O TURISMO RURAL: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Luziana da Silva Sousa

 

O Turismo e a Agricultura Familiar

De acordo com a EMBRATUR (1999), no contexto das atuais diretrizes econômicas e da política de emprego promovidas pelo Governo Federal, a dinâmica do processo de criação e ampliação das atividades de serviços do setor de turismo constitui-se meta prioritária.

O turismo é apontado mundialmente como a principal atividade econômica nos dias de hoje. Movimenta cinco bilhões de pessoas a cada ano. Emprega milhões de trabalhadores (um em cada 15 empregos em todo o mundo). Está destinado a crescer exponencialmente nas próximas décadas, favorecido pelo desenvolvimento dos transportes e da comunicação. (EIVIBRATUR: 1999)

Também no Brasil, o turismo é um setor em franca expansão, caracterizando-se pela quantidade e diversidade de produtos e serviços envolvidos, pelo impacto produzido sobre os mais variados setores da economia e pela capacidade de gerar postos de ocupação e renda — empregos diretos e indiretos, permanentes ou sazonais, no mercado formal e informal, principalmente na área de prestação de serviços.

Atualmente, esse setor participa com cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e é responsável por um volume de empregos que representa 9% da População Economicamente Ativa (PEA), com tendência a crescer, superando a média mundial de 10,6%. (EMBRATUR, 1999).

Dados econômicos apresentados em estudos realizados pela WTTC (World Tourist Travel Council), em 1997, indicam a importância do turismo no contexto brasileiro, enfatizando a correlação desse setor com outros 52 setores da economia nacional e, principalmente, a potencialidade e a participação das suas atividades no processo de integração econômico mundial. Dentre os dados apresentados, merecem destaque:

a Criação de empregos: seis milhões de pessoas, ou seja, um em cada 11 trabalhadores depende de forma direta ou indireta da atividade turística;

b. Faturamento na economia: US$ 45 bilhões são faturados peio setor anualmente, O Brasil representa 56 % do mercado sul americano;

c. Impostos arrecadados: US$ 7,9 bilhões, no ano;

d. Investimentos de capital: investimento anual de US$ 7,3 bilhões.

Nesse cenário socioeconômico em efervescência, um segmento vem crescendo de forma significativa no Brasil: o turismo no espaço rural. Ultrapassando as tradicionais fronteiras impostas pelo asfalto, o turismo no espaço rural está se consolidando, a cada dia, como uma alternativa de renda e ocupação produtiva para as famílias que moram no campo e nas pequenas e médias cidades do interior e que se dedicam a atividades agropecuárias.

Analisando os dados da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (PNAD), (SILVA, VILARINI-TO E DALE 1999, in: Almeida, Froehlich & Riedl, 2001:36), constatou que a renda média rural proveniente de atividades não-agrícolas foi, em 1990, 32% maior que a média da renda rural proveniente de atividades agropecuárias. Ao mesmo tempo observa que, de 1992 a 1995, as pessoas ocupadas em atividades não-agrícolas, no meio rural, aumentaram em cerca de 10% ao ano, destacando-se que em 1990, na região Sudeste, mais de 40% da população economicamente ativa da área rural já estava ocupada em atividades não-agrícolas. Este crescimento, segundo esses autores, está relacionado a empregos em prestações de serviços em atividades de lazer, moradia da classe média alta em condomínios, atividades ligadas à preservação do meio ambiente, ou mesmo profissionais liberais e pessoal de apoio para gestão de todo o tipo de empreendimento que se implanta no ainda chamado meio rural.

Dentre o leque de opções de atividades não-agrícolas voltadas para o meio rural, o turismo e o artesanato têm se mostrado possibilidades extraordinárias de diversificação produtiva e de agregação de renda para a família do agricultor e, o mais importante, dentro da propriedade, como reconhece SILVA.

as atividades associadas ao agroturismo -- como, por exemplo, a Fazenda-hotel (aqui diferenciada de hotel-fazenda), o pesque-pague, a fazenda de caça (com exemplos operando no Paraná, Rio Grande do Sul, entre outros), a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do campo — podem ser consideradas uma estratégia de diversificação produtiva das propriedades rurais no intuito de gerar rendas não- agrícolas para fazer frente à queda de rentabilidade dos seus negócios tradicionais, O importante é que são atividades internas à propriedade (on farm) que geram ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continuam afazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade. “(1999:32)

A tendência contemporânea da busca do novo, do diferente, do autêntico e do particular é uma realidade paradoxal ao processo de globalização em que vive a humanidade e que, por isso mesmo, representa uma vertente promissora para o desenvolvimento local sustentável, por meio do estímulo e do incentivo ao artesanato e ao turismo no espaço rural.

A atividade do turismo no espaço rural carrega uma série de valores e atributos como uso racional do meio ambiente; usos, tradições e costumes; e paisagem. Tais atributos garantem a melhoria das condições de vida das populações que exploram essa atividade e permitem, tanto ao território rural quanto a seus habitantes, absorver a perspectiva de consolidação econômica das unidades produtivas e de desenvolvimento local sem, no entanto, eliminar as atividades agrícolas consolidadas. Sua finalidade é, em síntese, integrar a prática e a produção de turismo no conjunto dos espaços físico, cultural e econômico, do meio rural, contribuindo para a humanização do viver (SILVA: 1999:33).

A abordagem inicial, feita a partir dos indicadores econômicos e da análise das mudanças conceituais, das categorias e critérios que vêm sendo sistematicamente estudados, quanto à compreensão do rural/urbano, da análise do território, do ambiente, dos elos emocionais dos cidadãos com as forças organizacionais, políticas e comunitárias da localidade, permite afirmar que as perspectivas de mudanças no espaço rural, suas formas de produção e a diversificação das atividades produtivas e de serviços, com ênfase nas atividades não-agrícolas (aqui particularizadas no turismo, como setor econômico complementar ao desenvolvimento local e como elemento de agregação de renda à unidade familiar), necessitam de estratégias e ações que efetivamente produzam impactos e benefícios coletivos progressistas e competitivos baseados na capacidade endógena da gestão.


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