Turismo e desenvolvimento local sustentável na Paraíba

Luziana da Silva Sousa


 

Desenvolvimento local e o Turismo

Desenvolvimento local tem sido uma temática bastante falada no Brasil nos últimos anos. È uma temática que vem ganhando relevância, suscitando discussões, reflexões e novas práticas e posturas no processo de desenvolvimento em todo o mundo. O local (re)surge impulsionado pela globalização, que se nutre das especificidades locais, apontando para um novo papel a ser desempenhado pelos territórios locais, a partir de suas potencialidades e identidades. A hegemonização das políticas neoliberais e a emergência de um novo paradigma de acumulação encontram na escala local a flexibilidade necessária para sua reprodução. (ZAPATA, 2004)

Segundo Coriolano (1998:24), o desenvolvimento local significa, acima de tudo, um desenvolvimento em escala humana, atendendo às demandas sociais. Nele, o homem passa a ser a medida de todas as coisas e não apenas os índices quantitativos e o lucro.

Paradoxalmente, o local serve de inspiração para (re)orientar a ação de um conjunto de atores sociais que encontram nele o espaço para desenvolver novos arranjos socioeconômicos, focados na busca da sustentabilidade, a partir de estratégias alternativas de desenvolvimento produtivo do território, construindo espaços de formulação e gestão públicas, desenvolvendo uma cidadania mais participativa e a reconstrução do tecido social sob novas bases.(ZAPATA, 2004)

Para Barqueiro (1999) apud Zapata (2004), o conceito de desenvolvimento local se apóia na idéia de que as localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além de economias de escala não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento. A existência de um sistema produtivo capaz de gerar rendimentos crescentes, mediante a utilização dos recursos disponíveis e a introdução de inovações, garante a criação de riqueza e a melhoria do bem-estar da população local.

Zapata (2004) ainda explica que o desenvolvimento local é um processo em que o social se integra ao econômico. A estratégia de desenvolvimento endógeno ou desenvolvimento local se propõe a, além de desenvolver os aspectos produtivos, potencializar as dimensões sociais, culturais, ambientais e político-institucionais que constroem o bem-estar da sociedade.

Como um dos fenômenos marcantes da atualidade, o turismo é uma das mais vigorosas atividades econômicas mundiais, principalmente o setor de serviços, sendo considerado um dos três lideres mundiais em produtividade, com conseqüente ampliação da oferta de emprego e geração de renda. Entretanto, seu desenvolvimento sempre esteve pautado no mesmo molde de qualquer outra atividade humana – o enfoque econômico. Enquanto o turismo pode contribuir sensivelmente para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de amplas regiões, tem, ao mesmo tempo, o potencial para degradar o ambiente natural, as estruturas sociais e a herança cultural dos povos.

Desde uma dezena de anos, o turismo dito de massa sufoca-se e a sua crise parece irremediável. Constata-se que o “fordismo turístico” não está mais variando totalmente com a evolução das necessidades do mercado. A demanda de serviços turísticos tornou-se mais exigente, variada e se foca cada vez mais sobre a qualidade e as necessidades incindindo sobre a cultura e o ambiente. Assim, no vasto mercado turístico, a qualidade global dos lugares “inscreve-se inegavelmente como uma entrada importante”. (B. Zuindeau, 1997 apud PAVOT E ZAOUAL, 199-). 1

A variedade do turismo (cultural, natureza, arquitetura, desporto e lazer etc.) conhece uma forte expansão. O "turismo verde", por exemplo, é objeto de um vivo sucesso, um fenômeno que não escapou aos observadores da evolução da sociedade e as novas necessidades que apresenta.

Para Xavier (1999), a economia pós-industrial vem sendo caracterizada pela predominância das atividades de serviços, além da automação nas indústrias, da informatização dos processos burocráticos e de uma busca incessante da natureza. Amplia-se o período dedicado ao tempo-livre. Surgem novos paradigmas e novos valores são incorporados à sociedade pós-moderna.

