CARLOS GOMES
ORGANIZAÇÃO E GESTÃO
Como vimos, o processo de produção compreende o trabalho, os objectos sobre que recai e, ainda, os meios utilizados. Estes componentes são heterogéneos na sua essência e a sua conjugação no processo produtivo pressupõe a existência duma organização e gestão. Estas tarefas, inerentes a todos os aspectos da vida social, não resultam apenas da actividade laboral, mas também da conduta social dentro do grupo humano, do modo de produção ou da posição dirigente da classe social dominante. Desde os primeiros tempos da sua existência, os homens tiveram de se agrupar e trabalhar em comum. A actividade laboral é sempre uma actividade conjunta sendo inconcebível, sobretudo quando realizada em maior escala, sem o estabelecimento e manutenção duma certa ordem e organização. A característica social do trabalho pressupõe a determinação do lugar e das funções de cada indivíduo na colectividade.
Em qualquer grau de desenvolvimento em que a sociedade se encontre, a gestão ocupa um lugar proeminente no sistema de relações sociais internas ou externas. As primeiras estabelecem-se com o fim de conseguir a coordenação, a maior eficácia na actuação colectiva dos homens e o melhor relacionamento no processo de trabalho. As relações externas estabelecem-se entre as comunidades e resultam da necessidade da permuta dos produtos e conhecimentos provenientes da actividade económica das comunidades.
Dentro duma determinada estrutura, os mecanismos de influência na organização e gestão podem resultar de factores espontâneos ou, em simultâneo com estes, de factores conscientes, programados, relacionados com uma actividade para fins concretos.
A influência espontânea não depende de instituições sociais específicas. O seu efeito dirigente resulta do entrelaçamento de diferentes actos fortuitos, individuais ou conjuntos, muitas vezes contraditórios. Os homens não estão ainda em condições de intervir, de abolir ou submeter esta influencia aos seus interesses e objectivos. Quanto muito podem aperceber-se da influência do mecanismo, acelerando ou tornando mais lentos os seus efeitos, sem os dominar.
Na gestão consciente, os homens estabelecem e mantêm uma certa ordem na regulação da produção e, por consequência, na vida económica e social. O seu objectivo é assegurar a sua emancipação em relação à influência de factores espontâneos. Os factores conscientes desenvolvem-se com a caça e o começo duma divisão de trabalho, apoiando-se nas tradições e costumes, resultantes duma acumulação de experiências transmitidas de geração em geração, e modificam-se com a adopção de novas técnicas ou conhecimentos científicos e até pela alteração dos próprios mecanismos de direcção. A existência duma organização e gestão consciente assume um carácter histórico concreto, dependendo do modo de produção e, em particular, do sistema de relações económicas e sociais dominantes. Com a existência de classes antagónicas, concretiza-se em benefício da classe que exerce o domínio económico, sem isso significar que não perdurem influências espontâneas.
A capacidade de dirigir a actividade duma comunidade ou instituição reflecte-se no poder. As mais importantes decisões que determinam a actividade dum grupo são atribuídas ao líder, indivíduo ou grupo, a quem os seus membros reconhecem ou são forçados a aceitar o direito de as assumir.