Turismo e desenvolvimento local sustentável na Paraíba

Luziana da Silva Sousa


 

Turismo, meio rural e sustentabilidade.

A atividade turística, a partir da década de 70, passou a se preocupar mais com o meio ambiente e a maneira através da qual se pode explorar o turismo, de forma sustentável, que respeitem o potencial natural da localidade a ser desenvolvida turisticamente e a sua comunidade. Foi quando o termo “turismo verde” ou “turismo sustentável” começaram a ficar em evidência.

O meio rural deixou de ser sinônimo de agrícola e passou a ser o local de atividades que eram tipicamente urbanas. Segundo Baptista (1994) apud Basaldi (2001), o declínio do lugar da agricultura nas atividades e ocupações no espaço rural foi acompanhado pelo surgimento de funções não-agrícolas, tais como os aspectos ambientais e de proteção à natureza, o lazer e o turismo, a caça, a pesca e o acolhimento dos que aí pretendem viver temporária ou permanentemente. Segundo o autor, a procura por esses usos tende a aumentar e a questão que se coloca é saber quem se encarregará da oferta desses novos serviços no interior das sociedades rurais.

Cavaco (1996), com base no conceito de regeneração do rural utilizado por Leal (1995), propõe uma redefinição do papel que o meio rural deve desempenhar no conjunto da sociedade, uma vez resolvido o problema do abastecimento alimentar, função primordial que se atribuía no mundo ocidental aos espaços rurais. Estes se tornam sociais (e não privados em termos absolutos), assim reconhecidos pela sociedade, cuja preservação não é, todavia, objeto de remuneração, embora justifique empregos e melhore a qualidade de vida. Por isso, aquele autor (Leal, 1995) precisa que a definição de novas funções para o espaço rural, socialmente aceitos e criadores de oportunidades de emprego, é questão central nas novas estratégias de desenvolvimento rural.

O turismo no meio rural pode ser considerado como uma alternativa promissora para o aumento dos níveis de emprego e renda da população rural, devido não somente ao próprio setor, mas também às atividades relacionadas ao turismo, como é o caso do comércio e de outros serviços. Na realidade, toda a comunidade rural acaba se beneficiando das melhorias na infra-estrutura e nos serviços públicos que são trazidas pela implementação das atividades turísticas.

A comunidade local, em geral, também é largamente beneficiada pelas iniciativas de expansão e consolidação do turismo no meio rural através da realização de obras de melhoria da infra-estrutura e pela criação ou aperfeiçoamento dos serviços oferecidos, tais como o saneamento básico, a pavimentação de estradas, o acesso às telecomunicações, a recuperação de áreas degradadas, a conservação de parques e reservas florestais, etc. (SILVA, VILARINHO e DALE, 1998; CAMPANHOLA e SILVA, 1999).

O paradigma do desenvolvimento sustentável aplicado ao planejamento do turismo de natureza, atualmente, é considerado também, no planejamento com base no legado cultural (BARRETTO, 2000). Ciente disso, este estudo considera que a comunidade, principalmente a sua maioria marginalizada, precisa recuperar a auto-estima e dignidade para, assim, poder se engajar em propostas turísticas em torno das quais possam se mobilizar, em prol da recuperação/aquisição de renda mínima, da saúde e nutrição, da educação e capacitação técnica e dos valores culturais.

Encontra-se, na literatura especializada, diversos textos que discorrem sobre a sustentabilidade aplicada ao turismo, fomentando a discussão sobre a integração entre o uso turístico e preservação do meio ambiente e, alertando, ainda, sobre a responsabilidade social na instalação de empreendimentos, voltados não somente para o lucro, mas também para proporcionar a melhoria da qualidade de vida das populações fixas de núcleos receptores. (RUSCHMANN, 1997).

O relatório produzido pela Comissão Brundtland (Nosso Futuro Comum) apresentou pela primeira vez uma definição mais elaborada do conceito de “Desenvolvimento Sustentável”.

Procura estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza, como centro de um processo de desenvolvimento que deve satisfazer às necessidades e às aspirações humanas. Enfatiza que a pobreza é incompatível com o desenvolvimento sustentável e indica a necessidade de que a política ambiental seja parte do processo de desenvolvimento e não mais uma responsabilidade setorial fragmentada. (DIAS, 2003:41)

Desenvolvimento sustentável não é apenas um estado de harmonia, mas um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras (ALMEIDA e BLOS, 1997). Este conceito parece dar a idéia de uma busca de integração sistêmica entre diferentes níveis da vida social, ou seja, entre a exploração dos recursos naturais, o desenvolvimento tecnológico e a mudança social. Entretanto, há ainda uma dúvida em relação a qual ator/agente caberia definir parâmetros valorativos e políticos capazes de nortear essa integração (SCHMITT, 1995 citado por ALMEIDA e BLOS, 1997)

