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Globalización, Inversiones Extranjeras y Desarrollo en América Latina

Mario Gómez Olivares y Cezar Guedes
 

 

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As revoluções industriais, o trabalho e o pensamento econômico.

As inovações tecnológicas permitiram a apropriação de energias não-humanas e a execução de tarefas por máquinas e equipamentos. A técnica da reprodução mecanizada “liberta o objeto produzido do domínio da tradição. Ao multiplicar o reproduzido, coloca no lugar da ocorrência única, a ocorrência em massa” (Benjamin, 1955). Até a emergência da primeira revolução industrial a partir de meados do século XVIII, as fontes utilizadas foram a energia animal, a água e a madeira, principal material de construção e combustão. O ferro tornar-se-á um dos materiais dominantes na construção; o carvão o primeiro combustível; e o vapor, um dos principais motores, todos interagindo de maneira a formar um novo sistema técnico (Gille, 1978).

Nas sociedades pré-industriais, o conhecimento pertencia às corporações de ofício. Os canais de difusão e transmissão da informação são essencialmente comunitários e informais situando-se normalmente numa lógica familiar ou clãnica. Nas sociedades pré-industriais, os signos (manu) escritos estão muito localizados (nos conventos) cujo acesso é restrito e sujeito a forte controle do clero. Os manuscritos têm ainda numerosos inconvenientes; é um processo lento que utiliza um suporte escasso – pergaminho, papiro – sujeito a muitos erros por parte dos copistas. Esta inovação incide fundamentalmente sobre a armazenagem da informação enquanto o seu transporte e a difusão mantém-se praticamente inalterados durante um longo período.

Predomina uma “cultura popular” difusa que corresponde a uma atmosfera que depende de contactos pessoais que se distingue claramente da cultura erudita e letrada dominante na sociedade industrial. Esta implica a difusão generalizada de um saber mediatizado e organizada por organismos especializados – escolas e academias – codificados de modo explícito, segundo exigências de uma comunicação burocrática e tecnológica relativamente precisa (Kumar et ali. 1988).

O sistema de comunicação também suporta uma sociedade muito estável onde as corporações e os indivíduos asseguram e transmitem informalmente um conjunto de saberes e técnicas relativamente constantes, necessários à organização da produção e do mercado. As exigências do trabalho tomam a forma de obrigações e de direitos sociais e morais específicos, articulados no âmbito de um sistema de dependências pessoais.

As coletividades locais formam sistemas étnico-territoriais relativamente fechados e vivendo numa esfera espacial muito limitada onde as deslocações fazem-se principalmente a pé, cavalo ou barco à vela. O crescimento de áreas urbanas através da história está associado ao desenvolvimento do comércio onde produtores, mercadores, banqueiros e outros agentes estabeleciam contactos presenciais. As cidades são a arena por excelência das trocas de mercadorias e das interseções dos eixos de comunicação ou nós de transporte das zonas envolventes.

O grande desafio para o capital comercial que se transmutava para a esfera industrial era criar uma organização do trabalho onde o saber detido no artesanato fosse parcelado numa divisão do trabalho em maior escala, redefinindo o controle da produção e elevando a produtividade. Subjacente a essa tarefa histórica estava a necessidade de criar e disciplinar um proletariado urbano tendo por base um contingente de camponeses que afluía as cidades no decorrer do século XVIII.

Tomando a Inglaterra como referência, antes que a manufatura fosse uma realidade técnica, os comerciantes adiantavam as matérias-primas para os produtores em suas próprias casas para depois recolher o produto acabado, numa relação conhecida como puting out system. A partir de meados do século XVIII a subordinação do trabalho na manufatura é um processo em curso, sendo a Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações de Adam Smith em 1776, um testemunho histórico e teórico da emergência e formação do capital industrial, pois está sempre presente uma visão projetiva do que viria a ser o trabalho fabril. Em seu conhecido exemplo da manufatura de alfinetes, Smith analisa as virtudes da divisão do trabalho vinculando-a ao aumento da produtividade e assinalando seus limites em relação ao tamanho do mercado. Em 1758, com o Tableau Economique, os fisiocratas franceses haviam concebido a origem do excedente (ou produto líquido) num fluxo e introduziram a noção de custo e excedente, onde a agricultura era a atividade originária responsável pela geração do excedente, entendido como algo tangível. Smith estende a geração do valor a toda produção, tendo por base o trabalho humano. Neste sentido, as teorias que se baseiam na produção e no trabalho para explicar o funcionamento das organizações e da própria economia, tiveram seu início com Adam Smith.

