BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

UMA LEITURA DA NÃO RELIGIÃO A PARTIR DA REFLEXÃO SOCIOLÓGICA CONTEMPORÂNEA: DA SECULARIZAÇÃO À (RE) DESCOBERTA DO SAGRADO NA SOCIEDADE

César Augusto Soares da Costa



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SEGUNDA PARTE- A RELIGIÃO E O RETORNO DO SAGRADO

Nesta segunda parte a nossa intenção é tratarmos das relações entre a religião e a pós-secularização vistas de maneira interligadas na reflexão sociológica contemporânea. Neste contexto, é possível situar algumas considerações sobre a relevância social da religião no mundo atual e seus questionamentos à razão moderna. Também se faz presente, a abordagem histórica-sociológica do universo religioso no contexto brasileiro e da relevância dos chamados Novos Movimentos Religiosos nos âmbitos acadêmicos e sociais, e que, por sua vez, oferecem margens que possibilitam a restituição social da religião no cenário denominado “pós-moderno” ou de retorno do sagrado.

2.1 Deus e a Dialética Iluminista

A chegada à modernidade leva-nos a um real reconhecimento da situação do homem diante de Deus. Ele nos faz saber que devemos viver como homens que se arranjam sem ele, pois com Deus e diante dele, vivemos sem ele! Essa perspectiva, situa os termos de uma dialética da ausência e da presença de Deus. Assim, é nesta ausência que surge o mistério de uma presença que a experiência dos totalitarismos, das atrocidades da guerra, das ambigüidades promovidas pela técnica, nos mostrou que a história da emancipação iluminista pode tornar-se trágica, frente as novas e mais cruéis alienações. Segundo Forte, “inicia-se uma autocrítica da crítica moderna, uma dialética do Iluminismo, que procura mostrar os limites da racionalidade, prisioneira de si mesma, que, de organizadora e manipuladora, com freqüência se torna organizada e manipulada ”. Enquanto isso, se esboça uma saudade do “totalmente outro”, redescobre-se a presença de um Deus que não concorre com o homem, antes disso, encontra-se a contradição do homem secular: com Deus e na presença de Deus, ele vive sem Deus.

A raiz dessa dialética do divino no mundo moderno deve ser procurada nos fatores que presidem o advento da modernidade e que caracteriza a tecnópolis: o maquinismo , a ciência e a ideologia . Portanto, diante da emancipação do homem, como se coloca tudo isso frente o problema de Deus? Na verdade, o discurso sobre Deus soa absurdo, vazio e não científico, onde a ideologia protesta contra um Deus que reduz o homem alienando-o do seu processo de libertação, à espera de um futuro prometido: a religião é o ópio que impele os oprimidos à resignação, e que os torna vítimas inertes e resignadas de seus senhores. Maquinismo, ciência e ideologia da emancipação parecem proclamar a morte de Deus. Mas é neste ponto, que se insinua a dúvida na consciência do homem moderno, onde os mestres da suspeita podem tornarem-se vítimas dos seus próprios discípulos! Consequentemente, nos próprios fatores que caracterizam a modernidade vêm delineando-se em meio a contradições e obscuridades, uma perturbação e uma espera que ilumine e dê sentido as contradições irredutíveis e insolúveis da realidade propostas pelo positivismo científico .

Logo, no tecido mais profundo dos fatores que presidem o advento da sociedade secular se delineia uma nova provocação com relação a Deus, emergindo a interrogação sobre o seu fundamento: o homem moderno e secular se reabre a possibilidade de falar de Deus. Constata-se a atual e presumível futura persistência da religião, não mais encontrada em experiência limitantes de qualquer ideologia reinante. Mas sim, numa possível abertura de consciência para a religião, donde se abstraem todas as filosofias, sejam elas tecnicistas ou absolutizantes que se revelam ainda mais prenhes de possíveis alienações. Sendo assim, dar este passo significa reconhecer o Totalmente Outro, confessar que a razão moderna não é tudo, abrindo-se a uma real consciência, onde nem o maquinismo, nem a ciência, muito menos as ideologias, conseguem conter a persistência do homem moderno em crise , em se reabrir para a religião.

Passemos a examinar de modo particular, o perfil do cenário religioso no Brasil.