O mundo rural tem sido sujeito a várias mudanças de índole demográfica, social e econômica nas últimas décadas. Mudanças que se relacionam principalmente com a abertura do mercado nacional ao exterior e com o inerente aumento da competitividade no mercado, com a evolução dos centros urbanos e industrialização, induzindo a migração e emigração da população rural para os pólos urbanos, onde se concentram importantes recursos econômicos. (DIAS, 2003:42)

Outro fator que, de igual forma, contribui para este fenômeno está relacionado com as pressões induzidas nas áreas agrícolas, essencialmente provocadas pela Política Agrícola Comum que tende a favorecer as grandes explorações agrícolas em detrimento dos pequenos agricultores. (CABRAL, 2003)

Entretanto, e após um período de marginalização, o mundo rural entra numa fase de redescoberta pela população urbana, que de uma forma crescente procura locais de desafogo a um cotidiano urbano cada vez mais exigente, procurando adquirir bens que só estas áreas proporcionam.

Daí, Cabral (2003) enfatiza o surgimento de uma série de estratégias, ligadas a esta nova demanda, que devem ser encaradas de forma integrada. É crucial desenvolver novas atividades de ordem econômica, social e ambiental que fortaleça o tecido produtivo das regiões mais desfavorecidas. Torna-se também fundamental que a população rural esteja envolvida neste processo e que seja beneficiária direta destas estratégias.

A tendência contemporânea da busca do novo, do diferente, do autêntico e do particular é uma realidade paradoxal ao processo de globalização em que vive a humanidade e que, por isso mesmo, representa uma vertente promissora para o desenvolvimento local sustentável, por meio do estímulo e do incentivo a atividades artesanais ligadas ao turismo, entre outras.

São assim fomentadas atividades ligadas ao recreio e lazer, bem como a conservação de tradições culturais e ambientais. É neste contexto que o turismo é encarado como base de grande potencial no desenvolvimento rural local, através da criação de novos postos de emprego, induzindo o desenvolvimento de outras atividades e valorizando recursos locais.

Silva e Grossi (1999) afirmam que o meio rural tem se valorizado a partir de atividades não-agrícolas derivadas da crescente urbanização do meio rural (moradia, turismo, lazer e prestação de serviços) e com as atividades decorrentes da preservação do meio ambiente, além de um outro conjunto de busca de "nichos de mercado" muito específicos para sua inserção econômica.

O turismo, no entanto, deve ser fomentada como atividade complementar, de forma a se obter um desenvolvimento sustentável das áreas rurais, evitando situações de sobre exploração de recursos e de perda de originalidade e autenticidade dos locais visitados.

Para Ruchmann (2001), o conceito de turismo ligado a sustentabilidade foi desenvolvido para evitar os riscos que a condução inadequada da atividade pode provocar no meio ambiente e rural. O turismo sustentável, segundo especialistas como Krippendorf (1988) apud Ruchmann (2001), é vista como a perfeita triangulação entre as destinações (seus habitat e habitantes), os turistas e os prestadores de facilidades para os visitantes.

Torna-se um grande desafio, para capacidade das forças sociais envolvidas na luta por novas formas, fazer o desenvolvimento sustentável rural referente à reintegração dos múltiplos usos da terra que melhor respondam à noção de sustentabilidade e às necessidades locais, regionais e nacionais. Para Almeida e Blos (1997), estes esforços não têm sido promissores, o que se constitua em um desafio para aqueles que estão empenhados na busca do desenvolvimento sustentável.

Segundo Ruschmann (2001), a atividade turística no meio rural deve ter como objetivo a sustentabilidade que, na opinião da autora, implica em saber administrar os ambientes, os recursos e as comunidades receptoras, a fim de atender as necessidades econômicas e sociais, preservando a integridade cultural, ecológica e ambiental, para que possam ser desfrutadas pelas gerações futuras. A autora, salienta ainda que para a atividade turística ser sustentável depende da preservação do meio ambiente natural, da integração da cultura com os espaços sociais da comunidade com o turismo, sem causar transformação nos hábitos e tradições característicos da região. Deve também proporcionar a distribuição eqüitativa dos benefícios da atividade entre a comunidade e os visitantes, gerando o aumento do nível de bem-estar para ambos.

Tendo em vista o caráter sustentável, o turismo rural (organizado e qualificado), que valoriza o meio ambiente e a cultura local, torna-se uma opção para o desenvolvimento rural, contemplando os setores econômicos capazes de criar atividades comerciais alternativas, com o objetivo de proporcionar a manutenção da população nos seus locais de origem. Assim, o turismo rural apresenta a possibilidade de gerar empregos num curto espaço de tempo e a um custo razoavelmente baixo, se comparado aos demais setores econômicos, especialmente os de extração urbana (SILVA, VILARINHO e DALE, 1998).


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