Vale ressaltar a percepção de Smith quanto às lógicas de mercado e à organização do trabalho, no momento em que a revolução industrial dava seus primeiros passos. Em textos com Essays on Philosophical Subjects e The Theory of Moral Sentiments, encontramos o melhor e mais revelador a respeito das semelhanças dos sistemas com as máquinas, estas também consideradas como pequenos sistemas. A terminologia newtoniana e as imagens mecanicistas fundamentam os laços de interdependência que prevalecem na sociedade, assim como no universo. Estes princípios baseiam-se na solidariedade mecânica em vez da solidariedade orgânica típica das sociedades pré-industriais. O próprio Smith designa por “método de Isaac Newton” a abordagem mais engenhosa, filosófica e cativante dos métodos didáticos (Araújo, 2001).

A revolução industrial organiza a atividade econômica e humana na base de características mecânicas e impõe critérios de funcionamento baseados na homogeneidade e na repetição em série dos elementos. As tecnologias mecânicas implicam o fracionamento dos processos de produção em parcelas homogêneas e no ordenamento das operações de modo rígido e seqüencial. Assim, assiste-se a uma reorganização da produção através da divisão do trabalho, do agrupamento da força de trabalho em fábricas e a centralização dos meios de produção. Além disso, na era industrial o aumento da produção e da produtividade é a preocupação essencial enquanto a eficiência é a principal determinante das atividades econômicas.

A concepção da divisão do trabalho em Smith é a mesma que será sistematizada por Taylor e os engenheiros mais de um século depois: estruturas organizacionais muito hierarquizadas e integradas, onde a produtividade deveria ser maximizada pela divisão do processo produtivo num maior número possível de tarefas e pelo desenvolvimento da especialização dos recursos a estas tarefas. O protótipo desta estrutura era para Smith a fábrica de alfinetes, assim como o protótipo moderno foi a montagem do automóvel modelo Ford T. Esta abordagem implicava uma utilização de trabalho e equipamento altamente especializado e dedicado a uma tarefa precisa, criando-se assim uma forte hierarquia, onde só uma supervisão situada no exterior poderia perspectivar o conjunto de modo a poder controlar e coordenar. Tal tipo de organização coloca problemas, especialmente ao nível da coordenação. Os responsáveis por funções muito especializadas tendem a perder a visão do conjunto, que tem de estar estritamente subordinados a uma alta autoridade que possui o conhecimento e a informação necessários para coordenar as atividades fracionadas (Piore, 1994).

O enorme aumento no tratamento da informação para permitir a sincronização e a coordenação das atividades conduz à emergência de um tipo novo de organização com as grandes burocracias administrativas (Jonscher , 1994). O aumento da produtividade do trabalho manual está associado ao “uso crescente da maquinaria, no entanto a preparação de orçamentos, de ordens de compra e de fornecimentos, a verificação de recibos dos materiais, preparação das tarefas para cada linha de montagem e a recolha de informação para controlar todas as operações” (Land 2001) necessitava de um vasto exército de colarinhos brancos.

A organização burocrática como sistema mecânico com estrutura muito formalizada, especializada e centralizada, é apropriada para conduzir operações rotineiras e normalizadas em grande escala. Acentua a propensão para o controle e reduz a iniciativa individual enquanto a gerência superior cria os conceitos básicos para os membros inferiores executar. O ato de organizar é encarado de forma rígida, o que reflete a necessidade se isolar a empresa do ambiente instável que a envolve.

