O TURISMO RURAL: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Luziana da Silva Sousa

 

Pólos de Turismo no Espaço Rural Brasileiro

Uma das modalidades do turismo no espaço rural que tem se destacado no Brasil é o ecoturismo. Vale salientar que, com base no conceito de turismo rural que foi o assumido neste trabalho, o ecoturismo pode ou não fazer parte dele, a depender se ele ocorre dentro ou fora das propriedades agrícolas. Mesmo que o ecoturismo ocorra fora das propriedades rurais deve-se considerar que ele gera oportunidades de emprego aos membros dos pequenos produtores agropecuários, no que diz respeitos ao setor de prestação de serviços e no comércio, como visto anteriormente nas tabelas.

O turismo em áreas rurais tem sido pensado mais recentemente no Brasil como uma fonte adicional de geração de emprego e renda para famílias residentes no campo, à medida que vem decaindo a ocupação e as rendas provenientes das atividades agropecuárias tradicionais.

De acordo com a EMBRATUR (2004), desde o início dos anos 80, Lages, Santa Catarina, foi batizada de “Capital Nacional do Turismo Rural”, pois foi onde surgiram os primeiros empreendimentos turísticos rurais, em resposta às dificuldades financeiras enfrentadas por produtores rurais da região. Em um primeiro momento, a Fazenda Pedras Brancas, pioneira na atividade, recepcionava turistas ofertando algumas atividades lúdicas relacionadas ao cotidiano da zenda. Neste “dia de campo”, o visitante era recepcionado pela manhã, permanecendo até o anoitecer, participando da tosa das ovelhas, do plantio e da colheita. Outras iniciativas se multiplicaram rapidamente e, num segundo momento, fazendas como a do Barreiro e Boqueirão começaram a ofertar hospedagem, além do dia do campo.

No fim dos anos 80, em São Paulo, na região de Mococa, um grupo de proprietários se reuniu e construiu um produto turístico formado por antigas fazendas da região, ofertando cavalgadas, hospedagem e gastronomia típica. Tem-se notícia, em 1991, do primeiro empreendimento turístico no espaço rural mineiro, na Fazenda do Engenho, em Carrancas. Em 1993, o Turismo Rural passa a ser também desenvolvido em Lavras do Sul, no Rio Grande do Sul, propagando-se rapidamente pelo país.

O Rio Grande do Sul, um estado que prima pela preservação de suas tradições culturais, adotou uma política de desenvolvimento e fomento do Turismo Rural, que vem apoiando a atividade, criando rotas rurais com o objetivo de reunir propriedades e municípios próximos pela valorização do produto local (p.ex: uva e vinho) ou de uma característica marcante (p. ex: colonização italiana) e apoiando o surgimento das “fazendas pousadas”, na região pecuarista da Campanha Gaúcha. Santa Catarina, o berço das atividades turísticas nos espaços rurais no Brasil, possui leitos rurais, em sua grande maioria no Planalto Serrano e Vale do Itajaí, mas existem áreas de turismo rural espalhadas pelas demais regiões.

Neste estado, como mostra a EMBRATUR (2004)2 foi criada a ABRATUR (Associação Brasileira de Turismo Rural), inicialmente como associação representativa dos empreendedores do turismo de Lages-SC, hoje atuando em âmbito nacional. O Paraná, estado de grande beleza, encontra-se em plena fase de valorização e reconhecimento da realidade e cultura rural, apresenta programas como a Rota dos Tropeiros que leva o turista a reconhecer o caminho e as experiências vividas anteriormente por aqueles que foram desbravadores regionais.

Em São Paulo, o fortalecimento do turismo em áreas rurais, aconteceu depois do fim dos anos 90, mas, anteriormente já existiam alguns empreendimentos espalhados pelo Vale do Paraíba e na região de Mococa. Atualmente, é possível verificar atividades voltadas para o cotidiano do campo e em áreas de proteção ambiental. Em Sousas e Joaquim Egídio, em Campinas, ativaram-se projetos voltados para o reconhecimento pelos turistas do cotidiano agropecuário das propriedades nelas inseridas e em municípios, como Amparo, ‘tu, Bananal, São José do Barreiro, entre outras tantas, com belas e antigas fazendas, aptas para a implantação de programas de turismo. Minas Gerais é o estado brasileiro que detém o maior número de empreendimentos voltados para atividades turísticas no espaço rural, oferecendo um produto voltado para a tradição agropecuária, enriquecido pela arquitetura de suas antigas fazendas igrejas e monumentos, serras, cachoeiras e muitos outros atrativos que disponibilizam um grande número de opções (EMBRÀTUR: 2004).

