CARLOS GOMES
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Os membros da comunidade realizam em conjunto ou dividem entre si as actividades de caça, pesca, recolha de plantas e frutos ou a manufactura de artefactos. Todos estão colocados num nível semelhante ou igual de participação na produção ou na de caça, distribuição dos benefícios conseguidos.
Os eventuais excedentes têm um significado reduzido, a divisão do trabalho em termos sociais é inexistente ou muito rudimentar, a noção de propriedade privada está ausente. Não existem no seio da comunidade desigualdades económicas suficientes para provocar a divisão social em classes. Não tem sentido a necessidade de governar e de respeitar leis, a diferenciação social ou a exploração do homem pelo homem.
Tal não significa que não subsistam algumas diferenças próprias das características individuais, da utilidade dum comando, da necessidade de existirem homens com experiência e sabedoria, capazes de conservar e transmitir os conhecimentos, os usos e costumes das gerações anteriores ou explicarem os fenómenos naturais ou sociais que preocupavam a comunidade.
No clã, ou num grupo de caça, o comando tende a ser mantido por indivíduos prestigiados pela idade, o conhecimento das tradições, o vigor, as proezas na caça ou certos dons particulares. Os homens fisicamente mais fortes, mais resistentes e agressivos, os caçadores mais hábeis tendem a assumir a direcção do grupo impondo a sua autoridade, geralmente aceite.
Igualmente desempenhava um papel
destacado a figura do feiticeiro ou o xamã, que começa a ser sustentado
pela comunidade. A ele se atribui o dom de assegurar a sobrevivência do
grupo, garantir a abundância de alimentos, de boas condições climatéricas
ou de caçadas bem sucedidas. O feiticeiro influencia múltiplos
acontecimentos de natureza social e preside a rituais. Em todos estes
casos, trata-se apenas de influências pessoais que duram enquanto as
pessoas conservam as qualidades próprias para as exercer. Nas situações
difíceis são consultados os anciãos.