Comportamento & Moral

Luiz Gonzaga de Sousa

 

 

O CIENTIFICISMO DOS ESPÍRITAS

No movimento espírita, há uma confusão muito grande sobre os conhecimentos que se adquirem com as leituras sobre as mensagens espíritas, e os escritos que alguém faça sobre o que se entende por espiritismo, os seus efeitos na sociedade, qual, verdadeiramente é a mensagem que seja correta ou não, e daí, recorrer-se à provas, ou a algo que indique que tal coisa é verdade ou não. Atualmente existem mais pesquisadores nos Centros Espíritas do que nos Institutos de Investigação e nas Universidades que são os órgãos próprios para desenvolver a ciência, buscar a verdade, mesmo que ela seja relativa, tendo em vista que o mundo científico é uma dinâmica que precisa ser melhor entendida para não dizer que qualquer leitura que se faça seja ciência. Com vistas a dirimir estas dúvidas e tentar contribuir para eliminar as contradições que existem quanto ao conhecimento deste termo, é que se está produzindo este pequeno artigo, que tem o principal objetivo de esclarecer o método espírita e os conhecimentos que são inerentes à ciência dos verdadeiros cientistas e porque não dizer as bases formais de um real pesquisador.

O pedagogo e intelectual Hipolite Denizard RIVAIL (1857), desconhecido no mundo científico internacional; cético quanto às questões esotéricas, nunca buscou fazer proselitismo de fatos mediúnicos que aconteciam em reuniões que alguns amigos tomavam acento para se divertir das novidades que aconteciam de maneira jocosa, cujo campo tinha o favorecimento das vibrações que circundavam. O senhor RIVAIL não gostava de tomar parte em situações deste tipo, em primeiro lugar pela sua moral muito séria e carrancuda; depois, pela sua descrença em algo que pudesse ser objeto da criação prodigiosa da mente do ser humano, que tem faculdades que propiciam o surgimento de algo que se apresenta para muitos miraculoso, devido a seu desconhecimento. Considerando a coqueluche da época e a intransigência de amigos, que também eram intelectuais sérios, bem conceituados no mundo científico daquele momento, o senhor RIVAIL sujeita-se a estar presente a uma dessas reuniões, quando verifica que se pode provar a maioria dos fatos que acontecem nesses encontros de para-normalidades e/ou mediunismos.

A partir deste momento, o senhor RIVAIL, numa mesa ao lado, observa tudo atentamente e verifica a possibilidade de tornar científico todo aquele trabalho que parece mais um espetáculo mambembe, do que uma transmissão de mensagem mediúnica de irmãos que desejam se comunicar para mostrar a relação que existe com outro o lado da vida, e o quanto se podem melhorar as duas situações. Na época prevalecia o cientificismo de Augusto COMTE (1844), o pai do positivismo, que dizia que tudo deve ser medido e provado para que seja verdade científica, era sinceramente, o pensamento de São Thomé que não acreditava que Jesus estava ali, vivo e materializado, provando que o espírito vive após a morte, é o processo de desencarne para a libertação do espírito. Assim sendo, o trabalho de Sr. RIVAIL não seria aceito, se não estivesse dentro dos princípios do positivismo, das provas contundentes para se entenderem as verdades que a espiritualidade estava enviando para conscientizar a humanidade, e melhorar a situação do povo libertino que habitava o planeta naquele momento de tanta ignorância e sofrimento.

O Sr. RIVAIL foi cognominado de Allan KARDEC (1857) por intuição espiritual e talvez pelos espíritos compreenderem que aquele senhor não tinha condições de assumir aqueles ensinamentos de sua livre consciência, tendo em vista que, novidades sem provas cabais não seriam aceitas pelo mundo científico, e quem ousasse conversar com o sobrenatural seria morto, decapitado em plena praça pública. Isto aconteceu com muitos e muitos visionários que receberam mensagens do astral e foram queimados, ou degolados sob a aclamação da multidão que não quer conhecer o caminho da verdade e da vida, cujas verdades têm que vir por alguém que use um pseudônimo, como se fosse fugindo, ao assumir uma verdade que a ciência ainda repudia. Os espíritos superiores benevolentes, pacientes e conscientes de que cada coisa tem seu dia e seu lugar, esperam que aquele momento chegue para que todos abram os olhos para as verdades que não são só da ciência, mas das leis que são imutáveis para todos, quais sejam pretos ou brancos, pobres ou ricos, orientais ou ocidentais e que necessitam evoluir.