Muitas dessas transformações vêm ressaltar a importância do turismo na sociedade pós-moderna. Criam-se necessidades de fuga ao cotidiano, à procura de lugares mais saudáveis e de um contato mais estreito com a natureza. O lazer e, em especial, as viagens são incorporadas à vida dos homens, como necessidades fisiológicas para a reprodução de energia física e mental. (XAVIER, 1999)

O turismo é o setor da economia que mais cresce na atualidade, já tendo atingido o status de principal atividade econômica no mundo. Superou setores tradicionais como a indústria automobilística, a eletrônica e a petrolífera. É um setor que tende a crescer 7,5% ao ano nos próximos 10 anos. Movimenta cerca de US$3,4 trilhões (10,9% do PIB mundial) e emprega 204 milhões de pessoas (10% da força de trabalho global), além de possuir um número incalculável de atividades correlatas, segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC).2

Segundo Fullana e Ayuso apud Dias (2003:10), uma característica turística importante é que, diferentemente

da indústria produtiva ou outras indústrias de serviços, não administra a maioria dos produtos e experiências que vende. No lugar dela, os gestores turísticos transportam os indivíduos para que conheçam os traços naturais, as atrações culturais e os estilos de vida de um destino turístico.

Seguindo as linhas gerais do capitalismo, o turismo se expande subordinando-se aos grandes centros de decisão da economia. Modernamente, o turismo se organiza em forma de “clusters”, constituindo aglomerações geográficas de empresas com equipamentos, serviços de qualidade e excelência de gestão, competindo com os grandes mercados. (DIAS, 2003:14)

Entretanto, segundo os registros da OMT apud Xavier (1999), em nível global, a atividade turística ligada aos grandes centros representou cerca de 90% em 1990. Todavia, apresentou uma considerável queda, passando para apenas 60% no ano 2000. Ressalta-se que esses dados indicam a possibilidade da expansão de formas alternativas de desenvolvimento, a exemplo do desenvolvimento local que, valorizando o município, constitui uma via mais coerente para o envolvimento de uma comunidade com o turismo.

A concepção de estratégias de desenvolvimento local pelo turismo encontra-se no nível de micro-regiões, de pequenos territórios, de cidades pequenas e médias ou mesmo de vilas e povoados onde são fortemente sentidas as mediocridades de condições de vida, traduzidas no êxodo e na pobreza. (RODRIGUES, 1997).

Nas regiões carentes ou estagnadas são acatadas as atividades turísticas com vistas à correção dos desníveis de desenvolvimento, na expectativa de que elas possam proporcionar um aumento na geração de renda e de empregos e, conseqüentemente, na melhoria da qualidade de vida da população.

Benevides (1996) postula que o turismo com base no desenvolvimento local se contrapõe ao modelo dominante em vários países, como é o caso do Brasil, conectado com o processo de globalização e que acarreta tendências ambientais degradantes. Segundo esse autor, a manutenção da identidade cultural dos lugares constitui uma via mais democrática de desenvolvimento e acarreta tendências ambientais menos degradantes. Ressalte-se, ainda, que a manutenção da identidade cultural dos lugares, tendo na comunidade os atores do processo, favorece o estabelecimento de pequenas operações com baixos efeitos impactantes de investimentos.

No mesmo sentido, Portuguez (1999), ao tratar de turismo e desenvolvimento local, comenta que os modelos tradicionais de acumulação não se incomodam com os custos sociais e ambientais. Nesse sentido, destaca que o turismo não necessariamente rompe com o ideal de acumular rendimentos, mas, considera a conservação ambiental, a salvaguarda do patrimônio e a manutenção das peculiaridades culturais de cada coletividade.

Para Cavaco (1996), o turismo ligado ao desenvolvimento local se assenta na revitalização e na diversificação da economia. Possui plena capacidade de fixar e atrair a população com êxito no sentido de assegurar melhores condições de vida. Apresenta, também, considerável êxito na valorização da produção de produtos agrícolas, além de favorecer os planos de desenvolvimento do artesanato e de outras atividades ligadas ao turismo e à cultura, a exemplo das feiras e festas tradicionais e populares.

Cavaco (1996) ainda destaca que os modelos de crescimento apresentam fundamentos essencialmente quantitativos dos fatores de produção, tais como os recursos naturais, a mão-de-obra, o capital e a tecnologia. Fundamentam-se também nos efeitos da aglomeração da produção e de sua proximidade dos mercados. Diante disso, acrescenta que ficam marginalizadas muitas questões ligadas às condições sociais, culturais e ambientais.

Além disso, tais modelos têm, por vezes, gerado efeitos negativos do próprio crescimento, a exemplo da externalização e socialização dos custos ambientais, como o uso intensivo dos recursos naturais que levam aos limites da sustentabilidade, ocasionando o desemprego, a violência e a pobreza. Portanto, é sugerido por Cavaco (1996) formas alternativas de turismo que possam estimular a implantação de pequenas e médias empresas e manutenção de unidades artesanais de produção de bens e serviços.