O mecanismo de governação hierárquica é um modelo fechado, onde a organização tende para a centralização e o principal objetivo é minimizar as perturbações e as mudanças. O conhecimento é concebido como um processamento de informação que tem que ser protegido e controlado internamente às organizações. Numa avaliação de conjunto, a obra smithiana abre uma época caracterizada pela materialização de uma cultura fabril com implicações definitivas na organização do trabalho e da produção.

O último quartel do século XVIII foi marcado por uma onda de inovações, particularmente nos processos de produção da fiação e tecelagem. Outros ramos, como a metalurgia, iniciavam transformações semelhantes. O desenvolvimento da indústria foi acompanhado pelo crescimento de um proletariado miserável que se aglomerava nas cidades. O salário na indústria, que na fase inicial era mais elevado que o dos trabalhadores agrícolas, encheu as cidades, fazendo cair os salários e tornando visível o desemprego e a miséria, principalmente nas fases de superprodução, quando os salários reduziam-se ainda mais.

No início do século XIX a divisão internacional do trabalho começa a ser desenhada numa tendência que se apresentará mais plenamente no último quartel do século, quando já podemos perceber verdadeiramente a constituição de uma economia mundial, simultânea a II Revolução Industrial. Nos Princípios de economia política e tributação, em 1817, David Ricardo analisa respectivamente, dois temas fundamentais: a divisão internacional do trabalho e o desemprego tecnológico. Em relação ao primeiro tema, Ricardo faz uma aposta no comércio e na divisão internacional do trabalho, baseado nas vantagens comparativas como forma de superar a tendência decrescente da taxa de lucros e o estado estacionário em que a economia inglesa poderia virtualmente ingressar. Mas o que nos interessa nesta questão é assinalar a percepção de Ricardo quanto a uma lógica do comércio mundial baseada na localização estática dos recursos, que por sinal será mantida até os anos 50 do século XX: a produção de produtos industrializados por um pequeno número de países e a produção de matérias-primas e alimentos por uma vasta periferia. Novos canais de mobilidade e controle foram criados e contribuíam para o alargamento das possibilidades do comércio internacional, da acumulação de capital e das escalas de produção.. A contribuição dos novos sistemas de comunicação e de conhecimento está relacionada com o seu papel no desenvolvimento econômico e com a emergência de formas distintas de organizações. O controle efetivo sobre os meios de comunicação e de transporte marítimo dava à Inglaterra um enorme poder sobre a definição da utilização dos fatores produtivos na organização da divisão internacional do trabalho e na repartição de valor. O controle da distância constitui uma condicionante no modo como as organizações são fragmentadas e distribuem suas funções no espaço.

Em relação ao desemprego tecnológico, Ricardo assinala que “a substituição do trabalho humano pela maquinaria é freqüentemente muito prejudicial aos interesses da classe trabalhadora” (1982, p.340). O motivo básico é que, ao mesmo tempo em que o rendimento líquido pode crescer, o rendimento bruto pode diminuir. E o emprego dos trabalhadores depende do rendimento bruto, entendido como um fundo destinado aos salários. Entretanto, preocupado com a importância estratégica da introdução de nova maquinaria e, sobretudo no caso da Inglaterra que não dispunha de recursos naturais abundantes, Ricardo termina por justificar o emprego de máquinas, na medida em que o capital busca sempre o máximo rendimento líquido que a máquina pode propiciar. Assim, se o Estado desencorajasse o emprego de máquinas, o capital seria levado para o exterior, tendo esse movimento um efeito ainda maior na demanda por trabalho do que o extensivo emprego de maquinaria. Nesta discussão Ricardo tem em perspectiva a subordinação do processo de trabalho e dos rendimentos aos desígnios da dinâmica da concorrência internacional (Guedes e Cardoso, 1999)

A I Revolução Industrial estendeu-se até as últimas décadas do século XIX e ao longo desse período houve transformações significativas. A produção fabril se estende a outros países além da Inglaterra e outros segmentos dos bens de consumo. A partir de meados do século XIX dá-se a revolução nos transportes e nas comunicações, com a difusão dos caminhos-de-ferro, a navegação transoceânica a vapor em casco de aço e o telégrafo. As atividades além-fronteiras, até então um misto de empreendimento e aventura são viabilizadas e integradas comercial e financeiramente à lógica de expansão das organizações.