Sem dúvida, os espíritos furaram a barreira da ignorância científica da época, e mostraram que o poder da verdade é mais forte do que os conhecimentos restritos àquilo que se pega e se ver, cuja limitação está nos parcos aprendizados que condicionam a mente humana a um raciocínio breve e restrito às circunstâncias em que está submetido com toda a sua ignorância da verdade plena. Inegavelmente, a convivência com os espíritos não precisa ser científica, basta ser ciência, no sentido de conhecer, de estar ciente, de saber, pelo aprendizado das múltiplas encarnações que se vêm atravessando ao longo do tempo, no desvendar o mistério da vida eterna que se vai descobrindo lentamente com as circunstâncias que se apresentam. Todos os espíritos e as almas que vivem no planta terra passam pelo cadinho do despojo de suas inferioridades, como se fosse uma limpeza perispiritual para adentrar a casa do Criador Maior; agora, conscientes de suas tarefas, prontos para ajudar na atividade difícil da conscientização, e da colocação do amor nos corações que precisam conhecer o caminho da verdade de da vida.

O trabalho de RIVAIL foi fundamental para mostrar que a ciência dos cientistas estava restrita às coisas da terra e, sobretudo, ao conhecimento humano, limitada a uma circunstância muito embrionária frente à sapiência espiritual maior que têm séculos e séculos de acumulação de experiências, desde os primeiros espíritos que estiveram aqui no planeta, até os expurgos de suas inferioridades. Mesmo assim, este nobre senhor, codificou mensagens espirituais, como princípios para a eternidade, mas estes ensinos, em sua maioria, estavam ligados ao povo de sua época, porque os espíritos superiores sabem o que fazem e fazem dentro do preceito de moral e da ética que todos vivem num determinado tempo, isto é, ao seu nível local. O senhor Rivail foi criterioso, não somente por sua vontade, contudo, obedeceu às orientações da espiritualidade que fizeram brotar neste senhor, o KARDEC que adormecia no seu perispírito intelectual que lentamente foi emergindo aquela confiança, própria de quem conhece e tem moral frente aos ensinamentos que dizem que Jesus legou para todos que viveram em sua época.

Não se deve entender, o rigor científico das ciências acadêmicas, como sendo o cientificismo de uma doutrina que visa conscientizar todos aqueles que não entendem o verdadeiro caminho que têm que seguir, nas descobertas de sua trajetória de verdades que conduzem à libertação das inferioridades que tanto atormentam aqueles que têm algum conhecimento no discernimento entre o bem e o mal. A ciência da doutrina espírita deve ser vista apenas como conhecimento que se adquire das ciências acadêmicas, com a ratificação das mensagens espíritas que vêm orientar, até ajudar, para que essas descobertas sejam verdadeiras do ponto de vista espiritual, pois os espíritos auxiliam a todos que necessitam compreender, e trabalham em busca da verdade absoluta. Se todos os conhecimentos que se adquirem, devem vir acompanhados de provas, ter-se-iam que condenar todos os escritos do passado e provas que são coisas abstratas e subjetivas de se entender, tendo em vista que alguém pode montar uma situação perfeitamente explicável e coerente, porém os dados são falsos, sem razão de ser.

Na atualidade, o movimento espírita prima por um cientificismo exagerado, cujos interlocutores são pessoas de segundo grau, algumas vezes com curso superior, mas sem uma formação adequada para um trabalho científico sério, que precisa de um grau de exigência muito grande quanto aos seus postulados; de um rigor científico apurado que não é qualquer um leitor que, por mais dedicado que seja, possa ser cientista. Sem dúvida, muitos espíritas dedicados lêem bastante, têm muitas informações, buscam colher, o máximo possível de conhecimentos, para estar conscientes de uma crença que abraçaram, e que verdadeiramente mostram a real caminhada de um ser humano que tenha condições de percepção à sua posição, no contexto da interligação com todos e com tudo. Não é o mundo científico que vai descobrir as inferioridades do ser pensante da terra, mas é ele mesmo que diante dos exemplos que vão aparecer à sua frente, que vão aos poucos percebendo diferençar o certo do errado, substituindo a sua ignorância pelo conhecimento do eterno, da luz, e da senda que deve trilhar para conseguir a pureza do Criador maior.

