BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




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O Monólogo de Camus

Nas contradições e inverossimilhanças de que provêm o mal -estar na leitura de L’Étranger, de Albert Camus, a análise do fato literário põe em relevo por baixo da conduta insensí-vel e indiferente de personagem a ocorrência daquele ele-mento do chamado romance psicológico designado por Proust como “o fundo extremo das nossas impressões autên-ticas”.

O desenvolvimento da abordagem esclarecedora de Sarraute mostra inicialmente que um romance ao qual a imagem do Homo Absurdus foi aplicada, como é o caso de L’Étranger, de Albert Camus, além de não excluir o elemento de fantasia característico do romance psicológi-co, pelo contrário o afirma e o exige.

Na seqüência vê-se que o modelo de Kafka não é mais do que somente uma das vias, talvez a mais estreita e longa já inaugurada por Dostoyevski.

Da mesma maneira, o esnobismo mundano de Proust repercutindo obsessivamente em todos os seus persona-gens, não passaria de uma variedade do procedimento de Dostoyevski, o qual, enfim, como se verá adiante vem a ser compreendido como não tendo absolutamente coisa alguma a ver com uma decepcionante e abstrata exposi-ção de motivos censurável, que tomaram equivocadamen-te como característica do romance psicológico.

Com efeito, pela abordagem personalista exercida por Nathalie Sarraute em seu ensaio de crítica nota-se na leitura de L’Étranger que o nada interior do personagem é-nos apresentado pelo procedimento clássico do monó-logo interior e não por uma narrativa exterior, como seria de esperar de um romance sob o modelo do Homo Absur-dus. O estrangeiro camuniano Meursault é em relação a ele mesmo como se outro o visse e falasse dele; “ele é tanto mais si quanto ele parece pensar menos, sentir menos, ser cada vez menos íntimo consigo” .

Revela-se “um homem cujos sentimentos e reações psicológicas que ele busca alcançar nele mesmo ele em si não os encontra: ele só encontra a visão absolutamen-te semelhante àquela que os outros podem ter de seus próprios comportamentos” •.

Analisando a cena do sepultamento da mãe de Mer-sault, nossa autora observa que, por um lado, acontece do personagem encontrar, nele mesmo, alguns dos pen-samentos fugidios, sombrios e tímidos descobertos na fantasia do romance psicológico como “deslizando com a rapidez furtiva dos peixes”, a saber: o pensamento do prazer que lhe proporciona uma bela tarde passada no campo; o pensamento do lamento do passeio que esse enterro lhe obrigou a faltar, ou a lembrança do que ele habitualmente fazia àquela hora matinal.

Por outro lado, em contrapartida, Sarraute sublinha que todo o sentimento ou pensamento tocando de perto ou de longe a sua mãe, inclusive o desgosto, parece ter sido radicalmente suprimido daquela consciência limpa e preservada: nenhuma lembrança envolvida nas impres-sões de infância; nenhum fio desses sentimentos que sentem escorregar neles os que se consideram bem pro-tegidos contra as emoções convencionais e as reminis-cências literárias.

Mas a análise do fato literário que nos oferece Sarraute a respeito do romance L’Étranger, de Camus, aprofunda as contradições e as inverossimilhanças de que provém o mal- estar provocado por esta obra.

Assim, se a consciência de Meursault trai um estado de anestesia comparável ao dos que padecem “os senti-mentos do vazio” e só conseguem pronunciar frases tais como “todos os meus sentimentos desapareceram...”; “as pessoas como as coisas, tudo me é indiferente...”; “posso fazer todos os atos, mas fazendo-os não tenho mais ale-gria nem pena...”; “sou uma estátua viva, me é impossível ter por alguma coisa uma sensação ou um sentimento...”.

Se conforme dizia tal personagem pode acomodar este discurso patológico do vazio, Meursault revela por outra via um refinamento do gosto, uma delicadeza rara que Sarraute aprecia no estilo em que ele se exprime diferen-ciando-o do herói gritão de Steinbeck nas seguintes falas monólogas: “ela inclinou sem sorrir sua face ossuda e a-longada...”; “eu estava um pouco perdido entre o céu azul e branco e a monotonia das cores preta viscosa do asfal-to espalhado, preta suave dos hábitos, preta laqueada do automóvel...”.

No mesmo diapasão Sarraute destaca a maneira poéti-ca de Meursault referindo-se aos jogos delicados de luz e sombra e as nuances cambiantes do céu; destaca que ele se lembra do sol transbordante que faz estremecer a pai-sagem bem como se lembra de um aroma de noite e de flores; destaca que ele ouve uma planta elevada lenta-mente como uma flor nascida do silêncio.

Mostrando os detalhes que retêm a atenção de Meur-sault, nossa autora põe em relevo o contraste entre, por um lado, a ingenuidade e a inconsciência dele ao revelar que o verdadeiro, o constante modo do homem é um “Eu não penso, Eu não tenho coisa alguma a pensar” e, por outro lado, o caráter esclarecido da advertência por ele afirmada de que todos os seres sãos desejaram mais ou menos a morte dos que amavam. Por tal advertência, Sarraute sustenta que a tal personagem acontece de lan-çar algumas pontes para as zonas interditas.


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