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A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




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A Análise Personalista

Retornando neste ponto à análise mais personalista de Nathalie Sarraute, tem-se que a ação ou elemento dramá-tico é caracterizado pelo conceito sociológico-literário essencial da fantasia, compreendendo os subterfúgios estranhos, os achados, os disfarces, os movimentos sutis mal perceptíveis, fugidios, contraditórios, evanescentes, movimentos dos frágeis temores, dos esboços de apelos tímidos e de recuos, das fugas, das sombras ligeiras que escorregam cujo jogo incessante constitui a trama invisí-vel de todas as colorações nas relações humanas, e o substrato mesmo que ocupa nossa vida.

Nessa autora, para quem o fato literário é acessível di-retamente à experiência do leitor, tomado este em sua ir-redutibilidade humana, a defesa do exemplo de Proust passa não só pelo resgate da arte de Dostoyevski, em fa-ce da supervalorização do modelo do romance de Kafka – o homo absurdus –, mas também passa pelo esclareci-mento das origens deste na obra daquele.

Na reflexão personalista é posta em questão e é refutada a proposição de que o romance do século XX não mais teria ligação com a idéia de Proust atribuindo um valor maior ao procedimento de busca de um fundo extremo onde reside nossa impressão autêntica.

Em tal abordagem, é posta em questão e vem a ser re-futada a proposição de que o romance do século XX não mais teria ligação com a idéia de Proust, que atribui um valor maior ao procedimento de busca de um fundo extremo onde reside nossa impressão autêntica.

Haveria uma crise do chamado romance com orienta-ção psicológica, cujo tipo estaria supostamente ultrapas-sado e impossibilitado de falar ao homem moderno, intei-ramente absorvido este na e pela civilização da maquina-ria.

A crença na imagem de um homem moderno identifi-cado à consecução de metas que não desejou e não compreende nega a possibilidade de que o romance seja elaborado com base em procedimentos de análise psico-lógica, a exemplo do monólogo interior de Proust.

A convicção voltada para buscar o fundo da nossa im-pressão autêntica, que houvera impulsionado o romanes-co proustiano, não mais encontraria referência no homem moderno, o qual então desmentiria a idéia de que existe um fundo para a impressão humana autêntica.

Segundo o modelo do Homo Absurdus, supostamente tratado na obra de Kafka, como excluindo toda a possibi-lidade de impressões em um sujeito humano, o homem moderno não seria coisa alguma d’outro senão o que dele aparece ao exterior.

Quer dizer, quando ele se abandona a ele mesmo, o torpor inexpressivo e a imobilidade de seu rosto não en-cobririam movimentos ou estados interiores, em modo tal que o tumulto do silêncio aparente, notado em sua alma pelos escritores do chamado romance psicológico, nada mais seria que somente silêncio.

Segundo Nathalie Sarraute, o enfoque pelo esquema do Homo Absurdus nos mostraria o substrato da consci-ência do homem moderno como trama ligeira de opini-ões convencionadas, recebidas como tais do grupo a que ele pertence.

Todavia, os clichês assim repetidos, por sua vez, eles mesmos encobririam um Nada profundo, uma quase au-sência de si mesmo.

Menos que uma tendência predominante nos temas li-terários levando a definir o romance como gênero, a au-sência seria notadamente um aspecto da imagem que resume o universo simbólico de Kafka quando tomado nas antípodas de Dostoyevski.

Mas não é tudo. Nesse enfoque pelo Homo Absurdus, o elemento psicológico da consciência, o foro íntimo, a inefável intimidade consigo, fonte de tantas decepções e penas deixa de existir.

Sob o aspecto mais sociológico, Sarraute observa que a crença nessa imagem absurda do homem moderno con-figurou também a expectativa de uma corrente de opinião. Projetava-se que o romance europeu tiraria proveito das novas técnicas do cinema e viesse a ser feito em maneira mais acessível, modesta, com a simplicidade do que nos anos cinqüenta chamou-se jovem romance americano . Isto é, com a redução do objeto literário ao elemento pu-ramente descritivo e uma narrativa exterior, sem proveni-ência nas impressões de um sujeito humano.

Será em vista de esclarecer a ingenuidade da expecta-tiva dessa corrente pró-cinema, que separava a união de autor, seus personagens e leitor, que Sarraute comenta-rá os procedimentos literários articulados por Dostoyevski ao construir seus personagens.

Nossa autora visa igualmente pôr em relevo a improcedên-cia da teoria do choque misterioso e salutar propalada à época, choque moral idealizado e atribuído a um projetado efeito pro-fundo no leitor – ou nas supostas regiões dispersas e sem con-trole de uma imaginária alma sensitiva.

"Efeito" esse que, em tal teoria do choque misterioso e salu-tar, resultaria de uma suposta força de penetração decorrente da opacidade mesma do universo simbólico desse tipo de ro-mance tido por novo. Desta forma, a presença do leitor seria re-duzida, contemplado ele por uma espécie de comoção emotiva permitindo-lhe apreender de um só golpe e como num clarão o objeto literário todo, inteiro.


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