Este texto forma parte del libro
Memorias de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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A HISTÓRIA DO AGAVE BRASILEIRO

 

 

 

A vida rural no Brasil é muito diversificada, com regiões que produzem bem e com grande produtividade e com outras que produzem mal e com baixa produtividade, tanto da terra como do trabalho e até mesmo do capital. As regiões ricas são constituídas de boa tecnologia, pessoal preparado e terras férteis, tanto do ponto de vista do melhoramento da área, como do ponto de vista natural, onde essas terras já têm condições próprias de produção eficiente. No que se refere às ricas, tem-se produção de alta escala que abastece ao mercado interno e externo sob a forma in natura e industrializada, como arroz, milho, soja, feijão, etc. Quanto à produção de regiões pobres existe o problema vivido com a presença de terras semi-áridas, cuja produtividade é fraca e carecendo de muitos recursos para fazer as devidas transformações que a região necessita. Assim  sendo, o que se produz, são produtos geralmente adaptáveis à região, tais como palma, sisal ou agave e uma gama de produtos de baixa produtividade neste tipo de solo.

Quando se fala em sisal, ou comumente chamado de agave, de súbito, surge a idéia de semi-árido, de terra quente e seca, como é o caso do Nordeste e, especialmente, boa parte da Paraíba. O semi-árido paraibano, abrange uma área de aproximadamente 43.606 , correspondendo a mais ou menos, 77.6% da extensão global das terras do Estado paraibano. Hoje, em 1987, vivem aproximadamente 2.288.705 habitantes só na região do semi-árido do Estado, constituindo, desta forma, uma população com dificuldade de empregos, tendo em conta que o problema da sazonalidade é uma constante, por causa do aspecto natural da região. A questão do semi-árido envolve, não somente o Brasil, mas também, a África e alguns países da Europa.

Mas, o que tem a ver agave com o semi-árido? É fácil ver que as duas coisas estão intimamente correlacionadas. A agave é uma planta que resiste aos problemas causados pelas secas, bastante comuns no Nordeste brasileiro. Diz-se normalmente, que o agave tem origens no continente americano e nas ilhas Caraíbas, bem como sua utilização, data muito antes dos descobrimentos das Américas por Cristóvão Colombo. Apesar de cultivadas pelos Toltecas, Maias e Astecas, a sua utilização era pouco expressiva, limitando-se, entretanto, ao uso de alvenarias de suas casas, como informam alguns historiadores que trabalham sobre o assunto. Contudo, sabe-se que os Maias e Astecas não desconheciam as propriedades do agave e com pouca freqüência faziam cordas e telhas das fibras dessa planta, como se constata com a descoberta das ruínas de Chichén Itzá.

O conhecimento mais detalhado sobre o agave veio à tona com os relatório dos primeiros conquistadores. Ao estudar um desses relatórios, datado de 1533, feito pelo abade suiço Petrus Martyr Anglecius, observa-se uma descrição de um tipo de agave Maguey (atualmente denominado Agave Antiflarum Vescauntilz), originária da ilha de São Domingos. Todavia, foi o inglês John Gilton quem primeiro escreveu sobre o uso do agave como planta têxtil, no emprego de cordoaria e fabricação de sapatos, por volta de 1568/72. Na Europa, o agave foi introduzido após o descobrimento da América. Em viagens, entre 1555/63, o médico botânico Charles de L'Ecluse viu em Valência, uma espécie de agave que chamou de Aloe Americana (hoje conhecido como Agave Americano Linneus).

Nesta mesma época, o agave, após implementada sua grande utilização para a humanidade, foi muito usada como planta ornamental em grande parte da Europa. E, desta maneira, algumas espécies nativas das planícies do Norte do México, resistentes ao frio, penetraram em grande parte da Europa, até mesmo, nos legados Alpinos do Norte da Itália, Sul dos Pirineus e das Serras Alpinas. Tal acontecimento deu-se onde existiam lugares propícios, quer dizer, nos lugares onde abundava o elemento calcário: rochas calcárias no Mediterrâneo, bem como nas ilhas Atlânticas, Portugal e na Península Criméia. As investigações levam a crer que o agave é uma planta de fundamental importância para a economia, tanto no passado, como no presente e no futuro (no uso medicinal).

Aqui no Brasil, a história relata que a existência do agave data de 1864. Warming foi quem primeiro relatou a existência desse produto no Município de Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais. Neste trabalho, ele reporta sobre o tipo de agave Rigidae. Porém, em 1869, outras anotações referem-se ao tipo de Agave Miradorensis cultivado no Estado de Goiás. Esta espécie foi encontrada por Von Jacobi, sendo que esta espécie pertence à seção Rigidae e é bastante semelhante ao Agave Sisalana. Com respeito ao Agave Sisalana, existe uma grande polêmica quanto a sua origem; pois, alguns historiadores asseguram que ela é nativa do Brasil, enquanto outros dizem que esta planta veio das Caraíbas, nos tempos pré-colombianos. Esta é uma planta ainda de baixa utilidade.