No mundo universitário são muito comuns, as pessoas se entusiasmarem com as novidades, buscarem nos ensinamentos dos espíritos, codificados por RIVAIL, um palco para os seus discursos eufóricos, cujo objetivo é ser visto como alguém inteligente, que promete ser um grande conhecedor dos legados espíritas que orientam as pessoas para as suas caminhadas certas e proveitosas. Ora, muitos desses são irmãos intelectuais do passado que estão aqui com o mesmo orgulho, vaidade, arrogância e prepotência em ser um orador privilegiado, porque tem facilidade na eloqüência, contudo, ainda não conseguiram se despir de toda uma carcaça inferior que alimenta um espírito de inferioridades que era a condição própria de seu passado como falso líder. O espiritismo do Brasil moderno passa por esta fase de um cientificismo sem precedente, pela euforia de um modismo a toda prova, cuja verdade não é ter um espiritismo científico, mas ter um movimento de ensinamentos verdadeiros e a verdade absoluta não é científico é lei, incontestável e insofismável porque é a presença do Criador Maior.

Infelizmente, não existe um movimento espírita que seja dosado da prática com o saber, todavia, o trabalho com a espiritualidade ou é mediúnico exagerado, como os terreiros e alguns outros mais, ou é intelectivo excessivo, como fazem as Federações que estão criando pseudos intelectuais, com nenhum fundamento científico de como tratar a coisa de maneira sistemática e coerente como deve ser. Pessoas sem formação se arvoram de “meus estudos”, “minhas pesquisas”, cuja verdade só fizeram uma leitura sobre determinado assunto para uma pequena exposição em algum ambiente, sobre algum tema que a psicologia e os filósofos passaram tempos e tempos em observação e comparações para se poder conseguir pequeno resultado científico. As leituras que os espíritas executam, como fazem os protestantes e católicos não dão direito a que o senso comum possa ser chamado de ciência, nos moldes dos trabalhos acadêmicos, que os cientistas se esforçam tanto para descobrir as verdades que tanto almejam que é o bem estar da sociedade que pede respostas para os problemas que atravessa.

Não se conhecem Centros Espíritas fazendo pesquisas, com seus Institutos de simulação descobrindo verdades para a humanidade, mas ver-se Federação lendo mensagens espirituais, colocando em formato de livro e dizendo que é trabalho científico, com os devidos respeitos a ilustres estudiosos que têm formação, para proporcionarem condições a uma adaptação de sua linguagem ao movimento espírita. Neste sentido, tem-se uma gama muito forte de homens abnegados que devotam sua vida a compreender o seu derredor, a sua relação com tudo que o cerca, e tudo isto correlacionado com o todo para explicação de sua sobrevivência, no que respeita a inferioridade e maledicência, e como sanar alguns problemas de enfermidades que se lhes apresentam. A ciência acadêmica não cabe plenamente nesta história de um espiritismo científico, aí é voltar à incredulidade de São THOMÉ, que não crê em nada a não ser que prove e que sejam provas contundentes de uma realidade que a evolução mostra que é a verdade que muitos e muitos não querem admitir, tendo que ser ciência para que se aceite como algo verdadeiro.

A ciência acadêmica muitas vezes precisa do espiritismo para conhecer verdades, no entanto, espiritismo não necessita de ciência para mostrar que a realidade do Criador Maior seja Lei, como tal não tem necessidade de provar para alguém que é algo que existe, é imutável e que todos os seres humanos têm que se adaptar a ela e nunca vai acontecer o contrário, tendo em vista que a ciência é verdade relativa. As mensagens trazidas pelo espírito da verdade e alguns outros com mesma índole ou semelhante são verdades incontestes, não há o que provar, os inferiores é que devem se melhorar para conseguir alcançar o nível de sabedoria que a espiritualidade envia para todos por misericórdia à ignorância daqueles que não têm condições e não querem conhecer a vida. Finalmente, espiritismo não é ciência, ciência é que usa o espiritismo de uma forma ou de outra para tentar descobrir e provar tudo aquilo que a humanidade necessita. Desta forma, verifica-se que o movimento espírita deve ter mais fé em si próprio, indicando que o espiritismo é um axioma, como tal, o bom censo, a lógica e a coerência devem ser a tônica fundamental.


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