ECONOMIA INDUSTRIAL DOS CALÇADOS
BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

 

ECONOMIA, POLÍTICA E SOCIEDADE

Luiz Gonzaga de Sousa

 

 

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ECONOMIA INDUSTRIAL DOS CALÇADOS

 

            Existem grandes controvérsias acerca da origem das indústrias de calçados de Campina Grande. Uma hipótese levantada é de que as fabriquetas de calçados, tanto de consertos, como de fabricação, tenham sido originadas dos primeiros curtumes na cidade. Esta hipótese não foi totalmente confirmada pelos dados levantados, frente aos precursores deste setor no município. Dizem os dados que os primeiros sapateiros de Campina Grande não começaram suas atividades com a fundação dos curtumes; esses trabalhadores do couro, mesmo antes dos curtumes, já trabalhavam com esta atividade que importavam de outros lugares. É inegável que os curtumes impulsionaram as empresas que executavam tal serviço que começava a surgir.

            Daí surge a seguinte pergunta: Como surgiram os curtumes aqui em Campina Grande? Em pesquisa realizada junto ao CEAG (CEBRAE), FIEP e pessoas ligadas ao setor calçadista, chegou-se à conclusão de que o primeiro curtume fundado em Campina Grande data de 1923, de propriedade do Senhor João Motta, natural de Pernambuco, da cidade de Caruaru. Seu processo de trabalho era o mais rústico possível, consistia em curtir o couro para transformação em sola bruta. O beneficiamento era feito num galpão simples, construído com quatro estacas de madeira, com cobertura de palha e uma árvore para espichar o couro, por isto, apelidaram-no de "curtume pé-de-pau". Este processo de beneficiamento do couro durou muito tempo para conhecer uma mudança tecnológica.

            Ao se visitar um curtume ou indústria de benefiamento de couro, constatam-se os seguintes passos, desde o produto "in natura", até a sola bruta: primeiro, compra-se o couro bruto do animal; segundo, espicha-o em algumas varas para secagem; terceiro, num tanque apropriado e cheio d’água, coloca-se um couro, porções de angico, outro couro, porções de angico e assim sucessivamente, até encher o tanque no nível estabelecido e finalmente, glosa-se o couro a ponto de deixá-lo em sola bruta. A partir de então, essa sola servirá para a confecção de bolsas, sapatos, chinelos, cinturões, bainhas de faca e revólveres e muitas outras utilidades mais simples ou mais sofisticadas, quando o couro for ainda mais melhorado com modernas tecnologias.

            Graças a João Motta, chegaram em seguida seus irmãos que incrementaram a atividade do couro, criando mais emprego para a cidade e desenvolvendo o setor calçadista municipal. O processo artesanal de beneficiamento desse produto provocava grandes desperdícios que criara um monturo de pedaços de couro, convidando a formação de sapateiros para a confecção de chinelos e consertos de qualquer atividade, nem tão pouco existia a divisão do trabalho para um melhor racionamento no processo de transformação industrial. Essa pequena formação de sapateiros e consertadores ao redor deste curtume, não caracterizou, a princípio, a origem principal das micro-indústrias no Município.

            Contudo, data de 1930 o comércio mais efetivo das sandálias, alpargatas e outros utensílios feitos com o couro bruto, expurgo do curtume dos Mottas. Conta-se que foi desse comércio que surgiu a primeira fabriqueta de sapatos, pois, no fundo de uma determinada loja surgiu uma oficina de consertos e confecções de sapatos para a high society da época. Um dos fundadores das oficinas de fundo de quintal foi Luiz Gomes Bezerra, conhecido como "Lula do Paulistano" ou "Lula Gato Preto" que trabalhava como balconista numa loja de calçados. Com a implantação dessa pequena oficina, Lula, depois que conseguiu grande freguesia, montou seu próprio negócio e deixou a loja onde trabalhava, indo viver de sua fabriqueta simples e artesanal.

            Com Lula Gato Preto, surgiram outros micro-industriais do setor calçadista, tais como João Francisco de Sousa, J. Amorim, Severiano Freire, Ernesto Paulo, Vavá, Zé Paulino, Aristides Magalhães e muitos outros, mas o mais popular e eficiente foi realmente Lula do Paulistano. Esse pequeno empresário trabalhava por encomenda e em sua oficina trabalhavam quatro operários que utilizavam como matéria-prima na fabricação de sapatos o nalco, verniz uruguaio, pelica grizon, etc. Lula Gato Preto primava por um trabalho de excelentíssima qualidade, por isto sua freguesia era certa e recente, chegando a ponto do Prefeito Dr. Plínio Lemos encomendar m par de sapatos para presenteá-lo ao Presidente da República, Getúlio Vargas.

