Comportamento & Moral

Luiz Gonzaga de Sousa
 

 

LIVRO DOS ESPÍRITOS - 140 ANOS

No dia 18 de abril de 1857 foi lançado o “Livro dos Espíritos”. Manual que veio mexer com a estrutura religiosa da época e ainda na modernidade continua desagradando a muitos que não entenderam ainda o caminho da verdade e da vida que todos buscam, e que foi preciso a espiritualidade se encarregar de tal trabalho, porque o homem não tinha condições de fazê-Lo. O homem se diz racional. Ser pensante. No entanto todos os seus atos não condizem com aqueles que têm inteligência, recebem louvores como cientistas, mas as verdades puras estão muito distantes de serem conseguidas, tendo em vista que envolvem muitas variáveis que o ser humano não tem condições de controlar, e nem tão pouco conhecê-las, dadas as suas limitações. As apresentações mediúnicas eram os chamamentos para que os intelectuais da época tivessem a curiosidade de procurar não ver aqueles fatos como apresentações circenses, mas como uma oportunidade de um despertar para a realidade da vida, na descoberta do verdadeiro caminho que o ser humano deveria seguir para o seu triunfo espiritual.

O “Livro dos Espíritos” surgiu justamente na época do positivismo de August COMTE (1844), e do materialismo histórico de Karl MARX (1867), cuja matéria era a forma mais lógica do pensamento científico daquele século, pois aquele livro veio se contrapor aos intelectuais que não aceitavam a fenomenologia de algo transcendental que buscava a transformação do espírito/alma ao invés de alimentar a inferioridade. Este livro, mesmo na época em que foi lançado, passou um lapso de tempo de quarentena, visto que seria catastrófica uma investidura tão forte, de um compêndio que era totalmente o contrário aos pensadores daquele século, que estavam envolvidos com outros tipos de pensamentos, não mensagens espirituais que poderiam ter lógica e coerência, mas não eram científicas. A leitura deste livro, crer-se não foi muito fácil, ao considerar que as autoridades intelectuais e científicas, gostavam daquele movimento mediúnico, mas não queriam nada com um estudo sério de transformação intima; uma investigação profunda que os levasse a refazer muitas de suas teorias sobre a sociedade e sobre as religiões daquele momento.

Frente a tudo isto Hippolyte Léon Denizard RIVAIL, instruído pela sua sabedoria de intelectual e filósofo, buscou utilizar as técnicas científicas para mostrar a todos que as mensagens que estava recebendo, eram de pessoas que viveram em um corpo físico e agora estão mortas na linguagem popular, mas que se comunicam com os que estão vivos neste planeta, coisa difícil de muitos compreenderem. Sem dúvida, este grande escritor e intelectual, não gostaria de bater de frente com aquela sociedade tradicionalista, conservadora, sobretudo, manchada pelas aberrações cometidas por católicos e protestantes de tempos atrás e até mesmo de seu tempo, portanto, mais uma filosofia esotérica/mística era mexer com a inteligência humana. Foi neste sentido, que o Dr. Rivail teve os mínimos cuidados na sua investigação pormenorizada, para não pairar dúvida quanto a seriedade daquele trabalho que explicava o mundo científico, como uma cooperação dos seres humanos pensantes com os intelectuais do mundo espiritual que estavam mostrando que esta relação é patente, e os dois unidos podem fazer melhor.

Para evitar complicações quanto ao nome deste abnegado Senhor que hipotecou seu tempo e curiosidade quanto àqueles fenômenos que antes não acreditava na seriedade de tais fatos, que a maioria de seus amigos freqüentava assiduamente, sem um pouquinho de remorso, ele teve que mudar o nome do autor para Allan KARDEC, por sugestão dos próprios espíritos que estavam participando deste trabalho. O cognome de Allan KARDEC advém de uma encarnação que o Sr. RIVAIL teve nas Gálias, participando de um movimento conhecido como Druidas (Séc. II), cuja mensagem foi pronunciada por um médium inconsciente que mostrou toda a sua história em uma dessas comunicações que geraram tudo que existe no “Livro dos Espíritos” que completa 140 anos. Ultimamente é que as pessoas vêm se apercebendo da importância desse e de outros livros que compõem a codificação deixada pelo mundo espiritual, para que todos pudessem conhecer a vida, o relacionamento entre vivos e mortos e todos com a natureza, cujos elementos participam da criação do Criador Maior de tudo que existe no planeta.

