, pois as potencialidades microrregionais continuam com sua subutilização, sem orientação suficiente como as usar, sem degradar a natureza e isso fragiliza a sobrevivência da população.
            No ATLAS de Desenvolvimento Humano no Brasil (2005) e o PNUD/IPEA (2003), verifica-se que, em um ambiente com fortes índices de pobreza, como é o caso do Cariri paraibano, verifica-se o aparecimento de uma estrutura vivencial, na qual o índice de analfabetismo oscila entre 50,73 a 76,06 pontos porcentuais. Também outro fator é o sistema habitacional que é precário, sem as mínimas condições de moradia. A rede de transportes é arcaica, sem renovação de frota. E a população vive com agricultura de subsistência, cuja tecnologia atrasada não provoca mudanças necessárias, para desenvolvimento local, como disse um agricultor do local.
            Como observado in loco (2009), o Cariri paraibano possui sua economia pautada exclusivamente na pequena agricultura, ou de subsistência, uma regular pecuária e bastante miúnças, obviamente com tecnologia repassada de pai para filhos, sem a ingerência de qualquer órgão de orientação apropriada para melhorar a produtividade e comercialização dos produtos gerados. Frente às informações do IBGE (2005), observou-se nos últimos cinco anos uma forte queda agrícola, tanto nas culturas permanentes como nas temporárias, devido a fatores climáticos e/ou falta de incentivos para dinamização do local.
            De acordo com o Censo Industrial da Paraíba (2008), a produção do setor de transformação, ou de beneficiamento, ainda é bastante fraca e artesanal, devido ao predomínio de indústria de fundo de quintal ou microempresa familiar, visto que, o que aparece nesse setor, são: fabriquetas de móveis, olarias informais, pequenas padarias, algumas indústrias de mineração ou outros pequenos empreendimentos, que surgiram de experiências de outros lugares (spillover/efeito demonstração), adaptadas por trabalhadores que aprenderam no dia-a-dia, que não dura muito tempo, sem contar que, em sua maioria, vive-se na informalidade.
            Como constado no local (2009), o setor de serviços no Cariri paraibano é um espelho da frágil atuação dos impulsionadores da economia, ao sobreviver de produtos gerados em lugares outros (spillovers), distantes ou não, do ambiente comercial. Esse setor serviços está composto pelo comércio, em sua maioria de pequenas mercearias conhecidas como bodegas, pequenas farmácias e drogarias, feiras livres, mercadinhos, e outros mais; os serviços propriamente ditos compreendem: trabalhos independentes, contadores práticos, cartórios, barbearias, costureiras e outros serviços necessários ao município.
            Como observado em 2009, nessa microrregião o processo de imitação a produtos da moda é muito comum, pelos que iam ou vão trabalhar no Centro Sul do país. Esse processo era, ou é repassado aos filhos, ou aos demais parentes, que são convidados a trabalhar nessa nova atividade que aprendeu no dia-a-dia da labuta profissional, ou com a curiosidade em demandar novidades. Não somente o setor de mecânica passava ou passa por essa automação, como também o de tecidos, de marcenaria, de construção civil, de eletrificação, ou outras maneiras de trabalho que se apresentavam e ainda sobrevivem no local.
            Em conversações no local, constatou-se que, o modus vivendi no Cariri paraibano está caracterizado por uma idiossincrasia conservadora, quanto à cultura, história, religião, experiência laboral e pelo seu baixo nível de renda, cuja situação reflete na economia e na sociedade, ao mostrar ao longo dos tempos, o atraso que acumulou e pode ser recuperado pela participação engajada e externalidades para o local, cujos grupos sociais excluídos necessitam de estratégias para se incorporarem, com vista a impulsionar uma melhora na qualidade de vida local.
O que se constatou também, em andanças pela microrregião (2008-09), foi uma utilização ineficiente dos recursos naturais, tais como: os açudes e os rios, as altas serras (inselberg), os grandes lajedos, a fauna e a flora diferentes, a história, e muitos outros elementos disponíveis que estão sem utilização econômica; ainda não incorporados ao processo de dinamização do capital social, como gerador de renda, embora existam alguns vislumbres de que aventureiros tenham efetivos benefícios desse ambiente aconchegante, sem qualquer retorno monetário para a localidade.
De acordo com diversos estudos sobre turismo no Cariri, verifica-se que, iniciam-se constantes visitações ao local, que podem se tornar turísticos, pois os recursos disponíveis, incluindo capital social, caracterizam-se como fontes de desenvolvimento, com expressivo valor turístico, visto como um potencial local, que ainda não foi eficientemente utilizado pela economia, como expressam algumas organizações do entorno.
Para a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001), esse setor, no campo internacional, mostrou um crescimento sustentável, a uma taxa média anual de 6,8%, passando de 25 milhões de chegadas, em 1950, para 697,8 milhões em 2000, resistindo às condições políticas e econômicas adversas, e se tornando uma das maiores indústrias do mundo, com faturamento de U$ 477,9 bilhões; pois, é um nicho mercadológico fundamental, para desenvolvimento local.
Para o SEBRAE (2009), o importante, é que se faz necessário abrir o mercado turístico paraibano, para aplicação dos recursos disponíveis e os incentivos existentes nesse campo, para se ter um maior envolvimento da oferta frente à procura, que cresce a uma taxa anual de 5,2%, ao atingir em 2002, um total de 42 milhões de turistas.
Em Jornal eletrônico do Turismo (2007), os ganhos que advém do turismo estão polarizados em João Pessoa e Campina Grande, cujo setor deverá chegar à cifra de R$ 30 milhões até 2007, com a captação de 85 eventos para essas cidades, cujo Cariri paraibano tem pouca ou nenhuma participação turística.
            Como se tem observado (2009), essa microrregião constitui um ambiente com problemas que dificultam o desenvolvimento local, ao se iniciar pelo nível de renda baixo que ainda persiste, em virtude de não haver alcançado uma produção em escala comercial competitiva, pois, isso caracteriza um atraso, que ainda se apresenta significante; tudo isto pode ser minorado, pela organização da população com as autoridades governamentais, em investir, ou incentivar a inserção dos recursos naturais no turismo para um desenvolvimento do entorno.
            Daí, pergunta-se: as potencialidades (incluindo o capital social) do Cariri paraibano, via estratégias turísticas, são propulsoras de desenvolvimento local?

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