            O curtume dos Mottas realmente viveu uma grande fase no beneficiamento de couros, exportando para Espanha, Alemanha, Itália, França, Japão, China e muitos outros países, seus produtos de primeira qualidade, todavia, as raspas e/ou pedaços imprestáveis eram adquiridos por estas pequenas fabriquetas que começavam a surgir no Município. O sucesso do curtume dos Mottas era tal que, durante a segunda guerra mundial, a sua produção total de fabricação de botas era vendida ao exército brasileiro. Os Mottas expandiram-se, abrindo um novo curtume em Natal (Rio Grande do Norte) em 1935 e aqui em Campina Grande surgiu o curtume de denominação "Antonio Villarim", talvez baseado na idéia de implantação dos curtumes dos Mottas para um melhor aproveitamento do couro que abundava na região.

            A época de ouro do setor calçadista foi de 1937 a 1945, que gerou aproximadamente 35 novas indústrias. Depois desta fase, como em todo ciclo econômico, muitas destas indústrias faliram, inclusive a de Luiz Gomes Bezerra, o "lula Gato Preto", tendo em vista as peculiaridades da economia da época provocarem crises. Contudo, na década de cinqüenta (50) surgiu um terceiro curtume, o chamado curtume Santa Adélia, que veio concretizar a hegemonia campinense do setor de curtimento de couro, mais especificamente no ano de 1950. Com isto, o setor calçadista se firmava, criando uma estrutura de produção que há pouco tempo, a economia campinense não conhecia, não só de produção, mas, também de comércio em todo o compartimento da Borborema e circunvizinhança.

            O setor calçadista atravessou a crise de 1947 com algumas falências, todavia, as poucas que sobreviveram, tentaram soerguer o setor, talvez não com couro, mas com qualquer outro substitutivo, quando em 1957 este setor consegue novo aquecimento, com a introdução do couro sintético ou plástico, como chamavam alguns sapateiros da época. Esta substituição tornava o calçado mais barato e acessível à população de mais baixa renda. Com isto, implantaram-se novas indústrias com uma diversificação bastante grande de novos tipos de calçados no comércio local e regional. Com o tempo, os calçados de couros de animais, tornavam-se proibitivos à população de baixa renda e a solução foi na verdade a implementação da produção e comercialização de calçados sintéticos.

            Atualmente, a economia industrial de Campina Grande está composta de um grande porcentual de micro-empresas informais ou clandestinas, ou comumente chamadas de empresas de fundo de quintal, todavia, neste local se assenta uma estrutura produtiva industrial, concomitantemente com uma residência para moradia. A formação deste tipo de atividade decorre do fato desta indústria ser muito pequena e sem condições de pagamentos das obrigações aos governos federal, estadual e municipal. As obrigações com o próprio operário também não são pagas, assim como seu salário fica abaixo do mínimo estipulado por Lei, porque este pagamento é feito pela sua produtividade que se constitui muito pequena, refletida pela sua fraca tecnologia.

            Por outro lado, as micro-empresas formais estão situadas em instalações especialmente construídas para a produção de suas mercadorias, neste caso, o sapato. Isto não significa dizer que todas as micro-empresas formais vivem nestas condições de trabalho, porém, algumas também exercem suas atividades em fundo de quintal, mesmo obedecendo às formalidades da Lei. A questão se coloca não é, no caso de ser formal ou não, mas, sim, pelo lado da sobrevivência da indústria, de poder acumular e crescer, caso contrário, ela vai viver pouco e em seguida falir como acontece constantemente com muitas e muitas indústrias micros, pequenas, médias e até grandes. A sobrevivência de uma indústria decorre de seu poder de acumulação e de competição numa estrutura de mercado.

            Apesar da crise que passa o setor calçadista municipal, a sua produção já obedece a uma certa diversificação, tendo em vista que a demanda por estes produtos tem conseguido um bom crescimento do setor, não só da parte formal como da parte informal. A maior parte da produção é de tênis cuja aceitação é favorável e com demanda crescente, por causa das facilidades de matéria-prima utilizada na sua confecção, tais como o nylon, solado PVC, lona, etc e por couro ser escasso e caro na região. Por isto, é necessário um apoio mais intensivo ao setor para que ele possa retornar a sua época áurea na produção e comercialização local e regional. Esta economia é imprescindível pelo volume de empregos e pela produção que atende ao mercado.

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