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Keynes em Cambridge 1932-1935
Mario Gómez Olivares

2.         As lições de Keynes em Cambridge: Da Teoria Monetária da Produção á Teoria Geral.

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31 de Outubro de 1932

Na quarta ‘lecture‘ de 31 de Outubro de 1932, Keynes debruça-se sobre a taxa de juro e as suas determinantes. Começa com uma pequena incursão na teoria de Marshall. A taxa de juro é a expressão da preferência no tempo e da productividade de capi­tal, i.e., da procura de investimentos e da oferta de poupança. A taxa de juro iguala o volume de investimento e o volume de poupança. Mas Keynes diz, este( Marshall?) pensa que poupança é E‘- F e não E - F, mas se E‘- F = I, não nunca existirá motivo para mudar a taxa de juro, mas “ Interest is a return on money and quasi-rents are really that which is due to the possessor of real assets. They must be distinguished or there is a real danger of serious confusion[1]. Keynes discute o problema da taxa de juro seguindo a teoria da productividade marginal de Marshall e a teoria do capital de Bõhm-Bawerk. A ideia é de que as coisas produzidas por processo mais compridos, espera-se “ will sell for more since the production of such is so incident on a lot of trouble( time and trouble) they will be scarce[2]“.

Face a isto Keynes coloca em dívida a certeza da velhas ideias. O termo productividade de capital é confuso. O que deve ser explicado não é a productividade do capital mas porque as coisas que são produzidas num tempo maior são escarsas. É possível imaginar que determinadas coisas que demoram muito tempo a produzir sendo não escarsas, tem um juro negativo. Keynes realiza dois apontamentos introdutórios: porque são as coisas que tomam tempo a produzir escarsas. Porque não se acumulou um sur­plus de tais coisas “ Thus we could have ‘capital productive‘, that is, lengthy processes which may be most efficient and yet we could have negative interest[ rates][3].

Keynes define a taxa de juro como a medida da recom­pensa em termos de dinheiro, que será paga em troca por “ parting with the control of that money for a stated time for a debt”..” the rate of interest is the rate of exchange between money and debts[4]“. Pode-se traçar a linha divisória entre moeda e dívida como se quiser, tomando em consideração que existem um complexo de taxas de juro, de acordo com diferentes termos de maturidade. O sistema bancário negocia em moeda e dívidas e não em bens de consumo e activos. Idealmente o sistema bancário poderia negociar com dívidas de diferente maturidade, depois de considerar os riscos. Sendo assim, diz Keynes, a taxa de juro é uma expressão dos termos com que o sistema bancário é capaz de negociar dívidas..” The rate of interest would then be at that level at which the preferences of people for money, as against debts at that rate, would be completely satisfied. The rate is fixed by the policy of banking to part with money. The price of assets come into the picture only in an indirect way[5]“. Keynes pressupõe que a taxa de juro de mercado é a expressão dos termos bancários. A taxa de juro de mercado é determinada num determinado nível quando a quantidade de dívidas é igual a quantidade de moeda quando as preferências do público por moeda antes que por dívidas está satisfeita e “ the capital goods proper come in only by altering the preferences of the public for money now rather then hence, that is, the price of capital goods only affects the rate of interest indirectly[6]. Sendo A a taxa de juro e M a quantidade de moeda,  onde A(M) é igual à preferência pela liquidez[7]. A preferência pela liquidez não é expressão da preferência tempo­ral, é mais bem expressão das expectativas incluindo aquelas como a productividade do capital( reacções às quase-rendas e novo investimento). Como sublinha Keynes A(M)[8] é uma expressão do factor preferência pela liquidez( com a preferência pela liquidez unida causalmente com a preferência temporal e a productivdade do capital) “ but in and of itself it has a separate existence[9]“. Keynes enfatiza que a taxa de juro não é a medida da preferência temporal nem é reflexo da productividade do capital( expectativa de quase-rendas), embora existam interacções a partir destas e com estas, é a medida da preferência pela liquidez, embora  forma como as poupanças e os lucros são mantidos são um importante factor. Interessante é que Keynes admite que em circunstâncias anormais, um incremento na quantidade de moeda pode ser associado a uma queda nos preços das dívidas e dos activos, o que parece adiantar a chamada ‘liquidy trap‘, i.e., quando a preferência pela liquidez é absoluta, um aumento da quantidade de moeda torna a taxa de juro inelástica.


 

[1] Idem, p. 63.

[2] Idem, p. 64. A teoria do capital para B.B. deve ser entendida numa dupla acepção. De uma parte é uma teoria da formação do capital ou teoria do origem do capital, de outra parte é uma teoria sobre a função produtiva do capital.