Ao lado de tudo isso, particularmente, são lembrados dois fatos, resultantes das grandes transformações deste final de século e que sobremaneira refletem na valorização do potencial dos lugares: o retorno à natureza e a revalorização dos aspectos culturais.

A revolução industrial estimulou o crescimento das cidades em todo o mundo. Os grandes complexos urbanos industriais significaram uma verdadeira prisão para os homens. Como conseqüências, resultaram crises que conduziram a situações de fadigas, como o estresse urbano. Como resultado, as pessoas se deslocam à procura da liberdade, de lugares onde possam usufruir um espaço natural com paisagens menos modificadas. Tal situação vem proporcionar a valorização das segundas residências e, especialmente, do turismo orientado pela natureza. A natureza oferece locais para contemplação, para aventura, para esportes ao ar livre e para as pesquisas. (RODRIGUES, 1997)

Grande parte dos municípios brasileiros possui atrativos que justificam a vocação para o turismo. O turismo, de um modo geral, é defendido pelos economistas como uma atividade rentável e ressaltado por estudiosos como benéfico – no que diz respeito à melhoria da infra-estrutura urbana e de acessos, geração de rendas, de impostos e de empregos, geração de divisas, reativação de certas atividades econômicas e enriquecimento cultural. Por isso, a maioria dos prefeitos dos mais de 5 mil municípios existentes no Brasil o inclui em suas propostas de governo como motor de desenvolvimento socioeconômico. (DIAS, 2003:30).

Um aspecto importante que se registra, de acordo com Passos (2002), é o redespertar dos valores culturais, valorizando as manifestações antropológicas, religiosas, artísticas, folclóricas, artesanais e históricas. O significado de patrimônio cultural é muito amplo, pois inclui produtos do sentir, do pensar e do agir humanos.

A importância do turismo orientado pelos valores culturais se reflete pelo valor para o conhecimento de uma região, de uma época ou de um estilo de vida através do valor simbólico e representativo de uma coletividade, assim como das manifestações folclóricas e da arte popular. (DIAS, 2003:33)

Além dessas considerações, que se traduzem no valor do turismo local, surge outro aspecto de extrema relevância: o envolvimento da comunidade. A comunidade local tem oportunidades de envolvimento em todas as fases do processo de implementação do turismo, bem como na tomada de decisão sobre o planejamento. Portanto, considera-se de fundamental importância a participação comunitária nos processos de inventário e no planejamento, em nível municipal.

Tanto a criação de mercado para os produtos agrícolas como a valorização das características naturais e culturais e a melhoria da infra-estrutura para receber os turistas, ampliam o mercado local para absorção de mão-de-obra, que pode ocorrer tanto em atividades internas às propriedades rurais como externas. Neste sentido, Campanhola e Silva (1999) salientam que se a atividade turística não for planejada e fiscalizada pela população e pelo poder público local, ela pode acarretar impactos indesejados sobre o meio ambiente, sobre a economia e a sociedade local.

A atividade turística caracteriza-se, como forte fenômeno em expansão, capaz de provocar alterações generalizadas no modo de como as pessoas vêem o mundo e com ele se relacionam. A palavra chave para o deslanche do setor na era global é a sustentabilidade, que tem como meta a implantação de projetos estratégicos que assegurem a viabilidade em longo prazo e reconheçam a necessidade de desenvolver políticas conducentes à conservação da natureza em geral e dos seus valores naturais e culturais, bem como o estímulo do desenvolvimento sócio-econômico das suas populações que permitam uma efetiva implantação do turismo sustentável.

Assim, podemos dizer que o turismo pode se transformar em uma significativa fonte de renda para o município, desde que se invista em recursos, partindo da divulgação e da promoção de eventos e chegando até a melhoria e a ampliação de infra-estruturas destinadas ao turismo. Também pode-se observar que deve haver maior empenho das administrações municipais no incentivo de estratégias de propaganda, juntamente com o comércio local, para promover o turismo na região.

Para tanto, a busca do equilíbrio necessário para o progresso harmônico da atividade turística contribui para a fixação do homem em sua própria comunidade, beneficia a conservação, a valorização e proteção de seu patrimônio histórico e cultural, auxiliando na divulgação de sua identidade. (CARESSATO, 2003)


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