Em diversos municípios, como Maria da Fé, Cruzília, Extrema, Santana dos Montes, Jaboticatubas, Tiradentes, Barbacena, Divinópolis, Itapecerica, Carandai, Congonhas, Ravena, Pedro Leopoldo, Itapeva e Delfim Moreira, podem ser encontrados vários empreendimentos, ofertando diferentes produtos turísticos tais como o cotidiano agropecuário, cavalgada ecológica, grandes empreendimentos voltados para lazer.

O Espírito Santo, um dos estados “mais turísticos do Brasil”, apresenta especial aptidão para as atividades turísticas no espaço rural voltadas para a valorização do cotidiano produtivo das propriedades agrícolas. De acordo com Silva e Campanhola (1999), um exemplo bastante interessante de agroturismo que se desenvolveu no Estado foi no município de Venda Nova do Imigrante, onde as atividades turísticas rurais agregam valor e valorizam a realidade local. Alguns agricultores começaram a receber visitas espontâneas dos turistas, que queriam conhecer suas propriedades, em sua maioria voltadas para a produção de café. Aos poucos foram, percebendo que havia oportunidades de ampliar o seu negócio e começaram a se organizar para isso. Com organização começou a haver maior interação com a hotelaria local, que passou a programar as visitas às propriedades agrícolas para seus hóspedes. Os turistas têm a oportunidade de acompanhar as atividades do cotidiano de uma propriedade agrícola, desde o plantio até a colheita dependendo da época da visita. Os turistas ainda podem provar e adquirir os produtos confeccionados na própria fazenda.

O Rio de Janeiro, estado que apresenta grande prática potencial para a atividade turística no espaço rural, graças à rica tradição regional, belezas naturais e arquitetônicas, propiciam ao turista momentos de descanso, lazer e reconhecimento do cotidiano das propriedades, principalmente nas regiões serranas, como no município Nova Friburgo na região serrana, em Vassouras entre outras tantas belas localidades do Estado (EMBRATIJR: 2004).

No Mato Grosso do Sul desenvolvem-se atividades voltadas à visitação ecológica e ambiental nas regiões próximas a Campo Grande e o Pantanal, em propriedades rurais particulares, que oferecem hospedagem, alimentação, programas de pesca, “tours” a cavalos ou de carro, safáris fotográficos, churrascos tipo pantaneiro e excursões pela mata.

O estado da Bahia vem promovendo alguns pianos de desenvolvimento regional. Entre eles, a “Rota do Cacau”, que congrega alguns municípios cacaueiros, com antigas fazendas de grande beleza e riqueza arquitetônica, proporcionando ao turista, hospedagem, alimentação, dia de campo e lazer. É possível reconhecer atividades turísticas no espaço rural, nas regiões de Ilhéus, Itabuna, Chapada Diamantina e na periferia de Salvador (EMBRATUR: 2004).

No Distrito Federal, no entorno de Brasília principalmente, existem restaurantes rurais e propriedades que oferecem ao turista a oportunidade de passar o dia na roça, conhecer o cotidiano produtivo e comprar os produtos regionais. Não se pode deixar de comentar a grande importância das atividades turísticas rurais em outros estados da federação tais como Pernambuco, Acre, Amapá, entre outros tantos, que estão despontando pela qualidade e diversidades de seus produtos turísticos rurais.

Silva e Campanhola (1999) mostram que dos 1287 municípios, existentes no Nordeste, atribui-se que 200 deles (11%) têm vocação turística nos critérios ou moldes da EMBRATUR a partir de atrativos naturais, culturais, folclores, artesanatos, manufaturas, e romarias sem se falar naqueles que podem ser objetos de turismo de aventuras, ecoturismo e agroturismo. Contribui, para tanto, a grande biodiversidade não somente de sua flora, mas também, da sua fauna que vai desde a hiléa amazônica, passando pelos babaçuais ou cocais, cerrados e campos sujos (de baixa e grande altitudes) matas: atlântica, serrana e de galerias, diferentes e especificas paisagens semi-áridas (carrasco, caatinga, seridó, etc).

Turismo rural, hotéis-fazenda, restaurantes, pesqueiros, a criação de aves raras ou animais de caça e aumento da produção de alimentos como doces e queijos finos são algumas das atividades de pequeno e médio porte responsáveis pelo surgimento das oportunidades no campo. Apenas no estado de São Paulo os pesqueiros empregam 10 mil trabalhadores. Em todo o país, as fazendas transformadas em hotéis representam 50 mil empregos diretos. Pedreiros, guias de turismo, motoristas, operadores de máquina, balconistas e garçons são outros profissionais requisitados e obtêm rendimentos mensais maiores que os conseguiriam nas grandes cidades.


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