Em termos comerciais, portanto, produzindo-se em alta escala, verifica-se o agave do tipo Piteira Gigante (Gourcraya Gigantea), pertencente à família das Agavaceas. Este tipo de planta foi extensivamente cultivado no Estado de Pernambuco; e, destas plantações saíram as primeiras mudas para as ilhas Maurício no arquipélago de Mascarenhas. Estas exportações concretizaram-se através do padre Leries (capelão-mor do príncipe João Maurício de Nassau - Siegren) no século XVII. Os Estados do Sul foram privilegiados por muito tempo com a plantação desta cultura, tais como Rio Grande do Sul (São Sebastião do Cahy), Rio de Janeiro (Vassouras e Leitão da Cunha), Minas Gerais (Sete Lagoas e Morro Velho) e muitos outros Estados da Federação.

Na Paraíba, a introdução do agave é atribuída ao General Frederico Mindelo, numa data não muito bem delimitada pelos historiadores; entretanto, julga-se que foi mais ou menos nos primeiros anos da segunda década deste século, que ainda transcorre (Séc. XX). As mudas do agave foram mandadas pelo Inspetor Diógenes Caldas para serem plantadas no Município de Areia. Outrossim, os primeiros pés de agave foram trazidos pelo Engenheiro Agrônomo português J. Viana Junior, quando então Diretor do campo de demonstração do Município paraibano de Cruz do Espírito Santo; terra de Augusto dos Anjos. Aqui chegaram as espécies que ele cultivava, tais como, a Agave Sisalana e a Agave Fourcroydes, no ano de 1911, no governo do Dr. João Machado.

Logo, o Município de Cruz do Espírito Santo, transformou-se num verdadeiro centro de exportação intensiva da planta e além do mais, instalando-se ainda em condições precárias, indústrias de beneficiamento. Todavia, mais ou menos, por volta de 1916/17, a Paraíba já estava bem suprida de mudas para implantação em outras partes do Estado. Constata-se que nesta época, o governo estadual já havia distribuído aproximadamente 2.025 mudas aos interessados pela planta que virava coqueluche naquele momento. A história diz que o primeiro a plantar a agave em grande extensão, foi o agricultor Antonio de Andrade, que recebeu o prêmio medalha de ouro Diógenes Caldas, da Sociedade de Agricultura e Inspetoria Agrícola Federal em 1929.

Ainda em 1929, Antonio de Andrade recebeu um segundo prêmio, como incentivo a sua indústria de cordoalha, pela iniciativa de usar a fibra do agave, extraída de sua própria plantação, em sua indústria. Este prêmio foi uma quantia em dinheiro, correspondente a $ 3.000,00 (três mil réis) que serviram talvez para implementar sua produção. Essa pequena indústria fabricava cordas, cabos, correias de transmissão de forças, chapéus, espanadores, tapetes, esteirinhas, mantas para selas, colchões e redes de malhas. Contudo, por falta de condições financeiras, e dadas as dificuldades para obtenção de empréstimos na rede bancária da época, a produção declinou a um nível insuportável para aquele que tanto brilhou e vibrou com a cultura da agave no Estado.

A pequena fábrica do senhor Antonio de Andrade faliu; todavia, a plantação do agave continuou em sua fazenda, até que em 1943 já contava em sua propriedade cerca de 4.000 pés de agave de boa qualidade para industrialização. Com esse bravo plantador do agave, destacam-se o Dr. Germano freitas e João Barreto do Município de Areia e Adroaldo Guedes Alcoforado de Guarabiras. O início, como se constata da plantação do agave foi na região do brejo; em seguida, implantou-se na caatinga litorânea e depois, nos cariris do Estado. No brejo paraibano, a cultura do agave começou a desaparecer a partir de 1959, agravando-se a crise em 1969 e 1970. Explica-se esta queda, pelo fato dessa região ser rica em solo e regime pluviométrico, prestando-se melhor a outras culturas mais nobres.

Notadamente se teve no país, quatro ciclos que demarcaram as fases econômicas de sua formação, quer dizer, o ciclo do ouro, o ciclo do açúcar, o ciclo do café e o ciclo da pecuária. Não se têm notícias de um maior empenho das autoridades governamentais quanto ao valor econômico do agave, devido aos oligopólios terem sua intenção predileta, e o agave ser um produto de pequeno e médio produtor que pouco participa do produto nacional. No entanto, esquecem que o agave tem uma boa participação como insumo na produção de muitos bens de grande importância para a nação. Sente-se claramente, o descaso que o governo tem para com a produção do agave, a começar pela determinação dos preços cobrados pelos produtores, isto é, preços muito aquém da realidade desses tradicionais agavecultores.

Na preocupação com a situação do agave, é que surgiu o Instituto do Sisal, que tinha como meta principal, melhorar os lucros da atividade e assegurar uma boa política de apoio à produção do agave no país. O projeto de criação do Instituto do Sisal foi elaborado pelo ilustre Deputado Federal Janduhy Carneiro em 04 de agosto, de 1955. Não se têm informações de que este projeto tenha alcançado alguns objetivos mais promissores para os trabalhadores do sisal; mas, uma coisa é verdade, o sisal tem cada vez mais passado por dificuldades ao longo de sua história. Veja que nos últimos anos ou décadas, o sisal tem sofrido o peso da competição desleal dos trustes externos no Brasil e no Nordeste, tendo em vista que o nylon sintético tem substituído os produtos gerados do sisal e a produção, desta feita, tem suportado crises em cima de crises, que dificilmente este gênero de atividade vai voltar ao seu apogeu de cultura exportável e necessária ao país.