O “Livro dos Espíritos” criou as bases do movimento espírita que não condena ninguém, recebe a todos de braços abertos, no entanto, quer indicar que a realidade da vida material ou não, não é algo transcendental, cada instante que se vive neste planeta, tentando a sua limpeza perispiritual, para chegar próximo a quem está imune de tudo que é materialidade deste mundo de provas e expiações. O espiritismo não é ciência acadêmica, mas participa dela numa ajuda inconteste ao seu desenvolvimento, não é filosofia no sentido tradicional, entretanto, está presente com a sua sabedoria e vontade de que todos aprendam, e não é religião, no entanto, deseja que todos estejam ao lado do Criador Maior de tudo e de todos. O espiritismo é consciência, é sabedoria diante de tantos inferiorizados que se arvoram intelectuais e cientistas, cujo avanço mental ainda é muito limitado, diante da Sabedoria Maior do universo que é o Pai da ciência, da filosofia e da religião que é o sentimento que todos têm na busca do seu próprio eu, em busca do ego e do ide que se consegue com a experiência.

Não se deve ter o “Livro dos Espíritos” como a verdade máxima de todas as verdades, mas um livro que ensina como descobrir o caminho da compreensão, da luz e da felicidade, no entanto, tudo isto depende do nível espiritual em que o leitor se encontra, porque ensinar filosofia a analfabeto é inútil e dificilmente ele vai entender alguma coisa de proveitoso para a sua vida, talvez haja efeitos contrários. O “Livro dos Espíritos” deve ser lido por quem compreende a sua metodologia de desenvolvimento, e passado com calma às pessoas que não tiveram a oportunidade de compreender o desenrolar das letras que informam, ou orientam aqueles que não sabem lê, ou lê qualquer tipo de leitura quer seja científica, ou até mesmo livros primários. Inegavelmente, o mundo inteiro já se enveredou pelo conhecimento do espiritismo e como tal, deve iniciar com o “livro dos Espíritos” que mostra de maneira clara os conceitos e as implicações que existem em tudo que está no cosmo, construído da maneira mais inteligente possível, cuja armação não deixou nada fora do seu lugar, tal perfeição das leis universais.

Quando a filosofia e a ciência passaram tantos anos discutindo, analisando e fazendo simulações do que seja Deus, a natureza, a evolução dos mundos, os elementos que compõem esta natureza, a criação dos seres pensantes ou não, e do princípio vital, o espiritismo legou a todos conhecimentos plenos de realidade e abriu as portas para ir além dos abnegados estudiosos da gnosiologia da vida. Os trabalhos dos homens da terra passam pelo crivo da espiritualidade e da experiência dos trabalhadores do planeta quando estavam em outras vidas, cujo acúmulo de conhecimentos favorece a que se consiga descobrir os caminhos que todos têm que passar, tanto os que têm bastante informações, e os que têm poucos conhecimentos de si mesmo. A espiritualidade Maior vendo os passos curtos que os intelectuais e cientistas do mundo moderno dão para conseguir a vida e tudo que o cerca, é que veio através do “Livro dos Espíritos” adiantar um pouco, alguns conhecimentos que dependeriam da descoberta do próprio homem para o progresso de todos que necessitam da perfeição e da pureza.

Frente a tudo isto, os espíritos mostraram como funciona o mundo espiritual tendo em vista que os trabalhos mediúnicos estavam cada vez mais em evidência e as pessoas não entendiam como aconteciam tais fatos, servindo de galhofa, de meio de vida para alguns, e de brincadeira para aqueles que não sabem que tudo isto faz parte do progresso da humanidade que necessita encontrar o seu caminho. Os espíritos que se comunicavam naquela época ou até mesmo antes poderiam ser parentes, amigos, filhos, pais inclusive a mães, querendo ajudar no processo de evolução, ou até mesmo pedir ajuda para aliviar os seus sofrimentos e as suas dores, por desconhecimentos das leis divinas que agora chegam sem esforço nenhum. O homem quando se diz dono de si, tem ao seu lado alguns espíritos amigos lhe ajudando materialmente ou espiritualmente, ou até mesmo lhe atrapalhando com a sua vibração de quem não evoluiu em sua trajetória de egoísta, orgulho, vaidade, ganância, inveja ou muitas outras formas de mexer com o ego de quem não tem segurança de si.