2.1 O Universo religioso no Brasil

Uma ampla visão das mudanças recentes das religiões no Brasil, podemos procurá-la por diversos caminhos: histórico, teológico, sociológico. Sendo assim, preferimos este último, na perspectiva que ele nos ajude a compreender com mais profundidade este universo tão plural e heterogêneo do cenário religioso. Utilizaremos e esquema de Danielle Hervieu-Légier, que parece esclarecedor, e que pode ser aplicável a toda situação dos universos religiosos no país.

As mudanças no catolicismo nos últimos 50 anos, nos aponta para um processo de esvaziamento da dimensão institucional-comunitária . No Brasil e um pouco em todo mundo ocidental, predominantemente cristão, a religião passou de um predomínio da instituição para a primazia do indivíduo. Passou de uma orientação clara para Deus ou transcendência, para uma busca de soluções imediatas dos problemas humanos.

Podemos a partir desta situação, distinguir quatro etapas deste processo: a) Na primeira, a Igreja Católica e as outras denominações religiosas tradicionais se apresentam como uma sólida instituição tradicional, onde seus fiéis aceitam a autoridade destas igrejas para orientar a sua fé; b) na segunda etapa, o acento é afirmado sobre as comunidades relativamente pequenas de dimensão humana e de relacionamentos próximos entre as pessoas; c) na terceira, um indivíduo de uma pequena comunidade se isola e permanece isolado, dando mais um passo em direção ao individualismo. Segundo Antoniazzi, “o indivíduo procura orientar sua fé a partir do exemplo de um outro, que acredita ser mais experiente e sobretudo, mais autêntico em sua experiência religiosa. O indivíduo ainda olha para um outro, mas não sente a necessidade de partilhar a vida de um grupo. Basta-lhe seguir o exemplo ou encontrar inspiração no testemunho de uma pessoa ”. Tais experiências, reconhecem a Igreja como autoridade institucional, mas não a obedecem; d) na quarta etapa, o indivíduo procura a legitimação de sua fé, dentro de si mesmo. É o seu sentimento subjetivo que decide. Nesta etapa, “não há mais procura da comunidade, embora possa haver busca de experiências religiosas diversas, procuradas e adquiridas no mundo religioso como se este fosse um supermercado em que o cliente escolhe o que quer, e compra produtos de diversas marcas ”.

Conseqüentemente, o perfil religioso brasileiro não está marcado por grandes descobertas. No censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano 2000, ele aponta para um declínio do número de católicos no país, para um considerável crescimento das religiões evangélicas, logo o crescimento dos indivíduos que se consideram sem-religião , e por fim, para um significativo aumento de outras denominações religiosas. Segundo os dados do censo, o país possuía em 1991 cerca de 83,3% de católicos, em 2000 é de 73,8%. As denominações evangélicas , cresceram de 9,1% para 15,5%. As outras denominações religiosas (umbanda, budistas, espíritas, não-cristãs, etc ) cresceram de 2,4%, para 3,6%. E os que se denominam sem-religião, também aumentaram significativamente de 4,8% para 7,3%. Tal como os evangélicos, “foi nas últimas décadas que o grupo dos sem-religião passou a apresentar suas maiores taxas de crescimento ”, asseverou Pierucci. A par de uma oferta religiosa mais diversificada, estamos vendo formar-se no Brasil um contingente cada vez mais numeroso dos “sem-religião ou desfalcados” de toda e qualquer instituição religiosa.

Um outro aspecto que deve ser ressaltado, mas que não constitui propriamente uma nova forma (ou etapa) de adesão religiosa, sendo mais uma tendência transversal que pode reforçar as etapas que analisamos, “é o recurso ao testemunho de personalidades fortes, que parecem constituir uma referência segura na procura da verdade para expor sua experiência pessoal. O fenômeno é acentuado pelos mass-media, que exaltam poucas figuras conhecidas famosas ”. Entre os jovens, pode-se constatar uma enorme admiração por personalidades como a do papa João Paulo II, Madre Thereza de Calcutá, Dalai Lama e alguns líderes religiosos do momento. No entanto, é nula a confiança nas instituições religiosas, pois a aura que cerca estes heróis espirituais apontados, está em relação com a espetacularização da vida social promovida pela mídia .

Seguindo a trilha de nossa reflexão, abordaremos a seguir, a relevância dos novos movimentos religiosos na discussão atual.


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