A sociedade industrial atribui particular importância às necessidades de sistemas físicos para o movimento de pessoas e bens – estradas, ferrovias, canais, aeroportos, etc. – e para os produtos básicos – eletricidade, oleodutos. Estas infra-estruturas foram construídas para facilitar a produção e a distribuição de bens com menores custos e para beneficiar os atores econômicos da densidade da infra-estrutura. Apesar da contribuição importante do telegrafo e do telefone para o desenvolvimento industrial, o sistema de transporte obteve mais atenção que o sistema de comunicação. A emergência da infra-estrutura das telecomunicações reduziu a necessidade de concentração e permitiu uma maior liberdade de localização no espaço.

Essa transição para a II Revolução Industrial é consolidada com a incorporação de outras fontes de matérias-primas e energia, notadamente a eletricidade e de forma crescente o petróleo. É então a partir do último quartel do século XIX que se pode perceber uma pulsação cíclica na economia mundial. Nas primeiras décadas do século XX a revolução nos transportes e nas comunicações se aprofunda com a difusão das indústrias automotiva e aeronáutica, assim como a telefonia e as transmissões radiofônicas.

A eletricidade transforma em profundidade o modelo mecânico típico da 1ª revolução industrial porque permite inter-relacionar de modo orgânico as diferentes fases do processo de trabalho. A utilização da energia elétrica e sua velocidade permitem sincronismos instantâneos e cria um campo unificado de comportamentos. Nesse sentido teve um impacto quase imediato na coordenação e harmonização das atividades humanas A automação não é uma simples extensão dos princípios mecânicos de fragmentação e separação, próprios do regime mecânico, mas é um processo interno de conservação e de aceleração da informação. Certos autores utilizaram o termo da implosão (McLuhan, 1962) para designar a contração e simultaneidade resultante da aplicação de tecnologia elétrica na atividade humana. A instantaneidade, função da globalização, impõe uma aceleração e uma ubiqüidade eletrônica na atividade humana: por um lado alarga o alcance das ações por outro introduz a retroação (ou feedback) imediata.

Ainda no século XIX o avanço das relações capitalistas na economia agrícola européia e a inviabilidade de alguns empreendimentos em razão da importação de alimentos do resto do mundo, provocam uma nova onda de emigração, só que agora não apenas para as cidades, mas também e principalmente para fora da Europa, particularmente para o continente americano. Entre meados do século XIX e a década de 1920, calcula-se que a emigração intercontinental conjunta dos países europeus tenha superado o contingente de 50 milhões de pessoas (Massey, 1988). Tendo em vista estes fluxos migratórios, podemos aquilatar o significado dos princípios tayloristas, na medida em que foi sendo viabilizada a inserção de uma massa de trabalhadores não-qualificada e de origem camponesa face ao número relativamente restrito de operários e artesãos especializados. Ao longo do século XX assistimos uma expansão da indústria que ultrapassa os limites do núcleo orgânico capitalista, num processo que Arrigh (1997) denomina de “periferização” das atividades industriais. É neste percurso que o campesinato vai perdendo peso na estrutura de ocupação, rendimento e mesmo como realidade social e política. Conforme Hobsbawm, “a mudança mais impressionante e de mais longo alcance da segunda metade do século XX, e que nos isola para sempre do mundo passado, é a morte do campesinato” (1995, p. 284).

