O TURISMO RURAL: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Luziana da Silva Sousa

 

Importância Econômica do Turismo Rural

Como em toda atividade, o turismo no meio rural também possui aspectos positivos e negativos, ou seja, ele proporciona benefícios, mas também pode causar conseqüências que trazem problemas para a população local, O turismo rural propicia a valorização do ambiente onde está sendo explorado por sua capacidade de destacar a cultura e a diversidade natural de uma região, proporcionando a conservação e manutenção do patrimônio histórico, cultural e natural. Pode contribuir, neste sentido, para reorganização social e econômica local uma vez que proporciona benefícios diretos à população local que participa direta ou indiretamente das atividades relacionadas com o turismo.

Outra potencialidade inerente é a criação de mercado de consumo local para os ÇÇJ produtos de origem agrícola, oferecendo uma alternativa para complementar a renda das famílias rurais. Esse mercado pode ser explorado através de produtos característicos da região e que tenham qualidades diferenciadas em relação aos encontrados no comércio varejista tradicional. Como mostra SCHNEIDER E FIALHO (2000), um exemplo, já bem sucedido em várias iniciativas deste tipo, é a venda de produtos sem agrotóxicos que enfatizam as qualidades de consumo de alimentos naturais. Além disso, este tipo de produção, por requerer maiores tratos culturais e ocupar mais tempo de trabalho do agricultor, em geral, acaba se constituindo em um “nicho” cuja viabilidade se dá, em larga medida, embora não exclusivamente, em função dos preços mais altos pagos por consumidores de maior poder aquisitivo. Em um contexto onde se desenvolvem ações relacionadas ao turismo rural pode ocorrer uma aproximação quase direta entre o consumidor desses alimentos e o agricultor, o que favorece a ambos em termos dos preços praticados, que podem alcançar patamares mais razoáveis porque eliminam a fase de circulação das mercadorias.

A comunidade local, em geral, também é largamente beneficiada pelas iniciativas de expansão e consolidação do turismo no meio rural através da realização de obras de melhoria da infra-estrutura e pela criação ou aperfeiçoamento dos serviços oferecidos, tais como o saneamento básico, a pavimentação de estradas, o acesso às telecomunicações, a recuperação de áreas degradadas, a conservação de parques e reservas florestais, etc. (CAMPANHOLA e SILVA, 1999).

Segundo CAMPANHOLA e SILVA (1999), o aumento no fluxo de turistas em uma região que não está devidamente preparada para recebê-los pode causar danos ao meio ambiente como, por exemplo, no caso de uma pequena comunidade que não tenha rede de esgotos compatível com a população usuária (tanto a residente como os próprios visitantes). Neste caso, ocorre um aumento da poluição das águas pelo lançamento de dejetos nos rios, que em curto prazo de tempo pode, inclusive, provocar a redução das visitas de turistas em razão da degradação e da perda de atratividade.

Para SCHNEIDER e FIALHO (2000), pode-se dizer que em relação à comunidade local o turismo rural não sendo bem planejado, pode acarretar impactos negativos de várias formas. Em primeiro lugar, pode trazer a descaracterização da cultura local devido à modificação dos padrões de sociabilidade tradicionais decorrente da intensificação das relações mercantis e, sobretudo, pela ampliação da visão sócio-cultural dos mais jovens, que em muitos casos acabam se recusando a seguir as práticas culturais paternas como o folclore, a língua, etc. Em segundo lugar, a comunidade local é afetada pelo aumento do tráfego de pessoas e pela ampliação da mobilidade populacional, o que nem sempre pode ser agrada a todos.

Em terceiro, é notório que o turismo rural é seletivo em relação às áreas onde ocorre sua expansão. Assim, enquanto que em localidade esta atividade pode dinamizar a economia, em outras, no entanto, pode conduzir à depressão e à crise, acentuando os desequilíbrios regionais que acabam contrariando o próprio sentido da iniciativa. Uma quarta característica que poderia surgir com a expansão do turismo, seria o aumento da violência e do uso de drogas, típica de situações sociais de intensificação das relações humanas. Uma última conseqüência que pode ocorrer é o aumento do custo de vida das populações que residem permanentemente no local, especialmente os preços das atividades de prestação de serviços e do acesso à moradia.

Esses problemas podem causar fortes impactos sobre o ambiente local, embora possam ser contornados pela população local e pelo poder público através de intervenções conscientes e planejadas, devendo, portanto, ser recolhidas neste segmento como indicação de cautela e não de desestimulo.

Uma outra conseqüência da expansão do turismo rural em regiões com predomínio de pequenos produtores diz respeito a valorização das terras. Em momentos de expansão, muitos agricultores aproveitam a alta dos preços fundiários para venderem suas propriedades e migrar para trabalhar nas cidades. Entretanto, em função da seletividade do mercado de trabalho urbano, em poucos anos esses mesmos retirantes são forçados a voltar para o local de origem, mas não mais na condição de proprietários. Em um estudo sobre esta situação, TEIXEIRA (1998), constatou que na década de 80, em Friburgo no Rio de Janeiro, muitos dos ex-proprietários regressaram às suas terras para se empregar nas chácaras de recreio ou sítios de lazer, em que foram transformadas as propriedades, na condição de caseiros, auxiliares, vigilantes, pedreiros, etc.

Cabe ainda um último comentário sobre as possibilidades e efeitos do turismo rural em situações em que a população local beneficia-se muito pouco de sua introdução. De acordo com DIAS (2003:88), o turismo pode criar uma pressão muito grande sobre vários recursos locais, como a energia, o alimento e outros produtos que podem existir em quantidade suficiente para abastecer a população local. Um aumento da extração e transporte desses recursos aumenta os impactos associados com sua exploração. Devido ao caráter sazonal do turismo, muitas localidades têm um aumento excessivo no número de habitantes durante a alta estação em comparação com a baixa. Surge, portanto, uma alta demanda sobre os recursos locais para atender às expectativas que os turistas na maioria das vezes trazem (comida apropriada, água quente, potável, ar condicionado etc.).

Entre as categorias sociais que freqüentemente são as mais atingidas pelas influências negativas que o turismo rural pode trazer está o dos pequenos produtores rurais. No geral, devido à problemas de escala e acesso a recursos para reconversão ou integração, muitos agricultores familiares acabam encontrando dificuldades para participar do negócio turístico. É sabido que toda atividade comercial necessita, no início, de um investimento para poder participar do mercado criado pelo turismo. Mas os pequenos agricultores enfrentam obstáculos no acesso à programas de financiamento devido a falta de garantias para a tomada de crédito.

Outro fator limitador tem sido a incapacidade de vislumbrar a criação ou adequação de uma atividade ao turismo devido a sua tradição enraizada de agricultor. Além disso, a passagem muito rápida de uma atividade á outra, também pode se tornar prejudicial, pois alguns ingressantes na atividade turística optam por abandonar por completo a agricultura, ocasionando um aumento da dependência externa e no custo de vida familiar, sem mencionar a possibilidade de comprometer o abastecimento local de produtos agropecuários.

Assim, pode-se considerar essa atividade como sendo uma alternativa de desenvolvimento sustentável desde que haja a concepção e a implementação de ações integradas, necessitando da cooperação de vários agentes, pois o turismo rural não é uma atividade isolada.


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