Artigos de Economia

Luiz Gonzaga de Sousa

 

 

MODOS DE PRODUÇÃO E RELAÇÕES DE TRABALHO

O CASO DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA

Boqueirão é a cidade onde fica o açude Epitácio Pessoa. Este açude foi fundado em 1954 e fornece água às cidades de Campina Grande, Queimadas e a própria cidade de Boqueirão. Este depósito d’água tem capacidade para 543 milhões de metros cúbicos d'água. Com a pescaria sendo o trabalho principal, como atividade profissional neste açude, vive uma comunidade de 258 famílias que saem de madrugada e voltam à tardinha com os produtos colhidos do açude e depois de uma intensa jornada de trabalho à procura de sua sobrevivência.

A atividade pesqueira no açude Epitácio Pessoa é uma constante, pois, todo o santo dia o pescador sai para o alto do açude, ou aos locais onde se encontram os pescados para melhor capturá-los. O modo de trabalho dos pescadores é primitivo, devido seus instrumentos de trabalho serem: anzóis, redes e tarrafas são comuns, além do mais são utilizados barcos em sua maioria a remo e em pouca escala a motor quando o intermediário (quem compra o produto) subsidia alguns pescadores na busca de conseguirem altos lucros nesse processo produtivo.

A pescaria no açude Epitácio Pessoa é uma atividade profissional, porque os pescadores extraem para sua subsistência os produtos gerados desse trabalho. Os pescadores também, nas horas vagas, trabalham em pequenas roças ao redor de sua casa, ou em alugado, ou de meia, com outro agricultor. Numa pescaria, normalmente trabalham juntas quatro, ou cinco pessoas, visto que, é preciso conduzir o balaio com os peixes até o ponto de venda. Nestas atividades, às vezes é preciso duas pessoas. Para colocar e retirar a rede também é necessário pelo menos duas pessoas, devido ser relativamente muito pesado para um só pessoa suportar o peso da rede.

O processo de produção é artesanal, visto que, a sua tecnologia de pesca é precária e a orientação dada pelo orgão encarregado de disciplinar a atividade da pesca não é bem aceita pelos pescadores. Dentro desta visão, os produtos conseguidos não têm boa qualidade para um bom comércio, do mesmo modo coloca em risco a espécie com essa pesca predatória e sem um processo de qualificação correto. A utilização desse material arcaico é conseqüência da falta de conscientização dos pescadores, pois, o material humano desse processo de pesca não tem nenhum grau de especialização para poder aplicar uma tecnologia mais adequada a esse trabalho.

Cada grupo de pescadores vai ao trabalho, em sua maioria, acompanhado por seus familiares, entretanto, alguns grupos desses trabalhadores têm a participação de pessoas outras que não são da família, pagando uma parte do pescado aos membros que participam do processo de pesca, como se fosse uma economia de escambo. O pagamento não é feito em dinheiro, ao considerar que os pescadores são pessoas pobres que ao chegarem de sua pescaria, retiram uma parte para seu auto-consumo e o restante faz pagamento às mercearias que lhes vendem fiado (espécie de crediário). Esses "bodegueiros" (donos de mercearia), como chamam no interior paraibano (nordestino), constitui os intermediários, que recebem baratos e vendem caros nas feiras livres, ou bares.

As relações de trabalho podem ser consideradas como familiares, porque em sua maioria, são pessoas da família que participam do processo de produção e a cooperação de pessoas estranhas à família é pequena ou inexistente. Muitas vezes o pescador trabalha para um agricultor amigo que lhe adianta todo o material de pescaria e recebe no fim do seu trabalho um pagamento, ou seja, uma parte em produto do que pescou e ela serve para fazer os seus pagamentos contraídos durante o dia, ou durante a semana de trabalho. Nesta ótica, verifica-se que a circulação de moeda é muito pouca, sendo a transação entre pescadores e dono de mercearia feita através de produtos de pesca.

A pescaria em Boqueirão é uma atividade de subsistência, porém, não existem empresas de grande porte explorando em maior escala este setor. O que existe, são pequenos intermediários comprando a preços baixíssimos, devido o risco que incorre, executando seu processo de beneficiamento, para diminuí-lo, que é feito de maneira artesanal de salga, utilizando também, pequenas caixas de isopor e vendendo nos bares e feiras livres a um alto preço, quer dizer, além de duzentos por cento mais caros depois de adquirido dos pescadores. Cada grupo de pescadores trabalha individualmente, isto é, cada grupo desempenha sua atividade sem a interferência dos outros grupos, pois só reservam a segunda feira para o descanso das atividades pesqueiras.


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