Como herdeiro de questões da economia clássica e testemunho da emergência da II Revolução Industrial, Marx é um autor decisivo no entendimento da vocação planetária do capitalismo e, principalmente, na diferenciação da grande indústria em relação à manufatura, ao analisar a passagem da subsunção formal para subsunção real do trabalho ao capital, onde o trabalhador deixa de ter o controle do processo de trabalho, transformando-se num apêndice da máquina. “Com a subsunção real do trabalho ao capital, dá-se uma revolução total (que prossegue e se repete continuamente) no próprio modo de produção, na produtividade do trabalho e na relação entre o capitalista e o operário” (Marx, 1978, p. 66). Nessa perspectiva a tendência do capitalismo seria a negação do trabalho vivo (força de trabalho), em favor do trabalho morto (máquinas, equipamentos, instalações...). O aumento do rendimento assenta cada vez menos nas capacidades físicas dos trabalhadores e cada vez mais na mecanização crescente das tarefas repetitivas do processo de trabalho. Nos Grundisse é vislumbrado o surgimento de uma “sociedade automatizada”, na qual a força de trabalho se deslocaria progressivamente da produção material para assumir funções de vigilância e controle da produção. Ou seja, esta situação corresponde a uma emancipação energética e uma submissão informativa.

A trajetória da economia política está associada a formulações voltadas para o mercado e o processo de trabalho, temas dos mais freqüentes nesta tradição. Entretanto, a partir da década de 1870 ocorre uma guinada com o pensamento marginalista (neoclássico), onde a oferta e demanda de mão-de-obra passam a ser concebida num ambiente de escolhas individuais. Toda a lógica desdobra-se no mercado pela interação de bens, serviços e fatores produtivos, onde os organizadores da produção contratam os serviços do fator trabalho. Nesta perspectiva, a economia capitalista passa a ser considerada como um organismo que tem vida e as analogias com as reações físico-químicas é reveladora, pois seu funcionamento seguiria uma lógica confluente em que cada parte opera segundo mecanismos naturais e quantificáveis, lembrando neste aspecto o “mecanismo regulador” postulado por Smith. Para os fins de nosso artigo o que importa assinalar é a crença nas forças de mercado levando à tendência ao equilíbrio e à plena utilização dos recursos produtivos, onde a mudança tecnológica torna-se um tema incômodo, na medida em que pode provocar desequilíbrios e indeterminações lógicas, pois os salários eram determinados pela produtividade marginal do trabalho e a inovação tecnológica perturba essa análise. Não foi por acaso que Schumpeter localizou a dinâmica e os ciclos econômicos a partir das inovações, num processo por ele denominado como destruição criadora que, entre outras coisas, desloca o estado de equilíbrio existente, levando a uma nova situação de equilíbrio. Mostrou também a importância do conhecimento explícito e das “novas combinações” no desenvolvimento e no processo de transformação do capitalismo. Ao contrário da escola neoclássica, mais preocupada com o conhecimento coletivo dos agentes econômicos e da informação reduzida aos preços, a escola austríaca (Hayek e Schumpeter) tenta descrever a dinâmica do capitalismo através do saber particular que cada agente econômico possui. Nesta perspectiva o conhecimento não é entregue a ninguém na sua totalidade, nem tampouco é a conseqüência de um processo econômico. Trata-se de um bem explorado pelos empreendedores em seu processo econômico de inovação (Anderson e ali, 1989, pg. 2). Hayek afirma que a função do mecanismo de preços é distribuir informação e que o mercado é um processo através do qual o saber individual é mobilizado socialmente.

Com relação ao nível de emprego, Keynes é o autor decisivo ao conceber o mercado de trabalho como variável subordinada às decisões de investimento e consumo, rechaçando a visão dominante na ortodoxia neoclássica que via no equilíbrio nas taxas de salário o papel de ajustar oferta e procura de trabalho. Com este diagnóstico, a proposição keynesiana é de que o gasto público restabelece a demanda efetiva, agindo com mecanismo anticíclico. Mas nada diz sobre o emprego no longo prazo, as inovações e as transformações na qualidade da mão de obra.

Quanto ao processo de trabalho, seu sumiço da teoria econômica é coerente com esta visão neoclássica dominante na economia, pois se trata de um fator de produção (trabalho), articulado com dois outros fatores (capital e recursos naturais) numa função de produção que deveria ser maximizada.