Para B.B. o capital não é um factor de produção independente, ele resulta da combinação do trabalho com os elementos da natureza, negando portanto que a produtividade do capital confira valor aos bens, como pretende a teoria dos factores de produção, que iguala o capital ao trabalho e a terra como um factor independente, associando a cada factor a produção de um valor e um rendimento.

O capital é um bem intermediário utilizado no processo de produção. i.e., o capital é um instrumento de produção que eleva a produtividade física da produção. Para B.B.  O capital não dá nenhum impulso independente mas apenas transplanta um impulso dado por forças produtivas originárias.

Mas o capital é produtivo no seguinte sentido, primeiro, ele destina-se a produzir bens, segundo, como instrumento concorre na produção de métodos indirectos, terceiro, ele serve indirecta­mente para a produção de meios de produção indirectos.

Do ponto de vista da formação do capital, adopta B.B. a seguinte posição: o capital tem origem na produção embora requer obrigatoriamente da existência de poupança. A poupança não dá origem ao capital, ele resulta do processo de produção. Isto é, a poupança é uma condição necessária para a formação do capital mas não suficiente.

A poupança significa para B.B., a disposição alternativa de recursos produtivos, destinados na sua utilização à produção de capital. Portanto poupança não é renuncia ao consumo, mas utilização alternativa do tempo de trabalho e recursos produtivos destinados à produção de bens de capital. Em outra palavras, antes de se poder formar capital é preciso poupar as forças produtivas necessárias para gerá-lo, o que se faz num corte no consumo pessoal momentâneo. ( B.B., TPC, p. 130).

Do ponto de vista da utilização produtiva do capital, i.e. da sua função produtiva no processo de produção, a tese central da teoria de B.B. assenta em que a produção de bens finais toma tempo e que os métodos indirectos de produzir esses bens são mais produtivos que os métodos directos.

Assim se os métodos indirectos são mais produtivos, o que constitui uma vantagem, estes são mais dispendiosos em tempo, o que é uma desvantagem.

O ponto de vista de Bõhm-Bawerk é que os meios de produção ( matéria primas, recursos produtivos, trabalho) poderiam ser utilizados na produção imediatamente, ou poderiam ser utilizados na produção de capital.

Isto significa que o capital é resultado da utilização das forças produtivas através de métodos de produção indirectos.

Se a seguir o capital fosse acumulado e combinado com trabalho poderiam produzir-se bens de consumo de maneira mais produtivas. Isto é, utilizando os métodos indirectos, com os mesmos meios, seriam produzidos uma quantidade maior de produtos.

Bõhm-Bawerk pensou que os métodos de produzir indirectos seriam, de ser utilizados, os meios mais eficazes de produzir, e ao mesmo tempo o melhor modo de afectar os recursos escassos.

Ele pensava que quanto mais comprido fosse o período produtivo, o que significa um método mais indirecto de produção e uma utilização mais intensiva do capital, maior seria o produto

O processo de produção é caracterizado pela utilização de inputs contínuos e output ocasionais ( os chamados  momentos críticos). Isto é, os inputs são adicionados em fluxo, mas os outputs ama­durecem em tempos discretos.

A mais importante questão que se levanta, como já apontei, diz relação com a duração do processo de produção.

Num primeiro momento B.B. sugere que a duração do processo de produção poderia ser medido em termos absolutos. O problema que se coloca é considerar o que é o período absoluto de duração; por exemplo um vaso de prata, inclui inputs como a prata produzida no tempo dos romanos, pelo que determinar o período de produção pelo momento crítico do output é inadequado.

B.B. propõe uma abordagem alternativa de medir a duração do processo de produção: o período de produção média, no qual os imputs são ponderados de acordo a sua proximidade ao " momento crítico do output" ( point out), e pelo número de períodos usados no processo de produção.

A suma dos inputs ponderados, divididos pelo número de inputs utilizados, permite medir um período de produção média para os inputs. Os factores são remunerados de acordo a esse período de produção média. 

Exemplo. Imaginemos um bem de consumo que custa produzir 100 dias de trabalho, prescindindo do uso da terra. Dos inputs utilizados um foi produzido a 10 anos e é introduzido no primeiro dia de trabalho, depois é introduzido um input de cada vez nos dias seguintes segundo os anos que foram produzidos, na ordem se­guinte, 9,8,7,6,5,4,3,2,1. Nos restantes 90 dias são introduzidos o resto dos inputs, os quais são remunerados imediatamente.

O primeiro input é remunerado depois de 10 anos, o segundo de 9 anos e assim sucessivamente, mas não de acordo ao tempo absoluto mas sim de acordo ao período de produção média.

