Turismo e desenvolvimento local sustentável na Paraíba

Luziana da Silva Sousa


 

Possíveis contribuições do turismo rural no combate ao êxodo rural

Sendo um fenômeno não recente e resultante de intensas fases de transformação da estrutura econômica de um país, o êxodo rural apresenta-se como um processo desfavorável, para o campo e para a cidade, numa economia em expansão (CAMARGO, 1999). A intensa modernização agrícola tem contribuído para agravar esse mal. Com a industrialização do setor, novas tecnologias são criadas com o objetivo de minimizar o custo dos grandes empreendedores rurais com a mão-de-obra.

De acordo com Silva (2005), a força de trabalho da zona rural vem perdendo seu lugar para essa modernização, sendo substituída pelas máquinas, que por sua vez, proporcionam a esses empreendedores a diminuição de seu custo fixo, maximizando os lucros e aumentando a produção. Com a desvalorização de seu trabalho, a população rural migra para as cidades em busca de oportunidades de trabalho e melhores condições de vida.

Este processo, denominado de êxodo rural, é a saída de um grande número de pessoas das zonas rurais com destino aos grandes centros urbanos, por motivo de insatisfação econômica, social e até mesmo, em relação ao espaço em que se encontram. Silva (2005) ressalta que, como conseqüência desse quadro, surgem diversos aspectos negativos, tanto no campo quanto na cidade, tais como: aumento da delinqüência e da criminalidade, marginalidade social, proliferação das favelas, e outros tipos de habitação, desprovidos de qualquer requisito mínimo de higiene e conforto. Para as cidades, outro aspecto negativo é a urbanização. O aumento desordenado da população provoca, além dos males já citados, o alto índice de desemprego, pois, as indústrias quase sempre são incapazes de absorver toda mão-de-obra que para lá se deslocam.

As estatísticas mais recentes do Brasil rural revelam um paradoxo que interessa a toda a sociedade: o emprego de natureza agrícola definha em praticamente todo o país, mas a população residente no campo voltou a crescer ou, pelo menos, parou de cair. Esses sinais trocados sugerem que a dinâmica agrícola, embora fundamental, já não determina sozinha os rumos da demografia no campo. (Silva, 2001).

No entanto, já existem atividades que contribuem para a minimização do êxodo rural, oferecendo novas oportunidades de trabalho para a localidade, mantendo-os no campo. Uma dessas atividades e, talvez, a mais satisfatória, é a agregação do setor de prestação de serviços às atividades agropecuárias. Muitos empreendedores recorrem a essa alternativa com o objetivo de diversificar suas atividades, adquirindo uma nova fonte de renda, beneficiando também a localidade, visto que é necessário contar com a mão-de-obra local, já que a oferta de serviços não depende necessariamente da tecnologia das máquinas, mas sim, da qualificação pessoal (ZIMMERMANN, 1996).

Dentro deste setor, destaca-se o turismo, que segundo a Organização Mundial de Turismo – OMT (2003) é uma das atividades econômicas que mais cresce no mundo, tendo uma participação de cerca de 10% no PIB mundial. É um número bastante significativo diante das inúmeras atividades geradoras de receita.

Os benefícios do Turismo Rural são ressaltados pelo EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo), quando o mesmo diz que a atividade agrega valores a serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade (EMBRATUR, 2004). Através da implantação do Turismo Rural, se dá a junção de dois ramos diferentes, mas, com fins comuns, diversificando as atividades do campo, transformando-o em atrativo turístico que compõe, também, o cotidiano da localidade, seus costumes tradicionais, o ambiente natural, as instalações rústicas, entre outras que motivam o turista a procurar o meio rural.

O Turismo Rural também contribui para proporcionar bem-estar às famílias envolvidas com a atividade, fazendo com que os mesmos passem a sentir orgulho de sua origem e se conscientizem da preservação de seu patrimônio, que é enaltecido pelo turista, que procura o campo para satisfazer suas necessidades de lazer, interagindo com a comunidade local e com as atividades que são comuns aos residentes. O jeito simples e acolhedor do homem do campo também chamam a atenção do turista, ou mesmo, o desejo de resgatar sua cultura e sua origem, além de afastá-lo, por um determinado tempo, do tumulto e da poluição da cidade grande. (SILVA, 2001)

Eslebão (2000) também aborda que o Turismo Rural tem como função utilizar a mão-de-obra e os recursos locais. Além disso, é uma atividade que cria estratégias de proteção ambiental do espaço rural. Assim, garante a manutenção das famílias no campo, sem que as mesmas enfrentem a arriscada busca por trabalho nos grandes centros urbanos e, conseqüentemente, estimule a conservação das atividades agrícolas tradicionais.

O Turismo Rural também tem como vantagem a utilização da mão-de-obra já existente no local que vem da agricultura e da pecuária, daí a importância das capacitações, visando a qualificação desta mão-de-obra de acordo com as suas próprias necessidades e com o manejo da atividade. Com isso, o trabalhador rural poderá exercer outra atividade, sem que esta comprometa sua atividade principal, melhorando sua renda. Este processo chamado de pluriatividade é definido por Shneider e Fialho (2000, p. 28), como se tratando de “pessoas com domicílio rural que combinam o exercício de um trabalho principal, ou aquele considerado indispensável, com outras formas de ocupação ou obtenção de renda”.

Embora a pluriatividade seja um processo satisfatório onde, na maioria das vezes, as atividades não-agrícolas encontram-se, para as famílias, mais significativas que a atividade principal, isso não quer dizer que a agricultura deixará de ser importante. Ao contrário, segundo Shneider e Fialho (2000:26) isso pode estar indicando uma nova divisão espacial do trabalho, “que não mais se expressa na oposição conceitual tradicional entre rural e urbano”, muitas vezes sendo uma espécie de extensão antagônica entre campo e cidade. Sobre a relevância da geração de renda, Zimmermann (1996:28) coloca que “para o produtor rural (...), a partir do turismo rural passa, além de agregar valores aos seus produtos (...), a obter uma representativa receita”, valores estes que, na maioria dos casos, passam a ser bem, mais representativos do que as receitas da produção rural normal.

O Turismo Rural também contribui para a reafirmação e resgate dos valores culturais, gerando um desenvolvimento sustentável, que segundo a OMT (2003), é um processo que visa atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer que as gerações futuras também tenham a capacidade de garantir suas próprias necessidades. Portanto, com o Turismo Rural contribuindo para que a população local tenha uma melhor expectativa de vida, conseqüentemente o mesmo proporcionará a manutenção das famílias no campo, evitando o êxodo rural. São oportunidades de trabalho e de melhoria de vida que se apresentam como uma importante ferramenta para o crescimento social, espacial e econômico das localidades rurais.


Google
 
Web eumed.net

Volver al índice de Turismo e desenvolvimento local sustentável na Paraíba

Volver a "Libros Gratis de Economía"

Volver a la "Enciclopedia y Biblioteca de Economía EMVI"