Do ponto de vista prático e teórico, desde o final do século XIX, o processo de trabalho vai tornando-se cada vez mais um tema dos gerentes e dos engenheiros, motivado por aspectos disciplinares e de sua padronização, buscando nas palavras de Taylor “the one best way” na realização das tarefas. A separação rígida do trabalho material e mental característica da revolução industrial e a tradicional relação entre autoridade e obediência dependia da restrição hierárquica do acesso ao conhecimento. Aliás, a sistematização das idéias de Taylor tem sua origem na ASME (American Society of Mechanical Engineers), onde o próprio Taylor realiza três comunicações que refletem o amadurecimento de suas idéias (Coriat, 1976). São, portanto os engenheiros, e no decorrer do século XX também os gestores, que se ocupam de maximizar o desempenho do trabalhador no chão de fábrica, enquanto os economistas maximizam a função de produção. Esses dois mundos confluentes do ponto de vista epistemológico, passam a viver separados em suas formulações. Ou seja, a gerência ganha um status científico que a coloca acima da dinâmica econômica e social do processo de trabalho e da organização da produção. De acordo com estes princípios, a responsabilidade dos gestores é de reunir os conhecimentos tradicionais, que normalmente pertencia aos trabalhadores individuais. O trabalho é organizado em unidades homogêneas segundo especialidades e funções tendo em vista a criação de rotinas científicas e uma velocidade ótima de execução. Assim classificam as experiências, estabelecem regras, leis e fórmulas baseadas no saber e utilizam-nas para orientar os trabalhadores no seu trabalho diário A abordagem analítica ao processo de trabalho leva à decomposição dos ofícios em componentes individuais.

Neste universo as organizações assentam num desequilíbrio entre os que elaboram a concepção e os executores. As competências necessárias ao executante são muito reduzidas e centradas nas capacidades de obedecer às ordens. As qualidades dos trabalhadores são comparáveis à dos bois; atléticos, dóceis, crédulos. A legitimidade do poder é atribuída pelo seu conhecimento do conjunto do trabalho. O saber de síntese e de decisão pertence aos níveis mais elevados, que cria as mensagens e as difunde de modo vertical. Os comandos para efetuar as tarefas são definidos de modo muito detalhado. Os operadores devem apenas executar, pois outros “são pagos para pensar”. A única ocasião de comunicação com os dirigentes da empresa resulta das eventuais dificuldades de aplicar as normas impostas ou os desvios do serviço de qualidade.

Os efeitos perversos deste sistema consistem numa desmobilização na base que se desinteressa do seu trabalho, num de grau de absentismo elevado e numa rigidez que se manifesta nas crises associados à instabilidade.

Os princípios tayloristas baseiam-se no aprofundamento da divisão do trabalho como meio de aumentar a eficiência e a produtividade, que por sua vez permitiram o crescimento do nível dos salários e melhorar os níveis de vida das populações. Este processo envolveu grandes investimentos em capital físico, estruturas hierárquicas nas organizações e mão-de-obra altamente disciplinada e especializada.

A hegemonia do pensamento taylorista verificou-se inclusive desde o início na União Soviética, onde seus líderes assumiram explicitamente a adoção daqueles princípios. Numa obra decisiva para o retorno do debate sobre o processo de trabalho, Braverman (1974) assinala a adesão das direções do jovem estado soviético ao taylorismo, fazendo com que na prática sua industrialização tenha imitado o modelo capitalista.

A produção e o consumo de massa representam a materialização dos princípios do taylorismo, aprofundados no fordismo que se difunde a partir da indústria automobilística dos anos 20 nos EUA. Correspondente a esta forma de organização da produção e do trabalho está a padronização apoiada nas economias de escala e no uso intensivo de energia e matérias-primas. Neste caminho da II Revolução Industrial ganha densidade uma lógica crescentemente mundial em lugar da escala local, onde se opera um transbordamento em termos de produção e mercados.

Para além de sua racionalidade técnica, o fordismo é também e principalmente um fenômeno cultural e político decisivo no entendimento da Segunda Revolução Industrial em sua dinâmica e no seu esgotamento, quando a sua inflexibilidade passa a não responder a novos imperativos nos padrões de concorrência e nas requisições das condições e das relações de trabalho. Entretanto, a crise do fordismo está na origem de um conjunto de manifestações que vai muito além do mundo do trabalho e tomam forma a partir do final dos anos sessenta do século passado.


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