Toda essa intromissão dos espíritos, com os devidos respeitos que eles têm por todos daqui da terra é para apressar o processo de evolução espiritual, dentro do princípio das leis morais que tanto o homem fala, mas não conhece o seu real sentido quanto à natureza, a adoração, o trabalho, a reprodução, a destruição, a sociedade, o progresso, e muitas outras formas de melhoramento espiritual. Ao se conhecer cada princípio desses o ser humano evolui e ajuda o progresso da humanidade de maneira geral, tal como os minerais, os animais e os vegetais, pois todos estão ligados na mesma trajetória de busca da perfeição, da liberdade verdadeira e do verdadeiro sentido de se ter o livre arbítrio que é a consciência de todo o processo da lei do amor. O importante nisto tudo, é que o espiritismo veio surgir em um ambiente de sectarismo muito forte e num tempo em que os avanços da ciência eram contados, e medidos, para que se acreditasse que a verdade não viria do além, mas do meio onde se vive, com todos os prós e os contra dos críticos que tinham e têm o cuidado de não fracassar em suas opiniões.

Quando uma pessoa executa uma determinada atividade pensa logo no que vai ganhar, isto é, receber em troca, mais cedo ou mais tarde, tendo em vista que desempenhou uma atividade que deve ser recompensada com qualquer tipo de pagamento monetário ou não, ou como pensam muitos religiosos, conseguir o reino dos céus, para ter uma vida de ócio, e muito laser. Em verdade, isto não acontece com relação ao mundo dos espíritos desta forma, a espiritualidade não oferece nada para aqueles que seguem os ensinamentos espirituais, apenas mostra o que se pode conseguir pelos seus esforços e perseveranças em tentar a sua transformação, que é uma obrigação natural de quem se desviou de seu verdadeiro sentido de vida. Não se deve fazer nada com objetivo de conseguir algum pagamento, cujo pensamento é uma forma de enganar a si próprio e não conseguir os seus intentos, que é o seu sucesso na caminhada evolutiva da vida, pois quem evolui, não está fazendo algo unicamente para os outros, está trabalhando para o seu próprio progresso que é a sua pureza e perfeição tal como fez Jesus.

O importante em tudo isto é que outras oportunidades foram dadas para que o “Livro dos Espíritos” pudesse ficar claro para os seres encarnados, ou os vivos como dizem as outras religiões, todavia, os seus emissários não cumpriram bem a sua atividade de reveladores da mensagem divina, como os casos de Emmanuel SWEDENBORG (1688-1772) e Andrew Jackson DAVIS (1826-1910). Os princípios levantados por estes sensitivos eram, como se fosse uma preparação para que o mundo pudesse conhecer algo mais do que o seu próprio nível espiritual permitia e esses dois abnegados trouxeram as condições propícias para desenvolver tal trabalho, cujo campo mental não conseguiu desenvolver a contento aquilo que a espiritualidade desejava. Mesmo assim, tiveram as suas participações e foram importantes, porque deixaram a semente plantada para uma fecundação mais salutar quando em tempo exato, pois foi isto que aconteceu com o senhor RIVAIL quando trabalhou o “Livro dos Espíritos”, sem alguma falha para o esclarecimento de todos que precisam do seu nosce te ipsum dos filósofos antigos.

A partir de então, os princípios religiosos ficaram mais claros para os que procuravam entender os verdadeiros preceitos de vida, o por que das religiões, como as pessoas devem se relacionar umas para com as outras, e quais efeitos de tudo isto frente a natureza que fez até surgir grupos tomando-os como seitas, e até mesmo redefinindo o conceito de Deus, o dinamizador da vida. Não é necessário que todos os seres viventes neste planeta sejam espíritas, mas que todos dependendo de seu grau de evolução vão compreendendo a sua participação frente a tudo e a todos e iniciem a sua transformação para o bem-estar pleno de quem almeja estar ao lado do Criador Maior que quer sempre a alegria e a paz para que todas as suas criaturas trilhem em sua caminhada. Em resumo, o “Livro dos Espíritos” é um manual de princípios que todos têm que conhecer, ou por leituras próprias ou por ensinamento de quem já o leu, e tem condições morais de repassar os legítimos conceitos enviados pelos espíritos de luz com uma permissão maior, e RIVAIL não vacilou em sua missão de deixar para todos a boa nova que é o amor, a paz, e a vida eterna.


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