Em média os inputs utilizados nos 100 dias de trabalho remuneram-se de acordo a fórmula:

( 10+9+8+7+6+5+4+3+2+1) *365 /100= 20075 dias/100 dias = 200.75 dias

Isto é, o tempo médio de produção medido em jornadas de trabalho determina a remuneração para cada imput.

Esta abordagem contém  graves deficiências. Primeiro, os inputs são considerados como homogéneos, segundo o método como se reali­za a ponderação, i.e., a produção é atribuível aos inputs aplica­dos mais recentemente e aos inputs aplicados num passado mais distante de acordo ao tempo de espera, o que alias supõe a não existência de fricções, terceiro, o modelo é abstracto é pre­scinde das considerações históricas da poupança, nomeadamente do origem dos inputs.

De qualquer modo, B.B. pensou que a hipótese de um período de produção média é uma restrição teórica considerável que merece ser estudada com mas profundidade.

Desta reflexão resulta uma noção de capital, que tenta fazer a distinção entre capital como factor de produção e, o capital como meio específico de produzir rendimentos ou rendas.

" O capital.., citando B.B. .." outra coisa não é senão o conjun­to de produtos intermediários que surgem nas diversas etapas individuais que perfazem a via de surgimento indirecta." ( Teoria do capital, p. 38). " Todo capital se compõe de uma massa de produtos intermediários cujo objectivo comum é amadurecerem como meios desfrutáveis, i.e., meios de consumo" ( p.132).

O conjunto de bens intermediários representam  um conjunto de produtos que servem para a adquisição de bens, pelo que são um conjunto de bens destinados a servir na produção ulterior.

Nesse sentido capital é sinónimo de capital social, ou capital produtivo.

Os capitais que  servem para fins de adquisição de bens têm importância para uma teoria dos rendimentos, i.e. capitais como fonte de juros, a forma específica do rendimento do capital. Isso obriga-nos a determos sobre o juro e a sua determinação.

3.- A taxa de Juro

A tese de partida de B.B. é que os bens presentes têm sempre mais valor que os bens futuros da mesma espécie e quantidade.

O facto da existência de juros deriva-se da afirmação anterior o que implica que o juro do capital deve ser explicado a partir da influência que o tempo exerce na avaliação humana dos bens.

B.B. atribuo a taxa de juro a três factores:

1) às diferencias nas circunstâncias da satisfação ou obtenção da necessidade no presente ou no futuro.

2) a uma subestimarão do futuro.

3) a superioridade técnica dos bens presentes como capital inves­tido.

Os dois primeiros factores explicam a preferência no tempo por bens no presente. Se a utilidade marginal dos bens futuros é mais baixa, pelo que o valor incrementado futuro é inferior, então os bens presentes serão preferidos. Para além disso, sublinha Bõhm Bawerk, a falta de imaginação e vontade do povo, dada a sua irracionalidade,   faz preferir bens presentes.

Estes factores explicam porque a subsistência presente existirá e porque a oferta de recursos para o investimentos de capital será sempre restrita.

É justamente a superioridade do terceiro factor, i.e., a superio­ridade dos recursos presentes investidos como capital, que expli­ca a sua procura.

B.B. recorre ao facto empírico indesmentível de que o capital é produtivo líquido, i.e., ele produz um rendimento acima dos custos de produção. Este rendimento que B.B. denomina ágio, explica a procura de capital por parte dos empresários.

Os factores determinantes do nível da taxa de juro são: o volume do fundo de subsistência ( determinado pela preferência no tempo), o número de trabalhadores que este fundo deve suportar, e finalmente o grau de produtividade que acompanha uma prolongação do processo de produção.

Para determinar o nível da taxa de juro é preciso considerar o fundo de subsistência em relação inversa, a população trabalhado­ra em relação directa, e, a produtividade em relação directa.

A taxa de juro cairá quanto maior for o fundo de subsistência, quanto menor a população trabalhadora, e, quanto mais rápido o aumento do produto excedente.

A taxa de juro é alterada pelas preferências no tempo  da população trabalhadora que limita a oferta de capital, e pela produtividade do capital em relação ao tempo, que determina a procura de capital.

Em conclusão B.B., fusiona elementos da doutrina clássica do fundo de salário, com a teoria da produtividade do capital. A sua contribuição reside justamente na introdução do tempo. A sua exposição da preferência temporal na teoria do juro e a sua descrição da natureza temporal da produção.

[3] Idem, p. 65.

[4] Idem, p. 66.

[5] Idem.

[6] Idem.

[7] Que corresponde a o estado de `bearishness` do `Treatise´

[8] A(M) indica a preferência ou por moeda ou por dívidas( não activos).

[9]  Idem. p. 68.