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Keynes em Cambridge
1932-1935
Mario Gómez Olivares
2. As lições de Keynes em Cambridge: Da Teoria Monetária da Produção á Teoria Geral.
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21 de Outubro de 1935
A segunda lição em 21 de outubro de 1935, dedica Keynes a problemas terminológicos. Primeiro o conceito de rendimento. Primeiro definem‑se as funções agregadas de oferta e procura no curto prazo, com o equipamento de capital e a tecnologia dadas. A função que relaciona o volume dado de emprego às receitas, as expecativas que farão com que os empresários empreguem esse nº de homens, chama‑se a função oferta:
Z = F(N); Z é o custo de producção do output de N pessõas.
A procura agregada é o que os empresários pensam que obterão do output se N pessõas fossem empregues:
D=Ó(N). Se dado o valor de N, D > Z, existirão motivos para o emprego será aumentado. A intersecção de F(N) com Ó(N) chama Keynes de procura efectiva[1]. A teoria clássica pressupõe que se N aumenta, Z cresce e D adequadamente também, pelo que D é igual a Z para cada valor de N. Para qualquer N, as receitas D igualam os custos Z, de modo que de acordo à doutrina clássica a procura efectiva não tem um valor único, for the two curves lie along one another[2]. Nesse caso, i.e. se as curvas correm juntas, a concorrência conducirá a um maior emprego até que a oferta fique inélastica[3]. O único ponto de equilíbrio estável corresponde ao ponto em que todos os recursos estão empregues totalmente. O pleno emprego pode ser definido como o ponto onde a oferta de emprego é inelástica faze a um incremento da procura efectiva. Dizer que D=Z implica dizer que não existe obstáculo a zero desemprego involuntário.
O ponto importante é saber o que determina as funções D e Z. Quando o rendimento real Y cresce, o consumo agregado C, aumenta, mas menos que o aumento de Y. Os empresários têm perdas se o incremento do emprego é dirigido totalmente a produzir bens de consumo, a menos que a desviação for o resulatado de uma mudança na psicologia da comunidade. Existe uma propensão ao consumo que relaciona o consumo aos vários níveis hipotéticos de rendimento. Se não existe uma mudança na propensão ao consumo, o incremento no emprego não deverá ser absorvido pelo consumo, pelo que o ÙN deverá estar unido a um ÙI adequado a absorver o produto extra não consumido. Dada a propensão ao consumo, o nível de equilíbrio do emprego dependerá do investimento corrente real. A propensão ao investimento, embora o consumo e o investimento reajam um com o outro, depende de um conjunto de factores que são independentes dos que determinam a propensão ao consumo, e em particular da taxa de juro, que depende de considerações psicológicas.
D é igual a D1, a procura para consumo, plus D² um a procura para bens de investimento. Quando D se incrementa, D1 não se incrementa proporcionalmente, de modo que D² deverá fechar o gap entre Z e D1, i.e.:
D1=X(N) e I=F(N)
Z=F(N). Quando o emprego de N homens é lucrativo, F(N) ‑ F(N) = I, de modo que N depende de F, X e D². Por cada N, existirá uma distribuição da producção entre bens salários e não‑bens salários e o salário real é igual a productividade marginal do trabalho na indústria produtora de bens salários; nesse caso F, X, e D² determinam N. Quando O ‑ D1 se incrementa, o gap Z‑D1 aumenta, temos uma situação de pobreza na abundância. Se a eficiência marginal decresce com o aumento do stock de capital, isto pode remediar‑se com uma descida da taxa de juro. Mas também pode distribuir‑se a riqueza de modo a que aumente C, o fazendo com que S diminua ou I aumente através de trabalhos públicos. Se nada disto é feito esperar‑se‑á um desemprego muito grande. Se D² flutua, N flutua. É evidente que N se incrementa quando o armamento aumenta, porquanto o armamento faz parte de I[4], embora não produça nada In fact, war has been the only means of really improving employment that is respectable. Public work simply add to D² in this case, undeterred by the rate of interest[5].
[1] Nesse sentido é ilegítimo então expor a determinação do nível do output e do rendimento keynesianos através de um diagrama de 45°, a cruz keynesiana de equilíbrio. A oferta no diagrama de 45° pressupõe que as expectativas de receitas para um determinado N estão realizadas a partida, ou que não o é o caso para Keynes, porquanto estas de dependem da procura que o output geraria se os N homens estivessem empregados. No esquema de Keynes todo se passa na anticipação. No diagrama de 45° excluem‑se a influência das expectativas de longo prazo. Pra uma crítica do diagrama de 45° ver S. Weintraub, " El Keynesianismo Clasico, la Teoria Monetaria y el Nivel de los Precios", FMI‑BID‑CEMLA, 1961, capítulo 1, pp. 5‑26.
[2] T. Rymes, " Keynes´s Lectures 1932‑35: Notes of a Representative Student", MacMillan, 1988, p. 163.
[3] Os movimentos que a teoria clásica pressupõe são movimentos ao longo das curvas não vendo a possibilidade de deslocações das curvas que Keynes implicitamente reconhece.
[4]A alusão de Keynes a indústria do armamento não é gratuita porquanto na época discutia‑se a necessidade de re‑armar Inglaterra faze a política rearmamentista germánica. O que se veio verificar nos orçamentos a partir de 1935, foram os crescentes investimentos estatais na indústria de guerra. Como escreve P. S. Bagweel " There is not doubt that re‑armament expenditure after 1935 created more jobs that the number that had been made available under the special areas legislation", P. S. Bagweel e G.E. Mingay, "Britain and America 1850‑1939, Routledge&Kegan Paul, London, 1970, p. 301.
[5] Idem, p. 165.